Clipping Diário

22 | Janeiro | 2025

SIDERURGIA

O Estado de S.Paulo - SP   22/01/2025

A deterioração nas relações entre os Estados Unidos e a China na gestão do presidente Donald Trump é uma das principais preocupações da Gerdau no cenário atual. Se, de um lado, a gestão republicana dá um “otimismo moderado” à medida que são benéficas para a operação da companhia no mercado americano; do outro, políticas mais duras podem fazer os chineses buscarem outros mercados para exportação, e o Brasil é um dos alvos.

“Essa é uma das grandes preocupações que nós temos. Porque, quanto mais os países se fecham, a necessidade da China para manter emprego e renda aumenta, e o país vai buscar mercados de exportação, os canais mais abertos”, diz o presidente da Gerdau, Gustavo Werneck, em entrevista ao Estadão/Broadcast, durante o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), em Davos, na Suíça. O problema, explica, é que o mundo está se estruturando contra a concorrência chinesa, mas o Brasil “está ficando para trás”.

Segundo ele, esse é o principal tema em debate com o governo federal e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). O executivo defende a necessidade de medidas mais duras contra a China, após as cotas de importação adotadas no ano passado não terem contido o avanço do aço chinês no País.

“Essa medida foi totalmente ineficaz. Não se reduziu a importação de aço. Estamos neste momento debatendo com o MDIC como endurecer um pouco mais”, revela o executivo. “Os debates já estão na mesa. A expectativa agora é de que eles (o governo) tragam uma solução. Agora, a bola está com eles”, acrescenta.

Werneck diz que a empresa não quer medidas de proteção nem nada que esteja desalinhado com as práticas da Organização Mundial do Comércio (OMC), mas uma ação de defesa à indústria nacional. Uma solução é acabar com as cotas e taxar todo o aço que entrar no Brasil, sugere. No ano passado, o governo elevou para 25% o imposto de importação para aços que ultrapassem as cotas no País.

Atualmente, a China responde por cerca de um quarto do aço que entra no Brasil. Na visão de Werneck, a situação vai piorar com Trump de volta à Casa Branca. “Vai piorar para o aço, para produtos químicos, para tudo que a China compete de forma desleal contra a indústria global”, prevê.

O executivo também se queixa de “portas abertas” para pagar menos impostos no Brasil, a exemplo da Zona Franca de Manaus. Ele questiona se, de fato, todo o aço que tem entrado no País está sendo processado no local ou está servindo de “subterfúgio” para o menor pagamento de impostos.

Apesar dos desafios listados por Werneck, a Gerdau decidiu manter o seu plano de investimentos de cerca de R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões por ano no Brasil. Em 2024, a companhia chegou a ameaçar reduzir esse montante caso o governo federal não agisse para barrar a concorrência chinesa.

O governo, então, implementou as cotas, e a Gerdau decidiu manter o compromisso. Mas, Werneck diz que a companhia pode voltar atrás caso medidas mais duras não sejam adotadas para combater a entrada de aço chinês no País.

Dentre os produtos da China que o Brasil mais importa, está a bobina de aço laminada a quente (HRC), utilizada para os setores de construção, automóveis e máquinas. É justamente neste produto que a Gerdau está aumentando a sua capacidade, com um adicional de 250 mil toneladas, a partir da segunda quinzena de março, antecipa Werneck.
‘Otimismo moderado’ com o Efeito Trump

Sobre o efeito da gestão Trump nas operações da Gerdau nos EUA, o executivo diz que tem um “otimismo moderado”. Na primeira gestão do republicano, o negócio da companhia “foi bem”, conforme ele. Como a Gerdau produz em território americano, o aumento de tarifas para outros países beneficia a companhia. Os planos de Trump de estimular a indústria de óleo e gás também são benéficos, diz.

“Quanto mais ele (Trump) fortalecer a indústria americana e impedir a entrada de aço desleal, a competição desleal, melhor para nós”, avalia Werneck. “Temos um otimismo moderado”, classifica.

Já quanto à estratégia da Gerdau do México, os planos estão em compasso de espera com a volta de Trump à Casa Branca. A companhia estuda investir US$ 600 milhões em uma usina de produção de aços especiais no país. A decisão, esperada para dezembro último, deve ser tomada apenas daqui a seis meses, conforme o CEO da Gerdau.

“A gente vai aguardar um pouco esse desenrolar da relação EUA e México. Estamos postergando a decisão final para o meio do ano”, diz Werneck. Para o Brasil, a administração Trump deve ter efeito neutro, na sua visão. “Vai continuar o arroz com feijão que sempre foi nas relações comerciais”.

Segundo ele, o foco da Gerdau em 2025 é um olhar interno e uma busca contínua por melhoria da competitividade, de olho em um possível avanço dos competidores chineses no Brasil por conta de medidas comerciais mais duras de Trump. “Toda a companhia está com foco de ir para um patamar de competitividade que nunca tivemos”, conclui Werneck.

Valor - SP   22/01/2025

A Gerdau adquiriu, por meio de suas subsidiárias Gerdau Aços Longos e Sul Renovavéis, as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) de Garganta da Jararaca e Paranatinga II, localizadas no Mato Grosso, por R$ 440 milhões. As pequenas centrais hidrelétricas são usinas com capacidade instalada entre 5 megawatts (MW) e 30 MW.

As usinas, sob controle da Atiaia Energia, possuem capacidade instalada de 29 MW, cada uma.

Em nota, a Gerdau informou que as usinas fornecerão energia renovável para unidades produtoras de aço da Gerdau no país, em regime de autoprodução, equivalentes a cerca de 8% do consumo de energia das operações da empresa no Brasil.

Exame - SP   22/01/2025

A Gerdau (GGBR4) anunciou o encerramento de seu programa de recompra de ações de 2024, finalizado em 31 de julho do mesmo ano. Durante o período, foram adquiridas 1.767.911 ações ordinárias (GGBR3), ao preço médio de R$ 17,78 por ação, e 68.000.000 ações preferenciais (GGBR4), ao preço médio de R$ 18,89. A operação atingiu 100% do planejado para o programa.

Na mesma data, o Conselho de Administração aprovou o cancelamento de 1.093.011 ações ordinárias e de 25.000.000 ações preferenciais, ambas sem valor nominal.

A medida não impactará o capital social da companhia, que passou a ser composto por 718.863.819 ações ordinárias e 1.333.848.730 ações preferenciais. Uma atualização no artigo 4º do estatuto social será discutida em Assembleia Geral futura para refletir essa mudança.

Novo programa de recompra de ações

O Conselho também autorizou um novo programa de recompra de ações, com início em 22 de janeiro de 2025 e prazo máximo de 12 meses. O objetivo, segundo a Gerdau, é maximizar o valor para os acionistas, otimizar a estrutura de capital e atender programas de incentivos de longo prazo.

Pelo novo programa, poderão ser adquiridas até 63.000.000 de ações preferenciais (GGBR4), o equivalente a cerca de 5% das ações preferenciais em circulação, além de até 1.500.000 ações ordinárias (GGBR3), representando cerca de 10% das ações ordinárias disponíveis no mercado.

