Clipping Diário

12 | Fevereiro | 2025

SIDERURGIA

O Estado de S.Paulo - SP   12/02/2025

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está fazendo as primeiras discussões sobre a taxação do aço exportado para os Estados Unidos com um núcleo reduzido do governo. Nesse primeiro momento, mesmo ministros frequentemente ouvidos pelo presidente, como Rui Costa (Casa Civil) e Mauro Vieira (Relações Exteriores), estariam tendo pouca participação.

Os principais conselheiros escolhidos por Lula para discutir o tema foram o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro da Indústria, Comércio e Serviços.

O presidente americano, Donald Trump, assinou na segunda-feira, 10, uma ordem executiva que taxa em 25% as importações de aço e alumínio. O protecionismo econômico foi uma de suas promessas de campanha.

Lula ainda não se pronunciou sobre a medida do presidente americano. O petista, porém, disse publicamente nos últimos dias que, por reciprocidade, poderia taxar produtos americanos caso tarifas fossem impostas a produtos brasileiros.

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, o governo avalia divulgar uma nota tratando do tema, porém ainda estuda o conteúdo da medida e os impactos que ela terá no comércio nacional. De acordo com interlocutores, a gestão federal não sabe se terá espaço para negociar tal decreto com o governo Trump e reuniões sobre o assunto serão feitas ao longo do dia.

Segundo pessoas a par do assunto, o foco do dia será analisar o conteúdo da medida e ver se há brechas para movimentos da gestão brasileira para negociar. As conversas devem ser feitas especialmente com a indústria e, algumas, envolvendo o Palácio Itamaraty. Uma oportunidade de diálogo para tratar sobre a medida com o governo Trump ainda não é dada como certa, na avaliação do governo Lula.

Desde o anúncio, as autoridades brasileiras têm feito declarações discretas sobre o tema, sinalizando a pretensão de tentar negociar com os americanos. Na segunda, Alckmin falou em disposição para colaborar.

Mais cedo, nesta terça-feira, 11, o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) disse que o Brasil não estimularia e nem entraria em uma guerra comercial. Segundo ele, guerras comerciais não fazem bem a ninguém. Também disse que o governo ainda não discutiu o que será feito a respeito da taxação pelos Estados Unidos e que defende o livre comércio.

A indústria siderúrgica brasileira já começou a se articular para buscar formas de enfrentar os efeitos das medidas na produção brasileira. Representantes do Instituto Aço Brasil foram na manhã desta terça-feira para Brasília, onde terão reuniões com técnicos da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) e da Câmara de Comércio Exterior (Camex). Haverá ainda um encontro no Ministério de Relações Exteriores (MRE).

No ato assinado na segunda, Trump invalidou acordos construídos por ele mesmo no primeiro mandato à frente do governo americano, incluindo com o Brasil. Segundo um integrante do Executivo, a medida não foi surpreendente, devido ao que o republicano já vinha indicando.

Pelas regras em vigor, que não valerão mais a partir de 12 de março, o País pode exportar aço aos EUA no limite de 3,5 milhões de toneladas ao ano de aço semiacabado, e, para o produto acabado (aços longos, planos, inoxidáveis e tubos), de 543 mil toneladas. Com a nova decisão, o sistema de cotas deixará de funcionar. O modelo foi adotado em 2018, quando a diplomacia brasileira conseguiu um acordo com os norte-americanos e evitou a sobretaxa sobre o aço exportado em troca de um sistema de cotas para venda aos EUA. No caso do alumínio, foi mantida a taxação em 10% — que agora irá a 25% também.

A tarifa atinge os embarques de aço do País aos Estados Unidos principalmente pelo material semi-acabado (placas e tarugos), que representa quase 90% das exportações ao mercado americano. Esse item é adquirido por empresas locais que não fabricam placas para transformá-las em produtos acabados que atendem diversos setores industriais do país.

Valor - SP   12/02/2025

Especialistas entendem que é melhor negociar com EUA antes de medida entrar em vigor

José Roberto de Castro: estratégia de antecipar embarques deve levar em consideração as cotas que estão em vigor — Foto: Leo Pinheiro/Valor

Mais agressiva do que a tarifa sobre aço e alumínio estabelecida em 2018, a nova medida de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, tem como alvo um número maior de países, atingindo até mesmo os países fronteiriços, pode incluir novos itens na lista de derivados de aço sujeitos à tarifa de 25% e promete ser mais severa na fiscalização das importações americanas, obrigando as empresas do setor a suportar maiores custos de conformidade.

Especialistas apontam que o melhor caminho para o Brasil é a negociação diplomática até 12 de março, quando as medidas entram em vigor. Na incerteza do que acontece até lá, escritórios de advocacia têm recomendado tentar antecipar exportações de modo que a mercadoria chegue à aduana americana antes da vigência da nova tarifa, além de uma revisão das estratégias de exportação e cadeias de suprimento para identificar riscos e evitar interrupções quando a medida entrar em vigor.

Embora não tenham sido uma surpresa, as tarifas de Trump sobre aço e alumínio são vistas por especialistas com preocupação, porque podem ser o início de medidas que irão se espalhar a outros produtos e setores, afetando preços e com risco de deflagrar uma onda de taxações.

Em março de 2018, Trump colocou tarifa de 25% para aço e de 10% no alumínio, mas a medida não atingiu o México nem o Canadá e foi dada alternativa de negociação a alguns países. O Brasil conseguiu entrar em uma lista de exceção e negociou cotas.

William Roberto Crestani, sócio da área de comércio internacional do Pinheiro Neto Advogados, lembra que houve várias negociações de lá para cá. A medida de 2018, diz, teve alterações. Houve uma tentativa de tirar as cotas de alguns países, inclusive do Brasil, já em 2019, mas houve nova negociação. Em 2020, reduziu-se a cota que tinha para certos países, o Brasil entre eles. Somente em 2022, na gestão de Joe Biden, alguns ajustes foram feitos, lembra.

É uma medida horizontal e ainda está em aberto como será aplicada”

— Felipe Rainato

Para as novas medidas de Trump, o melhor caminho ainda é a via diplomática, diz Crestani. “Existem poucos mecanismos jurídicos do ponto de vista da Organização Mundial do Comércio [OMC]. As regras gerais permitem aumento de até 35% das tarifas de importações e o órgão de soluções de controvérsia da OMC não tem funcionando muito bem.”

Enquanto isso, diz, a recomendação para as empresas do setor é, se possível, adiantar embarques para fevereiro, para que o produto chegue na aduana americana antes de 12 de março. O escritório, observa, também tem recomendado que as empresas levem ao Itamaraty dados sobre o setor que possam auxiliar na negociação diplomática com o governo americano. Os efeitos, lembra Crestani, são muito heterogêneos sobre as indústrias do setor, porque nem todas são atuantes da mesma forma na exportação.

O transporte de aço do Brasil para os EUA leva de 10 a 12 dias, mas a estratégia de antecipar embarques deve levar em consideração as cotas que estão em vigor, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

A proclamação de Trump estabelece o fim do acordo de cotas com o Brasil a partir de 12 de março e encerra todos os acordos alternativos concedidos anteriormente a Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, União Europeia, Japão, México, Coreia do Sul e Reino Unido. Todas as importações de aço e de produtos derivados de aço provenientes desses países voltam a ficar sujeitas à tarifa adicional de 25%.

Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e sócio do escritório Barral Parente Pinheiro, destaca que a nova ordem permite a expansão da lista de derivados de aço sujeitos à tarifa de 25%. Segundo a proclamação, além de incluir os artigos de aço que já estavam sobretaxados anteriormente por outras medidas, incluindo a de março de 2018, o novo processo deverá permitir a ampliação da lista a pedido de um produtor do setor ou uma associação industrial que indiquem que as importações de algum derivado de aço aumentaram de maneira que “ameaça prejudicar a segurança nacional”.

A proclamação, diz Barral, também revoga o processo que permitia isenção de tarifa caso não houvesse produção em quantidade ou qualidade suficientes nos EUA. Com isso, diz Barral, Trump “zera” todas as negociações feitas pelo Brasil em relação ao aço, tornando necessários novos acordos.

Os Estados Unidos também prometem intensificar a fiscalização. Segundo a proclamação, serão aplicadas penalidades máximas para importações que tentem contornar ou evadir as tarifas. Entre as medidas que prometem maior escrutínio nas importações americanas, Barral destaca o “Melt and Pour” [Derreter e Despejar], critério que já existe para determinar a origem do aço e que deve ser aplicado com maior rigor pelos Estados Unidos.

O termo “melt and pour” refere-se ao local em que o aço é efetivamente derretido a partir de matérias-primas ou sucata e em que se dá o vazamento em sua forma primária. Por exemplo, lingotes ou blocos. Esse processo inicial de produção é o que determina a origem efetiva do aço, independentemente de quaisquer estágios adicionais de processamento ou acabamento em outro país.

Para Barral, essa fiscalização que foca na origem da matéria-prima e no local de derretimento do aço não afeta diretamente o fornecimento de países como o Brasil, que detêm a cadeia toda do aço, desde o minério de ferro. A medida, porém, deve afetar o México, que desta vez não ficou isento da tarifa de 25%. “O Brasil, porém, deve ser afetado de forma indireta porque será preciso ter novas medidas de compliance para fazer frente ao reforço do controle aduaneiro, o que requer certificações e outros documentos que devem elevar o custo.”

Para Felipe Rainato, advogado e gerente da área de comércio internacional do escritório Hondatar, essa é uma medida que deve afetar o Brasil independentemente do que o Itamaraty conseguir na negociação com Trump para amenizar a tarifa de 25%. “É uma medida horizontal e ainda está em aberto como será aplicada. Eles podem exigir, por exemplo, que uma autoridade certificadora no Brasil siga critérios extremamente rígidos.”

Livio Ribeiro, sócio da BRCG e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre), diz que a medida de Trump não surpreende. Para ele, deve haver uma negociação do Brasil com os Estados Unidos porque a tarifa afeta muito a indústria americana que não é produtora de aço e que tem o aço e produtos derivados como insumos.

É difícil saber, diz, se a nova negociação trará situação mais desvantajosa ao Brasil no aço. “Trump deu um tiro geral para derrubar o sistema anterior. Isso deve levar a uma renegociação e não sabemos onde as coisas vão pousar. Mas a questão é que agora foram o aço e o alumínio. Qual será o próximo produto? No caso do aço, 15% do que entra nos Estados Unidos vem do Brasil. Não somos irrelevantes nesse setor. Mas pode haver outros segmentos onde tomamos um tiro do geral, uma bala perdida, e não temos tanta margem de negociação. Hoje não somente os setores que exportam de maneira significativa aos Estados Unidos devem ficar com pé atrás.”

Rainato, do Hondatar, diz que uma medida como a de Trump no caso do aço pode resultar em excedentes nas cadeias produtivas. “O Brasil pode ter excesso de produção e não pode ter muito como escoar essa produção. Esse é um mercado com margens na origem muito estreitas e num cenário de excesso de estoque ou com falta de escoamento de produção, as empresas privadas sofrem muito na formação do preço, porque não conseguem colocar uma margem minimamente adequada para sustentar a operação.” A produção chinesa de aço, porém, observa, pode ter condições de oferecer preços acessíveis. “Essa é uma das principais preocupações do Brasil.”

Para Ribeiro, a medida de Trump mostra que há risco de encadeamento de tarifas, num caso em que um país tenta se defender do deslocamento de exportações causado pela dificuldade de um segundo país de entrar em um determinado mercado que elevou suas tarifas. “Esse é um perigo e não acontece rapidamente. Podemos chegar num equilíbrio em que começam a sobrar produtos no mundo e aí as indústrias locais começam a querer se proteger.”

O Estado de S.Paulo - SP   12/02/2025

O Brasil está entre os países mais impactados pela decisão de Donald Trump de impor tarifas de 25% para o aço e o alumínio que entram nos Estados Unidos. Em memorando para orientar clientes do setor siderúrgico, o especialista em comércio exterior Welber Barral, sócio do Barral Parente Pinheiro Advogados, faz essa avaliação.

Ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e PhD em Direito Internacional pela Universidade de São Paulo (USP), Barral sugere que, entre outras ações prioritárias, as empresas revisem cadeias de suprimento e contratos para lidar com o aumento potencial nos custos e monitorem possíveis alterações ou disputas legais que possam modificar ou suspender os efeitos da medida do republicano.

Outra recomendação é para que as companhias fortaleçam seus processos de compliance e documentação. A providência será importante para que as autoridades norte-americanas reconheçam corretamente a origem do aço, o que pode evitar eventuais penalidades.

O escritório também sugere que as empresas realizem um mapeamento completo das exportações de produtos de aço e derivados para os EUA.

Tarifa considera onde o aço foi derretido

O documento destaca que as regras baixadas por Trump na segunda-feira, 10, enfatizam “fortemente” o critério de “melt and pour” para determinar a origem do aço. O aspecto é relevante porque o termo se refere ao local em que o aço é efetivamente derretido a partir de matérias-primas ou sucata e em que se dá o vazamento em sua forma primária (por exemplo, lingotes ou blocos).

Esse processo inicial de produção é o que determina a origem efetiva do aço, independentemente de quaisquer estágios adicionais de processamento ou acabamento em outro país.

