IstoÉ Dinheiro - SP 17/02/2025
Empresários veem espaço para que o Brasil faça uma negociação capaz de convencer o presidente americano, Donald Trump, a reverter a promessa de tarifas de 25% para o aço e o alumínio. Contudo, observam com preocupação a possibilidade de a China inundar países emergentes, como o Brasil, com produtos siderúrgicos.
As importações de aço subsidiado da China nos EUA eram uma grande preocupação para o mercado americano, mas a nova medida tarifária de Trump deve reverter o cenário drasticamente, afirmou o presidente do conselho de administração da Gerdau, Guilherme Gerdau, ao Estadão/Broadcast.
Consequentemente, há possibilidade de que haja maior entrada de aço chinês no Brasil, segundo outro executivo da indústria siderúrgica. Ele afirmou que o fluxo de aço chinês no País pode se tornar “quase como um tsunami”, dado o excesso de capacidade no gigante asiático.
Como margem para negociação, haveria a possibilidade de o Brasil começar a importar mais Gás Natural Liquefeito (GNL) dos Estados Unidos, afirmou um terceiro executivo do setor siderúrgico ao Estadão/Broadcast, sob condição de anonimato.
Ele explicou que, quando há escassez hídrica, a Petrobras precisa acionar as térmicas do Nordeste, que usam grandes quantidades de GNL. Esse seria um dos assuntos a serem discutidos, uma maneira de negociar cotas com os EUA.
Ele acrescentou que a China determinou a taxação em 15% para o GNL americano, em retaliação após o governo Trump taxar a entrada de todos os produtos chineses nos EUA, então pode ser interessante para os EUA acharem um outro mercado comprador, e este poderia ser o Brasil.
Infomoney - SP 17/02/2025
A siderúrgica Usiminas (USIM5) divulgou seus resultados do quarto trimestre de 2024 (4T24) na manhã desta sexta-feira (14), com Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) ajustado de R$ 518 milhões no período, alta de 60% na base anual.
Para o Morgan Stanley, o Ebitda ajustado ficou 7% abaixo do consenso de mercado de R$ 558 milhões, mas bem acima da estimativa do banco americano de R$ 459 milhões; em relação ao seu número, a superação foi principalmente devido a menores despesas de vendas, gerais e administrativas.
Para o Itaú BBA, por sua vez, o número foi em linha com as estimativas, de R$ 520 milhões. Às 11h10 (horário de Brasília), contudo, a ação da companhia caía 1,19%, cotada a R$ 5,80.
O Itaú BBA avalia que os números, no geral, vieram em linha com as expectativas do mercado, com uma melhora sequencial nos resultados de mineração mais do que compensando um ligeiro declínio no aço.
Usiminas (USIM5) reverte lucro e tem prejuízo de R$ 117 mi no 4º tri
Consenso LSEG esperava lucro líquido de R$ 88,97 milhões no período.
A equipe de análise do BBA ressalta que a empresa prevê uma melhora sequencial nos resultados no 1T25, impulsionada principalmente por maiores preços de aço realizados, volumes mais fortes e custos mais baixos.
A Usiminas anunciou orientação para capex (investimento em capital) em R$ 1,4 bilhão a 1,6 bilhão para 2025, abaixo da previsão do BBA de R$ 1,8 bilhão, o que melhora as perspectivas para geração de fluxo de caixa (FCF). O BBA esperava uma reação positiva do mercado aos números reportados.
O BBA manteve recomendação neutra e preço-alvo de R$ 7.
O Bradesco BBI, por sua vez, esperava uma reação positiva do mercado aos resultados da Usiminas, dados os números mais fortes do trimestre anterior e a orientação para melhorias contínuas no primeiro trimestre de 2025 (1T25).
No entanto, o BBI reiterou sua visão mais cautelosa sobre o setor de aço brasileiro e classificação neutra e preço-alvo de R$ 6.
O JPMorgan comenta que o Ebitda da Usiminas foi ligeiramente acima das suas estimativas, decorreu de ajustes operacionais que superaram as expectativas e compensaram a leve queda no EBITDA da unidade de Aços.
A unidade de aços registrou um Ebitda de R$ 366 milhões, representando uma queda de 3,2% em relação ao trimestre anterior. Segundo o JPMorgan, o recuo foi impulsionado por um leve aumento nas despesas operacionais em caixa, que compensou volumes melhores do que o esperado e preços estáveis.
A companhia destacou que o CPV (Custos de Produtos Vendidos)/t (tonelada) no trimestre foi de R$ 5.260/t, uma queda de 11,5% ano a ano, com um ganho de R$ 391/t, impulsionado pela redução nos custos de matérias-primas (placas, carvão e coque) e ganhos de eficiência de R$ 135/t devido à melhoria no desempenho dos Altos-Fornos e da Siderurgia, fruto de investimentos realizados nos últimos anos.
Na unidade de Mineração, o Ebitda de R$ 154 milhões representou uma alta de 250% na base trimestral, após o colapso do trimestre anterior. Os números reportados ficaram levemente abaixo das projeções do JPMorgan, refletindo a combinação de preços menores e maior volume de exportação, o que indica um mix de vendas menos favorável. Essa combinação compensou a redução dos custos no trimestre, que caíram 16,3% no trimestre e ficaram 11,6% abaixo das estimativas do banco.
O JPMorgan reiterou recomendação de venda e preço-alvo de R$ 5.
CNN Brasil - SP 17/02/2025
O Brasil impõe cotas tarifárias para importações de 11 produtos de aço e ferro, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). A medida, que tem como objetivo limitar a entrada de aço importado no país, é válida até 31 de maio.
A legislação estabelece que, caso as cotas sejam superadas, as importações de produtos abrangidos por essas cotas estão sujeitas a alíquotas de importação. De acordo com o MDIC, as tarifas são, em média, inferiores a 25%, variando entre 9% e 12,6%.
À CNN , MDIC informou que o importador não necessariamente pagará alíquota de 25% do imposto de importação, se o saldo das cotas tarifárias se esgotar.
“[Os importadores podem] promover as operações ao amparo de regimes aduaneiros suspensivos ou de acordos comerciais previamente negociados pelo Mercosul que estabeleçam preferências tarifárias para a entrada dos produtos no Brasil”, disse o órgão em nota enviada à CNN.
Parte das cotas é alocada de forma proporcional para empresas com histórico de importação. Outra parte é distribuída segundo a ordem de registro dos pedidos de licença de importação no Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex).
As cotas de importação para os produtos foram estabelecidas pelo governo brasileiro após a equipe técnica do MDIC identificar que o volume de compras externas de metais em 2023 superou em 30% a média das compras ocorridas entre 2020 e 2022. O caso foi identificado em 15 produtos, mas a Câmara de Comércio Exterior (Camex) optou por aplicar cotas a somente 11 itens.
A medida foi adotada após o setor siderúrgico registrar queixas em relação às importações chinesas. Por causa da desaceleração da economia na China, empresas do país estavam despejando “sobras” de produção em outros mercados.
“Tarifaço” nos EUA
Após o presidente dos Estados Unidos anunciar uma taxação de 25% sobre todas as importações norte-americanas de ferro e de aço, o vice-presidente Geraldo Alckmin disse que as cotas de importação podem ser um “bom caminho” para o impasse em torno da política protecionista dos EUA.
“As cotas são um bom caminho. Enquanto lá atrás foi aumentado o imposto de importação, foi estabelecida as cotas, que é um mecanismo inteligente. Se você aumenta o imposto de importação do aço para os EUA, isso tem um efeito na cadeia. Você tem um encarecimento na cadeia. Então o que foi feito anteriormente? Cotas”, afirmou.
Em seguida, completou: “O caminho é o diálogo, estamos abertos a várias alternativas. Uma delas é o estabelecimento de cotas”.
Ministério da Fazenda informou na última quinta-feira (13) que as tarifas de importação sobre ferro, aço e alumínio nos Estados Unidos devem exercer impacto limitado nas exportações brasileiras, se efetivamente implementadas.
De acordo com o governo federal, as exportações brasileiras de ferro, aço e alumínio para os Estados Unidos corresponderam a apenas 1,9% do valor total exportado pelo Brasil em 2024. Quando se consideram volume exportado, equivale a 40,8%,
“Nesse sentido, tarifas de 25% sobre importações de produtos de ferro, aço e alumínio devem ter impactos relevantes na indústria de metalurgia, porém limitados no total das exportações e no PIB brasileiro”, diz relatório divulgado pela equipe econômica.
IstoÉ Dinheiro - SP 17/02/2025
Na contramão da postura adotada até aqui por alguns dos seus principais ministros, que falam em negociação com o governo dos Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira, 14, que vai reagir contra a imposição de tarifa de 25% sobre as exportações de aços para o mercado americano. Lula falou até em levar o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC).
“Enquanto os EUA tiverem uma relação civilizada e harmônica com o Brasil, está tudo bem. Agora, ouvi dizer que vão taxar o aço brasileiro. Se taxar, vamos reagir comercialmente ou vamos denunciar na OMC ou vamos taxar os produtos que a gente importa deles”, afirmou o presidente, em entrevista para a Rádio Clube do Pará. “A relação do Brasil com os EUA é muito igualitária. Eles importam US$ 40 bilhões. Nós importamos US$ 45 bilhões.”
Questionado sobre seu relacionamento com o presidente dos EUA, Donald Trump, Lula respondeu que “não há relacionamento”. “Existe relação entre governos.” Ele disse ainda que o Brasil não quer “atrito com ninguém”. “Queremos paz e tranquilidade. Se o Trump tiver esse comportamento com o Brasil, teremos esse comportamento com os EUA. Agora, se tiver alguma atitude com o Brasil haverá reciprocidade.”
Na segunda-feira, 10, o presidente Donald Trump anunciou a cobrança de tarifa de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio dos EUA. A medida atinge importantes parceiros comerciais dos americanos, caso do Brasil, que em 2024 foi o segundo maior fornecedor do produto para o país, atrás apenas do Canadá. Na quinta-feira, 13, em novo movimento, Trump assinou memorando com o objetivo de criar taxas para as importações americanas, provenientes de todos os países, com as mesmas tarifas que são cobradas de exportadores dos EUA.
A investida tem levantado temores de eclosão de uma guerra comercial global. Os principais conselheiros escolhidos por Lula para discutir o tema até aqui foram o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o vice-presidente Geraldo Alckmin – que também é o titular da pasta da Indústria, Comércio e Serviços.
Ambos disseram que era preciso entender melhor o teor das medidas e tentar abrir um canal de negociação com o governo dos EUA – postura que tem o aval de empresas brasileiras. No caso do aço, Alckmin chegou a dizer que o ideal seria tentar manter o acordo de cotas que vigora desde 2018, firmado no primeiro mandato de Trump. “O que foi feito anteriormente (em 2018)? Cotas. Essa é uma boa solução. Então, o caminho é o diálogo”, disse ele, em entrevista na quarta-feira passada, 5.
O Estado de S.Paulo - SP 17/02/2025
O governo brasileiro está cético em relação à promessa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que iniciará a cobrança de 25% sobre produtos siderúrgicos de vários países, entre eles o Brasil, no início do próximo mês, de acordo com uma fonte que acompanha o assunto de perto. A avaliação de fontes do governo é a de que se tratam de muitos produtos para muitos países e teria de haver uma tabela complexa para a alteração a ser apresentada no curto prazo.
A proposta americana é a de que a medida entre em vigor no próximo dia 12. Em março de 2018, quando o republicano assumiu a presidência dos EUA pela primeira vez, o país impôs uma taxa de 25% sobre todas as importações de aço e de 10% sobre as de alumínio.
Desta vez, Trump diz que a alíquota será de 25% independentemente da origem ou do produto. O anúncio já gerou repercussões entre diferentes nações e também do setor empresarial.
Por causa dessa tarefa considerada “gigante” para ser colocada em vigor em curto espaço de tempo, a avaliação local é a de que o anúncio feito por Trump é uma medida que abre espaço para negociações. E este é o tom que a área mais técnica do governo vem defendendo e que tentará articular nas próximas semanas. Várias autoridades vêm se pronunciando nessa direção, apesar da fala mais contundente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sexta-feira, 14, de que o Brasil “vai reagir”.
Mercosul e União Europeia
A medida americana certamente terá influência também sobre outros acordos comerciais que, teoricamente, nem dizem respeito aos Estados Unidos. É o caso, por exemplo, do tratado assinado no fim do ano passado entre o Mercosul e a União Europeia. Neste caso específico, ainda não é possível avaliar, de acordo com a fonte, qual será o impacto, pois é preciso acompanhar os próximos desdobramentos das negociações que serão tentadas por todos os países que forem afetados.
De um lado, comenta um membro do governo, é possível que uma nova ordem econômica, mais calcada no protecionismo e aumento de tarifas, faça com que acordos em tramitação, como o do Mercosul-UE, sejam revistos para estarem em linha com outros acontecimentos do mundo. Por outro, no entanto, pode-se escolher o caminho de tentar acelerar as negociações existentes de forma bilateral ou por blocos para diminuir os impactos gerados unilateralmente por Trump e, assim, engrossar correntes de comércio que passem ao largo dos EUA. “Ainda está tudo muito incerto.”
Valor - SP 17/02/2025
Diretor-presidente da Usiminas, Marcelo Chara levanta bandeira da defesa comercial — sobretudo frente à China, que "continua com sobrecapacidade e inundando o mundo com aço a preços subsidiados"
O impacto das sobretaxas de 25% sobre o aço e alumínio brasileiros, anunciadas, na segunda-feira (10), pelo presidente americano Donald Trump, deve ter um impacto pequeno sobre os resultados da Usiminas, segundo o diretor vice-presidente comercial da companhia, Miguel Camejo. “As exportações para Estados Unidos, de Usiminas, são muito baixas, representam menos de 2% nos últimos dois anos. Então, o impacto direto é muito baixo”, disse o executivo, em teleconferência de resultados da companhia, nesta sexta-feira (14).
Camejo destacou ainda que as exportações de produtos laminados planos do Brasil para os Estados Unidos somam em torno de 400 mil toneladas e estavam limitadas, até agora, por quotas definidas pelo país. Por isso, o impacto também é reduzido para a companhia.
O executivo acrescentou que ainda é cedo para entender qual poderia ser o impacto no mercado de placas, tanto a nível local como internacional. “Vamos aguardar como evolui esse mercado, como será a reacomodação tanto de oferta quanto de demanda e as potenciais negociações que acontecerão, sem dúvida, entre Brasil e Estados Unidos nesse sentido”, afirmou.
De olho na China
Por outro lado, o diretor-presidente da Usiminas, Marcelo Chara, levantou a bandeira da defesa comercial — sobretudo em relação à China. Segundo ele, isso gera uma competição desleal no mercado e reduz a capacidade da indústria brasileira de gerar empregos e expandir seus investimentos.
O executivo disse que o Brasil teve dois anos de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), mas “não soube aproveitar a oportunidade para desenvolver a indústria local”. Segundo ele, o sistema de cotas tarifárias implementadas em junho de 2024 se mostrou ineficiente para garantir a isonomia competitiva do Brasil.