Monitor Digital - RJ   22/01/2025

A proporção de aço usado na indústria manufatureira da China aumentou para 50% em 2024, ante 42% em 2020, disse Yao Lin, chefe da Associação de Ferro e Aço da China, em uma conferência nesta segunda-feira.

Impulsionadas pela crescente demanda por aço nos setores de nova energia e nova infraestrutura, as siderúrgicas melhoraram seus portfólios de produtos e aumentaram seu desenvolvimento e produção de peças siderúrgicas especiais e de ponta, disse Yao.

Olhando para 2025, espera-se que a demanda por aço no setor manufatureiro continue crescendo, impulsionada em parte por renovações de equipamentos em larga escala e substituição de bens de consumo, de acordo com Yao.

Observando que a demanda por aço de alta resistência em setores como máquinas de construção e equipamentos de mineração deve se recuperar em 2025, Yao enfatizou a necessidade de aprofundar os mecanismos de cooperação entre os produtores de aço e as principais indústrias derivadas, incluindo construção civil, construção naval e transporte.

Diário do Aço - MG   22/01/2025

A disputa jurídica entre a Ternium e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) acerca da configuração societária ganhou novos contornos, com intimidações por parte da CSN após uma movimentação das lideranças políticas, empresariais e sociais do Vale do Aço e região em favor da Usiminas e da Ternium. O contencioso entre a controladora da Usiminas e a CSN arrasta-se nos tribunais superiores.

A controvérsia foi agravada pela tentativa de censura da CSN, que interpelou extrajudicialmente o dirigente de uma das entidades que apoiou a Ternium. O recente ato da CSN é visto como uma tentativa de cercear as manifestações da sociedade, ampliando as tensões em uma disputa que afeta diretamente o futuro de toda a região. O objetivo parece ser frear uma grande mobilização que demonstra o amplo apoio à Ternium e à Usiminas, consideradas pilares econômicos do Vale do Aço, segundo posicionamento da Ternium.

A indignação se refere à multa bilionária a ser paga pela Ternium à CSN por uma alienação de controle que nunca aconteceu, o que foi atestado por diversos pareceres técnicos da CVM e do Cade. Em 2011, quando a Votorantim e a Camargo Corrêa venderam sua participação na Usiminas para a Ternium, não houve alteração no bloco de controle. Caso houvesse, uma oferta pública deveria ter sido feita aos sócios minoritários. A Nippon Steel era a maior acionista e dividia o controle com a Ternium e a Previdência Usiminas. A CSN, que recorreu à justiça, perdeu em todas as instâncias, sendo três vezes na Justiça e duas na CVM, até a recente decisão.

"É importante destacar que justiça também determinou que a CSN deve reduzir sua participação na Usiminas para menos de 5% do capital social total e votante. Isso se arrasta desde 2014, quando o Cade declarou que essas ações nunca poderiam ter sido compradas pela CSN pelo simples fato de que a CSN é concorrente direta da Usiminas", afirma o grupo empresarial.

Em nota enviada à imprensa, a Ternium agradece o apoio de todas as autoridades e entidades que defenderam a segurança jurídica do Brasil e lamenta a tentativa da CSN de censurar as manifestações da sociedade organizada de Minas Gerais e do Vale do Aço.

O movimento de apoio à Ternium contou com posicionamentos oficiais do prefeito de Ipatinga, Gustavo Nunes (PL), que no último dia 10, publicou um vídeo criticando a multa de R$ 5 bilhões aplicada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em favor da CSN. “A multa se aproxima do valor de mercado da própria Usiminas. Fica aqui nossos votos para que o STJ tenha o discernimento para tomar uma decisão mais assertiva, em defesa da Usiminas, de Ipatinga, do Vale do Aço, de Minas Gerais e do Brasil”, afirmou Nunes.

Para a Ternium, a manifestação do prefeito reflete o sentimento de urgência e preocupação que une diversas lideranças da região. Edílio Velloso, representante dos trabalhadores no conselho da Usiminas, classificou a multa como “absurda” e destacou o impacto potencial sobre os empregos e as comunidades locais. O prefeito de Santana do Paraíso, Bruno Morato (Avante), também reforçou a importância da Usiminas e da Ternium: “Vamos participar de todos os movimentos para que a Usiminas continue em operação.”

Socidade civil
Movimentos empresariais e entidades como o Grupo Raízes, a Associação de Aposentados e Pensionistas de Ipatinga (AAPI), a Associação Comercial, Industrial, Agropecuária e de Prestação de Serviços de Ipatinga (Aciapi) e a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) também alertaram para as graves consequências econômicas e sociais caso a decisão do STJ seja mantida. Joaquim Cândido, presidente da AAPI, garantiu apoio institucional à Ternium, destacando o papel vital da Usiminas para o desenvolvimento do Vale do Aço.

Representantes políticos
Na esfera política, lideranças estaduais e federais se posicionaram. Celinho do Sinttrocel (PCdoB), deputado estadual, criticou a decisão judicial e pediu união para proteger o desenvolvimento regional. O deputado federal Domingos Sávio (PL-MG) e a deputada Rosângela Reis (PL-MG) destacaram a necessidade de revisão do caso para garantir empregos e estabilidade econômica.

A ex-vereadora de Ipatinga Cecília Ferramenta (PT) e o deputado estadual Ricardo Campos (PT) também reforçaram o apelo por providências urgentes, alertando sobre o impacto negativo para milhares de famílias da região.

"Os posicionamentos realizados confirmam que a Ternium não assumiu o controle da Usiminas em 2012, quando comprou parte do Grupo de Controle. A Ternium continua trabalhando para reverter a decisão, conclui a companhia siderúrgica", conclui a nota.

A CSN foi procurada e deverá se manifestar nesta quarta-feira (22).

Valor - SP   22/01/2025

Para a indústria siderúrgica global, o resto do mundo não é capaz de compensar a lacuna deixada pelo declínio da China

A demanda chinesa por aço e minério de ferro finalmente atingiu o pico. O setor prevê que a transição energética desencadeará um novo 'boom', mas ele será moldado pela competição geopolítica.

Ao acordar de um cochilo em sua mesa, Xiao, um comerciante de aço de Wuhan, na região central da China, reflete como, no final de um dos maiores booms da história econômica recente, ele tem sorte por ser um sobrevivente.

Cerca de metade de seus concorrentes neste parque industrial árido, erguido perto do local onde foram construídas as primeiras companhias siderúrgicas da China, faliram durante a crise imobiliária que assolou o país por três anos. O próprio parque é ofuscado pelo enorme esqueleto de um projeto imobiliário inacabado.

“O declínio foi bastante severo no primeiro semestre do ano passado”, diz Xiao, referindo-se ao preço do vergalhão, um produto de aço usado no setor da construção para reforçar o concreto. Uma guinada do governo em direção ao estímulo econômico, iniciada no quarto trimestre de 2024, ainda não conseguiu reaquecer o setor da construção, diz ele. “A demanda continua fraca.”

Wuhan é o berço da indústria siderúrgica da China, que aproveitou o desenvolvimento meteórico do país nas últimas décadas para se tornar o maior do mundo.