Segundo o Barral Parente Pinheiro Advogados, se o aço foi derretido e vazado no Brasil, ele será considerado de origem brasileira, ainda que seja posteriormente laminado, cortado ou montado em outra localidade antes da exportação final aos EUA.

“Para o governo norte-americano, a procedência brasileira implica aplicação das tarifas de 25%, dado o encerramento dos acordos de cota ou redução”, apontou.

Entenda o que é o ‘transshipment’

Caso haja processamento adicional em um terceiro país para tentar evitar a tarifa (chamado transshipment), a Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP) deve intensificar a fiscalização para comprovar a origem real do aço, aplicando penalidades em casos de inconsistências, destaca o documento, lembrando que a CBP exige que o importador (e, de forma reflexa, o exportador) declare com precisão onde ocorreu o “melt and pour”.

“Recomendamos que as empresas do setor siderúrgico brasileiro revisem com urgência suas estratégias de exportação e cadeias de suprimento para identificar riscos e evitar interrupções após a entrada em vigor das novas medidas, em 12 de março de 2025", diz o memorando assinado por Barral, que foi secretário de Comércio Exterior do Brasil de 2007 a 2011. Ele observa ainda que o aumento de custos de exportação para os EUA pode afetar diretamente a competitividade, as margens de lucro e os planos de expansão das empresas.

O documento também recomenda, que entre as estratégias de mitigação, as companhias negociem com importadores e clientes norte-americanos possíveis repasses de custo ou adequações de prazo. Será preciso considerar ainda o investimento em operações nos EUA para reduzir a dependência de importações sujeitas às novas tarifas.
Por que o Brasil é um dos mais impactados

O Brasil está entre os países que mais sofrerão com a repercussão da medida porque é um importante exportador da matéria aos EUA e, em 2018, conseguiu evitar a sobretaxa do aço ao negociar com Trump, em seu primeiro mandato, o estabelecimento de cotas para a exportação ao país.

Novamente à frente da administração norte-americana, o republicano resolveu com a decisão de ontem encerrar todos os acordos alternativos concedidos anteriormente ao Brasil e outros países como Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, União Europeia, Japão, México, Coreia do Sul e Reino Unido.

Valor - SP   12/02/2025

Marco Polo de Mello Lopes ressaltou que os americanos importaram quase seis milhões de toneladas do produto em 2024

Com a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 25% sobre o aço importado pelo país, o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, acredita que o desafio do Brasil agora é mostrar ao governo americano que o aço brasileiro desempenha um papel complementar na indústria norte-americana.

Segundo o dirigente, quase todo aço exportado do Brasil para os EUA é utilizado pela própria indústria norte-americana, principalmente na fabricação de produtos que dependem de insumos específicos não produzidos em larga escala no país. Lopes ressalta que essa relação comercial não representa uma ameaça à indústria siderúrgica americana, mas, sim, uma parceria estratégica que garante competitividade e estabilidade a ambos países.

“Mais de 80% do que a gente exporta para os EUA é de interesse da própria indústria siderúrgica americana. São placas que têm uma única utilização, que é a produção da indústria americana. É importante relembrar que ela [a indústria americana] não tem autossuficiência em relação desta matéria-prima estratégica”, diz o dirigente.

Ele lembra que os americanos importaram quase seis milhões de toneladas do produto em 2024, o que mostra que o Brasil é um fornecedor confiável. Além disso, o Brasil é um comprador de carvão siderúrgico, da ordem de US$ 1 bilhão, o que mostra um importante fluxo de comércio entre os dois países, de US$ 7,6 bilhões.

A União Europeia (UE) e alguns outros países anunciaram que vão retaliar as tarifas anunciadas pelos Estados Unidos sobre as importações de aço e alumínio com “contramedidas firmes e proporcionais”, o que deve intensificar a guerra comercial contra Washington.

A entidade diz que o Brasil deve seguir por outro caminho: não cabe neste momento um processo de retaliação. O executivo diz estar em contato com o governo brasileiro, via Câmara de Comércio Exterior (Camex) e Ministério da Indústria Comércio e Serviços (Mdic), para buscar um canal de negociação diplomático com a ajuda do Ministério de Relações Exteriores (MRE), para retomar o acordo.

O executivo explica que a situação é uma repetição do que ocorreu no ano de 2018, em que o governo americano tomou uma medida similar. Na ocasião, os governos de Estados Unidos e Brasil negociaram o estabelecimento de cotas de exportação para o mercado norte-americano de 3,5 milhões de toneladas de semiacabados/placas e de 687 mil toneladas de laminados. A medida flexibilizou decisão anterior de Trump que havia estabelecido alíquota de importação de aço para 25%.

Ao implementar a taxação, Trump citou diretamente o Brasil como um dos principais motivos para a imposição das novas tarifas. No decreto divulgado pela Casa Branca, o republicano diz que as importações brasileiras de aço da China cresceram de forma “tremenda”, mais do que triplicando nos últimos anos, o que teria impactado a indústria americana.

Lopes contra-argumenta: “Duas considerações foram levantadas. Primeiro, de que aumentamos as exportações para os EUA, o que não procede, já que o acordo estabelece que só podemos exportar até o limite da cota aprovada. Caso esse limite seja excedido, a alfândega americana não autoriza a entrada do produto. Segundo, em relação às importações de aço chinês, estamos em negociações com o governo brasileiro para tentar bloquear essas importações predatórias da China”.

As medidas comerciais para conter a enxurrada de importações chinesas desaceleraram a entrada de alguns produtos, mas ainda não foram suficientes para frear a invasão do aço chinês. O impacto sobre as siderúrgicas locais segue abaixo do esperado, e a projeção é que a oferta do produto no mercado nacional continue em alta em 2025.

O Estado de S.Paulo - SP   12/02/2025

Entre os vários motivos que elencou para justificar a tarifa de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio, o presidente Donald Trump citou o aumento na importação do produto chinês por parte do Brasil.

“As importações brasileiras de países com níveis significativos de excesso de capacidade, especificamente a China, cresceram tremendamente nos últimos anos, mais do que triplicando desde a instituição desse acordo de cotas”, cita a ordem executiva entitulada Adjusting Imports of Steel into The United States (Ajustando as Importações de Aço para os Estados Unidos).

O texto do republicano é corroborado pelos números. Relatório do Instituto Aço Brasil indica aumento de 14,6% das importações brasileiras do produto chinês, passando de 2,89 milhões de toneladas em 2023 para 3,3 milhões de toneladas no ano passado. Os dados indicam que a China é o maior exportador do produto para o Brasil.

Ainda segundo o enunciado da ordem executiva, a tarifa entra em vigor no dia 12 de março próximo. “Em meu julgamento, essas modificações são necessárias para abordar a parcela significativamente crescente de importações de artigos de aço e artigos de aço derivados dessas fontes, que ameaçam prejudicar a segurança nacional dos EUA”, escreve Trump.

O texto cita ainda que “à medida que a participação no mercado de importação de aço aumentou, o desempenho da indústria doméstica foi deprimido”.

A ordem executiva traz o raciocínio de que países com cotas de exportação para os EUA foram inundados pela oferta do aço chinês, e, em vez de combater esse excesso de oferta no mercado global, despejaram mais de sua produção no país da América do Norte, prejudicando as empresas locais. “Esses acordos alternativos (de definições de cotas) não resultaram em ação suficiente por parte desses parceiros de comércio para lidar com a capacidade excessiva de não-mercado, causada principalmente pela China, ou em cooperação suficiente desses parceiros de comércio em questões como remédios transacionais e assuntos de alfândegas ou monitorando o comércio bilateral de aço”, escreve Trump.

Antes da medida anunciada por Trump, o Brasil era um dos países que estavam sujeitos a cotas, tais como a Argentina e a Coreia do Sul. Segundo o documento, de 2022 a 2024, as importações de produtos desses países aumentaram em aproximadamente 1,5 milhão de toneladas, mesmo com a demanda dos EUA diminuindo em mais de 6,1 milhões de toneladas durante o período. “A Argentina continuou a exportar aço para os Estados Unidos em quantidades insustentáveis, especialmente um aumento recente de produtos semiacabados”, cita o texto.

O enunciado ainda aborda as importações de artigos de aço do Canadá e do México, que, segundo o texto, “aumentaram significativamente a níveis que mais uma vez ameaçam prejudicar a segurança nacional dos EUA.” O Canadá lidera a exportação de aço para os Estados Unidos, seguido do Brasil.

“Esses aumentos ocorreram enquanto as autoridades desses países apoiavam produtores não competitivos com subsídios e outras intervenções que exacerbaram a crise global de excesso de capacidade”, cita o texto.

Outro argumento é o de aumento das exportações de aço pela China. “Ao mesmo tempo, as exportações de aço da República Popular da China (China) aumentaram recentemente, ultrapassando 114 milhões de toneladas até novembro de 2024, ao mesmo tempo que deslocam a produção em outros países e os forçam a exportar maiores volumes de artigos de aço e artigos de aço derivados para os Estados Unidos”, cita o texto.

Ainda segundo a ordem executiva assinada por Trump, houve elevação de importações de aço e alumínio por parte dos países que os Estados Unidos firmaram acordos de cotas (o volume total comprado desses países passou de 74% em 2018 para 82% 2024). “Enquanto as importações de países sujeitos a restrições quantitativas permanecem elevadas, independentemente das mudanças nas condições de demanda dos EUA e dos investimentos substanciais feitos para expandir as capacidades da indústria doméstica”, menciona.

Impactos

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva ainda discute os impactos da medida com um núcleo reduzido do governo. Para o setor do alumínio, os produtos brasileiros irão se tornar menos atrativos comercialmente com as tarifas.

Já as siderúrgicas com grande potencial de perdas na exportação são a ArcelorMittal e a Ternium, fabricantes de aço semi-acabado (placas); de outro, a CSN, que vende produtos laminados de alto valor agregado no mercado americano, com material enviado da sua usina em Volta Redonda (RJ) para seu centro de distribuição local. Já a Gerdau pode se beneficiar com esse cenário, segundo avaliações de analistas.

O Estado de S.Paulo - SP   12/02/2025

Sob o impacto da decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de tarifar em 25% todas as exportações de aço para o mercado americano, a indústria siderúrgica brasileira começou a se articular para buscar formas de enfrentar os efeitos das medidas na produção brasileira. O Brasil é o segundo maior exportador do material para os EUA, logo depois de Canadá, e à frente do México.

Representantes do Instituto Aço Brasil foram na manhã desta terça-feira, 11, para Brasília, onde terão reuniões com técnicos da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) e da Câmara de Comércio Exterior (Camex), ambos órgãos executivos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) para assuntos de comércio exterior.

Haverá ainda um encontro no Ministério de Relações Exteriores (MRE), conforme apurou o Estadão com uma pessoa ligada ao Instituto Aço Brasil, que representa as fabricantes de aço no País.

A tarifa de 25% atinge os embarques de aço do País aos Estados Unidos, principalmente material semi-acabado (placas e tarugos), que representam quase 90% das exportações ao mercado americano. Esse item é adquirido por empresas locais que não fabricam placas para transformá-las em produtos acabados que atendem diversos setores industriais do país.

Entre as siderúrgicas que atuam no Brasil, as mais atingidas pelas medidas de Trump são as fabricantes de placas ArcelorMittal, com duas unidades fabris no País, e a Ternium, no Rio de Janeiro. O caso da companhia do empresário indiano Lakshmi Mittal é mais crítico: as unidades brasileiras abastecem 100% das necessidades da laminadora que o grupo, com a Nippon Steel, opera no Estado de Alabama. São 5 milhões de toneladas por ano que vão para essa planta, chamada Calvert.

Em aços laminados, as exportações foram de 460 mil toneladas no ano passado, de uma cota de exportação de pouco mais de 500 mil toneladas negociada em 2018, quando Trump anunciou, via Seção 232, a mesma tarifa de 25% para importações. No caso dos laminados, a CSN é a empresa mais afetada, pois faz embarques de material de alto valor agregado (chapas zincadas e pré-pintadas), tipos de aços usados no setor automotivo, de bens eletrodomésticos e na construção civil.

Uma expectativa da siderurgia brasileira é que se alcance uma negociação, principalmente para os semicabados, que são o grosso das exportações aos EUA. Tentar convencer o governo americano que unidades de laminação do país poderão simplesmente paralisar atividades sem matéria-prima, levando à queda de oferta no mercado doméstico americano, gerando alta de preços nesses tipos de aço.

Conforme relatório do Itaú BBA, a siderúrgica americana Nucor Corporation (15ª no ranking mundial) alegou que volumes de aço importados isentos e dentro das cotas representaram cerca de 82% do total que entrou nos EUA em 2024. A empresa será uma das beneficiadas com freio nas importações de produtos siderúrgicos.

O Brasil exportou cerca de 10 milhões de toneladas de aço em 2024, sendo a maior parte (76%) de produto semi-acabado (placas e tarugos), informa o relatório. Os EUA representaram 60% desse volume. O Brasil é ainda o 2º maior exportador de ferro e aço para o país (15% do que importa desse produtos).

IstoÉ Dinheiro - SP   12/02/2025

A União Europeia (UE) e o Canadá prometeram, nesta terça-feira (11), uma resposta firme às tarifas dos Estados Unidos sobre o aço e o alumínio, anunciadas pelo presidente Donald Trump, uma medida que também afetará o Brasil.