“Para colocar em perspectiva, nesse período, as importações do aço plano cresceram 57%. Em 2023 e em 2024, entraram no mercado brasileiro 5,8 milhões de toneladas de aço importado, sendo 78% de origem chinesa. Esta China continua com sobrecapacidade e inundando o mundo com aço a preços subsidiados. Nós, no Brasil, devemos nos concentrar em combater as práticas desleais que afetam o nosso país”, afirmou.
O Estado de S.Paulo - SP 17/02/2025
Maior empresa brasileira produtora de aço e uma das principais fornecedoras de aços longos nas Américas e de aços especiais no mundo, a Gerdau tem como vantagem, em relação à taxação às importações imposta por Donald Trump, o fato de produzir nos Estados Unidos aço que vende no mercado americano. Porém, a operação no Canadá é exportadora para os EUA.
“Toda a nossa produção que atende o mercado americano é feita nos Estados Unidos. Somos impactados em alguma parte naquilo que a gente produz do Canadá para os Estados Unidos. Vai bastante coisa do Canadá para os Estados Unidos”, afirmou o presidente do conselho de administração da Gerdau, Guilherme Gerdau, ao Estadão/Broadcast.
A tarifa de 25% sobre o aço (assim como a taxação do alumínio) foi assinada por Trump na segunda-feira, 10, abrangendo todos os países globalmente — o Brasil, segundo maior fornecedor de aço para os EUA, é um dos atingidos.
A Gerdau, como já é amplamente sabido e reiterado à reportagem pelo empresário, reúne algumas vantagens em relação às demais siderúrgicas brasileiras por ter plantas de produção de aço em vários países, inclusive nos Estados Unidos.
Porém, a falta de informações sobre como na prática será implantada a barreira comercial desorienta o mercado. “Está muito confuso ainda todo esse tema das tarifas”, afirmou.
Na verdade, de acordo com Guilherme Gerdau, por enquanto, não tem nada ainda efetivamente definido. Quando se trata de Brasil, por exemplo, explica o empresário, a Gerdau exporta uma parte relevante de semiacabados para os EUA, mas hoje estas exportações estão fora dessas tarifas sinalizadas por Trump, por força dos acordos de exceção firmados no primeiro mandato do atual presidente americano.
“O que chega para nós agora é que essas exceções vão acabar. Mas ainda falta detalharmos o que exatamente vai acontecer. Mas o que está chegando para nós é que as exceções que existiam no sistema anterior com o governo Trump vão acabar”, observou Gerdau.
Ele ponderou que, apesar de as exportações de semiacabados a partir do Brasil terem escala, são consideradas pequenas perto do montante total do aço que a empresa coloca no mercado norte-americano.
De acordo com Gerdau, o maior problema dos Estados Unidos neste mercado do aço é mesmo com a China e com a Europa, que têm despejado uma grande quantidade de aço produzido com subsídios de seus governos.
Para tentar minimizar os impactos de uma possível efetivação do aumento das tarifas pelo governo americano, Gerdau disse que pode elevar a sua produção nos Estados Unidos. “Nós já vínhamos aumentando a produção local nos Estados Unidos de forma orgânica. E agora, na medida que o mercado retoma, ainda temos capacidade local para atender o mercado americano”, disse.
Valor - SP 17/02/2025
Segundo a direção, mesmo com influência sobre a formação de preços, o câmbio é transitório, e o foco da empresa é ser competitiva em qualquer cenário
A expectativa da Usiminas sobre redução de custos do próximo trimestre não considera a variação cambial, disse o diretor vice-presidente de finanças e de relações com investidores da companhia, Thiago Rodrigues, em teleconferência de resultados, realizada nesta sexta-feira (14).
Segundo Rodrigues, a variação do câmbio de um determinado mês leva tempo até impactar os resultados. “Essa redução que a gente viu agora em janeiro da taxa de câmbio afeta pouco o resultado de fevereiro e um pouco mais de intensidade do resultado de março. Mas a expectativa de redução [de custos] não considera um efeito relevante de variação cambial, com o real se valorizando, como a gente viu no último período”, afirmou.
Diretor-presidente da Usiminas, Marcelo Chara completou que a empresa segue captando ganhos de produtividade e eficiência operacional. Em 2024, o custo dos produtos vendidos por tonelada caiu 11% em relação ao ano de 2023.
Com isso, a empresa fechou o ano com lucro antes de juros, impostos e depreciações e amortizações (Ebitda) consolidado ajustado de R$ 1,6 bilhão. O destaque foi o segmento de siderurgia, que cresceu 31% no Ebitda em relação a 2023.
A expectativa é que o movimento se mantenha: “Apesar do cenário desafiador, as expectativas para o primeiro trimestre de 2025 na unidade de Siderurgia seguem positivas”, disse Chara.
“Em relação ao custo para a venda, também se espera uma leve melhora, com os contínuos ganhos de eficiência nas operações em um projeto com visão de longo prazo, de melhora contínua e dos custos em forma sistêmica”.
Ainda de acordo com o executivo, mesmo com influência sobre a formação de preços, o câmbio é transitório, e o foco da empresa é ser competitiva em qualquer cenário. “Nós estamos preparados na Usiminas para enfrentar cenários flutuantes fortalecendo nossas deficiências de custos”.
Chara acrescentou que a companhia espera, para o primeiro trimestre de 2025, um aumento do volume de vendas no mercado interno como reflexo de uma demanda resiliente, e menores vendas para exportação, o que deve levar a um “leve aumento no volume total de vendas do aço e com um melhor mix.”
O executivo também antevê uma receita líquida ligeiramente superior ao trimestre anterior, reflexo do melhor mix de vendas e dos repasses de preços em Distribuição e Indústria que começaram a ser implementados em 2024. Na Unidade de Mineração, a expectativa é de estabilidade nos volumes de venda. “Sendo assim, esperamos uma melhora nos resultados consolidados da Usiminas no primeiro trimestre de 2025”, afirmou o diretor-presidente.
Agência Brasil - DF 17/02/2025
Em uma reunião com empresários na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) na manhã desta sexta-feira (14), o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse que as tarifas que estão sendo impostas a diversos países pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, podem apresentar um efeito menor no Brasil do que em outras economias, como a do México.
"Essa menor relação, ou conexão comercial, do Brasil com os Estados Unidos, comparativamente com o México, induziu sensação por parte dos agentes de mercado de que eventualmente uma política de tarifas mais pesadas possa prejudicar mais o México do que o Brasil", afirmou. No entanto, Galípolo ressaltou que o melhor seria não haver "guerra comercial".
"Perceba que há uma sutileza aqui: eu não estou dizendo, que com as tarifas, é melhor para o Brasil. Com certeza, não há dúvida de que em qualquer condição do comércio global é melhor não ter uma guerra tarifária. O que eu estou colocando aqui simplesmente é que no relativo, ou seja, comparativamente, talvez para o Brasil seja menos prejudicial do que, por exemplo, para o México", disse o presidente do Banco Central.
Reciprocidade
Hoje, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou que o Brasil vai aplicar o princípio de reciprocidade, caso o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cumpra com a promessa de elevar as tarifas de importação do país. “Eu ouvi dizer que vai taxar o aço brasileiro. Se taxar o aço brasileiro, nós vamos reagir comercialmente, ou vamos denunciar à Organização [Mundial] do Comércio [OMC], ou vamos taxar os produtos que a gente importa deles”, disse em entrevista à Rádio Clube do Pará, em Belém.
Trump vem prometendo aplicar tarifas abrangentes a diversos países que têm superávit comercial com os Estados Unidos, como a China, e até a parceiros mais próximos como México e Canadá. O presidente americano também anunciou uma taxação de 25% sobre as importações de aço e alumínio, cancelando isenções e cotas isentas de impostos para os principais fornecedores, entre os quais, o Brasil.
“Fantasmas”
Ainda durante a conversa com os empresários, Galípolo afirmou que o Banco Central tem uma atuação preventiva e conservadora na definição de sua política, agindo sempre com base em tendências, e não em volatilidades, e mantendo cautela na interpretação dos dados.
“Por isso, eu disse que é importante o Banco Central ter o tempo necessário para consumir esses dados e ter clareza se não estamos assistindo simplesmente a uma volatilidade que responde por esses dados de alta frequência e ter certeza se estamos conseguindo observar uma tendência", ressaltou. “Seria um equívoco ser preventivo a um fantasma que não está ali colocado. Este é um tema que oferece desafio ao endereçamento da política monetária."
Questionado pelos empresários sobre a alta taxa de juros no país, Galípolo disse que essa medida surtirá efeito para conter a alta inflação no país. “No horizonte que a gente consegue enxergar, as projeções apresentam a inflação fora da meta. O Banco Central reage caminhando com a taxa de juros, num patamar restritivo e de relativa segurança. O mandato do Banco Central é colocar a taxa de juros em um patamar restritivo o suficiente e pelo tempo que for necessário para que a inflação possa fazer a convergência para a meta”, acrescentou.
“O remédio vai funcionar. O Banco Central tem as ferramentas para conduzir a política monetária, para perseguir a meta, e não vai se furtar a fazer isso", concluiu.
O Estado de S.Paulo - SP 17/02/2025
O BC tem demonstrado incômodo considerável com a piora das expectativas de inflação, não apenas as obtidas pela pesquisa Focus, mas também as “medidas por diferentes instrumentos e obtidas de diferentes grupos de agentes”.
Há motivos para preocupação. A persistência de expectativas inflacionárias muito acima da meta, mesmo para horizontes relativamente longínquos, como 2026 (4,3%) e 2027 (3,9%), sugere que a credibilidade do BC não está somente arranhada, mas seriamente ferida.
Haveria, em tese, tempo mais do que suficiente para a política monetária atuar em ambos os horizontes, mais distantes do que as defasagens normalmente associadas à política, ou seja, um BC determinado conseguiria, pelo manejo apropriado da taxa de juros, aproximar a inflação da meta. Mesmo que não ficasse exatamente em 3%, deveria, ao menos, oscilar em torno deste patamar.
A descrença dos “diferentes grupos de agentes” a este respeito deve refletir, portanto, a visão que faltaria ao BC precisamente esta determinação. Ou, ainda pior, que já nos encontraríamos em situação na qual a eficácia da ação do Copom para conter a inflação estaria extraordinariamente reduzida (a tal “dominância fiscal”).
O segundo motivo refere-se ao efeito das expectativas inflacionárias sobre os preços e salários correntes. Agentes econômicos, ao reajustar preços e salários, não reagem apenas às condições correntes de demanda e oferta. Crucialmente, precisam levar em conta qual será a inflação durante o período em que seus preços estarão fixados. Caso seja muito alta, perderão valor rapidamente, como ocorre hoje com os salários.
Assim, expectativas de inflação muito acima da meta induzem empresas e trabalhadores a reajustarem hoje preços e salários de forma mais vigorosa do que fariam com as expectativas controladas. Neste cenário, para conter a inflação, o BC precisa subir ainda mais o juro, portanto reduzir ainda mais o crescimento, do que seria o caso com as expectativas próximas à meta. O custo, portanto, de reduzir a inflação se torna mais alto, em particular no que se refere ao aumento do desemprego.
A complicação final diz respeito à provável reação do governo a qualquer tentativa séria de trazer a inflação de volta à meta. Qualquer sinal de desaceleração da economia que possa ameaçar os planos eleitorais do governo deve provocar medidas no sentido contrário, tanto de novos gastos como estímulos ao crédito que impeçam este fenômeno.
Pensando bem, neste contexto, quem acreditaria em inflação na meta?
Monitor Digital - RJ 17/02/2025
Em meio à ofensiva do presidente dos EUA, Donald Trump, contra o Brics, a Presidência do Brasil do bloco se comprometeu a desenvolver uma plataforma que permita aos países-membros usarem suas próprias moedas para o comércio entre eles, o que poderia abrir caminho para substituir, em parte, o dólar como moeda do comércio internacional.
“De forma a cumprir o mandato estabelecido pelos líderes do Brics na Cúpula de Joanesburgo em 2023, a Presidência do Brasil dará continuidade aos esforços de cooperação para desenvolver instrumentos de pagamento locais que facilitem o comércio e o investimento, aproveitando sistemas de pagamento mais acessíveis, transparentes, seguros e inclusivos”, informa o documento.
A medida contraria os interesses dos EUA, que iniciaram uma guerra comercial com a elevação de tarifas para alguns mercados e produtos, incluindo o aço e alumínio, mercadorias que o Brasil exporta para o país.
Ontem, antes de se reunir com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que faz parte do Brics, o presidente Trump disse que o bloco estaria “morto” depois das ameaças que fez de taxar em 100% as importações dos países que substituam o dólar.
Por sua vez, o documento da Presidência brasileira do Brics afirma que o “recurso insensato ao unilateralismo e a ascensão do extremismo em várias partes do mundo ameaçam a estabilidade global e aprofundam as desigualdades”.
O documento completa dizendo que “o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem destacado o potencial do Brics como espaço para construção das soluções de que o mundo tanto precisa. Mais do que nunca, a capacidade coletiva de negociar e superar conflitos por meio da diplomacia se mostra crucial. Nosso agrupamento dialoga com todos e está na vanguarda dos que defendem a reforma da governança global”.
O professor de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), Fabiano Mielniczuk, destacou que o Brasil terá que deixar mais claro para o mundo o que significa esse tipo de mecanismo de pagamento em moeda local.
“O Brasil tem enfatizado bastante, principalmente na figura do seu Sherpa novo, o embaixador Maurício Lirio, que não pretende avançar no sentido da desdolarização das relações econômicas internacionais. O Brasil não quer criar atritos com os EUA. E o Brasil precisa deixar claro até que ponto a criação de mecanismos para pagamento em moeda local no âmbito do Brics representa, ou não, uma alternativa ao dólar”, ponderou.
Para especialistas consultados pela Agência Brasil, os EUA buscam preservar sua hegemonia econômica global, que tem no dólar como moeda internacional uma das suas principais vantagens. Por outro lado, os países do Brics defendem que o uso de moedas locais para o comércio traz benefícios econômicos e reduz fragilidades externas, pois os países não precisariam recorrer sempre ao dólar para o comércio exterior.
A professora de Relações Internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Ana Elisa Saggioro Garcia avalia que a nota do Brasil não trouxe novidades em relação ao que já vinha sendo discutido no âmbito do bloco em relação aos meios de pagamento, faltando ainda detalhar como isso seria implementado.
“Há muito o que se fazer para enfrentar esse período Trump. Acho que se, de fato, o Brics conseguir avançar em facilitar o comércio interno dentro do bloco, à revelia das tarifas impostas, avançando nos descontos de transações de crédito e no financiamento do comércio em moedas locais, vamos ter um avanço significativo”, comentou Ana Elisa, que é pesquisadora do Brics Policy Center, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
O Brasil ainda promete fortalecer a recém-criada Rede de Think Thanks sobre Finanças e a cooperação em infraestrutura, tributação e aduanas, assim como aprofundar a Parceria Brics para a Nova Revolução Industrial (PartNIR), “cujo objetivo é a diversificação e a atualização tecnológica da base industrial dos países do agrupamento”.
A regulação da Inteligência Artificial é outra agenda da Presidência brasileira no Brics. Para o professor Fabiano Mielniczuk, o Brasil e os Brics precisam avançar na proteção dos dados produzidos nos países.