A escala do apetite chinês por aço tem sido épica. Segundo dados do governo, conforme a China ia construindo suas cidades, ela consumiu o dobro do metal nas décadas de 2000 a 2020 do que os Estados Unidos consumiram durante o século XX inteiro.

Essa enorme industrialização e urbanização, em um ritmo nunca antes visto pelo mundo, impulsionou um grande superciclo de commodities. Isso fez com que os preços de matérias-primas como minério de ferro e carvão para siderurgia disparassem, remodelando profundamente os setores globais de mineração e energia.

Mas esse superciclo, que começou a diminuir durante a pandemia de covid-19, finalmente chegou ao fim. No ano passado, a produção de aço da China caiu para o menor nível em quatro anos e deverá encolher novamente este ano. O consumo de minério de ferro pelo país, um ingrediente essencial na produção de aço e ferro, caiu no ano passado depois de atingir o pico em 2023, segundo a Macquarie. Há até mesmo alguns sinais de que a demanda chinesa por petróleo começa a atingir o pico — bem antes do que a maioria das previsões apontavam.

Steele Li, vice-presidente do conselho de administração da companhia de mineração CMOC, diz que o boom imobiliário que conduziu a economia chinesa acabou. “Aquele motor acabou e não acho que ele voltará. Portanto, a economia da China precisa encontrar um novo motor, com tamanho parecido”, diz Li.

Embora a demanda chinesa tenha se arrastado por vários anos, especialmente desde a pandemia, alguns esperavam que medidas de estímulo do governo levariam a um novo impulso. Mas a indústria de recursos naturais agora desistiu da esperança de um novo boom na construção, como os que acompanharam os pacotes de estímulos anteriores.

Os especialistas discutem sobre o momento exato sobre o pico da demanda chinesa. Mas, como diz Tom Price, chefe de estratégia de commodities da Panmure Liberum: “O superciclo de commodities da China definitivamente acabou”.

Para os países e empresas que surfaram a onda do superciclo chinês nos últimos 20 anos, essa é uma mudança profunda e, por vezes, dolorosa. “Será o fim de uma era? Parece que sim”, diz James Campbell, analista de aço da CRU, uma firma especializada em dados de commodities. Mesmo com as medidas de estímulo recentes, diz ele, “não há realmente uma maneira de turbinar ainda mais a demanda por aço”.

Dentro do setor, alguns executivos estão esperançosos de que o fim do boom da China esteja coincidindo com o começo de um novo ciclo. Investimentos enormes em energias limpas, na China e ao redor do mundo, prepararam as bases para outro ciclo de commodities, de um tipo muito diferente.

Essa próxima fase exigirá muito cobre para a construção de redes de eletricidade, centros de dados e energia renovável — assim como metais como lítio, cobalto e níquel para baterias para veículos elétricos.

“Estamos entre superciclos”, diz Peter Toth, estrategista-chefe da Newmont, uma mineradora de ouro listada nos EUA, que antes trabalhou na BHP e na Rio Tinto. “Estamos saindo do superciclo da China e ainda nos encontramos na ponta do próximo superciclo, que será conduzido pela eletrificação, a transição energética e a inteligência artificial.”

No entanto, se houver um novo boom das commodities, ele ocorrerá em uma economia mundial muito diferente — que está sendo moldada pela competição entre a China e os EUA.

O ciclo da China foi, de muitas maneiras, o apogeu da era da globalização: Pequim conseguiu acessar mercados abertos para alimentar sua economia com minério de ferro do Brasil, cobre da República Democrática do Congo e petróleo da Arábia Saudita. No entanto, a demanda no próximo ciclo estará mais espalhada geograficamente, com dezenas de países competindo pelas matérias-primas para construir suas próprias infraestruturas de energias renováveis e eletricidade.

Essa dinâmica significa que a competição por recursos escassos vai desempenhar um papel muito maior. Os países ocidentais já estão correndo para construir suas próprias cadeias de abastecimento, fora do controle chinês, para materiais críticos como o cobalto, o lítio e o cobre.

Sob o governo Biden, os EUA começaram a intervir em certos acordos de mineração na África, num esforço para direcionar o controle de commodities fundamentais para empresas aliadas dos EUA. As tensões políticas em torno do novo boom das commodities poderão ser tornar ainda maiores sob o novo governo de Donald Trump.

“O maior desafio no futuro é a geopolítica”, diz Li, da CMOC. “O mundo está ficando mais dividido. Esta é a questão fundamental.”

Menos aço e minério...

Quando o último superciclo começou, por volta de 2000, a escala da demanda pegou todos de surpresa. “A China chegou e mudou tudo completamente”, lembra Toth, o executivo do setor de mineração, que ingressou na BHP em 1994.

As gigantes mineradoras BHP e Rio Tinto divulgaram mais de US$ 100 bilhões em lucros operacionais, cada uma, durante o período de 2000 a 2020. Alguns no setor minerador brincavam dizendo que elas estavam tirando dinheiro do chão.

Mas agora, os fatores estruturais e demográficos que sustentaram aquele boom — a rápida urbanização e industrialização da China — se tornaram bem menos poderosos. Em uma base per capita, a China já ultrapassou o nível de consumo anual de aço dos EUA e outros países desenvolvidos. A grande migração para as cidades, na qual meio bilhão de pessoas se mudou de áreas rurais para as urbanas durante os anos do boom, começa a desacelerar.

“O pico do aço na China foi alcançado: estruturalmente não há crescimento realista na demanda por aço”, diz Marcus Garvey, chefe de estratégia de commodities da Macquerie Group. No futuro, ele acredita que a produção de aço da China ficará “em torno” dos atuais níveis de 1 bilhão de toneladas por ano, com as exportações ajudando a compensar a falta de demanda interna.

As rodadas anteriores de estímulo econômico da China – incluindo as de 2009, 2013 e 2016 — injetaram dinheiro na indústria pesada e na construção, estimulando a indústria siderúrgica repetidamente.

Mas desta vez é diferente. Começando no fim de setembro, Pequim anunciou uma série de medidas de estímulo voltadas para ajudar os governos locais a reduzirem suas dívidas, resgatar o mercado imobiliário e flexibilizar a política monetária. Embora algumas dessas medidas tenham sido direcionadas para a infraestrutura e o estímulo do consumo para evitar uma recessão econômica, nenhuma delas terá o mesmo grande impacto sobre o aço. De fato, a maioria dos economistas afirma que a China precisa reequilibrar sua economia em direção do consumo interno e do setor de serviços. Outro estímulo à construção focado no aço é exatamente o oposto do que é necessário neste ponto de seu desenvolvimento, argumentam eles.

“Houve muitos pacotes de estímulo ao longo dos anos que mantiveram a demanda por aço”, diz Campbell, o analista da CRU. “Mas o que vemos agora é que eles atingiram esse limite.”

Muitas siderúrgicas chinesas se voltaram para a exportação para tentar compensar a demanda interna mais fraca. No ano passado, as exportações de aço da China alcançaram 111 milhões de toneladas, o maior número em nove anos. Mas as tensões comerciais crescentes, inclusive com os EUA, significam que há pouco espaço para aumentar mais essas exportações.