Na segunda-feira (10), Trump determinou a adoção de tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio, que entrarão em vigor em 12 de março, “sem exceções e isenções”.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, advertiu que “as tarifas injustificáveis à UE não ficarão sem resposta” e prometeu medidas “firmes e proporcionais”.

As tarifas afetarão de maneira considerável o Canadá, principal fornecedor de aço e alumínio dos Estados Unidos.

Brasil, México e Coreia do Sul, importantes fornecedores de aço, também serão prejudicados.

A federação do aço no Reino Unido, UK Steel, teme que as novas tarifas provoquem um “golpe devastador” para um setor já em declínio.

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, afirmou nesta terça-feira que o país reagirá “com energia e firmeza” às tarifas anunciadas por Trump.

Na Alemanha, a locomotiva econômica europeia, o chefe de Governo, Olaf Scholz, disse que o bloco europeu apresentará uma frente unida. Também expressou a esperança de conseguir evitar o que chamou de “caminho errado das tarifas e contra-tarifas”.

O ministro da Economia da Alemanha, Robert Habeck, defendeu a continuidade do “caminho da cooperação com os Estados Unidos”.

O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noël Barrot, destacou que a UE “responderá” como fez durante o primeiro mandato presidencial de Trump.

– Cautela sul-coreana –

A Coreia do Sul – outro país muito afetado pelas tarifas americanas – optou por uma postura mais conciliadora com Washington.

O chefe de Estado interino, Choi Sang-mok, disse que a Coreia do Sul tem a intenção de “proteger os interesses das empresas e reduzir as incertezas ao construir uma relação próxima com a administração Trump e ampliar nossas opções diplomáticas”.

O presidente americano também mencionou a possibilidade de impor tarifas a outros setores particularmente sensíveis para os sul-coreanos, como os semicondutores e as áreas automotiva e farmacêutica.

Além disso, a Coreia do Sul depende dos Estados Unidos para sua segurança diante da Coreia do Norte.

Ao anunciar as medidas, Trump afirmou que vários países que se beneficiavam de isenções tarifárias eram usados como plataforma pela China.

“Os produtores chineses aproveitam a exclusão geral do México das tarifas alfandegárias para enviar alumínio chinês aos Estados Unidos através do México”, afirmou o presidente americano.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, destacou na segunda-feira que para Pequim “não há (…) um vencedor em uma guerra comercial ou alfandegária”.

No domingo, Trump defendeu que as “tarifas alfandegárias recíprocas” buscam alinhar a tributação dos produtos que entram nos Estados Unidos com a forma como os produtos americanos são tributados no exterior.

Durante seu primeiro mandato (2017-21), Trump adotou tarifas aduaneiras de 25% sobre o aço e de 10% sobre alumínio. As medidas foram retiradas por ele mesmo ou por seu sucessor, Joe Biden.

Em resposta, os europeus adotaram medidas de represália muito específicas, centradas no bourbon ou nas motocicletas Harley-Davidson.

Até o momento, Trump pressionou mais os aliados dos Estados Unidos do que a grande rival China, submetida desde terça-feira a tarifas de importação adicionais de 10%, além das que já cobradas até então.

BOL - SP   12/02/2025

A decisão do presidente dos Estados Unidos de impor uma tarifa de 25% sobre o aço importado deve impactar empresas brasileiras, mas a Gerdau pode sair beneficiada. Com 11 unidades de produção nos EUA e no Canadá, a companhia evita a taxação e ganha competitividade frente a concorrentes que exportam para o país.

Especialistas ouvidos pelo UOL Economia analisam se a medida pode valorizar as ações da empresa e tornar o investimento mais vantajoso no momento.

Como empresa pode se beneficiar

Taxa em aço brasileiro. Donald Trump anunciou que taxaria em 25% todo aço que fosse importado pelos Estados Unidos. A medida afeta diretamente o Brasil uma vez que o país é o segundo que mais exporta para os americanos.

Gerdau seria grande beneficiada. A siderúrgica, que é a maior do setor no Brasil e por possuir 11 unidades de produção de aços longos e especiais nos EUA e Canadá, seria, em teoria, a maior beneficiada pela decisão de Trump. Com a tarifa, concorrentes estrangeiros que exportam para os EUA ficariam menos competitivos, enquanto a Gerdau não seria afetada pela taxa, tornando seus produtos mais atrativos.

A Gerdau tem lucros e paga dividendos de forma recorrente e também tem um payout [participação sobre o lucro para os acionistas] na ordem de 38%, que é bastante relevante. É muito bem administrada e um preço ainda bastante atrativo, o que denota que é uma boa ação para colocar na carteira no longo prazo.
Renan Silva, professor do Ibmec Brasília

Aumento de receita nos EUA. Outra forma da empresa ser beneficiada é com o aumento dos preços do aço nos EUA devido a tarifa para importados. Assim, a Gerdau pode aumentar sua margem de lucro com a venda de aço produzido internamente, elevando sua receita no país.

Diretor financeiro concorda. Em 2024, de acordo com reportagem da Reuters, o diretor financeiro da empresa, Rafael Japur, disse que as medidas econômicas e protecionistas do recém eleito presidente dos Estados Unidos seriam positivas para a demanda por aço no país, ajudando suas siderúrgicas locais.

Dólar forte também favorece. A moeda americana permanecendo alta também ajuda as operações da Gerdau no Brasil. Esse ponto também foi destacado por Japur. Quando o dólar sobe, o custo do aço importado para o Brasil aumenta, já que essas compras são feitas em moeda estrangeira.

O mercado parece otimista com essa possibilidade indicando um bom momento para investir na empresa devido à tarifa que Trump pretende impor sobre o aço importado.
Rogério Paulucci Mauad, professor de Economia do Ibmec-SP
Cautela é necessária

Donald Trump pode mudar de ideia. Assim como disse que taxaria os produtos canadenses e mexicanos em 25% e, em seguida, voltou atrás após conversas com os chefes de estado dos dois países, Trump pode não seguir com o plano de taxar o aço ou abrir cotas, como ocorreu em 2018. Para o educador financeiro e fundador da AUVP Capital Raul Sena, então, guiar-se pelo noticiário, nesse momento, pode levar o investidor ao erro.

Outras variáveis precisam ser analisadas. Em seu último relatório para investidores sobre o assunto, o BTG Pactual alertou os investidores que "os fundamentos da indústria siderúrgica nos EUA permanecem um tanto fracos no curto prazo". De acordo com o relatório, a indústria está operando com cerca de 73% da sua capacidade.

Siderurgia no Brasil teve uma piora nas condições de mercado. Ainda conforme o BTG Pactual, os preços dos vergalhões, que são barras de aço usadas na construção, caíram cerca de 4% a 5% em janeiro. Isso significa que as empresas estão vendendo esse produto por um valor menor, o que pode reduzir os lucros no curto prazo.

Baixo impacto. Lucas Laghi, diretor de mineração e siderurgia da área de pesquisas da corretora XP Investimentos, lembrou que os impactos de valorização na empresa foram relativamente baixos. Na segunda-feira (10) após o anúncio de Trump, as ações da Gerdau valorizaram 3,34%. No entanto, nas últimas semanas as ações oscilavam entre quedas de mais de 1% e ganhos de percentual semelhante.

BOL - SP   12/02/2025

A nova tarifa de 25% imposta pelos Estados Unidos sobre o aço importado impacta diretamente as siderúrgicas brasileiras, afetando especialmente empresas como Ternium e ArcelorMittal. A Gerdau, por outro lado, pode se beneficiar devido à sua produção nos EUA. Especialistas ouvidos pelo UOL analisam os impactos e as possíveis reações do setor.
O que aconteceu

O governo Donald Trump anunciou uma tarifa fixa de 25% sobre todas as importações de aço, encerrando isenções e cotas especiais. Com isso, o Brasil, que exportou 4,3 milhões de toneladas de aço em 2024, sendo 90% desse volume de produtos semiacabados, verá um aumento de custos significativo para manter sua presença no mercado americano.

As empresas mais afetadas serão aquelas que exportam aço semiacabado, essencial para siderúrgicas americanas. A análise é do BTG Pactual, assinada pelos analistas Leonardo Correa, Marcelo Arazi e Bruno Henriques.
ArcelorMittal: exporta mais de 75% da produção brasileira para os EUA, sendo fortemente dependente do mercado americano.Ternium: produz placas de aço usadas em usinas laminadoras na América Latina (Argentina e México) e exporta para os EUA, sendo impactada diretamente.

A Ternium e a ArcelorMittal podem sofrer perda de receita e precisar realocar sua produção. "As empresas que exportam aço semiacabado serão as mais atingidas porque esses produtos são matéria-prima da indústria americana. Com a sobretaxa, tornam-se menos competitivos e podem enfrentar queda na demanda e na geração de receita", avalia o economista Roberto Simioni, da Blue3 Investimentos.

Já as siderúrgicas que exportam aço acabado, como chapas e bobinas, devem sofrer menos impacto. Isso ocorre porque esses produtos já competem diretamente com a produção americana, e algumas empresas brasileiras podem até ocupar espaços deixados por concorrentes de outros países.
Gerdau pode ser beneficiada

A Gerdau está em uma posição privilegiada devido à sua produção nos EUA. Segundo os relatórios do BTG Pactual e do Itaú BBA, a empresa tem 11 usinas na América do Norte, permitindo que continue operando sem ser afetada diretamente pela tarifa.

Se os preços do aço nos EUA subirem 5%, o EBITDA da Gerdau pode crescer 12%, colocando-a entre as empresas mais beneficiadas pela tarifa. A análise é da equipe do Itaú BBA, chefiada pelo economista Daniel Sasson. O EBITDA é um indicador financeiro que mede o lucro de uma empresa antes de descontar impostos, juros, depreciação e amortização. Apesar das vantagens, especialistas alertam que o mercado siderúrgico dos EUA opera com 27% de ociosidade, e uma desaceleração na demanda pode afetar indiretamente a empresa.

A produção local da Gerdau dá à empresa uma vantagem competitiva significativa. "A produção nos EUA permite que a Gerdau evite a tarifa de importação, mantendo seus preços mais competitivos que os de empresas que exportam do Brasil", explica Natan de Souza Marques, economista e professor da Universidade Cruzeiro do Sul.
Impacto moderado

A CSN e a Usiminas terão impactos menores, pois exportam pouco para os EUA, avalia Simioni. A CSN opera um centro de distribuição nos EUA, vendendo aço laminado em um sistema de cotas anual de 200 a 250 mil toneladas. A Usiminas tem pouca exposição ao mercado americano, concentrando-se na América Latina. No entanto, ambas podem precisar redirecionar parte da produção para outros mercados, como Oriente Médio, África e América Latina.

Para pequenas e médias siderúrgicas, a sobretaxa representa um risco ainda maior. Isso ocorre pois muitas dependem das exportações para os EUA e não têm estrutura para buscar novos mercados com rapidez.

Se a sobretaxa for mantida, o setor precisará de estratégias para mitigar os prejuízos. Especialistas apontam três caminhos principais:
Buscar novos mercados: América Latina (México, Argentina, Colômbia), Oriente Médio e África são opções viáveis, mas exigem adaptação a barreiras comerciais.Expansão nos EUA: Empresas podem ampliar operações em solo americano para evitar tarifas.Negociar exceções: O Brasil pode buscar acordos para minimizar os impactos da tarifa sobre produtos essenciais para a siderurgia americana. Até o momento, o governo brasileiro não anunciou medidas concretas para lidar com a sobretaxa.O que diz o Instituto Aço Brasil

Em nota, o Instituto Aço Brasil, que representa empresas do setor, afirma ter recebido "com surpresa a decisão do governo dos Estados Unidos". O instituto diz que "Estados Unidos e Brasil detêm parceria comercial de longa data, que vem sendo, historicamente, favorável ao primeiro".

O Instituto Aço Brasil e empresas associadas estão confiantes na abertura de diálogo entre os governos dos dois países, de forma a restabelecer o fluxo de produtos de aço para os Estados Unidos nas bases acordadas em 2018, em razão da parceria ao longo de muitos anos e por entender que a taxação de 25% sobre os produtos de aço brasileiros não será benéfica para ambas as partes. Instituto Aço Brasil, em nota

Valor - SP   12/02/2025

Porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que "não há saída no protecionismo". "E não há vencedores em guerras comerciais e tarifárias", acrescentou

As novas tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre aço e alumínio, são amplas e afetam todo o mundo, não apenas a superpotência rival, a China. Mas, embora o impacto nas indústrias chinesas de metais possa parecer limitado à primeira vista, a nova medida da Casa Branca pode agravar as pressões dentro da segunda maior economia do mundo e desencadear uma reação global de protecionismo, segundo analistas.

A China exportou US$ 2,5 bilhões em produtos de aço e alumínio para os EUA em 2024, representando apenas 0,5% de suas exportações totais e 0,01% de seu PIB, segundo a Capital Economics.

Os economistas da empresa observaram que, mesmo após a imposição pelos EUA de tarifas de até 47,5% sobre alguns produtos de aço e 32,5% sobre as importações de alumínio no primeiro governo Trump, o comércio dos produtos entre os países “já é limitado e o impacto adicional de novas tarifas ainda mais altas deve ser pequeno".