“Esses dados estão gerando riqueza para as big techs. O Brasil deveria focar na dimensão econômica da economia de dados que está por trás da geração de modelos de IA e não apenas regular o uso da IA. Se o viés econômico de economia de dados avançar no tratamento de IAs, aí os interesses do Sul Global vão ser atendidos”, argumentou o especialista em Brics.
No documento que detalha as prioridades da Presidência brasileira, o país se comprometeu ainda a promover a defesa da reforma das instituições financeiras internacionais, em especial, do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional.
“A Presidência brasileira pretende aumentar a representação dos países em desenvolvimento em posições de liderança no FMI e Banco Mundial, refletindo melhor as contribuições das nações do Sul Global para a economia mundial, bem como objetiva trabalhar para aprimorar iniciativas como o Novo Banco de Desenvolvimento e o Arranjo de Reservas para Contingências”, diz o texto.
Para André Matos, CEO da MA7 Negócios, “o anúncio de Donald Trump sobre a criação de tarifas recíprocas para países que impõem taxas de importação sobre produtos dos EUA, como o etanol brasileiro, reforça a sua estratégia de reduzir os déficits comerciais e implementar o ‘American first’. Porém a medida acirra ainda mais a tensão comercial, especialmente entre os membros do Brics, ameaçados de taxas de até 100% e que já vêm enfrentam desafios relacionados à competitividade e ao uso do dólar. O impacto das tarifas poderá desestabilizar ainda mais as economias emergentes, como o Brasil, elevando o valor do dólar e prejudicando a balança comercial. Além disso, esse movimento pode levar o Fed a subir os juros, o que agravaria a fuga de capitais para os EUA e afetaria a estabilidade econômica global.”
E para João Kepler, CEO da Equity Fund Group, “com a possibilidade de uma guerra comercial em grande escala, a inflação global tende a aumentar, especialmente nos EUA.”
“Isso pode dificultar ainda mais o trabalho do Federal Reserve em atingir sua meta de inflação de 2%, já que a elevação dos custos de insumos básicos tende a pressionar os preços, forçando o banco central a adotar uma postura mais cautelosa e a realizar novos aumentos de juros. Para o Brasil, essa situação pode resultar em uma valorização do dólar e na desestabilização das relações comerciais, prejudicando a competitividade das exportações e afetando o fluxo de capitais internacionais. O aumento das taxas de juros nos EUA atrai investidores para os títulos públicos americanos, valorizando o dólar frente a outras moedas e criando um cenário de instabilidade para economias emergentes como a brasileira.”
O Estado de S.Paulo - SP 17/02/2025
As vendas no varejo nos Estados Unidos recuaram 0,9% em janeiro, um resultado bem pior do que a expectativa de mercado de queda de 0,2% da Bloomberg. No indicador das vendas de varejo que exclui restaurantes, concessionárias de automóveis, lojas de material de construção e postos de gasolina, a queda foi de 0,8%, comparado a uma expectativa de alta de 0,3%.
Esse é um resultado potencialmente importante. Assim como no Brasil, uma questão chave da economia norte-americana é a de saber se - e até que ponto - as elevadas taxas de juros nos Estados Unidos estão desaquecendo a economia a ponto de a inflação, de 3% nos 12 meses até janeiro, convergir para a meta de 2% do Federal Reserve (Fed, BC dos EUA).
O Fed começou a elevar os Fed Funds (taxa básica), a partir de um nível de praticamente zero, em março de 2022. Em julho de 2023, a taxa básica chegou ao seu pico recente, de 5,25%-5,5%. Aí permaneceu até setembro do ano passado, quando foi reduzida em 0,5 ponto porcentual (pp). Mais dois cortes em novembro e novembro trouxeram os Fed Funds para seu nível atual de 4,25%-4,5%.
Mas permanecem fortes dúvidas sobre qual será a trajetória dos Fed Funds à frente. Desde meados do ano passado, a tendência geral evoluiu na direção de se projetar um ciclo de cortes mais lento e menos profundo, com os sinais de aquecimento da atividade e do mercado de trabalho norte-americanos, e notícias não tão boas em relação à inflação propriamente dita.
As expectativas para os Fed Funds no final de 2025, que estavam em 2,75%-3% em setembro do ano passado, subiram 1pp para o atual nível de 3,75%-4%, o que aponta um orçamento de corte de apenas 0,5pp em 2025. Na decisão de janeiro deste ano, o Fed manteve a taxa básica no intervalo 4,25%-4,5%.
O economista Samuel Pessôa, pesquisador associado do IBRE-FGV, nota que, em termos reais (isto é, descontada a inflação de janeiro nos Estados Unidos, em relação a dezembro, de 0,47%), a queda no varejo também em janeiro foi de 1,3%. Segundo o analista, o carregamento estatístico para o varejo no primeiro trimestre ficou ruim: se as vendas ficarem em fevereiro e março no mesmo nível de janeiro, haverá queda no varejo no 1º tri de 1%.
"A grande pergunta é se esse indicador do varejo em janeiro é ou não um primeiro sinal de que a política monetária está tendo o efeito desejado", ele avalia.
Obviamente, é cedo para afirmar com mais certeza. O economista recapitula que as vendas de varejo explodiram na pandemia, com a impossibilidade de se consumir serviços por causa da quarentena. Depois disso, o indicador passou um longo período "andando de lado", mas, há cerca de sete meses, começou a crescer num ritmo aproximado de 0,2% ao mês, semelhante ao do período pré-pandemia.
O dado de janeiro, ele aponta, é um corte abrupto em relação a essa tendência, com queda real de 1,3%.
Pessôa não se arrisca a fazer um prognóstico mais específico sobre como a política monetária norte-americana evoluiria se o indicador de março for, de fato, um primeiro sinal de desaceleração mais significativa da economia do país. Porém, sem mencionar datas e prazo, ele comenta que esse cenário traria de volta a expectativa de que os Fed Funds recuassem para o nível de 2,5%-3%, mais próximo da média histórica, num prazo razoável - um nível bem abaixo dos 4% meio que a perder de vista se (e enquanto) a economia não der sinais de um resfriamento compatível com a convergência para a meta de inflação.
Para o Brasil, é claro, o início de um pouso suave da economia americana, que se refletiria em juros menores lá e aqui, seria uma excelente notícia no cenário internacional.
Monitor Digital - RJ 17/02/2025
A economia da China deve manter um crescimento estável em 2025, segundo o relatório de política monetária do 4º trimestre de 2024 divulgado pelo Banco Popular da China nesta quinta-feira.
As medidas de estímulo lançadas no final de 2024 já começaram a revitalizar a produção, a demanda e o sentimento do mercado, o que sustentará ainda mais o ímpeto de recuperação, conforme o relatório.
A procura interna tem revelado um grande potencial de melhoria, com medidas para impulsionar o consumo e o investimento a produzirem resultados de destaque. Notavelmente, as vendas no varejo de eletrodomésticos aumentaram 11,8% ano a ano em 2024.
A China adotará uma política fiscal mais proativa e uma política monetária moderadamente frouxa, priorizando a estabilização dos preços em níveis razoáveis, disse o banco central.
As autoridades monetárias aprofundarão as reformas cambiais impulsionadas pelo mercado, fortalecerão a resiliência do mercado de câmbio e aprimorarão o monitoramento do fluxo de capital transfronteiriço, em uma tentativa de garantir que o yuan (moeda chinesa) permaneça estável em um nível equilibrado.
A China acelerará as reformas institucionais e a abertura do mercado financeiro de alto padrão, com medidas para promover o uso global do yuan no comércio e investimento transfronteiriços e aprofundar a cooperação internacional em moedas, acrescentou o banco central.
O Estado de S.Paulo - SP 17/02/2025
Quando o presidente Trump anunciou que imporia novas tarifas sobre importações de países ao redor do mundo, ele lançou um ataque frontal ao sistema global de livre comércio criado após a Segunda Guerra Mundial.
A medida de Trump, anunciada na quinta-feira, 13, e prevista para começar já em abril, representa uma aposta de que os Estados Unidos ganharão influência ao substituir tarifas globais por suas próprias tarifas, que são impostos sobre importações.
Os Estados Unidos, o maior importador do mundo, há décadas compram muito mais do resto do mundo do que vendem. Trump quer mudar isso e está calculando que outros países, com mais exportações em jogo, podem ser cautelosos em retaliar aumentando suas próprias tarifas.
Mas, em vez disso, muitos especialistas em comércio alertam que a ação de Trump pode pressagiar uma mudança global em direção a tarifas mais altas. Isso representaria um grande desafio para a Organização Mundial do Comércio (OMC), que foi criada em 1993 para coordenar tarifas globais e regras comerciais.
Decisões de outros países de seguir o exemplo de Trump e estabelecer tarifas unilateralmente podem impedir o comércio, aumentando os preços para todos. A promessa de livre comércio de consumidores comprando dos produtores de menor custo pode ser colocada em risco.
“Eu diria que a OMC está frita, mas o que importa agora é como os outros membros respondem”, disse Deborah Elms, chefe de política comercial da Hinrich Foundation, um grupo de pesquisa em Cingapura que favorece o livre comércio. “Eles defendem o sistema? Ou também ignoram princípios, disposições e práticas essenciais?”
Como chegamos aqui: Gatt e a OMC
O principal acordo que rege o comércio internacional, ainda hoje, é o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio, ou Gatt.
Apenas 23 países, incluindo potências coloniais como a Grã-Bretanha e a França, assinaram esse acordo em 1947. Os signatários do pacto concordaram em cobrar as mesmas tarifas de todos os outros países-membros — uma provisão crucial que Trump está desafiando. Os países-membros negociaram por anos para reduzir essas tarifas.
A mais importante dessas negociações multianuais foi a Rodada Uruguai, que levou a um acordo em 1993 para reduzir ainda mais as tarifas. Os negociadores, de 117 nações, também criaram a Organização Mundial do Comércio para administrar as regras e negociações do Gatt e para fornecer arbitragem vinculativa de disputas.
Uma reação americana contra a OMC
No início do primeiro mandato do presidente Trump, ele e seus assessores comerciais expressaram frustração com a forma como os painéis de arbitragem da OMC haviam funcionado. Eles argumentaram que os painéis estavam relutantes em condenar subsídios à exportação e outras medidas de países como a China que buscavam fortalecer seus setores de manufatura, em violação às regras do livre comércio. E eles reclamaram que os painéis frequentemente decidiam contra os Estados Unidos.
Trump bloqueou a nomeação de juízes para o órgão máximo da OMC para resolução de disputas. Esse órgão se tornou incapaz de se reunir, pois os mandatos dos juízes expiraram, e não podia mais emitir vereditos vinculativos.
Autoridades comerciais no primeiro mandato de Trump discutiram se deveriam reescrever as tarifas, mas decidiram que isso seria um passo longe demais. A perspectiva de estabelecer novas tarifas para mais de 4 mil categorias de importação para o comércio dos EUA com mais de 150 países era muito assustadora.
Mas Trump está se preparando para fazer exatamente isso, anulando as regras mais básicas do Gatt ao estabelecer tarifas unilateralmente. Os EUA igualariam as tarifas de outros países e então adicionariam mais tarifas para compensar subsídios e barreiras comerciais não tarifárias nesses países. Trump reclamou particularmente sobre impostos de valor agregado na Europa e tarifas muito altas em países em desenvolvimento.
Tarifas elevadas em países em desenvolvimento
Quando o Gatt foi estabelecido em 1947, apenas um punhado de países havia industrializado suas economias, e muitos deles estavam em ruínas por causa da Segunda Guerra Mundial. À medida que os impérios coloniais se dividiam em vários países em desenvolvimento, os líderes dos países pobres do mundo se preocupavam que eles nunca teriam uma chance de desenvolver indústrias de manufatura.
Os países em desenvolvimento insistiram em manter tarifas altas para limitar as importações de produtos industriais. Eles também insistiram em ter permissão para subsidiar seus setores agrícolas para tentar se tornar autossuficientes em alimentos.
Alguns desses países em desenvolvimento, como China e Índia, estão agora entre as maiores economias do mundo. Mas eles mantiveram seu status como países em desenvolvimento sob as regras do Gatt, permitindo que eles mantivessem tarifas muito mais altas do que em economias desenvolvidas e subsidiassem fortemente a agricultura. Somente em resposta à guerra comercial de Trump em 2018 e 2019 a China começou a reduzir suas tarifas voluntariamente, mantendo os maiores subsídios agrícolas do mundo.
Trump sinalizou que países em desenvolvimento com tarifas altas podem ser atingidos por tarifas americanas igualmente altas. Mas países em desenvolvimento, incluindo China e Índia, argumentam que, embora seus setores industriais tenham crescido enormemente, suas populações ainda não são ricas. Eles ainda têm renda média baixa por pessoa e querem permanecer principalmente autossuficientes em alimentos.
O dilema agora para a Europa e a maioria dos países em desenvolvimento é que eles precisam desesperadamente ter superávits comerciais com os Estados Unidos para arcar com seus grandes déficits comerciais com a China. Se eles retaliarem contra as tarifas do presidente Trump, eles podem desencadear uma guerra comercial global e condenar a OMC, que os ajudou a crescer mais rápido por tanto tempo.
Revista Mineração - SP 17/02/2025
O programa Novo Carajás, anunciado pela Vale nesta sexta-feira (14), em Parauapebas (PA), prevê que a produção de minério de ferro chegue a um ritmo de 200 milhões de toneladas por ano (Mtpa) em 2030.
A expectativa vem da expansão de 20 milhões de toneladas na mina de Serra Sul (S11D) e a reposição da exaustão das minas atuais. No caso do cobre, o crescimento esperado é de 32%, elevando a produção na região para cerca de 350 mil toneladas.
Com aportes de R$ 70 bilhões entre 2025 e 2030, o programa reúne o potencial de expansão minerária de Carajás, incluindo as minas em operação e novos alvos, para impulsionar o beneficiamento de minerais para a produção de aço verde (minério de ferro de alta qualidade) e de metal para transição energética (cobre), fundamentais para a redução das emissões de carbono.
Além disso, a Vale ressalta que o Novo Carajás vai impulsionar o crescimento do Pará com um novo ciclo de investimento na mineração sustentável, além de tecnologia, sustentabilidade, saúde e segurança, e manutenção de equipamentos e operações.
De acordo com a mineradora, a iniciativa terá uma contribuição relevante no Produto Interno Bruto (PIB) do Pará, na ordem de R$ 80 bilhões a 100 bilhões por ano. A produção futura do programa, nas bases atuais, permitirá um aumento de R$ 15 bilhões nas exportações do estado.
“O Programa Novo Carajás traz ganhos para o Brasil, com o potencial de posicionar o país na liderança global no fornecimento de minerais críticos e reforçar seu protagonismo no combate às mudanças climáticas, e para a Vale, ao ampliar uma frente de negócio que gera valor e alavanca oportunidades estratégicas de mercado para a companhia em uma economia baseada na indústria de baixa emissão de carbono”, afirma o CEO da Vale, Gustavo Pimenta.
Valor - SP 17/02/2025
Alexandre Silveira participou de evento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Carajas para o anúncio de R$ 70 bilhões de investimentos da Vale na região
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que há "sinais claros" de que a nova gestão da Vale traz mudanças no relacionamento com a sociedade e os entes governamentais.