Outras mudaram para produzir mais produtos de aços planos, que são usados nos setores automobilístico e industrial, e menos produtos de aço longo, usado no setor da construção. O setor manufatureiro, incluindo os automóveis, passou a representar quase metade da demanda chinesa por aço.

“Este ano, o setor industrial continuará sendo o principal motor da demanda geral por aço da China”, diz Vivian Yang, chefe editorial da MySteel, uma provedora de dados sobre commodities baseada em Xangai. “Mas ainda assim o setor imobiliário será um grande obstáculo.” Ela prevê que o consumo de aço da China cairá de 2% a 3% este ano, depois de uma queda de 3% no ano passado.

Algumas siderúrgicas tiveram que fechar suas portas completamente — e cerca de 50% das siderúrgicas chinesas estão perdendo dinheiro, segundo uma pesquisa conduzida pela MySteel este mês.

Na cidade de Ezhou, perto de Wuhan, uma grande siderúrgica privada chamada Hongtai Steel interrompeu a produção no ano passado. Quando o “Financial Times” tentou visitar a fábrica, uma recepcionista disse que “não há planos para retomar a produção”.

O lema da companhia, escrito em letras enormes no topo de seu prédio de escritórios, ainda remente a tempos mais felizes: “Gang De Shi Li, Tie De Xin Yu, o que quer dizer “Força de aço, integridade revestida de ferro”.

Para a indústria siderúrgica global, o resto do mundo não é capaz de compensar a lacuna deixada pelo declínio da China. Embora a demanda esteja crescendo na Índia, o segundo maior produtor mundial de aço, seu PIB ainda é apenas um oitavo do da China.

“O mundo precisa se acostumar com um crescimento menor”, diz Campbell, o analista da CRU. Ele prevê que o crescimento da demanda mundial por aço desacelerará para 0,6% ao ano entre agora e 2050, comparado a um crescimento anual médio de 2% nos últimos vinte anos.

...mais cobre

Os preços do minério de ferro, que têm apresentado tendência de queda, devem continuar caindo. Garvey, da Macquerie, prevê que o minério de ferro cairá para um preço médio de US$ 80 a tonelada no ano que vem, de cerca de US$ 140 a tonelada no começo de 2024.

Há um futuro para o minério de ferro, mas ele será diferente: a demanda deverá mudar para os graus mais altos do minério de ferro, usados em processos de fabricação de aço que apresentam emissões de carbono significativamente menores. Dentro da indústria siderúrgica chinesa, a desaceleração poderá finalmente fornecer o ímpeto para reduzir o excesso de capacidade que atormenta o setor há décadas, e acelerar a aposentadoria das siderúrgicas mais velhas e mais poluentes.

“Agora haverá um processo de equilíbrio entre a oferta e a demanda, encontrando um novo nível”, diz Toth, o executivo da Newmont. “O minério de ferro marítimo de baixa qualidade sairá do mercado e ficaremos com o de alta qualidade.”

Mesmo com as siderúrgicas enfrentando dificuldades, há sinais de esperança para aqueles no setor de recursos naturais de modo geral — especialmente quando se trata do cobre, o metal fundamental para a transição energética.

Perto de Wuhan, na cidade de Huangshi, que significa literalmente “pedra amarela”, os fabricantes de produtos de cobre nunca estiveram tão ocupados.

Huangshi tem uma longa tradição na produção de cobre — com evidências de mineração e fundição datando da Idade do Bronze — e é lar de várias grandes fundições hoje em dia. Em uma vista recente, um armazém pertencente à Youhe Copper estava cheio de caminhões carregando bobinas enormes de chapas de cobre, indo e vindo até tarde da noite. “Os negócios estão bons este ano”, diz um membro da equipe.

Fora da China, as companhias mineradoras que fizeram fortuna vendendo materiais para o boom imobiliário chinês têm se reorientado rapidamente para o que esperam ser um novo boom do cobre. No ano passado, a BHP fez um lance de 39 bilhões de libras pela Anglo American, principalmente para obter acesso aos seus ativos de cobre. E a Rio Tinto desembolsou quase US$ 7 bilhões para adquirir uma empresa de mineração de lítio, a Arcadium, para explorar a demanda por baterias de veículos elétricos.

Como a transição energética exige mais cabos elétricos, mais veículos elétricos e mais parques solares e eólicos, o aumento resultante de demanda será enorme. A demanda por cobre deverá aumentar 50% até 2040 e a demanda por lítio deverá crescer sete vezes até lá, segundo o Cenário Net Zero da Agência Internacional de Energia.

“A única razão pela qual esses caras estão criando essas estratégias é porque eles sabem que a demanda por minério de ferro da China atingiu o pico, e o setor para o qual o aço e o ferro foram direcionados – imóveis e construção – também atingiu o pico”, diz Price, da Panmure Liberum.

O novo ciclo não gira em torno da China, mas o país ainda é uma das forças motrizes. A China continua sendo o maior comprador mundial de muitas matérias-primas — e será a maior produtora de aço do mundo pelas próximas décadas. Seu domínio em materiais para baterias é ainda maior: ela controla dois terços do processamento mundial de lítio e cobalto.

Os minerais críticos para a transição energética frequentemente são mais de nicho do que as commodities que impulsionaram o boom imobiliário, e de menor valor em termos de tamanho de mercado. E a guerra comercial entre os EUA e a China está abrangendo um círculo cada vez maior de metais de nicho. Depois que os EUA implementaram controles de exportação à indústria chinesa de semicondutores, a China restringiu recentemente suas exportações de gálio e germânio — que são usados em certos semicondutores e aplicações de defesa.

Alguns executivos temem que a competição por recursos possa aumentar de forma perigosa. “Pessoalmente, acho que a próxima guerra será uma guerra por metais”, diz Hugo Schumann, um empreendedor do setor de mineração e executivo-chefe da EverMetal, uma firma de investimentos em reciclagem de Denver. “A China tem tanto poder porque consolidou toda a produção final desses metais.”

Mesmo que poucos cheguem a tanto, há um reconhecimento crescente de que a competição por recursos naturais moldará a nova era das commodities. “Há essa colisão entre o próximo boom dos minerais críticos e o aumento das tensões geopolíticas em quase todas as partes do mundo”, diz Thijs Van de Graaf, pesquisador de energia do Brussels Institute for Geopolitics.

Van de Graaf acrescenta que os comentários recentes de Trump sobre a Groenlândia e o Canadá têm grandes implicações para os minerais críticos. “Sob Trump, espero que as matérias-primas se tornem parte de um tipo mais transacional de geopolítica.”