No entanto, especialistas alertam que o anúncio de tarifas adicionais de 25% por Trump pode dificultar a capacidade chinesa de lidar com o excesso de capacidade que tem prejudicado os fabricantes chineses nos anos pós-pandemia.

Alvin Tan, chefe de estratégia de câmbio da Ásia no RBC Capital Markets, disse em nota que as tarifas "afetam indiretamente a China", já que o país é o maior produtor tanto de aço quanto de alumínio. "As exportações chinesas desses produtos também aumentaram porque a demanda local da indústria da construção caiu drasticamente com a crise no mercado imobiliário", disse ele.

A construção de apartamentos e projetos de infraestrutura é responsável por até 55% da demanda chinesa por produtos de aço, mas é improvável que se recupere em breve, segundo a Fitch Ratings. A falta de demanda pode manter o crescimento dos preços industriais próximo de zero por um período prolongado, aumentando as preocupações com uma possível deflação.

Porém, buscar outros mercados para vender o excedente pode aumentar ainda mais as tensões comerciais.

As siderúrgicas chinesas reduziram a produção em 1,7% no ano passado, para pouco mais de 1 bilhão de toneladas, mas as exportações atingiram um recorde de 110,7 milhões de toneladas, um aumento de 23% em relação a 2023. Os preços do aço e do alumínio caíram mesmo com o aumento dos volumes, sinalizando que os produtores chineses estão exportando deflação para outros países. Muitos governos têm alertado sobre a inundação de produtos baratos vindos da China, temendo que isso pode prejudicar os produtores locais e ameaçar empregos.

As reações contra isso incluem barreiras ao aço. Em julho de 2024, o Vietnã iniciou uma investigação antidumping sobre o aço laminado importado da China. Em setembro, a Índia impôs tarifas de até 30% sobre produtos siderúrgicos chineses para proteger suas indústrias locais.

"No curto prazo, [as siderúrgicas chinesas] não se preocupam com os EUA, mas se preocupam com a forma como outros países poderiam reagir", disse Xu Xiaofeng, gerente sênior do escritório de advocacia Sandler, Travis e Rosenberg, especializado em comércio internacional.

Um dos riscos é que países como o México também aumentem tarifas sobre produtos chineses para evitar serem vistos pelos EUA como facilitadores da evasão tarifária da China. Enquanto isso, as empresas chinesas podem ter que competir por uma fatia menor do mercado global, caso mais produtores de aço decidam redirecionar suas exportações para outros países que não os EUA, disse ele.

"A competição no mercado global será mais desafiadora para as siderúrgicas chinesas daqui para frente", acrescentou Xu.

As tarifas sobre aço e alumínio foram impostas uma semana depois que Trump aplicou uma taxa extra de 10% sobre todas as importações chinesas. Pequim respondeu rapidamente com uma série de medidas retaliatórias, como tarifas direcionadas ao petróleo bruto e outros produtos energéticos importados dos EUA, além de investigações sobre o Google e a inclusão de mais empresas americanas em uma lista negra de comércio.

Em uma entrevista coletiva na segunda-feira, Guo Jiakun, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, afirmou que "não há saída no protecionismo". "E não há vencedores em guerras comerciais e tarifárias."

As principais siderúrgicas chinesas já estão enfrentando dificuldades por razões domésticas, com algumas admitindo que dependem das exportações para aliviar as perdas.

A Maanshan Iron & Steel, afiliada do grupo China Baowu Steel – a maior produtora de aço do mundo em volume – espera reportar um prejuízo líquido anual de 4,59 bilhões de yuans (US$ 629 milhões) em 2024, mais que o triplo do ano anterior.

O presidente da empresa, Jiang Yuxiang, disse em comunicado à bolsa de Hong Kong no mês passado que toda a indústria "passou por um ajuste profundo" devido a um "desequilíbrio entre oferta e demanda de mercado, baixos preços do aço e altos custos de matérias-primas". A combinação desses fatores negativos reduziu drasticamente as margens de lucro, enquanto a pressão sobre a produção e operação foi "tremenda".

No geral, em 2024, o lucro total das siderúrgicas chinesas caiu 50% em relação ao ano anterior, para 42,9 bilhões de yuans (US$ 5,87 bilhões), enquanto a margem de lucro média das vendas foi de 0,71%, comparada a 1,33% em 2023, segundo dados preliminares da Associação Chinesa da Indústria do Ferro e Aço.

Entre as 10 maiores siderúrgicas do mundo, mais da metade são chinesas, de acordo com o ranking de produção bruta de 2023 da World Steel Association (WSA).

Valor - SP   12/02/2025

Trump assinou decretos aumentando as tarifas sobre importações de aço e alumínio de 10% para 25%

As ações das siderúrgicas americanas mantiveram o movimento de alta, nesta terça-feira (11), depois que o presidente Donald Trump assinou decretos aumentando as tarifas sobre importações de aço e alumínio de 10% para 25%. Os papéis já haviam apresentado forte valorização no pregão de segunda (10), em meio à expectativa de que o presidente americano concluísse o prometido.

Confira os resultados e indicadores de Usiminas, CSN, Gerdau e das demais companhias de capital aberto no portal Valor Empresas 360

Os decretos elevam a tarifa sobre o alumínio importado ante os 10% impostos em 2018 para apoiar o setor em dificuldades e cancelam isenções e cotas de importação sem taxas para fornecedores importantes como Canadá, México e Brasil.

Com isso, a medida restabelece uma tarifa de 25% sobre milhões de toneladas de importações de aço e alumínio que vinham entrando nos EUA sem taxas, sob acordos de cotas, isenções e milhares de exclusões de produtos.

As ações da Nucor Corp subiram 0,45%, enquanto a United States Steel avançou 1,46% e a Steel Dynamics teve alta de 1,50%. Já Cleveland-Cliffs recuou 4,64%, em movimento de correção ao salto de 17,93% da sessão de segunda-feira.

Companhias nacionais

No Brasil, a Gerdau fechou em alta de 0,97% na B3. Para o Itaú BBA, a companhia se posiciona como a principal siderúrgica brasileira que irá se beneficiar com a imposição de tarifas dos Estados Unidos sobre aço e alumínio produzido fora do país.

Os analistas liderados por Daniel Sasson escrevem que os preços do aço negociado internamente nos EUA devem subir cerca de 5% por conta das tarifas, gerando um aumento de 12% no Ebitda da Gerdau.

Eles lembram que os EUA correspondem a cerca de 60% das exportações de aço do Brasil, mas a enorme maioria é de companhias que não têm ações negociadas no mercado brasileiro, como Ternium e ArcelorMittal, sendo mais impactadas.

No caso de Usiminas e Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que têm 3% e 4% de suas receitas, respectivamente, expostas ao mercado americano, o impacto não deve ser grande nos resultados, afirma o banco.

A Usiminas fechou em alta de 3,50%, a R$ 5,92, enquanto a Companhia Brasileira de Alumínio avançou 5,50%, a R$ 5,74. Já a CSN fechou em queda de 2,21%, a R$ 8,87.

Infomoney - SP   12/02/2025

As sobretaxas de 25% sobre importações de aço e alumínio de todas as origens pelos Estados Unidos, anunciadas na última segunda-feira (10) pelo presidente norte-americano Donald Trump, devem impactar significativamente exportações brasileiras desses setores, mas as compras brasileiras de produtos acabados dos EUA podem sofrer um dano colateral das medidas.

O alerta é da Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil) , associação focada em intermediar, de maneira independente, o comércio entre os dois países.

Justificada por razões de segurança pública, a medida anunciada por Trump está prevista para entrar em vigor a partir de 12 de março.

Trump justifica tarifas citando Brasil e acusa país de aumentar compra de aço chinês

Presidente dos EUA diz que compras brasileiras da China triplicaram nos últimos anos; Trump também cita Canadá, México e até a Argentina

Superávit do lado dos EUA

Em nota sobre o tema, a Amcham ressaltou o grau de integração da indústria siderúrgica brasileira com os Estados Unidos, que pode ser significativamente impactado pelas novas taxas, e expressou o desejo de que os governos do Brasil e EUA busquem uma solução negociada “para preservar o comércio bilateral, que tem registrado recordes nos últimos anos, com ganhos para ambas as economias e expressivo superávit para o lado americano”.

Estatísticas americanas (US ITC) citadas na nota da Amcham mostram que os Estados Unidos registraram superávit de US$ 7,3 bilhões com o Brasil em 2024, um aumento de 31,9% em relação a 2023. Esse valor representa o sétimo maior saldo dos Estados Unidos com um parceiro individual naquele ano.
: UE prepara resposta “firme” às tarifas de Trump sobre aço e alumínio

Exportações e importações

A Brasil exportou, em 2024, mais de US$ 5,7 bilhões em aço e ferro para os Estados Unidos, principal destino das exportações brasileiras, e US$ 267 milhões em alumínio — equivalentes a 16,7% das vendas globais brasileiras desta commodity.

Do lado das importações, no ano passado, as empresas brasileiras importaram US$ 1,4 bilhão em carvão siderúrgico americano, amplamente utilizado na produção do aço no Brasil.

A associação relembra também que o Brasil importa um volume relevante de bens fabricados com aço nos EUA, incluindo máquinas e equipamentos, peças para aeronaves, motores automotivos e outros bens da indústria de transformação.

“Com as sobretaxas, há o risco de redução das importações brasileiras desses produtos de origem norte-americana”, afirma em nota.

Infomoney - SP   12/02/2025

As tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre importações de aço e alumínio devem entrar em vigor a partir de 12 de março para todos os países, incluindo o Brasil detalham ordens executivas divulgadas na noite de segunda-feira (10), pela Casa Branca.

Sobre o aço, Trump destacou a necessidade de encerrar acordos especiais com diversos países que facilitavam a entrada em território americano de metais importados de lugares com “capacidade excessiva de produção”, especialmente da China. Entre eles, o republicano cita o Brasil, a Argentina e o México.

A decisão também revogou a isenção sobre o aço produzido na Ucrânia. “Na minha visão, os acordos com esses países falharam em prover meios de contribuição de longo prazo para a segurança nacional” dos EUA, disse o presidente americano, em nota.

As tarifas sobre o aço incluem a revogação de acordos preexistentes com a Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, países da União Europeia (UE), Japão, México, Coreia do Sul e Reino Unido. Já as tarifas sobre o alumínio revogam acordos anteriores com Argentina, Austrália, Canadá, México, países da UE e Reino Unido.

Assim, as tarifas de 25% serão válidas para todos os países que exportam aço e alumínio para os EUA, com exceção da Rússia, sobre a qual permanecem termos especiais de tarifação devido à guerra contra a Ucrânia.

ECONOMIA

IstoÉ Dinheiro - SP   12/02/2025

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país, desacelerou para 0,16% em janeiro, ante 0,52% em dezembro, informou nesta terça-feira, 11, o IBGE. Foi a menor taxa para um mês de janeiro desde o início do Plano Real, em 1994.

Considerando todos os meses, o IPCA de janeiro foi o mais brando desde agosto de 2024, quando houve deflação de 0,02%.

Apesar do alívio neste começo de ano, os economistas afirmam que o resultado veio dentro do esperado e que a expectativa é de aceleração da inflação nos próximos meses.

“Essa desaceleração já era amplamente aguardada, só que a gente não terá esse efeito para os próximos meses. Então, a gente deve ter uma aceleração da inflação daqui para frente”, destacou Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital.

Segundo o economista André Perfeito, a “boa notícia” do resultado do IPCA de janeiro tem que ser ponderada, uma vez que teve a contribuição de um fator temporário.

“Boa parte da desaceleração foi resultante do Bônus de Itaipu que fez a energia elétrica residencial despencar 14,21% no mês. Contudo nada disso importa. Claro que iniciar o ano com um IPCA baixo “conta ponto”, mas sabemos bem que a função de reação do BC está vinculada a inflação de Serviços e estes na verdade subiram.

A inflação de serviços em janeiro acelerou a 0,78%, de 0,66% em dezembro, acumulando em 12 meses alta de 5,57%.  O índice de difusão, que mostra o espalhamento das variações de preços, teve no primeiro mês do ano queda 0,4 ponto percentual, chegando a 65%.

Importante destacar também que o grupo Alimentação e bebidas teve seu quinto aumento consecutivo (0,96%), influenciado pelas altas da cenoura (36,14%), do tomate (20,27%), e do café moído (8,56%). Já os preços do grupo Transportes, subiram 1,30%, puxado pelas altas em passagens aéreas (10,42%) e ônibus urbano (3,84%).

“De modo geral, a composição da inflação continua apontando para um cenário de sobreaquecimento, mas sem grandes surpresas em relação ao que já era esperado pelos agentes, o que sugere impacto limitado sobre o curso da política monetária”, avaliou o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.

O início do ano foi marcado por preocupações com os preços dos alimentos no governo, que levantou a possibilidade de medidas para reduzir a inflação desse item. Enquanto Lula afirmou que o governo quer incentivar o aumento da produção no país, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que os preços tendem a se acomodar em 2025 em função da safra forte e do dólar mais baixo.
Meta e projeções para o ano

No acumulado em 12 meses, o IPCA recuou para 4,56% em janeiro, contra 4,83% no fechamento de 2024. O resultado veio alinhado às previsões do mercado, mas ainda acima do teto da meta do Banco Central.