Silveira participa de evento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Carajas, para o anúncio de R$ 70 bilhões de investimentos da Vale na região para aumentar a produção de minério de ferro e cobre.
A gestão anterior da Vale foi criticada repetidas vezes por Lula nos dois primeiros anos de seu atual governo, que pedia que a companhia investisse mais no país. Em outubro, Gustavo Pimenta, assumiu o comando da mineradora e no mês passado já havia se reunido com Lula para apresentar os investimentos em Carajás.
"As concessões de direitos minerários não podem e não devem atender apenas os interesses das empresas", disse Silveira em seu discurso no evento.
*O repórter viajou a convite da Vale
Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira — Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
Valor - SP 17/02/2025
Receio sobre disponibilidade de infraestrutura em larga escala ainda dificulta compra de veículo sustentável
A transição para veículos eletrificados no Brasil e no mundo cresce rapidamente há pouco mais de uma década. No país, as vendas desta modalidade, entre particulares e comerciais, avançaram 88,8% e 93,9% em 2023 e 2024, respectivamente. No mercado global, dados da Agência Internacional de Energia (AIE) mostram que a comercialização de elétricos e híbridos deve superar 17 milhões de unidades em 2024 - uma alta de 25% em relação às 14,1 milhões de 2023, que já haviam crescido 35% sobre as vendas de 2022.
Ainda que em ritmos diferentes, a eletrificação da frota no Brasil evolui conforme as características de cada segmento, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). Entre os ônibus, por exemplo, depende de decisão política de prefeituras e de governos estaduais, responsáveis pelo transporte público. “Já a eletrificação do transporte de carga envolve empresários do setor, com pouca ou nenhuma interferência governamental”, aponta Iêda Oliveira, diretora e coordenadora do grupo de veículos pesados da ABVE.
Oliveira diz que o crescimento exponencial do interesse dos consumidores no Brasil por carros elétricos estimulou as empresas a eletrificar as frotas. Há dez anos, quando esse mercado era quase inexistente, o Brasil emplacou apenas 846 automóveis e comerciais leves eletrificados, lembra ela. Em 2020, com o segmento começando a se firmar, já eram 19,75 mil, e no ano passado, 177,36 mil veículos foram emplacados. “Parte desse crescimento se deve aos comerciais leves, usados para o transporte urbano de mercadorias de empresas como Mercado Livre, Lojas Americanas e Magazine Luíza, entre outras”, afirma Oliveira.
Frederico Rezeck, diretor sênior de transportes do Mercado Livre no Brasil, conta que a eletrificação de veículos da companhia na América Latina cresceu 20% em 2024. No Brasil, o aumento foi de 30%. “No fim do primeiro semestre de 2024, tínhamos mais de 2,7 mil veículos elétricos, dos quais metade no Brasil, quase um terço no México e o restante distribuído entre Chile, Colômbia e Uruguai”, diz. Nesse período, segundo ele, mais de 31 milhões de pacotes foram entregues por meio de transporte sustentável.
Sobre a possibilidade de eletrificar 100% de sua frota, o executivo diz que a empresa não comunica metas específicas, mas entende que a redução do impacto ambiental é uma responsabilidade que envolve todo o setor de comércio e logística do Mercado Livre. “Existem desafios estruturais que implicam esforço conjunto da indústria para gerar eficiências e inovações necessárias para superar barreiras”, diz Rezeck. O executivo cita a necessidade de uma articulação entre governos, empresas e outros stakeholders para superá-las e alavancar a eletrificação.
Entre os desafios está a infraestrutura. Luiz Ribeiro, gerente geral para a América Latina da Fluke, líder mundial de softwares e ferramentas de teste, medição e calibração, avalia que o maior obstáculo é a falta de uma infraestrutura de carregamento robusta e padronizada, com pontos de recarga que confiram qualidade e segurança ao usuário e à bateria do veículo.
“Enquanto não houver investimento massivo em fontes de energia renováveis, pontos de recarga que atendam plenamente à demanda e profissionais qualificados, ainda existirá resistência por parte de usuários e empresas”, diz Ribeiro. Em sua avaliação, dúvidas sobre o ciclo de vida dos veículos e o preço de revenda também desaceleram a adoção da transição.
“Para incrementar a migração sustentável, é essencial fomentar a colaboração entre os setores de geração, transmissão e distribuição de energia até fabricantes de automóveis, empresas de tecnologia e o poder público”, ressalta Ribeiro.
O receio sobre a disponibilidade de infraestrutura em larga escala e o retorno de investimento na renovação das frotas, acrescenta ele, ainda geram dúvidas. Outro ponto, afirma Ribeiro, é a capacitação técnica, para instalação e manutenção de estações de carregamento de veículos elétricos. Neste caso, as dificuldades parecem maiores para pequenas e médias empresas de transporte de mercadorias.
O Estado de S.Paulo - SP 17/02/2025
Desde então, o setor automotivo global foi reformulado. A China assumiu uma liderança decisiva como a maior fabricante de carros do mundo. Apesar de seu início pouco promissor, a BYD ultrapassou a Tesla como a maior fabricante mundial de veículos totalmente elétricos (EVs) em volume (e está muito à frente quando os híbridos plug-in são incluídos). A empresa ajudou a conquistar o mercado de automóveis da China de concorrentes estrangeiros que antes eram dominantes. Ao mesmo tempo, ela e outras empresas chinesas, como a Chery, a Geely e a SAIC, transformaram seu país no maior exportador de veículos do mundo, passando à frente da Alemanha e do Japão.
As montadoras chinesas agora aspiram ultrapassar a Volkswagen e a Toyota no topo do setor automobilístico global, diz Pedro Pacheco, da consultoria Gartner. A expansão das exportações é fundamental para isso. O número de carros enviados da China para o exterior chegou a 4,7 milhões no ano passado, o triplo do valor de três anos antes, de acordo com o Citigroup (cerca de um terço deles veio de marcas multinacionais com fábricas no país). O aumento deve continuar - em 2030, o banco calcula que as vendas no exterior vão atingir 7,3 milhões.
Isso gerou muita consternação entre as montadoras tradicionais, com atenção especial para o número crescente de veículos elétricos chineses nas estradas europeias. No entanto, a maior parte das exportações de automóveis da China — quase três quartos no ano passado — é movida por motores de combustão interna (ICEs). E a maioria não se destina nem à Europa Ocidental nem aos Estados Unidos, mas ao resto do mundo.
Os navios de transporte de automóveis estão partindo dos portos da China em números cada vez maiores, em parte porque o mercado doméstico, onde 23 milhões de veículos de passageiros foram vendidos no ano passado, não está crescendo tão rapidamente nem é tão lucrativo quanto no passado. Antes, os consumidores chineses optavam principalmente por marcas estrangeiras, mas atualmente as montadoras nacionais respondem por cerca de três quintos das vendas no país. Como observa Harald Hendrikse, do Citigroup, em casa “os chineses venceram”.
No entanto, a vitória teve um preço. A criação de um setor doméstico de elétricos usando subsídios e outros incentivos governamentais resultou em um grave excesso de capacidade. As fábricas chinesas talvez pudessem produzir quase 45 milhões de carros por ano, o equivalente à metade de todas as vendas globais, mas operam com apenas 60% dessa capacidade, de acordo com a Bernstein, uma corretora. O excesso de oferta levou a uma violenta guerra de preços. Buscando uma saída alternativa, as montadoras chinesas se voltaram para o exterior. A BYD, a Geely e a Great Wall Motors disseram que as margens são de cinco a dez pontos porcentuais mais altas nas vendas no exterior.
No entanto, à medida que o incentivo à exportação se fortalece, as oportunidades de fazê-lo estão diminuindo. No ano passado, a UE impôs tarifas sobre os veículos elétricos fabricados na China para combater o que considera subsídios injustos. A participação das marcas chinesas nas vendas de veículos elétricos na Europa cresceu de cerca de 4% em 2021 para 10% em 2024, mas agora pode subir para apenas 11% em 2030, de acordo com a consultoria Schmidt Automotive Research. Se essa porta está ligeiramente entreaberta, outras estão firmemente fechadas. As tarifas de 100% impostas durante a presidência de Joe Biden impedem, de fato, a entrada de veículos chineses nos Estados Unidos (uma nova taxa de 10% sobre os produtos chineses recentemente imposta por Donald Trump não terá muito impacto adicional). A forte lealdade às marcas nacionais no Japão e na Coreia do Sul e as relações diplomáticas instáveis com a Índia mantiveram as montadoras chinesas afastadas nesses países.
Mudança de faixa
Sem se deixar abater, essas empresas mudaram seu foco para países do Sudeste Asiático, do Oriente Médio, da América Latina e até mesmo da África. Embora cada uma delas seja relativamente pequena, juntas elas representam 20 milhões de vendas ou mais. A maioria delas está crescendo rapidamente, ao contrário dos países ricos ou da China, e não tem um grande setor doméstico que possa fazer lobby por proteção. As emissões e outras regulamentações também não são tão rigorosas, observa Felipe Munoz, da consultoria JATO.
O oportunismo teve um papel importante nisso. A escassez de chips durante a pandemia fez com que as montadoras ocidentais se concentrassem em seus veículos mais caros e mais lucrativos em seus maiores mercados, em vez de modelos mais baratos e mais adequados aos países em desenvolvimento. Isso deixou uma lacuna para a China preencher. As sanções ocidentais também ajudaram. O maior importador de carros chineses é a Rússia.
Quando as montadoras ocidentais se retiraram após a invasão da Ucrânia, a participação das marcas chinesas aumentou, de 9% em 2021 para 61% em 2023, de acordo com a consultoria Rhodium Group. Os veículos a combustão representaram a maior parte dessas vendas. A Rússia, que tem seu próprio setor automotivo, não está entusiasmada. Em 2024, introduziu uma pesada “taxa de reciclagem” sobre os carros importados, basicamente uma tarifa, para impedir o avanço da China.
As montadoras chinesas estão avançando em outros lugares. Atualmente, elas detêm 8% do mercado no Oriente Médio e na África, 6% na América do Sul e 4% no Sudeste Asiático, de acordo com a Bernstein, em comparação com quase nada há alguns anos. A taxa de adoção de veículos elétricos nesses países é menor do que nos países ricos, e a maioria dos carros que as empresas chinesas vendem são modelos a combustão. Mas, tendo se estabelecido, seu objetivo de longo prazo é eletrificar esses mercados, que as montadoras tradicionais ainda consideram como seus feudos.
Os veículos elétricos já estão ganhando velocidade em alguns lugares improváveis. Na América Latina, eles agora representam 6% do total de vendas, tendo dobrado em 2024, de acordo com a BloombergNEF, uma empresa de pesquisa. No Brasil, o sexto maior mercado de automóveis do mundo, são quase 7%, com nove em cada dez veículos elétricos provenientes de marcas chinesas. No México, os veículos elétricos atingiram 8% e, na Tailândia, cerca de 15% (em comparação, nos Estados Unidos, a participação é de 8%). O aumento deve continuar. No geral, os veículos elétricos serão responsáveis por mais de três quartos das exportações de carros chineses em 2030, em comparação com cerca de um quarto em 2023, de acordo com o Citi.
As montadoras chinesas não apenas enviarão de casa. Elas querem estabelecer pontos de apoio construindo fábricas no exterior para evitar tarifas, evitar custos de transporte e manter-se próximas dos clientes. A BYD está na vanguarda. Ela está fabricando veículos na Tailândia e no Uzbequistão, com fábricas no Brasil, Hungria, Indonésia, Turquia e talvez no México. Outras empresas, como Chery, Changan, Great Wall e SAIC, têm fábricas no exterior em operação ou em construção. Espera-se que as empresas chinesas fabriquem 2,5 milhões de carros no exterior até 2030, de acordo com o Citi. Metade desse volume seria na Europa e o restante no mundo em desenvolvimento.
Algumas fábricas planejadas no exterior podem não se concretizar. Há sugestões de que o governo da China forçará as empresas a reduzir o investimento estrangeiro para manter as instalações internas ocupadas, bem como para proteger a tecnologia chinesa de olhares curiosos. Mesmo assim, a Rhodium calcula que, se as montadoras chinesas atingirem 80% de sua produção planejada na América do Sul até 2027, elas poderão conquistar até 15% do mercado somente com veículos fabricados localmente.
As montadoras chinesas estão se transformando em empresas globais, roubando negócios de empresas estabelecidas em lugares que elas consideravam garantidos. Isso significa uma dor de cabeça cada vez maior para as empresas japonesas e sul-coreanas na Ásia e no Oriente Médio, bem como para as montadoras ocidentais, como a VW, a General Motors e a Stellantis (cujo maior acionista, a Exor, é uma das proprietárias da empresa controladora da The Economist) na América do Sul. Se a concorrência chinesa no exterior fizer com que as empresas tradicionais se concentrem em mercados protegidos, como os Estados Unidos e a Europa, a pressão competitiva também aumentará nesses mercados.
A construção de marcas, a contratação de revendedores e a criação de redes de serviços em mercados menores, mesmo que se inicie com carros a combustão, farão com que as empresas chinesas se estabeleçam nesses locais. Em outros lugares, será difícil distrair os compradores de carros do fascínio dos veículos chineses indefinidamente. A AutoExpress, uma revista britânica de automobilismo, elogia o BYD Seal, um sedã elétrico lançado na Europa em 2024, por sua “carroceria bonita e aerodinâmica e grande potência”, chamando-o de “carro muito sério”. Como os tempos mudaram.
CNN Brasil - SP 17/02/2025
A montadora GAC, que afirma ser a quarta maior da China, anunciou nesta sexta-feira (14) a inauguração de um centro de distribuição de peças no Brasil, em uma preparação para o lançamento da marca no país ainda neste trimestre.
A companhia estatal, que anunciou no final do ano passado que vai investir no Brasil, sexto maior mercado de veículos do mundo, cerca de R$6 bilhões nos próximos cinco anos, pretende lançar de cinco a sete veículos este ano no mercado brasileiro.
Os lançamentos envolverão modelos elétricos, híbridos e também à combustão, uma novidade na onda recente de montadoras chinesas que desembarcaram no país, como BYD, GWM e Zeekr, que têm focado em veículos eletrificados apenas.
O centro de distribuição de peças, com 2 mil metros quadrados, foi aberto em Cajamar (SP), na região metropolitana de São Paulo.
“A empresa quer garantir a disponibilidade imediata de componentes para manutenção e revisão”, afirmou a GAC em comunicado à imprensa, citando que a instalação será operada pela dinamarquesa DSV. A GAC tem centros de distribuição de peças no Panamá, Emirados Árabes Unidos, México e Rússia.
A GAC disse ter presença em 74 países e produziu no ano passado 2,5 milhões de veículos. Para efeito de comparação, as vendas de veículos no Brasil em 2024 somaram 2,6 milhões.
A preparação da GAC para lançar seus veículos no país ocorre em um momento em que montadoras tradicionais presentes no Brasil avaliam fazer ao governo federal um pedido de antidumping contra rivais chinesas.
Em janeiro, a participação de veículos importados no total vendido no país alcançou 23%, maior nível desde 2012, impulsionada em grande parte pelo avanço das vendas de BYD e GWM que estão construindo fábricas locais na Bahia e São Paulo, respectivamente.