Enquanto as companhias mineradoras veem motivos para otimismo, muitos executivos estão um pouco nostálgicos em relação aos anos de boom da China. “No seu auge, o superciclo da China no minério de ferro era algo que eu nunca tinha visto”, diz Toth. “E nunca mais verei em minha carreira.” (Tradução de Mário Zamarian)

ECONOMIA

Globo Online - RJ   22/01/2025

Um dólar mais forte, maior pressão inflacionária e juros mais altos. A posse de Donald Trump marca o início de um novo capítulo para a economia global e americana, afirma Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. Ainda é cedo, no entanto, para avaliar o tamanho do impacto da política protecionista do governo do Republicano, já que o decreto sobre as tarifas deve ficar para fevereiro. Trump vem falando, desde a campanha, em elevar a taxação sobre todos os produtos importados, mas recentemente indicou que começará com países como México, Canadá e China. Esse foco, avalia Sung, sugere que, em um primeiro momento, ele priorizará taxar produtos que possam fortalecer alguns setores da indústria norte-americana.

- Em nosso cenário, a adoção dessa política mais protecionista manterá o dólar fortalecido, pressionará os preços da economia e reduzirá a flexibilização da política monetária. Mas, novamente, a magnitude dos efeitos irá depender da intensidade das medidas a serem aprovadas. Os juros futuros estão subindo, muito por conta da perspectiva que o mercado acredita em mais inflação pela frente e o Banco Central americano, o Fed, vai ter menos possibilidades de flexibilização. Apesar disso, acreditamos em mais dois cortes na taxa básica de juros americana.

O economista Álvaro Bandeira, coordenador de Economia da Apimec, também aposta numa redução dos juros americanos no primeiro trimestre:

- Trump terá que gastar para reconstruir a indústria, perfurar petróleo e outras políticas que incluem redução de imposto. Isso preocupa pelo déficit fiscal alto dos EUA, mas pode haver controle pela eficiência, proposta da nova secretaria que ficará sob o comando de Elon Musk. De qualquer forma, temos que avaliar os próximos dias para ver a intensidade das medidas e implantação. Por aqui, a situação americana dificulta ainda mais a atuação do Banco Central e indica um ciclo mais longo de alta de juros e a inflação fora da meta em 2025 e 2026. Além disso, as medidas adotadas por Trump, como a retirada do Acordo de Paris, dificultam a implementação de projetos relativos às mudanças climáticas defendidos pelo governo Lula.

O economista Gustavo Sung lembra que, no passado, Trump impôs tarifas sobre o aço e o alumínio brasileiros, um movimento que pode se repetir. Essas ações visam aumentar o poder de barganha comercial dos Estados Unidos em relação ao Brasil, colocando o governo brasileiro na posição de ter que negociar para mitigar os impactos sobre exportadores nacionais.

- Por outro lado, uma guerra comercial entre EUA e China poderá abrir novas oportunidades, principalmente para o agronegócio brasileiro - avalia.

O Estado de S.Paulo - SP   22/01/2025

O ritmo de desaceleração da economia brasileira tornou-se um dos assuntos mais discutidos entre analistas, na semana passada, após os dados referentes a novembro da produção industrial, de vendas do varejo e de volume de serviços terem registrado queda acentuada, e também após alguns indicadores antecedentes já apontarem para outro recuo em dezembro.

Seria esse debate prematuro? Há motivo para considerar que os dados de novembro e a perspectiva para nova contração da economia em dezembro são suficientes para indicar uma tendência mais preocupante para o desempenho da atividade ao longo de 2025? E, se os números de dezembro vierem tão fracos como os de novembro, essa perda de fôlego poderia fazer o Banco Central hesitar em seu choque de juros para conter as expectativas inflacionárias?

Em novembro, a produção industrial caiu 0,6% ante outubro; as vendas do varejo recuaram 0,4%; e o volume de serviços contraiu 0,9%. Para dezembro, indicadores antecedentes da atividade registram queda: tráfego de veículos pesados em estradas com pedágio (-3,3%); expedição de papelão ondulado para embalagens (-4,2%); e vendas de veículos (-5,5%).

“Não há dúvida de que o aperto das condições financeiras em novembro e dezembro vai acarretar consequências, seja a depreciação do câmbio batendo na inflação, seja a alta dos juros afetando a atividade econômica”, diz o economista-chefe para Brasil do banco Barclays, Roberto Secemski. “Porém, isso leva tempo.”

Para Secemski, é preciso cuidado ao avaliar a contração nos dados de atividade de novembro. Exemplo: essa correção aconteceu após crescimento forte desses indicadores em setembro e outubro. “É natural que haja uma acomodação”, diz. Tanto que a média móvel trimestral desses dados ainda não acende um alerta.

Há ainda a questão do número de dias úteis em determinado mês, o que faz diferença nos resultados. Outubro de 2024 teve dois dias úteis a mais do que igual mês de 2023, enquanto novembro de 2024 teve um dia útil a menos na comparação com 2023. “O ajuste sazonal não necessariamente capta por completo os deslocamentos que a mudança no número de dias úteis pode causar no resultado”, diz Secemski.

Sem falar que, no caso das vendas do varejo, a “Black Friday” caiu bastante tarde no calendário (na última sexta-feira do mês) para os padrões dos consumidores. E mesmo com a queda geral no setor de serviços, os serviços prestados às famílias cresceram 1,7%. Com o mercado de trabalho ainda mostrando vigor, talvez seja cedo para o debate sobre o esfriamento da economia.

O Estado de S.Paulo - SP   22/01/2025

O diretor da Moody’s Analytics, Alfredo Coutiño, afirmou que o presidente dos EUA, Donald Trump, deve impor neste ano tarifas de 10% a bens importados do México e de 5% a produtos do Brasil. “Como contrapartida, os dois países devem adotar represálias semelhantes a importados dos EUA, que seriam de 10% pelo México e 5% pelo Brasil”, disse o diretor em webinar promovido pela empresa, subsidiária da uma das principais agências classificadoras de risco ao crédito no mundo.

O Bradesco fez projeções de uma eventual tarifa de 10% e também de 25% (leia mais abaixo).

A tarifa para o Brasil ainda é uma incógnita. No caso do México, assim como do Canadá, Trump afirmou que estuda impor uma tarifa de 25%, embora ainda não tenha confirmado esse porcentual — a expectativa é de que seja definido nos próximos dias para entrar em vigor em 1º de fevereiro.

Segundo Coutiño, caso confirmadas, as tarifas de 10% ao México e 5% ao Brasil devem impor pressões de desvalorização das moedas dos dois países e afetar o ritmo de crescimento.

“Neste contexto, o Brasil deve desacelerar o crescimento da economia em 2025, quando deve expandir 2,0%, devido ao impacto às suas exportações de tarifas adotadas pelos EUA e pela desaceleração do crescimento da China provocada pelas tarifas impostas pelos EUA.”

Para Alfredo Coutiño, no caso do México, a desaceleração seria de 1,5% em 2024 para 0,6% em 2025.

México defenderá a sua ‘soberania’, diz presidente

A presidente do México, Claudia Sheinbaum, afirmou, nesta terça-feira, 21, que buscará evitar confrontos com Trump, ao mesmo tempo que defenderá a soberania e os interesses da Cidade do México, ao negociar com Washington.

“Nós temos de evitar confrontos. É uma responsabilidade. Ao mesmo tempo, nos relacionar como iguais, nunca subordinados, defender nossa soberania (econômica e política), nossa independência e proteger os mexicanos e as mexicanas”, afirmou Sheinbaum em entrevista coletiva diária.