O centro da meta para 2025 é de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Segundo pesquisa Focus divulgada na véspera pelo BC, a expectativa atual do mercado para o IPCA é de alta de 5,58% ao fim deste ano, no que foi a 17ª semana consecutiva de aumento na previsão. Para 2026, a projeção para a inflação brasileira é de 4,30%. Já a mediana das expectativas para a Selic em 2025 é de 15%, enquanto que para 2026 a projeção é de que a taxa atinja 12,50%.

“Com o mercado de trabalho aquecido, o custo da mão de obra tende a aumentar, o que deve continuar pressionando a inflação de serviços. Nossa projeção é de que o IPCA feche 2025 em 5,9%, impulsionado também pela perspectiva de câmbio depreciado”, afirmou Claudia Moreno, economista do C6 Bank.

No final de janeiro, o BC elevou a taxa básica de juros Selic como indicado em 1 ponto percentual, a 13,25% ao ano, e manteve a orientação de mais uma alta equivalente em março, deixando os passos seguintes em aberto.

Na ata desse encontro, o BC elencou a desancoragem das expectativas de inflação, o grau de sobreaquecimento da economia e o impacto de políticas econômicas sobre o câmbio como riscos relevantes para o debate de política monetária.

O Estado de S.Paulo - SP   12/02/2025

O economista Heron do Carmo, professor sênior da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP), está mais preocupado com os efeitos dos gastos do governo na inflação deste ano do que a alta dos preços dos alimentos.

Nas suas contas, a inflação de alimentos, cujos preços sobem e descem, deve ficar este ano muito próxima da inflação geral, projetada pelo economista em 5,5%. A diferença entre a inflação de alimentos e da inflação geral já foi muito maior nos últimos anos, lembra, quando a variação de preços de alimentos superou com folga a inflação da economia como um todo.

Na análise de um dos maiores especialistas em inflação, o foco da inflação atual é o descontrole do gasto público. Aliás, a sua projeção de que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) atinja 5,5% este ano tem como premissa básica que o governo adote medidas que tranquilizem os mercados de que haverá uma atenção maior ao controle dos gastos públicos.

“Não se trata de deixar de gastar”, pondera Heron. “É simplesmente controlar o aumento das despesas, gastar com consciência pensando no futuro do País, não na próxima eleição municipal ou governos que ficam prisioneiros de pesquisas eleitorais”, afirma.

No cenário econômico de combate à inflação, o economista ressalta, ainda, que a política fiscal deveria ser o ator principal, não coadjuvante da política monetária. E que essa configuração atual que privilegia a alta dos juros para conter o avanço da inflação tem um preço muito alto para a sociedade, que é o aumento do custo da dívida pública.

Em relação à inflação dos alimentos, Heron diz que não há nada o que fazer no curto prazo. Mas recomenda a retomada de mecanismos de planejamento e previsão de oferta de comida que existiram no passado, ressaltando que se trata de uma questão de segurança alimentar. “O governo tem que pensar no abastecimento, não no preço.”

A seguir, os principais trechos da entrevista.
A inflação hoje preocupa?

Inflação é sempre preocupante, especialmente no Brasil.

Por quê?

Nós já vivemos, no passado, situações de descontrole da inflação. Lá atrás chegou a 100% ao mês e depois apresentou trajetória descendente. Sabemos da dificuldade de reduzir a inflação diante de uma série de demandas sociais que temos e também diante de restrições de ordem política e institucional. Vários governos tomaram medidas para conter a inflação e depois reduzir, com os planos de estabilização. Mas sempre com uma dificuldade: a política fiscal como coadjuvante da política monetária. Deveria ser o inverso. A política fiscal dando mais estabilidade, com a dívida pública sob controle, e a política monetária fazendo com que os choques não se incorporem à taxa de inflação. Tivemos um relativo sucesso, porque raramente desde o Plano Real a inflação rompeu 10% ao ano. Estávamos no caminho de trazer a inflação para 3%. Mas esse compromisso frouxo com o controle fiscal criou um problema para que a inflação continuasse a se manter dentro da meta. Digo isso porque choques ocorrem, tanto no sentido positivo como no negativo. Faz parte da vida. Mas o importante é a tendência que agora pode ser de uma queda bem suave da inflação ao longo do tempo.
O sr. acha que o problema hoje da inflação é a questão fiscal?

O problema é o gasto público. A economia está aquecendo em marcha forçada. Isso estimula a demanda agregada. Como o Brasil investe muito pouco, a oferta agregada não tem condições de acompanhar o ritmo da demanda. E uma das consequências é justamente a inflação. Como a política monetária tem sido ativa, o Brasil tem operado com taxas de juros muito altas. Isso tem um custo, que se desdobra no custo fiscal, que é justamente o quanto se paga para rolar a dívida interna.
E os alimentos?

Se verificarmos o que aconteceu com os alimentos desde o ano passado e analisarmos o comportamento deles relativamente à inflação de anos anteriores, verificamos que o diferencial dos preços dos alimentos em relação à inflação geral em 2024 não foi tão grande como em anos anteriores. Já houve diferenças muito maiores no passado, com a inflação de alimentos muito acima do índice geral. Mas, para a população, o lado mais visível da inflação é o alimento que está subindo de preço. Se tem algum produto que está caindo de preço, ela não se importa. As pessoas têm uma visão seletiva. Isso é bom: elas se preocupam com aquilo que subiu. Mas isso cria um problema político, evidentemente. A minha leitura é que o que motivou o governo a propor uma série de coisas foi a percepção do impacto do aumento de preço de alguns alimentos: carne, café e laranja.
Como o sr. avalia a inflação de alimentos?

Alimentos muito importantes, como carne e café, ainda estão com a oferta pressionada e devem continuar subindo acima da inflação. Boa parte do índice de alimentação está ligado ao setor de carne. O aumento da carne bovina, afeta o preço da carne suína, do peixe, do frango, dos ovos e dos derivados de carne. Tudo isso tem uma participação grande no IPCA. Na média, a inflação de alimentos deste ano tende a ficar próxima da inflação geral.

Quanto o sr. projeta de inflação geral para este ano?

Eu diria que a inflação deve ficar em 5,5% com uma ressalva: desde que sejam adotadas medidas que tranquilizem os mercados de que haverá uma atenção maior ao controle dos gastos públicos. Se isso ocorrer, teremos este ano uma inflação um pouco maior do que a do ano passado, devido a fatores de inércia. A inflação passada é repassada para um conjunto de preços, principalmente os serviços, que são indexados. Os preços dos serviços têm um comportamento monotonicamente crescente. Já os alimentos têm volatilidade maior, variam tanto para cima como para baixo.
O sr. falou que projeta um IPCA de 5,5%, se o governo sinalizar medidas de ajuste nos gastos públicos. E se ele não sinalizar, quanto a inflação poderá chegar neste ano?

É difícil fazer prognósticos. Se ele não sinalizar, você tem a velha questão: o descontrole das contas públicas. Isso estimula a demanda e acaba afetando o dólar. Se há uma desvalorização cambial, os preços em real sobem.
Há previsões no mercado de até 7% para inflação neste ano. O sr. acha um exagero?

Exagero não é. Nessa projeção de 5,5%, tem como pressuposto que serão adotadas medidas para evitar um crescimento tão rápido da dívida pública em relação ao PIB (Produto Interno Bruto), como vimos nos últimos anos. Tem outra questão que vai entrar nessa conta. A tendência é a atividade econômica não ter uma evolução tão favorável como em anos anteriores. Isso afeta a relação dívida/PIB. Se não for feito nada para acalmar o mercado, isso pode levar a uma continuidade do processo de desvalorização cambial, o que pode levar a uma inflação bem acima do previsto. Mas estou confiante de que serão adotadas medidas para tentar dar um norte para essa questão.

Como o governo pode resolver a da inflação dos alimentos?

No curto prazo, não dá para fazer nada. Nem o regime militar com o AI 5 (Ato Institucional nº 5), que tinha um artigo justamente para dar poder de intervenção na economia, com tabelamento de preços, não funcionou. Muita intervenção mais complica do que ajuda.
Tem que esperar o mercado resolver sozinho?

Tem que dar uma chance ao mercado, tem que dar estímulo. O governo tem que pensar no abastecimento, não no preço.
O sr. acha que a inflação de alimentos mostra a necessidade de o governo pensar em mecanismos de segurança alimentar, de manter estoques ou algo nesse sentido?

O importante é prever. No passado havia um órgão do governo, a Companhia de Financiamento da Produção, depois incorporada pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que acompanhava o setor agrícola. Isso é algo que todo governo deve ter. No caso de alguns alimentos, não dá para intervir na situação no meio do caminho. Tem que prever, planejar. Sempre que o preço de um alimento cai muito, é perigoso no momento seguinte. Essa é uma questão de Estado, não de governo, de segurança alimentar, prevendo o que pode acontecer até com os preços. O que está faltando é exatamente isso.
Qual é o ponto crítico da inflação para os próximos meses: câmbio, alimentos, serviços?

A questão que convém acompanhar é a evolução dos preços dos serviços, que dão, de certa forma, a tendência da inflação. A questão das escolas, dos planos de saúde, tudo isso é serviço. Temos reajuste gregoriano também: muitos profissionais iniciam o ano com preços reajustados, como médico, dentista, barbeiro, cabeleireira. Além disso, teve a volta recente do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre os combustíveis. E os preços da gasolina e do diesel estão defasados. Todos esses preços têm um peso significativo na composição do índice de inflação.

Quando a taxa de juros vai começar a fazer efeito para conter a inflação?

Ela já está fazendo efeito. O nível de atividade econômica não está crescendo no mesmo ritmo. O efeito da taxa de juros não é da noite para o dia. Precisa, reitero, que tenha um coadjuvante importante, talvez seja o personagem principal, a política fiscal. Não se trata de deixar de gastar. É simplesmente controlar o aumento do gasto público. Gastar com consciência pensando no futuro do País, não na próxima eleição municipal ou governos que ficam prisioneiros de pesquisas eleitorais. Se isso for feito, a (alta da) taxa de juros terá muito mais potência.
O sr. acha que o Banco Central está certo ao sinalizar uma nova alta de um ponto porcentual nos juros?

Acho que está certo para justamente evitar um descontrole maior. Mas ele não pode continuar subindo a taxa de juros nesse ritmo por mais tempo.
Por quê?

Porque cria um descompasso muito grande na política econômica. É um custo muito grande para o País no longo prazo, porque toda a dívida tem que ser paga.
O sr. vê hoje descontrole na inflação?

Não, mas não dá para brincar. Inflação é rígida para baixo e flexível para cima. Para subir, tudo ajuda. E para reduzir, é um esforço danado.

IstoÉ Dinheiro - SP   12/02/2025

Diante da ameaça de aumento da inflação, o Fed (Federal Reserve) esperará até pelo menos o próximo trimestre para cortar a taxa de juros novamente, de acordo com a maioria dos economistas em pesquisa da Reuters, que anteriormente esperavam uma redução em março.

Os economistas têm aumentado suas previsões de inflação desde que o presidente dos EUA, Donald Trump, foi eleito, com base nas preocupações de que suas políticas, especialmente as tarifas de importação, possam reacender as pressões de preços na economia.

Depois de reduzir os juros em 100 pontos-base acumulados entre setembro e dezembro, os membros do Fed, incluindo o chair Jerome Powell, têm dito recentemente que “não estão com pressa” para reduzir ainda mais os juros.

Com um mercado de trabalho forte e gastos do consumidor ainda sólidos, muitos economistas veem a maior economia do mundo em um ponto ideal, com pouca necessidade de juros mais baixos.

Tarifas sobre aço e alumínio

Trump implementou na segunda-feira, 10, novas tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio. Por outro lado, a Casa Branca adiou seu plano de aumentar as taxas sobre México e Canadá até 1º de março, mas impôs uma tarifa de 10% sobre as importações da China.

“As tarifas são inflacionárias e podem ser bastante negativas para o crescimento econômico também. Essa incerteza significa apenas que o Fed está meio que esperando e querendo ver o que realmente acontece”, disse James Knightley, economista-chefe internacional do ING.
Próximo corte de juros

Embora uma maioria de quase 60% dos economistas em uma pesquisa de janeiro esperasse que o banco central dos EUA reduzisse os juros em março, eles ficaram divididos na pesquisa de 4 a 10 de fevereiro sobre quando o Fed fará o próximo corte.

Uma maioria de dois terços dos analistas, 67 de 101, espera pelo menos um corte até o final de junho, com 22 dizendo março e 45 projetando um movimento no segundo trimestre.

Apenas 17 dos economistas disseram que o próximo corte ocorrerá na segunda metade do ano, e 16 não esperam nenhum corte neste ano.