Portal Fator Brasil - RJ 17/02/2025
A Nissan Motor Co., Ltd. expandirá o uso de aço de baixa emissão de CO2 fabricado no Japão. Por meio dessa iniciativa, a proporção utilizada deste material pela companhia no país oriental no ano-fiscal de 2025, que se iniciará dia 1º de abril, será cinco vezes maior se comparado ao ano-fiscal de 2023.
A Nissan pretende reduzir as emissões de CO2 em 30% durante todo o ciclo de vida do produto —inclui extração de matéria-prima, fabricação, uso e reciclagem ou reutilização de veículos em fim de vida útil—, até 2030 e atingir a neutralidade de carbono até 2050. Para isso, a empresa intensificou seus esforços em direção à descarbonização em todo o processo, desde a aquisição de materiais.
As peças de aço representam aproximadamente 60% do peso do veículo. Portanto, o uso de aço com baixa emissão de CO2 contribui significativamente para a redução das emissões de durante todo o ciclo de vida do veículo. Uma parcela significativa das emissões de CO2 origina-se da redução de minério de ferro em altos-fornos. Com o aço verde, o objetivo é reduzir as emissões usando matérias-primas de minério de ferro com teor de carbono reduzido ou trocando o alto-forno pelo forno elétrico a arco.
A Nissan começou a usar aço verde em veículos para o mercado japonês em 2023, com a adoção do Aço Kobenable® —Marca registrada da Kobe Steel, Ltd— da Kobe Steel. A Nissan expandirá significativamente seu uso do aço por meio do uso do NSCarbolex Neutral® —Marca registrada da Nippon Steel Corporation— , da Nippon Steel Coporation, do JGreeX ® —Marca registrada da JFE Steel Corporation—, da JFE Steel Corporation e do aço alocado para redução de carbono da Posco. Esses produtos de aço verde reduzem as emissões de CO2 durante a produção por meio de uma abordagem de balanço de massa—Alocação de reduções de emissões de CO 2 entre produtos com base nas emissões gerais do processo de fabricação, garantindo uma estrutura de produção sustentável.
—.
A Nissan posiciona a sustentabilidade no centro de seus negócios, visando um mundo mais limpo, seguro e inclusivo.
A Nissan está comprometida em acelerar seu empenho para concretizar uma sociedade sustentável em todos os aspectos dos negócios.
Globo Online - RJ 17/02/2025
O presidente Donald Trump disse que revelará novas tarifas sobre automóveis, adicionando à sua onda de pesadas tarifas de importação enquanto busca reformular as relações comerciais globais e pressionar as empresas a transferirem a produção para os EUA.
“Nós vamos fazer isso por volta do dia 2 de abril”, disse Trump à imprensa nesta sexta-feira, no Salão Oval da Casa Branca, enquanto assinava ações executivas sobre a política energética.
A medida é a mais recente em uma guerra comercial que se amplia rapidamente, à medida que Trump cumpre suas promessas de campanha de implementar tarifas abrangentes sobre aliados e rivais dos EUA.
Isso ocorre um dia depois de Trump revelar sua medida mais abrangente até o momento, ordenando que sua administração considere a imposição de tarifas recíprocas sobre vários parceiros comerciais, um esforço para lidar com o que ele diz ser um sistema que é tendencioso contra os EUA.
As tarifas recíprocas sobre países que têm impostos de importação sobre os produtos americanos podem ser implementadas já em abril. Essas tarifas são distintas das setoriais que Trump prometeu para os automóveis e ameaçou contra outras indústrias, incluindo energia, semicondutores e produtos farmacêuticos.
No início desta semana, ele também anunciou planos para aplicar uma tarifa de 25% sobre as importações de aço e alumínio.
A ameaça sobre os automóveis pode atingir algumas das maiores marcas do Japão, Alemanha e Coreia do Sul, colocando-as na mira de Trump. As importações representaram cerca de metade do mercado automotivo dos EUA no ano passado.
Cerca de 80% das vendas da Volkswagen nos EUA são importadas, enquanto 65% das vendas da Hyundai-Kia nos EUA são importadas, de acordo com dados da Global Data, uma empresa de pesquisa de mercado.
Neste sexta-feira, Trump não forneceu detalhes sobre o escopo ou a taxa das possíveis tarifas sobre automóveis. Também não está claro qual seria o impacto delas sobre veículos fabricados sob o acordo de livre comércio entre os EUA, Canadá e México. As cadeias de fornecimento da produção automotiva na América do Norte são altamente integradas.
Na campanha eleitoral, ele sugeriu que queria que as empresas automotivas alemãs se tornassem corporações americanas, um objetivo ambicioso que é improvável de se concretizar devido às barreiras comerciais.
Muita confusão
Os CEOs da General Motors e da Ford Motor fizeram recentes peregrinações a Washington para tentar encontrar respostas para as perguntas que estão na mente de todo CEO: Como saber quais políticas o presidente Donald Trump vai implementar, tentar influenciar suas decisões e, ao mesmo tempo, explicar o impacto nos negócios para os investidores sem irritar o presidente, que é vocal — e muito ativo on-line?
Os chefes das montadoras se reuniram com lobistas, grupos comerciais e membros republicanos do Congresso de estados na chamada “Cinturão das Baterias” em uma tentativa de adiar a revogação dos créditos fiscais para veículos elétricos da era Biden, contra os quais Trump tem se oposto, e falar com a administração sobre tarifas.
“O presidente Trump falou muito sobre fortalecer nossa indústria automotiva nos EUA, trazendo mais produção para cá”, disse o CEO da Ford, Jim Farley, acrescentando que isso seria uma “conquista real”. Mas “até agora, o que estamos vendo é muito custo, muita confusão.”
O esforço mostra como a América corporativa está mudando das viagens ao complexo de Mar-a-Lago de Trump, onde o objetivo era cortejar o presidente pessoalmente, para paradas no Capitólio e na Casa Branca.
Os executivos estão tentando influenciar as políticas que estão começando a tomar forma e mitigar os efeitos negativos de coisas como tarifas e revisões regulatórias que já estão afetando os preços das ações de suas empresas.
Embora as empresas normalmente ajustem sua abordagem para se adequar a cada nova administração, executivos e consultores dizem que o segundo mandato de Trump traz seu próprio conjunto de desafios.
Como o presidente se move em um ritmo mais rápido do que da última vez para implementar sua agenda, seus anúncios estão afetando mercados, decisões de contratação e investimento, cadeias de suprimentos e econômicas. As empresas estão se envolvendo mais cedo e mais intensamente com o presidente e estão mais cautelosas com relação ao que dizem publicamente.
Os vizinhos dos EUA, ambos grandes parceiros comerciais, já estão enfrentando uma ameaça de tarifa de 25% sobre as importações que Trump anunciou - e depois suspendeu até março - em uma tentativa de obter concessões do México e do Canadá sobre a segurança nas fronteiras, uma de suas principais prioridades.
Trump tem usado tarifas para obter concessões políticas de outras nações sobre imigração e o fluxo de drogas ilegais. E ele destacou as tarifas como uma ferramenta que, segundo ele, convencerá as empresas a transferirem a produção para os EUA.
Valor - SP 17/02/2025
Digitalização não esvaziou as revendas; em três anos, foram abertos 747 novos pontos no país
Para Arcelio Junior, presidente da Fenabrave, o cliente precisa ir até a loja: “Não adianta mostrar um produto de alto valor como o automóvel só na foto” — Foto: Keiny Andrade/Valor
Com o advento da digitalização, do comércio eletrônico e o encolhimento do mercado de carros no Brasil, parecia, há alguns anos, que as concessionárias de veículos mergulhariam numa crise irreversível. Mas o setor conseguiu se reinventar e mudou o perfil. Empresas familiares ainda predominam. E, nas pequenas cidades, ainda há revendedores com uma única loja representando uma só marca. Mas a grande maioria evoluiu para grandes grupos multimarcas, que seguem em expansão. Outra novidade é que esse setor, historicamente fechado, começa a se interessar em abrir o capital.
O mais curioso nesse processo de transformação é que as próprias montadoras, que no passado exigiam exclusividade, passaram a estimular a criação de grupos, o que levou os mais fortes a comprar os mais fracos. O aumento da oferta também influenciou. De menos de meia dúzia de marcas de veículos tradicionais que se impunham até quatro décadas atrás, hoje mais de 50 atuam no mercado brasileiro.
O grupo Saga, tradicional empresa familiar, com 52 anos de atuação na região Centro-Oeste, passou 31 anos (de 1972 a 2003) sendo revendedor exclusivo da Volkswagen. Hoje, são 14 marcas em 65 lojas. “Se não houver certa escala, é difícil sobreviver”, destaca Sérgio Maia, presidente do grupo.
O empresário lembra os apertos pelos quais o grupo passou com o fim da Autolatina - joint venture entre Volks e Ford na década de 1990. A crise provocada pelo fim da união atrasou a renovação de produtos de ambas as marcas. “Enfrentamos dificuldades para rentabilizar o negócio. E aquilo foi o gatilho que nos fez mudar para multimarcas”, diz. Um dos ganhos da representatividade de várias marcas dentro de um mesmo grupo, destaca Maia, está na redução de custos administrativos.
As multimarcas também ganham escala na venda de carros usados. A Automob comanda a venda de seminovos das 28 marcas de carros que representa numa única mesa de operações. “O usado fomenta negócios. Metade das vendas de novos inclui o usado como troca”, diz Victor Viana, diretor de operações do grupo Amazonas.
Os primeiros concessionários de veículos do Brasil surgiram em 1920. Desde 1965, eles passaram a se reunir numa entidade de classe que nasceu com o nome de Abrave e hoje se chama Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos).
O setor está em plena expansão, puxada pela chegada de novas marcas, como as chinesas, e a necessidade de atender à demanda em regiões distantes dos centros urbanos. Nos últimos quatro anos, foram abertas 747 novas concessionárias. Hoje, há 8.010 pontos de vendas em todo o país. Segundo fontes do setor, o investimento numa concessionária varia entre R$ 3 milhões e R$ 5 milhões. Ou mais, a depender da localização e exigências da marca.
Lojas gigantes deixaram de existir. Mas o espaço ainda precisa ser generoso para o cliente circular entre os veículos e fazer comparações. “A concessionária precisa ser um lugar agradável”, afirma Viana. Apenas marcas de nicho tiveram sucesso em lojas menores, em shopping centers.
A digitalização ajuda o consumidor a conhecer os carros sem a necessidade de ir até uma concessionária. De forma virtual, ele vê cada detalhe do veículo. Raramente, porém, fecha a compra sem ver o produto de perto. O que ele viu virtualmente o ajuda a chegar na loja mais bem-informado e decidido pela compra.
O consumidor vai menos vezes à revenda. Mas não deixa de ir. “No início dos anos 2000, cada cliente visitava, em média, quatro concessionárias antes de comprar um carro. Hoje, a média de visitas está em 1,8”, afirma Arcelio Junior, presidente da Fenabrave. “Não adianta mostrar um produto de alto valor como o automóvel só na foto. É como um imóvel”, destaca o dirigente.
Grupos mais fortes investem na diversificação de marcas e expansão geográfica. Lançada há dois anos, a Automob é hoje o maior e mais diversificado grupo de concessionárias do país. E, desde dezembro, o primeiro a abrir capital.
A Automob é da Simpar, dona de empresas como JSL, de logística, e as locadoras Movida e Vamos, de caminhões. Tudo começou em 1995, com a compra da Original, tradicional revenda da Volkswagen. A fórmula deu certo. E foi repetida, depois, com a aquisição de outros pontos respeitados.
Hoje, o grupo tem 188 lojas, de 35 marcas de automóveis, veículos comerciais e máquinas agrícolas em 12 Estados e 5,2 mil funcionários. Em pouco mais de três anos, o faturamento anual passou de R$ 700 milhões para R$ 12,1 bilhões. Suas vendas equivalem a 2,9% do mercado brasileiro de veículos leves e 1,1% dos pesados.
“A estrutura robusta reduz custos”, diz o CEO da Automob, Antônio Barreto. Segundo ele, a ideia é manter a expansão por aquisições. Os nomes das concessionárias são mantidos, porque carregam tradição de empresas importantes. Foram grupos familiares que deixaram a atividade por questões financeiras ou porque herdeiros não quiseram permanecer. Alguns dos antigos donos se tornam acionistas das empresas do grupo.
Ter a empresa listada em bolsa, diz o executivo, “ajuda a desenvolver o negócio, garante governança e facilita o processo das próximas aquisições”. Nos Estados Unidos, ao menos dez concessionárias são listadas em bolsa, segundo Barreto. No Brasil, alguns apostam que essa pode ser uma nova tendência no setor.
Mas nem tudo é motivo de festa. Os concessionários aguardam, apreensivos, o trâmite de processo no Supremo Tribunal Federal (STF) envolvendo a lei Renato Ferrari (6.729/1979), que rege a atividade. O processo se baseia em nota técnica do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que questiona proteção de área geográfica e impossibilidade de venda direta, entre outros.
Para Arcelio Junior, da Fenabrave, além de trazer segurança jurídica, a lei não está ultrapassada porque permite atualizar acordos comerciais com as montadoras nas convenções de cada marca.
Exame - SP 17/02/2025
Balneário Camboriú se consolidou como um dos mercados imobiliários mais aquecidos do Brasil. Conhecida pelos prédios mais altos do país, a cidade atrai investidores com empreendimentos verticais de alto padrão.
Mas, a poucos quilômetros da orla central, uma nova aposta começa a ganhar força: imóveis horizontais cercados pela Mata Atlântica.
Essa é a proposta da Aya Empreendimentos, fundada por Guilhermo Zonta e Alan Eccel. A empresa investiu R$ 300 milhões em projetos na Praia do Estaleiro, uma das últimas áreas preservadas da região.
Com casas de até 530 metros quadrados e condomínios de baixa densidade, a incorporadora busca atrair um público disposto a pagar até R$ 3,5 milhões para morar longe dos arranha-céus.
“O centro de Balneário cresceu muito rápido, mas o Estaleiro sempre teve um zoneamento restrito. Foram dez anos de discussões até definir o que poderia ser construído aqui”, afirma Zonta.
A área, considerada uma APA (Área de Preservação Ambiental), permite apenas construções baixas e limita a ocupação a 40% dos terrenos. Esse modelo cria empreendimentos mais exclusivos, voltados para quem busca privacidade e contato com a natureza.
Maquete virtual de empreendimentos da construtora Aya na praia do Estaleiro, em Balneário Camboriú (SC): nada de arranha-céus
A estratégia por trás do crescimento
A Aya Empreendimentos nasceu da experiência de Zonta como empresário da gastronomia e morador do Estaleiro.
Dono de restaurantes como Luca Bistrô e Luca Cantina, ele acompanhou por anos o desenvolvimento da região.
Quando o zoneamento foi aprovado, decidiu investir na compra de terrenos ao lado do sócio Alan Eccel, que já atuava na construção civil e no comércio exterior.
A estratégia foi criar projetos que respeitassem as regras locais e, ao mesmo tempo, diferenciassem a empresa no mercado imobiliário.
“Não faz sentido replicar no Estaleiro o modelo de Balneário Camboriú. Quem compra aqui quer uma experiência diferente”, diz Zonta.