Sobre deportações em massa, Sheinbaum garantiu que o México oferecerá apoio integral aos cidadãos que retornarem. “Aqui são bem-vindos. Haverá pessoal do governo mexicano (para recebê-los). Eles terão imediatamente todos os apoios de bem-estar, afiliação ao Instituto Mexicano do Seguro Social e, caso queiram retornar à sua cidade de origem, haverá transporte e auxílio financeiro para o deslocamento. Além disso, todos os programas sociais estarão disponíveis, incluindo apoio para melhoria habitacional.”
Qual seria o impacto de tarifas de 10% ou 25%?

O Bradesco fez projeções de quanto seria o impacto em duas situações: se os Estados Unidos aplicarem sobre os produtos importados do Brasil uma tarifa de 10% ou uma de 25%.

No primeiro caso, o banco estimou o impacto na balança comercial brasileira em US$ 2 bilhões, o que contribuiria a uma depreciação cambial de cerca de 4%.

Caso as tarifas subissem para 25%, o efeito negativo chega a um valor estimado de US$ 5,5 bilhões sobre as exportações.

E se houver um novo acordo comercial EUA-China?

Os economistas do Bradesco apontam um segundo risco para o Brasil, um novo acordo comercial entre Estados Unidos e China. Nesse caso, a China passaria a comprar mais produtos americanos, com foco em commodities (matérias-primas) agrícolas.

As exportações de soja, um dos produtos mais embarcados pelo Brasil para a China, provavelmente seriam as mais comprometidas, com potencial perda de aproximadamente US$ 3,5 bilhões.

O relatório produzido pelo departamento de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco sobre o discurso e as primeiras medidas de Trump observa que o Brasil exporta cerca de US$ 40 bilhões para os EUA, numa pauta diversificada que tem como destaque aço, petróleo, aeronaves, papel e celulose e carnes.

Hoje, observa o Bradesco, a maioria das exportações brasileiras para os EUA não sofre nenhum tipo de taxação, exceção ao petróleo, que tem tarifa de 5% a 6%. Os impactos de barreiras levantadas por Trump contra o Brasil seriam espalhados no tempo.

Na análise sobre as primeiras declarações do novo presidente, o Bradesco pondera que o tom em relação à política comercial sugere que tarifas serão usadas como ferramenta de pressão, não necessariamente como medida imediata, ao menos por ora.

O Estado de S.Paulo - SP   22/01/2025

O Ministério da Fazenda estima que o pacote de contenção de gastos aprovado no fim do ano passado vai gerar uma economia de R$ 29,4 bilhões no Orçamento deste ano. O dado foi enviado ao Estadão/Broadcast e prevê o efeito para 2025 de cada medida aprovada.

Até então, a pasta só havia divulgado, em dezembro, o impacto do pacote somado para 2025 e 2026, de R$ 69,8 bilhões, sem isolar na publicação os efeitos para cada ano. Segundo a tabela mais recente, em 2026, as medidas irão poupar R$ 40,3 bilhões aos cofres públicos.

Os números foram enviados após o Estadão/Broadcast questionar a pasta sobre os efeitos individualizados do pacote fiscal. A apuração sobre o impacto de cada medida será necessária para a equipe econômica conseguir incorporar o conjunto das aprovações na votação do projeto de lei orçamentária de 2025, que ficou pendente do ano passado.

A adequação do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2025 ao pacote gera um desafio de credibilidade adicional neste ano, uma vez que especialistas de fora do Executivo e a equipe econômica ainda divergem sobre o sucesso das medidas e sobre projeções originais da proposta orçamentária, como as despesas com a Previdência e com o Benefício de Prestação Continuada (BPC).

Segundo a tabela enviada nesta terça-feira, 21, à reportagem, a maior fatia de economia esperada neste ano está nos ajustes das emendas parlamentares, com impacto de R$ 6,7 bilhões e R$ 7,7 bilhões para 2026.

Quando divulgou a metodologia dos cálculos em dezembro, a Fazenda justificou esses efeitos pela Lei Complementar 210 (sancionada em novembro), responsável por estabelecer que, para este ano, haverá limite de R$ 11,5 bilhões para emendas não impositivas – ou seja, não obrigatórias –, a ser reajustado pela inflação a partir de 2026.

O segundo maior efeito vem das mudanças no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que, segundo a pasta, abrirão espaço de R$ 4,8 bilhões no Orçamento de 2025 e de R$ 5,5 bilhões no próximo ano.

Porém, como mostrou o Estadão, esse espaço fiscal ainda não foi aberto, uma vez que o governo Lula assinou uma portaria definindo os valores do fundo para este ano sem incorporar as mudanças feitas pelo pacote.

Já a nova regra de reajuste do salário mínimo – que colocou o valor em R$ 1.518 em 2025 –, vai poupar R$ 3,8 bilhões para os cofres públicos neste ano e R$ 11,4 bilhões em 2026. A Fazenda espera ainda que os ajustes no Bolsa Família rendam R$ 1,6 bilhão neste exercício e R$ 2,4 bilhões no próximo.

Como mostrou a reportagem mais cedo, de acordo com fontes responsáveis pelo Orçamento, a equipe econômica está iniciando as discussões sobre a adequação da peça orçamentária ao pacote, inclusive sobre a necessidade ou não de envio de ofício ao Congresso para ajustar o Orçamento. Questionada sobre essa oficialização, a Fazenda disse ao Estadão/Broadcast que a competência de resposta não é da pasta.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem falado com frequência sobre a necessidade de o Orçamento ser adequado às medidas aprovadas no fim do ano passado. Mas, até o momento, nenhum detalhamento de como isso será executado foi divulgado.

CNN Brasil - SP   22/01/2025

A lista de prioridades da agenda econômica do governo federal para 2025 e 2026 está alinhada com as expectativas do mercado, mas não convence os agentes diante das dúvidas para a implementação das medidas, afirmam economistas consultados pela CNN.

Para os analistas, os principais gargalos estão na definição de metas tangíveis nos desenhos das políticas econômicas e em um diálogo efetivo com o Congresso Nacional para avançar as pautas propostas até as próximas eleições.

O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou uma lista com 25 pontos durante reunião ministerial com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta segunda-feira (20).

A lista é encabeçada pelo fortalecimento do arcabouço fiscal, para assegurar a expansão do Produto Interno Bruto (PIB), diminuir o desemprego, manter a inflação baixa e estabilizar a dívida pública.

Para André Matos, CEO da MA7 Negócios, as prioridades vão em linha com o que o mercado espera, sobretudo nas pautas de reforma tributária e do novo arcabouço fiscal.

“A disciplina fiscal, o estímulo ao crédito sustentável e a modernização do sistema tributário são bem vistos”, analisa.

Porém, a lista não foi suficiente para afastar temores dos analistas.

“O mercado continua cauteloso devido à necessidade de ações mais concretas e à imprevisibilidade política que pode impactar a execução dessas iniciativas”, completa.