Os contratos futuros da taxa de juros estão precificando uma probabilidade de pouco mais de 50% de um corte até meados de 2025.
Inflação

Quase 60% dos entrevistados, 27 de 46, que responderam a uma pergunta adicional disseram que os riscos de inflação dos EUA decorrentes das tarifas aumentaram recentemente. Outros 17 disseram que não houve mudança, e apenas dois disseram que houve queda.
Crescimento

Após um crescimento anualizado de 2,3% no último trimestre, a economia dos EUA se expandirá 2,2% este ano e 2,0% em 2026, mais do que o que as autoridades do Fed consideram atualmente como a taxa de crescimento não inflacionária de 1,8% nos próximos anos, segundo a mediana da pesquisa.
Desemprego

A taxa de desemprego, que caiu para 4% no mês passado, foi prevista em 4,2% neste ano e 4,1% no próximo.

O Estado de S.Paulo - SP   12/02/2025

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta terça-feira, 11, que o governo brasileiro está acompanhando a decisão de Donald Trump para saber a “minúcia” do anúncio de taxação de 25% sobre aço e alumínio importados pelos Estados Unidos. Ele apontou que a imposição não é específica contra o Brasil – embora o País seja um grande exportados de aço para os EUA – e disse ainda não saber qual é a disposição do governo norte-americano em negociar.

O ministro defendeu, contudo, que a posição brasileira é a mesma proposta na presidência do G-20, em que o País defendeu uma “globalização sustentável”. Segundo ele, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) está organizando as informações sobre o tema para apresentar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Nós estamos imaginando voltar para a mesa de negociação com propostas nessa direção”, disse Haddad sobre o contexto geral da relação com as nações, ao citar a avaliação de que medidas unilaterais como as tomadas pelos EUA são contraproducentes para a melhoria da economia global.

“A economia global perde com isso, com essa retração, com essa desglobalização que está acontecendo. E isso não significa defender a velha globalização que trouxe outros desequilíbrios, mas defender um tipo de globalização sustentável do ponto de vista social, do ponto de vista ambiental. Mas nós estamos na linha do que nós propusemos no G-20", disse Haddad a jornalistas.

O ministro também mencionou que o governo está observando as implicações que a decisão de Trump terá, assim como as reações de países como México, Canadá e China. Ele lembrou ainda que, em 2018, os EUA recuaram de impor a sobretaxa sobre o aço brasileiro ao aceitarem o sistema de cotas.

“Então, por isso que o MDIC está fazendo essa avaliação, para levar para o presidente o quadro geral, e nós vamos avaliar conjuntamente”, disse Haddad, segundo quem o Itamaraty também está envolvido. Ele mencionou a diplomacia ao ser perguntado sobre o movimento de países que já procuraram Trump para negociar.

“O Itamaraty está envolvido também. Não posso responder pelo Itamaraty, mas cada ministério está fazendo a sua parte, mas o MDIC está centralizando para levar o presidente e à Casa Civil com uma opinião a respeito”, concluiu Haddad, que espera poder receber o setor afetado no retorno de sua viagem ao Oriente Médio.

AUTOMOTIVO

Portos e Navios - SP   12/02/2025

O setor automotivo iniciou 2025 com forte crescimento nas exportações, que aumentaram 52,3% em comparação a janeiro de 2024, impulsionadas pelo desempenho positivo na América do Sul, especialmente na Argentina. Esse avanço contribuiu para a alta de 15,1% na produção de autoveículos, que atingiu 175,5 mil unidades, o melhor resultado para o mês desde 2021. O mercado interno também registrou crescimento, com alta de 6% nos emplacamentos, consolidando a tendência de recuperação da indústria. Os dados são da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

De acordo com a Anfavea, a participação de veículos eletrificados chegou a 10%, um recorde histórico. No segmento de pesados, os emplacamentos de ônibus e caminhões cresceram 55,5% e 14,5%, respectivamente, enquanto a produção subiu 1,3% para ônibus e 13,2% para caminhões, registrando o melhor janeiro dos últimos cinco anos para o setor de ônibus. Segundo pesquisa da Webmotors, 68% dos brasileiros pretendem comprar ou trocar de carro em 2025, sendo 37% no primeiro semestre, com financiamento parcial sendo a opção preferida de pagamento.

Exame - SP   12/02/2025

As ações da BYD subiram 4% após a companhia anunciar que está intensificando seus investimentos em tecnologia de piloto automático, com o apoio da DeepSeek, uma startup chinesa de inteligência artificial.

Com isso, os papéis da empresa atingiram um recorde, sendo negociados a US$ 44,24. O anúncio, que já era amplamente esperado pelo mercado, impulsionou um avanço de 21% nas ações da companhia na última semana.

Wang Chuanfu, fundador e presidente da BYD, afirmou que a direção inteligente avançada se tornará um recurso de segurança padrão nos veículos da marca. O novo sistema, batizado de "DiPilot", será implantado em toda a linha de carros da empresa, incluindo um modelo de baixo custo, avaliado em US$ 9.555.

Com essa estratégia, a BYD se torna pioneira na China ao oferecer essa tecnologia em veículos acessíveis, segundo relatório da Nomura. “A empresa está mudando seu foco de redução de preços, adotado no último ano, para atualizações tecnológicas em 2025”, destacou a consultoria.

A IA da DeepSeek será aplicada na versão mais avançada do sistema de piloto automático, utilizando uma combinação de software, câmeras e sensores. No entanto, a necessidade de intervenção humana ainda não foi totalmente descartada.

Tu Le, fundador e diretor da Sino Auto Insights, afirmou à CNBC que essa parceria representa um avanço significativo para a empresa. “Agora, a BYD conta com uma tecnologia de IA autônoma desenvolvida internamente, permitindo que ofereça recursos inteligentes no mesmo nível de seus concorrentes”, disse.

A disputa pelo mercado de direção assistida

A tecnologia de piloto automático vem se tornando um fator determinante na disputa pelo mercado de carros elétricos. Nos últimos dois anos, montadoras têm investido fortemente na área, buscando se destacar na concorrida indústria chinesa.

Nesse contexto, a BYD reconhece os desafios envolvendo a responsabilidade em casos de acidentes com veículos autônomos, mas acredita que a tecnologia tem potencial para aumentar a segurança. A empresa vem investindo continuamente no setor, assim como Tesla e XPeng, que apostam na direção assistida como um diferencial de mercado.

Ainda assim, a adoção dessa tecnologia enfrenta barreiras regulatórias na China, tornando a preocupação da BYD bastante relevante. O modelo Full-Self Driving da Tesla, por exemplo, ainda não recebeu aprovação para operação no país, o que tem atrasado seu lançamento.

Apesar da boa recepção por parte dos investidores, a integração da IA da DeepSeek pode representar um desafio para a expansão da BYD no Ocidente, segundo Brian Tycangco, analista da Stansberry Research. “Essa tecnologia pode gerar restrições de segurança nacional, dificultando a entrada dos veículos da BYD em mercados como os Estados Unidos”, alertou à CNBC.

Valor - SP   12/02/2025

A BYD liderou o mercado de veículos de passeio da China em vendas pela primeira vez em 2024, destacando a ascensão de empresas privadas em um setor há muito dominado por parcerias entre montadoras estatais e estrangeiras.

As vendas da BYD saltaram 46% no ano, para cerca de 3,65 milhões de veículos, de acordo com a MarkLines. As vendas do Zhejiang Geely Holding Group, outra montadora privada, cresceram 30% e a colocaram em terceiro lugar, com 2,01 milhões de veículos.

As montadoras estrangeiras perderam terreno em todos os setores. A Volkswagen, que liderou o mercado por décadas e já vendeu mais de 4 milhões de veículos por ano na China, caiu para o segundo lugar depois que as vendas recuaram 6%, para 2,98 milhões. A General Motors sofreu uma queda de 10%. A Toyota e a Honda também registraram declínios.

O governo chinês, desde o fim da década de 1980, buscava fomentar sua indústria automobilística por meio de joint ventures entre algumas empresas estatais e montadoras estrangeiras que pudessem fornecer tecnologia. Volkswagen, GM e Toyota aumentaram sua participação de mercado por meio de parcerias com China FAW Group, SAIC Motor e Dongfeng Motor.

Mais recentemente, a inovação tecnológica permitiu que as montadoras privadas assumissem a liderança.

À medida que o governo incentivava uma adoção mais ampla de veículos elétricos e híbridos plug-in, empresas como BYD e Geely priorizavam esses veículos de nova energia. A indústria também viu recentemente participantes do setor de tecnologia como Huawei Technologies e Xiaomi.

As vendas de veículos de nova energia, incluindo exportações, cresceram 36%, para 12,86 milhões de unidades em 2024, representando 41% das vendas gerais de automóveis novos, mostram dados da Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis. Empresas estrangeiras e grandes estatais que chegaram tarde ao jogo se tornaram menos competitivas e agora mostram resultados mais fracos.

No último trimestre, a GM registrou US$ 4 bilhões em encargos relacionados à reestruturação de joint ventures chinesas com a SAIC Motor. As montadoras japonesas têm cortado pessoal e capacidade de produção no país.

A estatal Dongfeng e a Changan Automobile disseram no domingo que suas empresas controladoras planejam se fundir com uma "empresa estatal central" não identificada, estimulando especulações de que as duas se combinarão. Isso pode afetar a Honda e a Nissan, que têm joint ventures com a Dongfeng.

A ascensão das montadoras privadas chinesas também começou a afetar o mercado global, à medida que a BYD, a Geely e outras alavancam a competitividade de custos que aprimoraram no maior mercado automotivo do mundo para fazer incursões no exterior.

As vendas globais da BYD cresceram 41%, para 4,27 milhões de veículos em 2024, ultrapassando Honda, issan e a Suzuki pela primeira vez. Embora apenas cerca de 10% tenham sido vendidas fora da China, a empresa está ganhando terreno no Sudeste Asiático e na América Latina.

A Geely registrou vendas globais recorde de 3,33 milhões de veículos e pretende atingir 5 milhões em 2027. Sua linha de veículos elétricos de luxo Zeekr está disponível em mais de 40 mercados.

A competição acirrada entre as montadoras chinesas em áreas como veículos elétricos, tecnologia de direção autônoma e veículos definidos por software pode tornar o país um dos principais impulsionadores da inovação na indústria. As negociações de fusão entre a Honda e a Nissan surgiram em parte como uma forma de competir com os rivais chineses.

Os Estados Unidos e a União Europeia, preocupados com as crescentes exportações de automóveis da China, responderam com tarifas. As montadoras chinesas, por sua vez, estão se movendo para construir carros na Europa para evitar impostos europeus. Já o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez comentários sugerindo uma abertura à produção chinesa em solo americano.

Globo Online - RJ   12/02/2025

O CEO global da Ford, Jim Farley, desembarca hoje em Washington para alertar membros do Congresso de que as tarifas de 25% propostas pelo presidente Donald Trump sobre Canadá e México — onde são produzidas peças da cadeia de suprimentos da indústria automobilística americana — poderiam "abrir um buraco" na indústria automobilística dos EUA.

O executivo também tem destacado que toda a recente onda de tarifas anunciadas por Trump, incluindo a taxa de 25% sobre aço e alumínio importados pelos EUA, está gerando incerteza para o setor. O aço, que deve ficar mais caro no mercado americano, é a principal matéria-prima das montadoras.

O impacto das tarifas, cuja implementação Trump adiou por um mês na semana passada, seria "devastador" para as montadoras americanas, disse Farley ontem. Ele também afirmou que as tarifas representariam uma "vantagem inesperada" para concorrentes asiáticos e europeus, que não enfrentariam encargos semelhantes sobre os carros que importam de suas regiões de origem.

Ele fez essas declarações durante uma conferência do setor automotivo organizada pela Wolfe Research, em Nova York.

— O presidente Trump falou muito sobre fortalecer a indústria automobilística dos EUA — disse Farley, acrescentando que, caso isso se concretize, seria uma das "realizações mais marcantes" do governo. — Até agora, o que estamos vendo são altos custos e muito caos.

Carro pode ficar US$ 3 mil mais caro

Farley tem sido um dos líderes mais vocais da indústria automobilística dos EUA sobre os impactos de tarifas elevadas, que podem acrescentar US$ 60 bilhões em custos para o setor, segundo estimativas da consultoria AlixPartners.

Grande parte desse valor provavelmente será repassada aos consumidores, podendo elevar o preço dos veículos novos em cerca de US$ 3 mil (R$ 17,3 mil), de acordo com análises da Wolfe Research.

— Para sermos bem honestos, a longo prazo, uma tarifa de 25% sobre as fronteiras do México e do Canadá abrirá um buraco na indústria americana como nunca vimos antes — alertou Farley.

De acordo com um relatório de 3 de fevereiro do Brookings Institution, as exportações entre EUA, México e Canadá sustentam mais de 17 milhões de empregos e um imposto de 25% poderia resultar na perda de mais de 177 mil postos de trabalho nos EUA. Além disso, as exportações americanas de veículos cairiam 25% para o Canadá e 23% para o México caso as tarifas fossem implementadas.

Preocupações com subsídios e veículos elétricos

Farley também usará sua visita a Washington para alertar sobre a ameaça de desmantelamento da Lei de Redução da Inflação (IRA), legislação ambiental assinada pelo ex-presidente Joe Biden, que oferece subsídios federais para a construção de fábricas de veículos elétricos e baterias nos EUA.

A Ford está investindo bilhões de dólares na construção de fábricas de carros elétricos e baterias em Tennessee, Ohio, Michigan e Kentucky.