Com isso, a Aya adotou três princípios para seus empreendimentos:
Baixa densidade – Os projetos ocupam menos da metade do terreno, garantindo espaços amplos e privacidade entre as unidades. Arquitetura integrada à natureza – A empresa contratou o arquiteto argentino Luciano Kruk, especialista em construções de concreto aparente, e o escritório Burle Marx, referência em paisagismo. Foco em personalização – Os compradores podem adaptar os imóveis, escolhendo detalhes como acabamentos e configuração dos espaços.
O primeiro grande projeto da incorporadora foi o Aya Casas, um condomínio com 14 residências exclusivas.
Cada unidade tem entre 389 e 530 metros quadrados, distribuídos em três pavimentos. Algumas contam com rooftop, piscina privativa e área gourmet. As vendas começaram há dois meses, com previsão de entrega para os próximos três anos.
Além disso, a empresa já desenvolve um novo empreendimento, ainda não lançado, que seguirá o mesmo conceito de exclusividade, mas com uma proposta voltada para clientes que preferem apartamentos menores.
“Nosso objetivo é entender qual produto o bairro demanda e testar diferentes formatos”, afirma Eccel.
O Estaleiro como nova fronteira imobiliária
A Praia do Estaleiro está se tornando um polo de investimentos imobiliários. Localizada a 15 minutos do centro de Balneário Camboriú, a região se diferencia pelo modelo de ocupação controlada.
Ao contrário da Praia Central, onde prédios ultrapassam os 200 metros de altura, o Estaleiro mantém um padrão de construções baixas e espalhadas.
Esse perfil atrai um público diferente. Muitos compradores vêm de grandes cidades e buscam uma segunda residência mais reservada.
Há também quem troque de vez os apartamentos da Praia Central por casas no Estaleiro, sem abrir mão da proximidade com a infraestrutura urbana.
O crescimento da região ganhou impulso com a criação de um novo plano diretor, que estabeleceu regras claras para construções.
“O Estaleiro sempre foi uma área preservada, mas sem uma regulamentação bem definida. Isso impedia que o mercado se desenvolvesse”, explica Zonta.
Com as novas diretrizes, a prefeitura liberou alvarás de construção e investimentos começaram a chegar.
Nos últimos anos, grandes incorporadoras passaram a comprar terrenos na região. Novos projetos incluem casas de alto padrão, condomínios exclusivos e empreendimentos assinados por arquitetos renomados. “O Estaleiro virou um bairro de obras de arte arquitetônicas”, diz Zonta.
A valorização imobiliária segue a tendência. Os primeiros empreendimentos lançados na região já registram alta nos preços, e a expectativa é que os valores continuem subindo nos próximos anos.
Ilustração de empreendimento da Aya em Balneário Camboriú (SC): aposta em imóveis de alto luxo
Perspectivas para o futuro
Com um VGV (Valor Geral de Vendas) projetado em R$ 300 milhões, a Aya Empreendimentos pretende consolidar sua presença no Estaleiro antes de expandir para outras regiões.
A empresa já tem novos projetos em aprovação na prefeitura e acompanha oportunidades em áreas vizinhas, como Estaleirinho e Taquaras.
Para os próximos anos, o foco continua sendo o desenvolvimento de produtos diferenciados. Além do Aya Casas, a construtora pretende lançar condomínios menores e até mesmo empreendimentos com estrutura de lazer ampliada.
“A ideia é oferecer opções para diferentes perfis de clientes, sempre mantendo o padrão de exclusividade”, afirma Eccel.
A Praia do Estaleiro segue como um dos mercados imobiliários mais promissores de Balneário Camboriú. Enquanto os arranha-céus continuam dominando a orla central, a região cresce com um modelo oposto: construções de baixo impacto ambiental e foco na qualidade de vida.
Para Zonta e Eccel, esse é o diferencial que pode transformar a área em um novo polo de alto padrão no litoral catarinense.
O Estado de S.Paulo - SP 17/02/2025
O bairro da Barra Funda, em São Paulo, teve um boom de lançamentos imobiliários em 2024, e a tendência deve se manter neste ano. De janeiro a setembro, a região recebeu 3.484 novos apartamentos, um salto de 1.787% em relação ao mesmo período em 2023, segundo dados da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc).
Com isso, os apartamentos compactos que já dominam o mercado imobiliário da capital paulista há alguns anos estão se tornando a maioria no bairro, que deve receber cerca de 10 mil novos moradores após a conclusão das construções.
O tamanho médio dos imóveis à venda na Barra Funda atualmente é de 61 metros quadrados (m²), com preço de R$ 680 mil, segundo levantamento com base em 1.300 anúncios da plataforma Zap feito pelo Estadão. A maioria dos projetos imobiliários novos que têm chegado à região tem unidades que vão de 27 a 40 m².
O que destravou os lançamentos imobiliários no local foi a revisão do zoneamento, que aumentou o potencial construtivo. Na prática, os prédios podem ser mais altos e, portanto, ter mais apartamentos.
Antes disso, as incorporadoras consideravam que a conta de novos projetos na região, mesmo que do programa Minha Casa, Minha Vida, raramente fechava. Isso porque a posição estratégica do bairro para acessar tanto a região da Faria Lima quanto a zona norte e o centro eleva o custo do terreno acima da média de outros bairros da cidade.
A expansão da Barra Funda já aparece em números populacionais. De acordo com dados do Censo Demográfico 2022, em 12 anos, a Barra Funda teve aumento de 132,5% de moradores, sendo o maior crescimento em todos os 96 distritos da capital paulista. O número foi de 14.383 em 2010 para 33.436 em 2022.
Conhecida pelo terminal rodoviário integrado à Linha 3-Vermelha do metrô, a região vai ganhar mais uma estação de metrô, a Água Branca, da Linha 6-Laranja. A linha em construção levará os passageiros até a estação São Joaquim, da Linha 1-Azul, passando por áreas próximas a faculdades como PUC, FAAP e Mackenzie.
O gerente institucional do Grupo Lopes, Cyro Naufel, lembra que as mudanças na legislação e a demanda dos consumidores por moradias favoreceu o desenvolvimento imobiliário da Barra Funda.
A gente teve as revisões do Plano Diretor e da lei do zoneamento que favoreceram o aproveitamento desses terrenos. Então, combinado com esses incentivos de unidades compactas, aumentou o interesse do incorporador nessas regiões que têm essa vocação para esse tipo de produto
Cyro Naufel, gerente institucional do Grupo Lopes
Naufel afirma que a chegada de novos apartamentos ao bairro tende a trazer comércios, como supermercados, padarias e colégios. Embora a infraestrutura de transporte seja atualmente um atrativo para o mercado imobiliário, nem sempre foi assim. “Por muito tempo, a linha do trem foi uma barreira física para a expansão. Mas com a valorização e a escassez de terrenos nesses bairros, o mercado começou a atravessar essa barreira e a explorar a Barra Funda.”
Apesar de o bairro aparecer como o que tem mais imóveis de estoque, segundo levantamento da Brain feito em dezembro, com a virada do ano, os imóveis da região têm sido vendidos numa velocidade considerada saudável.
“Se olharmos os lançamentos de 24 a 36 meses atrás, o estoque já foi praticamente zerado. O estoque maior está nos empreendimentos lançados nos últimos 12 meses, o que é uma velocidade natural do mercado”, diz Naufel.
Alta renda
Para atrair o público de alta renda para a área, a Tecnisa criou o empreendimento Reserva Flamboyant. Ele fica no Jardim das Perdizes, um bairro planejado pela própria incorporadora no limite da Barra Funda com a Água Branca e de frente para um parque de 45 mil m².
O projeto destaca-se por ser a torre mais alta da região, com 38 andares, oferecendo apartamentos de três a quatro dormitórios, com duas a três suítes, e áreas que variam de 157 a 377 m², além de duas a quatro vagas de garagem.
Até o momento, o Reserva Flamboyant teve Valor Geral de Vendas de R$ 1,6 bilhão em 2024 (até o terceiro trimestre). O empreendimento, que ainda não iniciou as obras, terá áreas comuns equipadas com quadra de tênis, beach tennis, cinema, piscina coberta e descoberta, spa, academia com pilates e quadra poliesportiva.
O diretor comercial, de vendas e marketing da Tecnisa, Miele Abrão, conta que o projeto do bairro planejado começou em 2013, mas passou por um hiato de lançamentos devido à falta de Cepacs (Certificados de Potencial Adicional de Construção) e os empreendimentos foram retomados a partir de 2023.
Desde então, já foram quatro lançamentos, sendo três só no ano passado, totalizando 740 apartamentos. Foram eles: o Recanto das Oliveiras (424 unidades), o Bosque Cerejeiras (100 unidades) e o Reserva Flamboyant (216 unidades). O preço médio do metro quadrado é de R$ 16 mil, o que leva a faixa de preço dos apartamentos à faixa que vai de R$ 1,28 milhão a R$ 5,4 milhões.
O Parque das Perdizes, que fica no centro do pequeno bairro planejado na Barra Funda, é um dos principais chamarizes para o consumidor de alta renda que compra imóveis por ali. Os apartamentos têm vista para as copas das árvores, e o parque conta com segurança 24h organizada por uma associação local.
“É sobre você poder descer com o seu filho para fazer um piquenique e estar aqui na porta de casa, sem precisar pegar o carro. A gente vende mais do que o metro quadrado”, afirma Abrão.
Minha Casa, Minha Vida
Especializada em projetos voltados para o público de baixa renda, com imóveis no escopo do programa Minha Casa, Minha Vida, a Plano&Plano passou a atuar no bairro a partir de 2020. Desde então, lançou 5.800 apartamentos lá, sendo 1.600 só em 2024.
Pela regra do programa habitacional, o valor máximo dos imóveis é de R$ 350 mil. Ou seja, o aumento da oferta de apartamentos para baixa renda tende a puxar para baixo tanto a média de preço quanto o tamanho dos imóveis do bairro. Por fim, esse movimento tende a aumentar o preço do metro quadrado da região, uma vez que os imóveis novos são mais caros do que os antigos.
A diretora de incorporação da Plano&Plano, Renée Silveira, conta que a Barra Funda tem localização estratégica na cidade, por estar próxima da Zona Norte, da saída para Barueri, da ponte para a Zona Sul e do centro. Além disso, diz, a região tem o Terminal Intermodal (com CPTM, metrô e corredores de ônibus) e um comércio consolidado, como os shoppings West Plaza e Bourbon.
“Você paga o preço do Minha Casa, Minha Vida, se utiliza das vantagens das taxas de juros, mas mora num CEP de rico”, afirma Renée.
Segundo a executiva, a chegada de novos empreendimentos trará mais movimento e segurança pública à região.
A renovação dos imóveis vai trazer vida para o bairro. (Ele tinha) áreas que antes eram inseguras, sem iluminação, porque eram áreas industriais, grandes galpões ou grandes quadras fechadas. Isso acabou deixando algumas áreas dessa região inseguras. Então, eu acredito nessa transformação ao longo do tempo
Renée Silveira, diretora de incorporação da Plano&Plano
A Vivaz, marca da Cyrela voltada a projetos para o consumidor de baixa renda, também tem criado empreendimentos na Barra Funda.
O gerente de negócios da Vivaz, João Quina, conta que a empresa lançou neste mês o projeto Vivaz Clube Barra Funda, localizado na Avenida Marquês de São Vicente. Os apartamentos do empreendimento têm de um a dois quartos, com plantas que variam de 24 m² a 36 m².
O condomínio tem área de lazer com itens como academia, salão de festas, coworking, spa, brinquedoteca, espaço teen, pilates, espaço funcional e churrasqueira.
“A Barra Funda é uma região com localização estratégica devido à oferta de transporte público, que já era boa e está se ampliando ainda mais com a inauguração da linha Laranja, e alta concentração de empregos. Nos últimos anos, o bairro vem passando por um processo de transformação, tornando-se um polo para novos empreendimentos. A mudança na Lei de Zoneamento contribuiu para esse crescimento ao ampliar o potencial construtivo da região”, diz Quina.
O executivo conta ainda que a empresa tem mais projetos na região programados para 2025.
Globo Online - RJ 17/02/2025
Localizada numa das regiões mais ricas de São Paulo, a Avenida Rebouças, que liga as avenidas Paulista e Faria Lima, transformou-se num dos principais polos de expansão imobiliária corporativa da cidade nos últimos anos — e agora vive uma mudança radical em sua paisagem. Torres envidraçadas, com as chamadas fachadas ativas (áreas que reúnem comércio e serviços sem grades), substituíram antigos casarões.
Ali se instalaram empresas de serviços financeiros e de tecnologia, trazendo movimento de pedestres e elevando o preço do metro quadrado para aluguel. Especialistas do setor afirmam que a Rebouças hoje se transformou em uma alternativa para empresas que não encontram espaço na Faria Lima, que se consolidou como o principal centro financeiro do país, mas também com um forte vetor residencial.
— É uma área muito valorizada, que fica entre o bairro de Pinheiros e os Jardins, e os terrenos tinham valor mais baixo. Uma mudança no Plano Diretor da cidade, em 2014, permitindo construções mais altas num dos lados da avenida, gerou um movimento de incorporadoras pela boa localização da Rebouças — diz Luis Fernando Ciniello, diretor do Sinduscon, o sindicato da construção, de São Paulo.
Sócio da construtora Roncotec, ele conta que nos primeiros anos após a permissão de edificações mais altas, vieram os prédios residenciais. Só a Roncotec ergueu oito edifícios para diferentes incorporadoras, com apartamentos de 40 a 60 metros quadrados. O valor do metro quadrado para compra, que há pouco mais de dez anos era de R$ 15 mil, saltou para os atuais R$ 27 mil e, em alguns casos, chega a R$ 30 mil. E, na segunda onda de verticalização, a Rebouças começou a receber prédios corporativos.
Só no trecho entre a Faria Lima e a Avenida Henrique Schaumann, há pelo menos dez prédios novos, alguns já entregues e outros em construção. Esse movimento de escritórios atraiu para a via restaurantes como o Outback, cafeterias como a Kopenhagen, mercados como o Pão de Açúcar e até serviços de estética. Há um hotel da rede Hilton, um hospital está em construção e novos residenciais de luxo. Entre eles está um empreendimento próximo à Paulista, que será erguido pela construtora Mitre, e terá a grife Daslu. Ele já começa a tomar forma.
— Criou-se um ecossistema muito valorizado, com comércio e serviços na Rebouças e na região ao redor, atraindo sedes de empresas como Nubank e Stone. E a chegada da Linha 2 do metrô na Rua dos Pinheiros aumentou o fluxo de pessoas. Somente o trânsito na Rebouças é que continua complicado — diz Luciano Amaral, CEO da construtora Benx, que ergue um residencial nas proximidades da Rebouças, com vista para o arborizado e valorizado bairro dos Jardins, num dos últimos terrenos disponíveis na região.
Estímulos
O Plano Diretor da capital paulista, de 2014, deu uma série de benefícios às construtoras que erguessem prédios em vias próximas a sistemas de transporte coletivo, como é o caso da Rebouças, que tem um corredor de ônibus.
O objetivo era estimular que as pessoas morassem perto de onde trabalham e tivessem transporte público à disposição. Mas a Lei de Zoneamento ainda restringe prédios com mais de 10 metros de altura do lado direito da avenida (o lado ímpar), no sentido de quem sobe para a Paulista, na fronteira com os Jardins.