Julio Ortiz, CEO e co-fundador da CX3, vê que a lista, por mais que significativa, não representa evolução na forma que o mercado enxerga as políticas econômicas do governo.

“Não vemos nenhuma evolução na administração das contas públicas, que gera stress nos mercados, e deve afetar crescimento, juro e inflação. As previsões para 2025 e 2026 têm deteriorado nas últimas semanas e as medidas anunciadas não devem ser suficientes para retomar a confiança perdida”, explica.

Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, o dispositivo é um item contraditório para estar na agenda de 2025 e 2026, uma vez que políticas adotadas enfraquecem o alicerce fiscal do Brasil.

“Nos últimos dois anos não houve um fortalecimento do arcabouço, que é mal desenhado e não consegue apresentar crescimento concreto. É o item mais problemático. Por mais que fale de estabilizar a dívida pública, o arcabouço entrega o oposto”, pontua.
Diálogo com Legislativo

No entanto, todos os especialistas consultados pela CNN destacam que será necessário um diálogo com o Congresso Nacional para aprovar medidas, como a reforma de renda e ampliação da isenção do Imposto de Renda.

O anúncio da reforma da renda junto com a apresentação do pacote fiscal ocasionou ruído no mercado financeiro.

A expectativa do governo é que projeto seja enviado ao Congresso Nacional em 2025, para que seja implementado a partir de 2026.

“Nós temos um Executivo que não tem uma boa relação com o Congresso e pode não conseguir avançar em certos itens da lista de prioridades de 2025 e 2026, que é um ano eleitoral”, destaca Vale.

Para Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, há pontos que podem ser considerados frágeis ou de execução delicada, como a proposta de reajuste do salário mínimo com um aumento real entre 0,6% e 2,5%.

“Embora seja uma medida socialmente relevante, sua implementação sem uma base de receitas consistente pode pressionar ainda mais as contas públicas. Além disso, com a ampliação da isenção do Imposto de Renda, apesar de positiva para a população, exige compensações fiscais claras para evitar desequilíbrios”.

Confira a lista apresentada por Haddad:
Fortalecer o arcabouço fiscal, para assegurar a expansão do Produto Interno Bruto (PIB), diminuir o desemprego e manter a inflação baixa e estabilizar a dívida pública;Iniciar a implantação da reforma tributária sobre o consumo;Regulamentar a reforma tributária: lei de gestão e administração do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), fundos e imposto seletivo;Reforma sobre a renda com isenção para quem ganha até R$ 5 mil e tributação sobre milionários;Limitação dos supersalários;Reforma da previdência dos militares;Projeto de lei da conformidade tributária e aduaneira, com valorização do bom contribuinte e responsabilização do devedor contumaz;Nova Lei de Falências;Fortalecimento da proteção a investidores no mercado de capitais;Consolidação legal das infraestruturas do mercado financeiro;Resolução bancária;Mercado de crédito: execução extrajudicial, consignado do E-social, uso de pagamentos eletrônicos como garantia para empresas e ampliação de garantias em operações de crédito (open asset)Regulamentação econômica das big techs;Modernização do marco legal de preços de medicamentos;Pé-de-Meia: permissão ao aluno investir em poupança ou títulos do Tesouro;Modernização do regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos e das parcerias público-privadas;Nova emissão de títulos sustentáveis para trazer recursos do fundo clima;Avanço na implementação do mercado de carbono, com governança e decreto regulamentador;Novos leilões do Ecoinvest;Compra pública com conteúdo nacional programa de desafios tecnológicos para a transformação ecológica;Estruturação do Fundo Internacional de Florestas;Conclusão da taxonomia sustentável brasileira;Política de atração de datacenter e marco legal da inteligência artificial;Plano Safra e Renovagro: aprimoramento dos critérios de sustentabilidade;Concluir o mapa e investimentos sustentáveis na BIP (Plataforma de Investimentos para a transformação Ecológica no Brasil).

Investing - SP   22/01/2025

Após dois anos de progresso na inflação e crescimento econômico persistente, o Federal Reserve se reunirá na próxima semana com um olho nas novas políticas do governo de Donald Trump e outro em um mercado de Treasuries que tem elevado os rendimentos, mesmo enquanto o banco central corta a taxa de juros.

Ambos representam possíveis desafios em uma economia em que a inflação tem se aproximado lentamente da meta de 2% do Fed, sem a recessão e o aumento do desemprego que algumas autoridades acreditavam ser necessário para que as pressões dos preços diminuíssem.

Em vez disso, a taxa de desemprego caiu para 3,4% e terminou 2024 em 4,1%, próximo do que muitos economistas acham que a economia pode suportar sem reacender as pressões dos preços; a inflação desacelerou para talvez meio ponto percentual da meta do Fed, enquanto as empresas criaram mais de 250.000 empregos em dezembro.

Esse pouso suave poderá enfrentar novos desafios nos próximos meses, com mudanças significativas na política comercial dos EUA, na imigração e em outras áreas, e com os investidores elevando os rendimentos da dívida do governo dos EUA e dos empréstimos ao consumidor, como hipotecas.

"O mercado de títulos parece incrivelmente frágil", com as taxas subindo cerca de um ponto percentual nos últimos meses e a taxa média da hipoteca de 30 anos atingindo novamente 7%, disse Mark Zandi, economista-chefe da Moody's Analytics, em um seminário sobre perspectivas econômicas no Travelers Institute na semana passada.

Embora o rendimento do Treasury de 10 anos na faixa de meados de 4% possa ser historicamente normal, "acho que há um risco significativo de que possamos ver taxas de juros de longo prazo muito mais altas", disse Zandi.

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O Fed deve manter a taxa de juros inaterada na faixa atual de 4,25% a 4,50% em sua próxima reunião de política monetária, em 28 e 29 de janeiro, depois de reduzi-la em um ponto percentual desde setembro.

Embora a declaração de política monetária possa sofrer pouca ou nenhuma alteração, o chair do Fed, Jerome Powell, em sua coletiva de imprensa após a reunião, poderá definir o tom para os próximos meses.

De fato, a incerteza estava em plena exibição na segunda-feira, quando o presidente Donald Trump foi empossado para um segundo mandato na Casa Branca. Ele prontamente cumpriu algumas promessas de campanha - emitindo decretos sobre segurança nas fronteiras e política energética, por exemplo - mas optou por não impor tarifas de importação.

O discurso de posse de Trump indicou que ele continua comprometido com alguma forma de regime tarifário, e suas promessas de campanha já aumentaram a incerteza para o Fed, uma vez que as autoridades se perguntaram quão abrangentes poderiam ser as novas tarifas e se elas desencadeariam o tipo de resposta dos países e setores visados que poderiam criar uma pressão inflacionária mais persistente.

De fato, semanas antes da posse de Trump, várias autoridades do Fed já estavam tentando levar em conta as mudanças de política previstas em suas próprias perspectivas, e o próprio Powell fez algumas referências à necessidade de uma abordagem "cautelosa" a partir desse ponto em sua coletiva de imprensa pós-reunião de 18 de dezembro.