— Já investimos capital — disse Farley. — Muitos desses empregos estarão em risco se a IRA ou partes significativas dela forem revogadas.

GM tenta minimizar impactos

A CEO da General Motors (GM), Mary Barra, afirmou na conferência da Wolfe que a empresa pode "mitigar" de 30% a 50% do impacto das novas tarifas sem necessidade de grandes investimentos adicionais. Antes mesmo da posse de Trump em 2017, a GM já estudava maneiras de reduzir os efeitos de tarifas mais altas sobre sua operação.

— Sabemos quais medidas podemos tomar — disse Barra. — Se as tarifas durarem mais tempo, temos outras alternativas estudadas que podemos implementar de forma eficiente em termos de capital.

Em busca de respostas no passado

O CEO da AutoNation, Mike Manley, uma das maiores redes de concessionárias dos EUA, afirmou a investidores que está analisando as tarifas impostas por Trump em 2018, em seu primeiro governo, para prever como os novos tributos poderão afetar o mercado de carros no país.

— Houve impacto no mercado em termos de preço, o que afetou o volume de vendas — disse Manley.

No entanto, segundo ele, esse impacto foi "mitigado" em um ou dois anos, conforme os fabricantes reduziram custos e buscaram formas de estimular as vendas.

— Estamos correndo para gerenciar a empresa com profissionalismo — afirmou. — Estamos fazendo muito trabalho pesado.

Valor - SP   12/02/2025

Foram vendidas 152 mil unidades, alta de 14,4% na comparação anual

O volume de licenciamento de motocicletas registrou, no mês passado, o melhor janeiro da história do setor. Foram vendidas 152 mil unidades, alta de 14,4% na comparação anual e de 3,3% sobre dezembro, segundo números divulgados na manhã desta terça-feira (11) pela Abraciclo, associação que representa 11 montadoras com produção no Polo Industrial de Manaus. A média diária nos 22 dias úteis de janeiro foi de 6.908 motos licenciadas.

A expectativa da indústria é fechar 2025 com vendas superiores a 2 milhões de motocicletas, crescimento de 7,7% sobre o ano passado.

A produção em Manaus somou 166 mil unidades em janeiro, crescimento de 17,6% sobre o mesmo mês de 2024 e de 34% na comparação com dezembro. A alta expressiva na comparação mensal se explica porque tradicionalmente o último mês do ano tem produção menor por conta de férias coletivas.

A associação destaca que foi o melhor janeiro desde 2012. A estimativa da Abraciclo para 2025 é atingir 1,88 milhão de unidades montadas no polo, crescimento de 7,5% sobre o ano passado.

O Estado de S.Paulo - SP   12/02/2025

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), afirmou nesta terça-feira, 11, que “não tem como garantir” que até 2028 metade da frota de ônibus da capital seja movida a eletricidade, como prevê lei municipal de 2018. Segundo o prefeito, a indústria não conseguiria produzir a quantidade necessária de veículos elétricos e a Enel, concessionária distribuidora de energia na capital, não teria condições de garantir o abastecimento desses veículos.

Em nota, a Associação Brasileira do Veículo Elétrico afirmou que “a indústria brasileira de ônibus elétricos e componentes tem total condição tecnológica e operacional de produzir os ônibus elétricos requeridos pelas metas anuais de descarbonização da frota da cidade de São Paulo”.

A Enel respondeu que estão sendo analisadas possibilidades. “As soluções para cada garagem podem variar, de acordo com aspectos técnicos, econômicos e a definição dos operadores. Há soluções de curto e médio prazo, todas compatibilizadas com o avanço gradual da frota elétrica”, diz a nota (leia mais abaixo).

Em decisão emitida no dia 6 e divulgada na segunda-feira, 10, a Justiça de São Paulo suspendeu de forma liminar (provisória) uma lei aprovada pela Câmara Municipal paulistana em 15 de janeiro que extinguiu a exigência prevista naquela outra lei, de 2018. A nova lei manteve o prazo para que todos os veículos da frota sejam movidos a eletricidade: 2038. Mas, o prazo intermediário, que era de ter 50% da frota movida a eletricidade até 2028, foi excluído. Hoje circulam na cidade 428 ônibus elétricos, que fazem parte da frota de aproximadamente 12 mil coletivos.

A ação que originou essa decisão foi proposta pelo Diretório Estadual do PSOL em São Paulo e defende que a mudança é inconstitucional. “É possível entrever a plausibilidade do alegado no tocante à violação das normas constitucionais (...), bem como inferir o grave risco de sobrevirem danos ao meio ambiente, irreparáveis ou de difícil reparação, com inegáveis prejuízo à vida, saúde e segurança da população”, afirmou o desembargador Mário Devienne Ferraz, autor da decisão.

“São Paulo precisa dar o exemplo e investir em soluções que reduzam a poluição e protejam a saúde da nossa gente”, afirmou o vereador Toninho Vespoli (PSOL) nas redes sociais.

Nesta terça-feira, o prefeito afirmou que o Município vai recorrer da decisão judicial e que “está fazendo tudo aquilo que é necessário” para avançar na substituição dos ônibus. “A gente não tem como garantir que vai ser possível fazer 50% (da frota movida a eletricidade) até 2028 por conta das realidades, da atualidade. Quais são? Falta de ônibus por parte da produção da indústria e também falta de infraestrutura por parte da Enel”, disse Nunes.

“Não adianta a gente imaginar que vai conseguir algo até 2028 se ainda não existe uma condição adequada, tanto do fornecimento de ônibus pela indústria quanto pela infraestrutura, por parte da Enel”, seguiu o prefeito. “O que que a gente vai responder pra Justiça? Que a gente precisa ter propostas plausíveis. Vamos recorrer, a gente vai explicar isso. Da nossa parte, tudo aquilo que é necessário fazer para poder ter um avanço na questão da substituição dos ônibus a gente está fazendo. A gente tem consciência e desejamos fazer essa substituição”, concluiu.

Em nota, a Associação Brasileira do Veículo Elétrico, que se manifestou em nome das empresas BYD, Eletra, Giaffone, Higer e Marcopolo, declarou que, com a capacidade produtiva já instalada, é possível produzir até 9.920 ônibus elétricos por ano, e essa produção anual pode chegar a 25 mil ônibus elétricos com os investimentos previstos pelas empresas até 2028.

“Os gargalos na implementação do cronograma de transição de frota paulistana não se encontram na capacidade produtiva da indústria, e sim nas deficiências de planejamento da infraestrutura de recarga elétrica e em eventuais desajustes nos modelos de financiamento das operadoras de transporte – problemas alheios às empresas de ônibus elétricos”, conclui a nota.

A Enel Distribuição São Paulo, por sua vez, afirmou em nota que “em relação à infraestrutura para o abastecimento de energia das garagens, tem participado de reuniões semanais com os Operadores, sempre com o acompanhamento da SPTrans”.

Segundo a empresa, estão sendo analisadas possíveis soluções em função das necessidades específicas, seja para a conexão elétrica individual de cada uma das garagens ou para possíveis hubs compartilhados de carregamento. “As soluções para cada garagem podem variar, de acordo com aspectos técnicos, econômicos e a definição dos operadores. Há soluções de curto e médio prazo, todas compatibilizadas com o avanço gradual da frota elétrica.”

MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS

InfraRoi - SP   12/02/2025

A JCB chegou à marca de 1 milhão de retroescavadeiras. Projetada inicialmente para a reconstrução pós-guerra, como uma máquina que poderia realizar uma série de tarefas no canteiro de obras, o conceito começou como um trator agrícola com um Major Loader instalado na frente e um braço de escavadeira na traseira. Em 1953, Joseph Cyril Bamford projetou e lançou o Mk 1, o primeiro modelo de retroescavadeira que se tem notícia.

Esse modelo inicial foi reforçado e o desempenho melhorado, com o lançamento do Hydra-Digga em 1956 e do JCB 4, mais potente, em 1960. A demanda por um modelo menor e mais manobrável logo levaria à JCB 3, uma retroescavadeira para o construtor de casas, ao invés do engenheiro civil, e um modelo que lançaria empresas de aluguel de equipamentos em todo o mundo, segundo a fabricante.

Nas sete décadas seguintes, a JCB continuou a desenvolver e evoluir o conceito, acrescentando braços de carregadeira mais longos, um “deslocamento lateral” horizontal para o braço da escavação, a caçamba seis por um e até mesmo um compartimento para bebidas quentes para o operador. Motores turboalimentados, transmissões powershift, tração em todas as rodas, braço de escavação extensível e sistema hidráulico auxiliar transformaram a humilde retroescavadeira em uma das máquinas mais versáteis, produtivas e confiáveis.
Retroescavadeiras já mostravam potencial logo nos primeiros dias, diz JCB

Desde os primeiros dias, a JCB percebeu os benefícios e o potencial da integração vertical, projetando e desenvolvendo seus próprios componentes especificamente para a retroescavadeira e suas outras linhas de equipamentos. Transmissões, eixos, cilindros hidráulicos e cabines foram incorporados ao equipamentos.

Por mais de 70 anos, a JCB continuou a desenvolver e aperfeiçoar a retroescavadeira, um equipamento que alcançou sucesso de vendas e se tornou referência pela praticidade. A retroescavadeira JCB pode carregar 20 toneladas de material em menos de cinco minutos, consumindo 10% menos combustível do que uma escavadeira de 13 toneladas.

Ela também consegue movimentar o material pelo local 25% mais rápido do que uma escavadeira de 8 toneladas e um dumper de 9 toneladas, além de usar 50% menos combustível. Ela é capaz de nivelar o material três vezes mais rápido do que uma escavadeira de 13 toneladas, usando 25% menos combustível. Além disso, a retroescavadeira pode se locomover sozinha até o local da obra, sem a necessidade de transporte adicional.

Como alternativa, os clientes podem remover a caçamba e a pá e operar a retroescavadeira com uma série de outros acessórios, desde vassouras até plainas, rompedores hidráulicos e compactação, garfos paletes e brocas.

Atualmente, a JCB está trabalhando em um motor a hidrogênio para garantir um equipamento que não emita gases de efeito estufa.

CONSTRUÇÃO CIVIL

Valor - SP   12/02/2025

Para CEO de clube de incorporadores, competição com aluguel de temporada deve se acirrar e piorar acessibilidade à casa própria; pesquisador sugere “pool” de imóveis públicos

Em poucos anos o Brasil estará discutindo medidas de intervenção do Estado no setor imobiliário, como o controle dos preços dos aluguéis. Isso será uma resposta à crise de habitação que se avizinha. A previsão é de Gustavo Favaron, presidente do GRI Club, organização internacional que reúne 17 mil executivos do setor imobiliário, de 103 países.

A dificuldade crescente para comprar imóveis, motivada hoje pelo aumento da taxa de juros do financiamento imobiliário, os recursos mais escassos para dar suporte a essa modalidade de crédito e o esforço necessário para alcançar o valor de entrada — em novembro, a Caixa a elevou de 20% para 30% do valor do imóvel na modalidade SAC e de 30% para 50% na Price —, vão empurrar cada vez mais os brasileiros para o aluguel, analisa.

Gustavo Favaron, CEO do GRI Club — Foto: GRI CLUB / DIVULGAÇÃO

De 2010 para 2022, a parcela da população que mora de aluguel no país subiu de 16,4% para 20,9%, de acordo com o Censo do IBGE. “A oferta não vai acompanhar a demanda, por causa da dificuldade da aquisição da casa própria”. Essa demanda maior por locação deve ter o efeito de fazer subir o preço do aluguel.

Em coletiva de imprensa no dia 5, Ely Wertheim, presidente-executivo do Secovi-SP, sindicato do setor imobiliário, afirmou que os aluguéis devem ganhar força em 2025, mas discordou sobre a relação com a dificuldade para obter o financiamento da casa própria. “Ainda é o financiamento mais barato que tem, está na faixa de 12% ao ano, enquanto a Selic está em 13,25%”, disse.

Favaron aponta que a locação residencial tradicional, de contratos de 30 meses, ainda vai enfrentar mais competição com modalidades de aluguel de temporada, como a oferecida pelo Airbnb, o que pode fazer o preço pedido subir mais, a exemplo do que já acontece em capitais europeias. “[Locação por temporada] ainda é uma parcela muito pequena no Brasil, mas estou pensando em onde vamos estar em cinco anos”, diz.

Na divulgação dos resultados do terceiro trimestre do Airbnb, a CFO Ellie Mertz destacou que o número de noites reservadas por meio da plataforma quase triplicou no país de 2019 para 2024. O CEO, Brian Chensky, citou o Brasil como um dos nove países no qual o Airbnb enxerga “oportunidades enormes”.

Para Favaron, tentar limitar a oferta de imóveis para locação por temporada, como tem sido feito na Espanha, na Holanda e em Nova York, por exemplo, não é a melhor saída, mas é a saída mais popular. Nem tentar controlar os reajustes que proprietários podem exigir dos inquilinos. Com visão liberal, ele afirma que esse tipo de limitação imposta pelo Estado atrapalha o andamento da economia e piora a própria crise habitacional.