Essa restrição tornou a paisagem da Rebouças peculiar: enquanto do lado esquerdo de quem sobe a avenida brotam espigões espelhados, no lado oposto estão casarões antigos, com placas de “aluga-se”. Alguns desses imóveis abrigavam lojas de aluguel de vestidos de noiva, uma marca da Rebouças. Hoje, apenas uma dessas lojas resistiu: a Nova Noivas, que está num desses casarões há 25 anos, e atualmente já recebe o público mais jovem que ocupou os novos escritórios.
Morador da Rebouças desde o ano 2000, o bancário aposentado Silvio Aragusuku, afirma que o corredor de ônibus e a Linha Amarela do Metrô trouxeram melhorias para a mobilidade urbana. Os prédios residenciais e corporativos, também estimularam a chegada de supermercados, restaurantes e bares, valorizando a região e trazendo movimento à avenida.
— Mas, no aspecto arquitetônico, houve deterioração do visual. As novas torres corporativas, além de tirarem o horizonte de nossas vistas, repetem um padrão com muito vidro espelhado nas fachadas e varandas gradeadas sem nenhum charme — critica Aragusuku.
Atração de profissionais
Renato Almeida, gerente de Transações da Cushman & Wakefield, uma empresa global de serviços imobiliários comerciais, afirma que é importante para o mercado corporativo ter oferta de escritórios em regiões centrais de São Paulo como a da Rebouças. Isso vem colaborando para trazer as pessoas de volta ao trabalho presencial após a pandemia. E o valor do metro quadrado na Rebouças para locação ainda é quase metade do da Faria Lima: R$ 170 frente a R$ 300, segundo ele.
— A Rebouças viabiliza o custo de quem precisa estar perto de Pinheiros, com muita oferta de serviços, lazer. Mas são empresas com perfil diferente da Faria Lima, com menos funcionários, entre 50 e 500 pessoas — explica Almeida, observando que o novo perfil da Rebouças, com mais serviços e comércio, está ficando mais parecido com o da Avenida Paulista.
Um levantamento feito pela RealtyCorp, uma consultoria imobiliária, mostra que falta espaço para empresas na Faria Lima. A vacância é baixa, de cerca de 9%. Atualmente, diz Marcos Alves, é difícil encontrar áreas de 2 mil a 3 mil metros para alugar. Isso contribui para o êxodo para a Rebouças. O levantamento da RealtyCorp revela que, em 2005, havia apenas dez prédios corporativos na Rebouças. Em 2015, eram 13 e, em 2020, esse número subiu para 16 unidades, com 80 mil metros quadrados locáveis.
— De 2020 a 2024, a Rebouças chegou a 33 prédios com 198 mil metros quadrados locáveis. Ou seja, em quatro anos, dobrou a oferta de áreas corporativas — diz Alves.
A taxa de vacância bateu em 30% na Rebouças no quarto trimestre do ano passado, mas isso se explica porque houve a entrega de 45 mil metros quadrados de escritórios no período, diz Alves. Até o terceiro trimestre, diz ele, a vacância era de 15%. Alves lembra que enquanto a taxa de ocupação da cidade de São Paulo cresceu 1,22% em 2024, na Rebouças esse índice foi 9,19%.
O arquiteto e urbanista Nabil Bonduk, eleito vereador em São Paulo pelo PT no ano passado, avalia que o movimento de renovação na Rebouças é importante e positivo, já que havia edificações antigas com baixo aproveitamento. Mas ele observa que pode ter havido “deturpação do uso”, já que as moradias tinham como objetivo atender população de renda média. E muitas podem ter sido adquiridas por investidores.
— As fachadas ativas dos prédios, com calçadas mais largas, são positivas. Talvez tenha havido deturpação do uso dos imóveis residenciais que eram para população de renda média e, pelo preço elevado, tenham ido parar nas mãos de investidores — diz Bonduk, que não acredita em vacância elevada já que, mesmo com o home office, a cidade ainda necessita de mais prédios corporativos, demanda que a Faria Lima já não pode atender.
Oportunidades perdidas
Valter Caldana, professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, avalia que, do ponto de vista urbanístico, a “nova Rebouças” perdeu a oportunidade de trazer elementos contemporâneos de maior sustentabilidade, que vêm sendo utilizados no urbanismo de grandes cidades no mundo:
— Poderia ter edifícios extravasando o lote, com áreas públicas internas mais generosas com o coletivo, além de andares térreos livres e interligados. Sistemas de mobilidade, em especial para pedestres, abrigados e protegidos, e sistemas de energia e saneamento baseados na natureza.
Valor - SP 17/02/2025
Ministério afirma que vai fazer análise técnica do estudo
Mariel Nakane, assessora técnica e economista do ISA: avaliação do projeto da Ferrogrão está comprometida — Foto: Divulgação/ISA
Enquanto finaliza os estudos da Ferrogrão para submetê-los à análise do Tribunal de Contas da União (TCU), o Ministério dos Transportes foi novamente confrontado por questionamentos de entidade da sociedade civil que coloca em dúvida a viabilidade da ferrovia - projeto que promete derrubar em 20% o custo do transporte de grãos de Mato Grosso pelos portos do Arco Norte. O Instituto Socioambiental (ISA) preparou avaliação técnica, antecipada ao Valor, que aponta supostas “falhas metodológicas e conceituais” em parecer técnico do governo.
Por meio de nota, o ministério informou “que foi notificado formalmente acerca do resultado do estudo contratado pelo Instituto Socioambiental (ISA) somente nesta quinta-feira (13) e vai se manifestar após análise técnica do material enviado pelo ISA”.
A entidade, que representa interesses de povos indígenas e comunidades tradicionais da Amazônia, contesta a abordagem contida no trabalho considerado como um trunfo da atual gestão na retomada do projeto. Trata-se da Análise Socioeconômica de Custo e Benefício (ACB) da Ferrogrão, baseada em guia elaborado pela equipe econômica, em 2022.
No estudo, a entidade civil defende que a ACB da Ferrogrão subestimou os valores a serem aportados pelos investidores no projeto. A construção dos 976 quilômetros de ferrovia está avaliada em R$ 20,04 bilhões, em valores de julho de 2023. Já o custo inicial da operação foi estimado em R$ 1,2 bilhão por ano.
A Ferrogrão foi planejada para levar a produção agrícola - especialmente, milho e soja - da cidade de Sinop (MT) para Itaituba (PA), onde a carga deve ser despachada pelos terminais de Miritituba, no rio Tapajós. Uma operação logística semelhante já é feita por caminhões na BR-163, que corre em paralelo ao traçado de referência da nova ferrovia.
A avaliação de custo e benefício confrontou basicamente o cenário de construção da Ferrogrão com a possibilidade de futura duplicação da BR-163. Como resultado, a ACB indicou o “benefício líquido” de R$ 62 bilhões para sociedade se o projeto sair do papel.
Além de reduzir o preço do frete, o aumento da participação do transporte ferroviário na região, de 50% para 86%, evitaria a emissão de 3,4 milhões de toneladas de CO2 por ano. O estudo indica que uma composição ferroviária, com 170 vagões, é capaz de substituir 422 caminhões de 40 toneladas.
O Ministério dos Transportes, na gestão atual, criou um grupo de trabalho para discutir o projeto com lideranças indígenas e ambientalistas. Eles abandonaram o debate alegando falta de diálogo efetivo. O ISA foi uma das entidades que participaram do grupo.
Materialização do risco climático pode repercutir de várias formas”
— Kralingen D. Thá
Um dos autores do estudo, o economista da Kralingen Daniel Thá alerta que o custo de construção da Ferrogrão pode saltar para R$ 27,68 bilhões. Ele usou, a título de comparação, os cálculos de custo da Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico), em trecho assumido pela Vale na prorrogação antecipada da concessão da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), validados pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e pelo TCU.
Outro problema apontado pelo documento foi a análise de custo e benefício ter desconsiderado a necessidade das medidas de adaptação aos riscos climáticos e às “externalidades” relacionadas ao desmatamento induzido pela ferrovia na região.
Ao Valor o economista da Kralingen disse que “a materialização do risco climático pode repercutir de várias formas”. Ele considera que, além de impactar o orçamento, pode influenciar no risco de demanda. “Eventos extremos ou irregularidade de chuvas podem levar a quebras de safra ou baixas de produtividade, prejudicam a razão de ser da Ferrogrão: o transporte de grãos”, disse Thá, que lamenta o fato do projeto não ter sido incluído no programa “AdaptaVias”, voltado para mitigar impactos e riscos da mudança do clima no setor.
O documento de 63 páginas do ISA, obtido pelo Valor, conclui que “as falhas comprometem a validade dos resultados apresentados pela ACB Ferrogrão como instrumento de apoio à tomada de decisão”, referindo-se à análise feita pelo antigo Ministério da Economia de custo-benefício (ACB) e que avaliou a viabilidade socioeconômica do empreendimento usando metodologia internacional.
Para a assessora técnica e economista do ISA, Mariel Nakane, a avaliação do projeto está comprometida. “Isso nós vamos mostrar para o TCU e o STF [Supremo Tribunal Federal]”, afirmou.
O envio do estudo de viabilidade da Ferrogrão está a cargo da ANTT. Enquanto no Supremo, o ministro Alexandre de Moraes aguarda as últimas manifestações para decidir sobre a ação direta de inconstitucionalidade (ADI), do Psol, contra a lei que alterou a demarcação do Parque Nacional do Jamanxim, no Pará, para receber ferrovia. O governo tem a expectativa de que o impasse jurídico seja superado com a simples acomodação da linha na faixa de domínio da BR-163.
TN Petróleo - RJ 17/02/2025
Entre 2025 e 2029, estão previstos aproximadamente R$ 609 bilhões em investimentos na fase de produção dos contratos atuais para exploração e produção de petróleo e gás natural no Brasil. Somente em 2025, os investimentos devem chegar a cerca de R$ 140 bilhões. Os dados constam do Painel Dinâmico de Previsão de Atividade, Investimento e Produção na Fase de Produção da ANP.
No mesmo quinquênio, são estimados volumes médios de produção de 680 mil metros cúbicos por dia (m3/d) de petróleo (ou seja, 4,28 milhões de barris por dia) e 221 milhões de m³/d de gás natural, sendo 193 milhões de m³/d após desconto do CO2.
O Painel Dinâmico, é possível consultar informações referentes às previsões de atividades, investimentos e produção para o período de cinco anos. É possível aplicar filtros e obter as atividades por bacia, ambiente (mar ou terra) ou estado. Os mesmos filtros podem ser usados para a consulta das previsões de investimentos, que podem ser obtidos em dólares ou reais.
Para consultas das previsões de produção, a ferramenta permite aplicar o filtro para ambiente (mar ou terra) e obter os volumes ou vazões referentes a petróleo, gás, petróleo equivalente (produções de petróleo e gás somadas), injeção de água e gás queimado.
O Painel apresenta informações declaradas pelos contratados nos Programas Anuais de Trabalho e Orçamento (PAT) e Programas Anuais de Produção (PAP) dos contratos vigentes, estando sujeitas a atualizações a qualquer momento.
As previsões são referentes somente à fase de produção, que é a segunda fase dos contratos (a primeira é a fase de exploração, na qual são realizados estudos para a identificação da presença, ou não, de petróleo e/ou gás).
O Estado de S.Paulo - SP 17/02/2025
Por meio de uma ordem executiva, o presidente dos EUA, Donald Trump, estabeleceu nesta sexta-feira, 14, o Conselho Nacional de Dominância Energética, na busca por “expandir todas as formas de produção de energia confiáveis e acessíveis para reduzir a inflação, fazer a economia crescer, criar empregos bem remunerados e restabelecer a liderança americana em manufatura”, segundo comunicado da Casa Branca.
Em conjunto, as ações ressaltaram o compromisso do governo de aumentar a produção de energia americana, principalmente de combustíveis fósseis, como petróleo e gás natural.
“Vamos ganhar mais dinheiro do que qualquer pessoa já ganhou com energia”, disse o republicano no Salão Oval nesta sexta-feira, 14. Os EUA têm “energia limpa, uma bela energia muito limpa. Temos sorte de tê-la. Eu a chamo de ouro líquido sob nossos pés. E vamos utilizá-la.”
O governo Trump também anunciou ter concedido autorização condicional de exportação para um grande projeto de gás natural liquefeito na Louisiana, a primeira aprovação de novas exportações de GNL desde que o ex-presidente Joe Biden interrompeu a análise do projeto há um ano.
Petro Notícias - SP 17/02/2025
O que já era grande, ficou ainda maior. A Petrobrás confirmou a presença de óleo com a perfuração do poço 9-BUZ-99D-RJS, localizado na região oeste do campo de Búzios. Trata-se de uma nova acumulação em uma zona inferior ao reservatório principal. O poço está localizado a 189 km da costa do Rio de Janeiro e foi perfurado em profundidade d’água de 1.940 metros. Testes realizados a partir de 5.600 metros de profundidade confirmaram a presença de reservatórios de petróleo por meio de perfis elétricos, que serão posteriormente caracterizados por meio de análises de laboratório. A descoberta reafirma o potencial do pré-sal no campo de Búzios. O Consórcio da Jazida Compartilhada de Búzios, formado pela Petrobrás como operadora (participação de 88,98%), em parceria com a CNOOC (7,34%) e a CNPC (3,67%), tendo a Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA) como gestora, dará continuidade às análises dos resultados para continuidade das atividades na área.
A outra notícia boa para o Campo de Búzios, é a entrada em operação do FPSO Almirante Tamandaré Campo de Búzios 7, no pré-sal da Bacia de Santos. Ao todo, serão 15 poços, 7 produtores de óleo, 6 injetores de água e gás, 1 conversível (produtor e injetor) e 1 injetor de gás, interligados à plataforma por meio de uma infraestrutura submarina. De acordo com a presidente da Petrobrás, Magda Chambriard, Búzios 7 é a primeira unidade de alta capacidade a ser instalada no campo. “Tem potencial para produzir diariamente até 225 mil barris de óleo (bpd) e processar 12 milhões de metros cúbicos de gás. O FPSO Almirante Tamandaré é parte do sexto sistema de produção de Búzios e contribuirá para que o campo alcance a produção de 1 milhão de barris de óleo por dia, previsto para o segundo semestre de 2025, afirmou a presidente.
Magda lidera o trio das ” Mulheres Superpoderosas” da Petrobrás, ao lado Renata e Silvia
Para Renata Baruzzi, diretora de Engenharia, Tecnologia e Inovação, “A capacidade média das plataformas no mundo fica em torno dos 150 mil barris diários de óleo e compressão de 10 milhões de m3 de gás. Com o Almirante Tamandaré, estamos alcançando um outro patamar de produtividade, que só é possível em campos como o de Búzios. Além da alta capacidade, agregamos configurações que possibilitam mais eficiência e tecnologias de descarbonização.” Em breve, espera-se que o campo de Búzios se torne o maior campo de produção da Petrobras. “É altamente produtivo, com reservas substanciais de petróleo leve. Até 2030, nossa expectativa é de superar o marco de 1,5 milhões de barris de produção por dia“, explicou Sylvia Anjos, diretora de Exploração e Produção. A unidade foi afretada junto à SBM Offshore e, além de apresentar capacidade acima da média das unidades da indústria, conta com tecnologias de descarbonização, como o flare fechado, que contribui para redução das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera. Há também tecnologias para aproveitamento de calor, que reduzem a demanda de energia adicional para a unidade.