Segundo ele, diante de um valor limite para o aluguel, o empreendedor que faz apartamentos para renda vai se questionar se o negócio vale a pena, já que a inflação pode corroer sua margem. Em locais onde isso aconteceu, como Berlim, afirma, o resultado foi um deslocamento dos construtores para outras cidades. “E proprietários de imóveis, se estão limitados a um teto de valor [de aluguel], param de investir no imóvel”, diz, o que tornaria mais precária a oferta imobiliária para locação.

Sua saída é facilitar a construção de mais moradias, onde elas já são viáveis, e criar infraestrutura para viabilizar áreas que hoje não são consideradas propícias para habitação. “Aprovações mais eficientes, incentivo ao retrofit [reforma de prédios antigos], isso deveria ser feito”, diz.

Favaron advoga, também, por programas que facilitem a aquisição da primeira casa própria, com condições especiais para quem ainda não tem um imóvel. Hoje, esse tipo de condição ocorre no programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), que, no entanto, atende famílias com renda mensal de até R$ 8 mil. Aumentar a faixa de renda do MCMV poderia ajudar, segundo ele.

Hoje, porém, nem no setor imobiliário há apoio para um aumento das faixas de renda, já que os recursos do FGTS, que sustentam as condições mais favoráveis do programa, estão ficando escassos até para atender a demanda atual, quanto mais novas famílias, e que comprariam imóveis mais caros.

Para Favaron, há alternativas, como negociar parcerias com fundos soberanos de outros países. “Tem muito capital no mundo, o que falta é o agente público ser mais engenhoso, empreendedor”.

Alternativas via locação

Já Rodger Campos, consultor da RBA&Associados e pesquisador-líder do laboratório Insper Cidades, considera que a melhor solução para a questão habitacional do país é simplesmente o aumento de renda da população, “mas temos muitos problemas no Brasil que dificultam aumentar a produtividade do trabalho”, pondera, o que impede uma elevação de forma sistemática.

Nesse caso, outra saída, e que poderia segurar o aumento dos aluguéis, seria oferecer um “pool” de imóveis públicos para locação. Essa política seria diferente do que se faz atualmente em habitação por não se concentrar na posse do imóvel e não depender exclusivamente de imóveis novos, que levam anos para serem construídos. “O preço do aluguel de mercado tenderá a convergir ao preço do imóvel público”, diz. “Mas, para isso, precisa de escala”.

Em vez do poder público ter a posse dos imóveis, também poderia incentivar a compra de unidades que só pudessem ser locadas para famílias com renda de até três salários mínimos, por exemplo.

É em parte o que está sendo feito em São Paulo, onde imóveis de categoria Habitação de Interesse Social (HIS) 1 só podem ser vendidos ou alugados para quem tem renda de até três salários mínimos — em teoria. Na prática, o Ministério Público investiga incorporadoras que teriam burlado o limite de renda na hora de vender as unidades.

Valor - SP   12/02/2025

Custo nacional da construção por metro quadrado em janeiro foi de R$ 1.798,48, sendo R$ 1036,90 relativos aos materiais e R$ 763,02 à mão de obra

A inflação medida pelo Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi) subiu 0,51% em janeiro, ante 0,21% em dezembro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Com o resultado, o indicador alcançou 4,31% no resultado acumulado em 12 meses, ante 3,98% no ano fechado de 2024.

Os preços de construção começaram 2025 em ritmo de alta maior que o do ano passado: o índice de janeiro de 2024 foi de 0,19%.

O custo nacional da construção por metro quadrado em janeiro foi de R$ 1.798,48, sendo R$ 1036,90 relativos aos materiais e R$ 763,02 à mão de obra. Em dezembro, esse custo totalizava R$ 1.790,66, sendo R$ 1.034,95 relativos aos materiais e R$ 755,71 à mão de obra.

FERROVIÁRIO

Exame - SP   12/02/2025

Na Dow, a logística representa um desafio de descabonização: especialmente no escopo 3, que representa 70% das emissões de CO2 da companhia e inclui o deslocamento e distribuição de insumos e produtos.

Pensando em reduzir sua pegada de carbono, a gigante química está apostando em um modelo de transporte ferroviário para suas operações no Brasil e inicia a implementação da primeira fase do projeto neste início de 2025. No país, o setor de transportes é um dos mais poluentes e o rodoviário ainda predomina, mesmo sendo o menos eficiente.

Desenvolvido em parceria com as empresas MRS Logística, Contrail Logística e DP World Brasil, a rota de trens conecta o Porto de Santos às unidades da empresa em Hortolândia e Paulínia, no interior de São Paulo.

A iniciativa pode reduzir em até 45% as emissões de CO2 por ano nas rotas selecionadas, contribuindo para a meta da Dow de cortar 5 milhões de toneladas de carbono até 2030, em relação aos níveis de 2020.

O transporte será coordenado pela Contrail Logística, que gerencia o Terminal Intermodal de Jundiaí (TIJU). O fluxo logístico começa no terminal marítimo da DP World Brasil, no Porto de Santos, passando pelo desembaraço aduaneiro na DSV – Global Transporte e Logística. Os contêineres seguem pela ferrovia da MRS Logística até o TIJU, de onde são levados por caminhões até as fábricas.

Sustentabilidade e competitividade

Segundo a Dow, o projeto proporciona outros benefícios: custo logístico competitivo e mais segurança, com a diminuição nos riscos de ocorrência de incidentes.

Bruno Goya, diretor de Transporte Rodoviário, Armazéns e Intermodalidade da Dow na América Latina, disse que o objetivo é ampliar o modal ferroviário dentro da cadeia logística da companhia: "A intermodalidade combina as vantagens de cada modal, equilibrando velocidade e sustentabilidade".

O uso da ferrovia também traz ganhos financeiros e operacionais. Um trem transporta, em média, o equivalente a 40 caminhões, reduzindo o preço e o risco no transporte.

Atualmente, o setor ferroviário responde por aproximadamente 27% do transporte de cargas no Brasil e atrai mais investimentos, mesmo com os desafios da infraestrutura nacional.

Para Marco Dornelas, gerente comercial da MRS Logística, a diversificação das cargas transportadas pela ferrovia está em expansão. "Projetos como o da Dow mostram o potencial do modal em agregar valor à cadeia de suprimentos", destacou.

Mirando a expansão

O plano prevê expansão para novas rotas, com as próximas fases contemplando Jacareí e Jundiaí, também no interior paulista.

Além de mitigar impactos ambientais, a companhia pretende ofertar a intermodalidade como um diferencial competitivo para seus clientes, aumentando eficiência e volume de negócios.

O Estado de S.Paulo - SP   12/02/2025

O Governo do Estado de São Paulo autorizou nesta segunda-feira, 10, a elaboração de estudos para a ampliação da Linha 6-Laranja do Metrô, como vinha prometendo o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). A escavação do túnel para o trecho já contratado da linha foi finalizada na última semana e a operação deve começar, de maneira parcial, em outubro de 2026.

O projeto de ampliação prevê sete novos quilômetros de linha e seis novas estações, sendo quatro delas na região centro-leste e duas ao noroeste da capital. Não há prazo para a conclusão dos estudo, nem para um possível início da obra de ampliação.

Hoje, a Linha 6-Laranja já tem 15,3 km de extensão e 15 estações, do noroeste ao centro da cidade, que estão sendo construídas.

Em evento da última terça-feira, 4, Tarcísio disse que o objetivo é aproveitar a mesma tuneladora que escavou até a estação São Joaquim, no centro da cidade, para chegar às futuras estações Aclimação, Cambuci, Vila Monumento e São Carlos/Parque da Mooca, na região centro-leste.

Já na direção noroeste, o plano é construir mais duas estações: Morro Grande e Velha Campinas. Elas devem ser construídas em método de escavação NATM (sigla para Novo Método Austríaco para Abertura de Túneis), que utiliza concreto projetado como suporte e dispensa o uso do tatuzão.

Se o projeto de ampliação for concretizado, a Linha 6-Laranja passará a ter ligação com a Linha 10-Turquesa, que vai do centro ao ABC paulista, na estação São Carlos.

“A concessionária Linha Universidade será responsável pelos estudos de viabilidade e pela obtenção das licenças para as obras. Após essa fase, o Governo do Estado avaliará a inclusão da expansão no contrato de concessão como investimento adicional”, disse a gestão Tarcísio de Freitas.

PETROLÍFERO

Petro Notícias - SP   12/02/2025

Depois de fazer movimentos internacionais na Colômbia, a Petrobrás pode ingressar em novos projetos na Ásia. A presidente da Petrobrás, Magda Chambriard, está participando do evento Índia Energy Week, em Nova Delhi, e revelou hoje (11) a intenção de avaliar novas oportunidades de blocos exploratórios offshore no país asiático.

Em uma postagem em seu perfil no LinkedIn, Magda afirmou que o governo indiano anunciou nesta terça-feira, durante o evento, a oferta de 25 blocos de exploração em águas profundas e ultra profundas do país. A executiva disse que a empresa vai estudar a possibilidade de participar do leilão indiano de óleo e gás. “Vamos avaliar com atenção essas oportunidades, sempre em busca de novas fronteiras de produção, que nos garantirão segurança e financiamento para a transição energética”, escreveu a executiva.

Durante o evento, Magda afirmou também que é perfeitamente possível conciliar produção de petróleo e transição energética. “Compartilhei nossa visão sobre o papel relevante dos biocombustíveis, como o etanol, biodiesel e soluções via coprocessamento, como o diesel com 7% de conteúdo renovável. Ao mesmo tempo, destaquei nossa necessidade de recomposição de reservas de petróleo, sejam elas localizadas no Brasil ou fora do país”, disse.

Por fim, a presidente da Petrobrás declarou que Índia e Brasil estão trilhando caminhos similares no processo de transição energética. “Está sendo uma rica experiência conhecer iniciativas e compartilhar com nossos pares indianos e da indústria mundial as soluções que estamos vendo para desafios que são comuns às duas nações. O principal deles é como enfrentar a pobreza energética e prover energia acessível e segura para uma grande parcela da população, ainda carente de recursos e direitos”, concluiu.

Portos e Navios - SP   12/02/2025

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) anunciou o início do 5º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão (OPC), com a publicação do cronograma no Diário Oficial da União desta terça-feira (11). A sessão pública está agendada para 17 de junho de 2025, com 332 blocos exploratórios disponíveis para oferta, conforme previsto no edital vigente. Atualmente, 89 empresas estão inscritas na OPC sob o regime de concessão, sendo que apenas essas podem participar do ciclo, conforme as regras da Resolução ANP nº 969/2024. Empresas interessadas podem se inscrever ou atualizar sua documentação até o próximo dia 17 de fevereiro.

A relação das licitantes aptas será divulgada no dia 7 de março. Para participar, as empresas inscritas devem apresentar declaração de interesse e garantia de oferta até 31 de março de 2025. Os setores disponíveis para oferta na sessão pública serão anunciados em 14 de abril de 2025. Em relação às manifestações conjuntas dos Ministérios de Minas e Energia (MME) e Meio Ambiente e do Clima (MMA), 145 blocos estão disponíveis para declaração de interesse no 5º Ciclo, pois suas manifestações expiram após a data da sessão pública.

Caso não recebam declarações de interesse ou não tenham suas manifestações renovadas, esses blocos serão retirados do edital. A Oferta Permanente de Concessão é um modelo que permite a oferta contínua de blocos exploratórios e áreas com acumulações marginais em bacias terrestres e marítimas, possibilitando que licitantes manifestem interesse conforme os termos do edital vigente. Mais informações estão disponíveis no site da ANP.

Infomoney - SP   12/02/2025

Os contratos futuros de petróleo fecharam em alta nesta terça-feira, 11, com sinais de fragilização do cessar-fogo em Gaza, risco de aperto na oferta de Rússia e Irã e repercussão das tarifas dos EUA a importações de aço e alumínio.

Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para março fechou em alta de 1,38% (US$ 1,00), a US$ 73,32 o barril, enquanto o Brent para abril, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), avançou 1,49% (US$ 1,13), a US$ 77,00 o barril.

Nesta terça, o presidente dos EUA, Donald Trump, alertou que, “se o Hamas não soltar os reféns até sábado, tudo pode acontecer”, sem fornecer mais detalhes.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, também ameaçou retomar os combates na Faixa de Gaza, a menos que seus reféns sejam libertados, o que impulsionou os ganhos da commodity.

Além da guerra no Oriente Médio, a recuperação dos preços do petróleo é influenciada pelas novas sanções dos EUA sobre as exportações de petróleo do Irã, conforme destacou o Swissquote Bank.

Analistas da ANZ Research também apontam que a produção russa de petróleo ficou abaixo de sua cota na Opep+ em janeiro. Para a Pepperstone, “o foco na redução das taxas de produção na Rússia ajudaram o petróleo a romper a tendência de queda”.

O analista Alex Hodes, da StoneX, observa que os mercados ainda estão avaliando as interrupções no fornecimento que podem ocorrer devido às sanções iranianas e russas, com a possibilidade de o WTI se estabilizar abaixo de US$ 70 por barril em breve.

A Rússia, no entanto, afirmou que continuará fornecendo petróleo aos mercados globais, apesar da pressão das sanções.

Perto do fechamento do mercado, o Departamento de Energia (DoE, em inglês) dos EUA manteve sua previsão do preço médio do petróleo Brent em 2025 a US$ 74 o barril e do WTI a US$ 70 o barril.

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