Diário do Comércio - MG 17/02/2025
A Petrobras confirmou na sexta-feira (14) nova acumulação de petróleo na zona inferior ao reservatório principal do campo de Búzios, no pré-sal da Bacia de Santos. O volume foi identificado por meio de testes em uma profundidade de 5.600 metros.
De acordo com nota divulgada pela empresa, na inspeção foram usados perfis elétricos gerados por sonda introduzida em nova perfuração, para identificar caraterísticas geológicas e hidrológicas. O material gerado ainda está em análise pelos laboratórios da Petrobras.
A nota esclarece que “o Consórcio da Jazida Compartilhada de Búzios, formado pela Petrobras como operadora (participação de 88,98%), em parceria com a CNOOC (7,34%) e a CNPC (3,67%), tendo a Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA) como gestora, dará continuidade às análises dos resultados para continuidade das atividades na área”.
Produção média anual
Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a produção média anual de petróleo e gás natural foi, em 2024, de 4,322 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boe/d). Desses, foram produzidos 3,358 milhões de barris por dia (bbl/d) de petróleo.
Cerca de 78% desta produção foi proveniente de reservatórios da camada pré-sal, uma formação localizada entre mil e 6 mil metros de profundidade abaixo do nível do mar. O campo de Búzios é considerado o maior do mundo em águas ultraprofundas e fica localizado no Rio de Janeiro, a 189 quilômetros da costa. Opera com produção em larga escala desde março de 2015, e no último ano ultrapassou a marca de 1 bilhão de barris de petróleo produzidos, no mês de março.
De acordo com o Boletim da Produção de Petróleo e Gás Natural da ANP, em 2024, a produção do campo de Búzios aumentou 2,40% em relação ao ano de 2023, representando 19,53% da produção marítima.
TN Petróleo - RJ 17/02/2025
O ano de 2025 começa com uma nova atualização do ranking que avalia os estados conforme o arcabouço regulatório para a abertura do mercado de gás natural.
A atualização considerou as regulamentações mais recentes nos estados de Alagoas, Amazonas e São Paulo com desdobramentos importantes para a abertura do mercado de gás natural nessas localidades.
Em Alagoas foi considerada a publicação da Resolução nº 184, de 26 de dezembro de 2024 da Agência Reguladora de Serviços Públicos no Estado de Alagoas (ARSAL). O documento trata da metodologia de cálculo da Tarifa de Uso do Serviço de Distribuição (TUSD) e da Tarifa de Uso Específico do Sistema de Distribuição Exclusiva de Gás Canalizado (TUSD-E).
Com o novo dispositivo, Alagoas se consolidou na segunda posição com 78,2%, deixando claro o entendimento sobre as perdas do gás no qual o usuário que migrar para o mercado livre não será cobrado em duplicidade. Vale lembrar que o estado já era um dos destaques e referência de boas regulações no ranking do RELIVRE.
Já no estado de São Paulo, a publicação da Deliberação 1.632/2025, de 06 de janeiro de 2025, por parte da Agência Reguladora de Serviços Públicos no estado de São Paulo (ARSESP) também traz aprimoramentos importantes fazendo com que o estado suba de forma expressiva no ranking do RELIVRE.
Um dos destaques dentre os aprimoramentos trazidos pelo documento é a livre alocação de capacidade pelo consumidor parcialmente livre, permitindo que o usuário tenha gestão da capacidade contratada no sistema de distribuição entre o mercado regulado e o mercado livre. Há ainda novidades positivas envolvendo a retirada de penalizações relativas ao balanceamento e a flexibilização para o uso da capacidade excedente.
As melhorias identificadas na Deliberação da ARSESP aumentam a nota de São Paulo de 44,6% para 50,2%, fazendo o estado subir da 13ª para a 6ª posição no ranking do RELIVRE. Desde o lançamento do RANKING (2023), notamos uma melhora consistente nas regras de São Paulo, alcançando 13,5%. Toda essa evolução também pode ser notada pelas recentes informações de migração de usuários do mercado cativo para o livre. O estado tem regras de abertura de mercado desde 2011, porém somente nos anos de 2024 e 2025 a migração pegou tração.
No Amazonas, por outro lado, a publicação da Resolução nº 5 de 25 de setembro de 2024 da Agência Reguladora dos Serviços Públicos Delegados e Contratados do Estado do Amazonas (ARSEPAM) traz uma retração na avaliação da regulação relativa à abertura do mercado de gás no estado.
Um exemplo é a implementação de uma Taxa de Fiscalização ou ainda a necessidade de comprovação de volumes de gás por parte dos comercializadores, mudanças que tornam o ambiente regulatório menos atrativo no estado. Com esses resultados, o Amazonas cai da 7ª para a 13ª posição no ranking do RELIVRE, saindo de uma pontuação de 48,1% para 43,4%.
Por fim, vale destacar que 2025 traz consigo grandes expectativas com relação a novos aprimoramentos regulatórios para a abertura de gás nos estados. O RELIVRE, como ferramenta de acompanhamento das normas estaduais do mercado livre de gás natural, segue atento aos aprimoramentos regulatórios que estão por vir e se coloca à disposição de todos aqueles interessados na efetiva abertura do mercado de gás natural no país."
Sobre o RELIVRE - O Ranking do Mercado Livre de Gás (RELIVRE) é uma ferramenta de acompanhamento das normas estaduais do mercado livre de gás natural. Elaborado por agentes de diferentes elos da cadeia: produtores (IBP e ABIPIP) e grandes consumidores (ABRACE), e destaca os aspectos regulatórios de cada estado mais relevantes para a efetiva abertura do mercado de gás natural. O objetivo do RELIVRE é incentivar melhorias regulatórias nos estados, apontando sugestões de aprimoramento e possibilitando comparações com outras normas.
O Estado de S.Paulo - SP 17/02/2025
Os Estados de São Paulo e Alagoas avançaram no Ranking do Mercado Livre de Gás (Relivre), enquanto o Amazonas perdeu posições. O ranking, que avalia a regulação de cada Estado, é estipulado por entidades setoriais como o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), a Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gás (Abpip) e a Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace).
São Paulo
São Paulo saltou sete posições, passando do 13º lugar para o sexto lugar em termos de regulação para o mercado livre de gás. Esse avanço vem após mudanças nas regras da agência reguladora local, a Arsesp, contidas na Deliberação 1.632, do início de janeiro.
Entre as melhorias está a liberdade de alocação de capacidade pelo consumidor parcialmente livre. Isso permite que o usuário tenha gestão da capacidade contratada no sistema de distribuição entre o mercado regulado e o mercado livre. Houve, também, a retirada de penalizações relativas ao balanceamento e a flexibilização para uso da capacidade excedente.
A nota de São Paulo no Relivre progrediu 13,5 pontos para 50,2 desde 2023, quando foi lançado do instrumento comparativo. “O Estado tem regras de abertura de mercado desde 2011, porém somente nos anos de 2024 e 2025 a migração pegou tração”, escrevem em nota as associações, atribuindo o aumento da modalidade ao avanço nas regras.
Alagoas
Da mesma forma, a Agência Reguladora de Serviços Públicos no Estado de Alagoas (Arsal) publicou em dezembro um documento com a metodologia de cálculo da Tarifa de Uso do Serviço de Distribuição (Tusd) e da Tarifa de Uso Específico do Sistema de Distribuição Exclusiva de Gás Canalizado (Tusd-e), ampliando sua nota a 78,2 pontos e se consolidando na 2ª colocação da lista de Estados mais bem preparados em termos regulatórios.
O primeiro lugar segue sendo o Sergipe (84,66), que lidera seguido de Alagoas, ambos isolados à frente do restante do País. Os Estados do Sudeste, Espírito Santo (60,45), Rio (59,25), Minas Gerais (55,47) e São Paulo (50,2), completam a lista daqueles com pontuação acima de 50.
Amazonas
Já no Amazonas, a Agência Reguladora dos Serviços Públicos Delegados e Contratados do Estado do Amazonas (Arsepam) implementou uma taxa de fiscalização e a necessidade de comprovação de volumes de gás por parte dos comercializadores.
Segundo IBP, Abpip e Abrace, isso piora a atratividade do Estado. Com isso, o Amazonas caiu da 7ª para a 13ª posição do Relivre, agora com pontuação de 43,4 pontos.
O Estado segue na faixa entre 40 e 50 pontos, só superando o Maranhão (41,82). Nas piores colocações do ranking, abaixo do nível dos 40 pontos, vêm Paraíba, Pernambuco, Mato Grosso, Paraná, Ceará e Pará - este na lanterna com nota de apenas 19,64.
Infomoney - SP 17/02/2025
O petróleo abriu o dia em alta nesta sexta-feira, 14, mas passou a cair no fim da manhã, com avanço nas conversas entre Ucrânia e Rússia por um acordo que encerre a guerra. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou ter tido um “bom encontro” com o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, e o enviado especial do país Keith Kellogg.
A reunião ocorreu na Alemanha, durante a Conferência de Segurança de Munique. A queda foi acelerada por notícia de que juiz ordenou ao governo Trump que descongele ajuda externa.
O barril do petróleo WTI para março fechou em queda de 0,77% na New York Mercantile Exchange (Nymex), a US$ 70,74, enquanto o do Brent para abril caiu 0,37% na Intercontinental Exchange (ICE), a US$ 74,74.
O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, disse na quinta-feira que o país atingiria Moscou com sanções e potencialmente ações militares se o presidente russo Vladimir Putin não concordasse com um acordo de paz com a Ucrânia que garantisse a independência de Kiev no longo prazo.
Vance também acusou o Wall Street Journal de distorcer suas declarações sobre o possível envio de tropas americanas para a Ucrânia, caso a Rússia não aceitasse negociar o fim do conflito. “Essa guerra é entre a Rússia e a Ucrânia”, disse ele.
O mercado também monitora notícia de que o governo de Donald Trump vai conceder sua primeira aprovação para um projeto de exportação de gás natural liquefeito (GNL), revertendo suspensão da gestão Biden.
Money Times - SP 17/02/2025
A Petrobras (PETR4) anunciou neste sábado (15) que o FPSO (navio-plataforma) Almirante Tamandaré (Búzios 7) entrou em produção no Campo de Búzios, no pré-sal da Bacia de Santos.
Segundo o documento enviado ao mercado, se trata da primeira unidade de alta capacidade a ser instalada no campo, com potencial para produzir diariamente até 225 mil barris de óleo (bpd) e processar 12 milhões de metros cúbicos de gás.
Ao todo, serão 15 poços, sendo sete produtores de óleo, seis injetores de água e gás, e um conversível (produtor e injetor) e um injetor de gás, interligados à plataforma por meio de uma infraestrutura submarina.
O FPSO Almirante Tamandaré é parte do sexto sistema de produção de Búzios e contribuirá para que o campo alcance a produção de 1 milhão de barris de óleo por dia, previsto pela companhia para o segundo semestre de 2025.
“Em breve, espera-se que se torne o maior campo de produção da Petrobras, com a expectativa de alcançar o marco de 2 milhões de barris por dia até 2030”, diz o comunicado.
O consórcio de Búzios é composto pela Petrobras (operadora), as empresas parceiras chinesas CNOOC, CNODC e a PPSA, empresa gestora dos contratos de partilha da produção.
Valor - SP 17/02/2025
A licitação está prevista para 1º de agosto e deve ser uma das maiores do ano
O leilão do túnel Santos-Guarujá está em estudo por grupos brasileiros, chineses e europeus. Segundo informações obtidas pela reportagem, o projeto atraiu nomes já conhecidos do mercado nacional de infraestrutura, como Novonor (antiga Odebrecht) e Queiroz Galvão, além de gigantes estrangeiros do setor.
A licitação está prevista para 1º de agosto e deve ser uma das maiores do ano. Com investimentos previstos na casa de R$ 6 bilhões, a parceria público-privada (PPP) é a maior obra da carteira do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), fruto de acordo selado entre o Governo de São Paulo e o presidente Lula.
Segundo pessoas com conhecimento do assunto, empresas já apresentaram interesse no projeto e vêm organizando consórcios para fazer proposta no leilão.
Um desses consórcios seria encabeçado pelo gigante chinês CCCC, um dos maiores grupos de construção do mundo. A estatal participaria junto com a Mota Engil, de Portugal, e com a brasileira Concremat.
À reportagem a Novonor confirmou interesse no projeto e afirmou que vem estudando a melhor modelagem de participação. De acordo com uma pessoa a par das discussões, a companhia pode integrar um consórcio ao lado da EGTC Infra, empresa do grupo Queiroz Galvão. Procurada, a EGTC disse que não comentaria.
Outra interessada no projeto seria a italiana Webuild, uma das maiores empresas de infraestrutura do mundo, formada após fusão da Salini e Impregilo. O grupo foi responsável por obras do metrô de Milão, expansão do Canal do Panamá, construção de estádio de Copa do Mundo no Qatar, entre outros grandes projetos.
A reportagem apurou que a empresa demonstrou interesse em voltar a investir no Brasil, principalmente em projetos de alta complexidade. A companhia (por meio da Impregilo) teve participação na EcoRodovias, mas vendeu sua parte em 2013.
Representantes da Webuild teriam se reunido com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para tratar do projeto do túnel.
Também estariam estudando a obra a espanhola Acciona - que atualmente está à frente da construção da Linha 6-Laranja do metrô de São Paulo - e a EcoRodovias.
Em nota, a Acciona disse estar constantemente analisando oportunidades no setor de infraestrutura que estejam alinhadas à sua estratégia de negócios e de gerar impacto positivo para a sociedade.
"O mercado brasileiro apresenta ativos relevantes e a Acciona está preparada para trazer toda a sua expertise global para contribuir com o crescimento do país", afirmou.
A Concremat disse que não comentaria. Procuradas, Ecorodovias, Webuild, CCCC e Mota Engil não responderam até a publicação desta reportagem.
Como mostrou a “Folha de S. Paulo” nesta sexta (14), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a um acordo com Tarcísio sobre quem fará a licitação do túnel Santos-Guarujá. O edital será lançado pelo governo paulista, decisão que coloca fim ao impasse político que cercava a obra.
Vistos como potenciais adversários eleitorais, Lula e Tarcísio estão de olho no capital político que pode ser gerado pelo empreendimento. O túnel, que será o primeiro submerso de grande extensão do Brasil e o maior da América Latina, atende a uma demanda histórica da Baixada Santista, uma promessa de décadas que nunca saiu do papel.
Hoje, mais de 21 mil veículos cruzam diariamente as duas margens utilizando balsas e catraias, além de 7.700 ciclistas e 7.600 pedestres. Com a nova estrutura, a travessia será feita em poucos minutos, reduzindo filas e otimizando o fluxo logístico do Porto de Santos.
A estrutura terá 1,5 km de extensão, sendo 870 metros submersa. Haverá três faixas de rolamento por sentido, com uma delas para a passagem do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). O túnel também terá acesso para travessia de pedestres e ciclistas.