Seja qual for o resultado e o cronograma, os rendimentos dos Treasuries já estão subindo de uma forma que pode se tornar uma restrição aos planos do governo Trump que incluem grandes cortes de impostos - algo com que os parlamentares republicanos já estão começando a contar - e um desafio para o Fed decifrar.

O Estado de S.Paulo - SP   22/01/2025

O governo Lula será obrigado a escolher entre dois caminhos ruins na economia e que terão efeitos negativos para o PT nas eleições presidenciais do ano que vem: deixar a inflação ficar acima do teto da meta ou ver o mercado de trabalho se deteriorar. Essa é a visão do economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, doutorado em economia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e professor titular aposentado do Departamento de Economia da PUC-Rio.

Para o economista, a escolha será pela inflação mais alta e, por isso, as estimativas da Genial apontam que o IPCA ficará acima de 7% em 2026, puxado pela valorização do dólar - que, na sua visão, pode chegar a R$ 7,20, - e pelo aumento de gastos no ano das eleições.

Na avaliação de Camargo, parte do ajuste fiscal será feito via aumento da inflação, porque isso diminui a dívida em termos reais - um cenário parecido com o que o Brasil viveu nos anos 80. “É um calote disfarçado, num certo sentido. Você está diminuindo o valor da dívida (com a inflação mais alta). Os possuidores da dívida, aqueles que comparam títulos com taxa de juros fixa lá atrás, vão perder”, afirmou.

Ele afirma que as fake news acerca do Pix mostraram que a perda de credibilidade no governo é generalizada. “É impressionante que o governo tenha de voltar atrás numa norma da Receita Federal devido às redes sociais. Isso mostra que as pessoas não estão acreditando efetivamente naquilo que o governo está falando.”

A seguir, os principais trechos da entrevista.
Qual a avaliação do sr. sobre o momento atual da economia?

Os investidores não acreditam que o governo vai fazer qualquer coisa importante para reduzir despesas ou pelo menos fazer com que elas parem de crescer. Isso gera pressão inflacionária. E uma parte grande do problema tem a ver com a política de aumento real (acima da inflação) do salário mínimo, que indexa gastos obrigatórios, transferências sociais.

Como reverter esse quadro?

O superávit primário que você precisa ter para reverter essa trajetória de aumento da dívida, que está crescendo 4 pontos porcentuais do PIB ao ano, precisaria ser da ordem de 2% do PIB. Hoje temos um déficit de 0,5% do PIB. Então, temos de fazer uma virada de 2,5 pontos só para parar o aumento. Obviamente que os investidores não acreditam que o governo vai fazer nada parecido com isso.

Qual a sua visão sobre o pacote de contenção de gastos anunciado pelo governo?

Ele é insuficiente até mesmo para parar o crescimento da dívida. Então, você me pergunta: o que precisaria fazer? A primeira coisa, a mais importante, é mudar a política de salário mínimo. Ela é insustentável no médio prazo, e os investidores estão colocando a valor presente esse risco. Por isso que a taxa de juros já está em 15% em todos os vencimentos.

O governo colocou um teto de 2,5% no crescimento real do salário mínimo. Não é suficiente?

Ter alta de 2,5% em termos reais significa somar com mais 5% de inflação. Dá 7,5% nominal, é insustentável. Então, é preciso uma taxa de juros maior para o investidor comprar títulos do governo. Caso contrário, o risco é muito grande.
Uma nova mudança no salário mínimo parece inviável politicamente. O precisaria ser feito?

Tirar o aumento real seria um ganho substancial para a confiança. Isso afetaria o preço de mercado, acho que imediatamente.
Ter pelo menos uma data para o fim da indexação?

Isso pode pode ter algum efeito, mas ainda assim o ideal seria começar logo. Quando o (ex-presidente Michel) Temer aprovou o teto de gastos (que limitava o crescimento das despesas pela inflação), a taxa de juros caiu à metade. O País gasta todos os anos entre 8% e 9% do PIB para pagar juros. Isso é obviamente insustentável em qualquer lugar do mundo.
O País já teve juros mais altos. Por que agora o efeito é pior?

Você tinha uma taxa de juros alta, mas a dívida era 40% do PIB. Agora, é 80%. E a expectativa dos agentes financeiros é de que isso vai continuar aumentando. Esse é o problema.

Tudo constante, o que vai acontecer?

Provavelmente o Banco Central, o Executivo e o Ministério da Fazenda vão entrar em um acordo e vão fazer com que o Banco Central aceite uma taxa de inflação um pouco maior do que a meta. Na nossa avaliação, a gente vai ter uma taxa de inflação de 5,7% em 2025 e de 7,2% em 2026. Ainda assim, o Banco Central vai reduzir a taxa de juros a partir de 2026. Vai fechar 2026 com uma taxa de juros de 13,25% ao ano.
Como ele justificaria isso?

O Banco Central vai aceitar uma taxa de inflação acima da meta para diminuir o crescimento da relação dívida/PIB, porque a dívida brasileira é denominada em reais. Nós não temos dívida denominada em dólares. Quando a taxa de juros real cai, a dívida cresce menos. Esse é o ponto importante.
Vira um ajuste via inflação?

É um calote disfarçado, num certo sentido. Você está diminuindo o valor da dívida. Os possuidores da dívida, aqueles que comparam títulos com taxa de juros fixa lá atrás, vão perder.

Mas o aumento dos juros não aumenta a dívida?

O Banco Central sobe menos o juro do que o necessário para levar a inflação para a meta. A inflação é maior que a meta. E isso reduz a taxa de juros real. Menos juros gera menos déficit público e reduz o volume da dívida real. O detentor da dívida perde a diferença.
É um pouco do que o Brasil fazia nos anos 1980?

Isso aconteceu também em 2021. Você tinha uma inflação próxima de zero e ela subiu para próximo de 10%. Essa aceleração inflacionária fez com que a dívida, com proporção do PIB, caísse. Além do fim do programa de ajuda emergencial, que reduziu despesas. Depois, ele voltou, mais próximo das eleições de 2022.
O aumento da inflação previsto pela Genial seria puxado pelo quê?

Pelo dólar mais alto e por uma política fiscal extremamente expansionista. Você já está com problema, por exemplo, de defasagem do preço de combustível. O nosso receio é que o governo passe a adotar outros instrumentos, que não a política monetária, para controlar preços, como aconteceu lá em 2012, 2013, 2014. Segurar combustível, preço de energia, compulsório, esse tipo de coisa que a gente conhece. Acho que é o grande risco neste momento.

E, tudo constante, o dólar bateria onde?

A nossa avaliação é de que a taxa de câmbio iria para R$ 6,50 no fim deste ano e chegaria a R$ 7,20 em 2026.
Como o sr. avalia a força do ministro Haddad depois da desidratação do pacote?

Acho que perdeu muita credibilidade. O governo, de modo geral. Conversando com os investidores, a impressão é que não querem o Brasil neste momento. Estão cansados. Os bancos estão diminuindo a nota do Brasil. O ambiente é bem negativo para a economia brasileira neste momento.
Como viu o episódio das fake news do Pix?

Mostrou que essa perda de credibilidade é generalizada no governo como um todo. É impressionante que o governo tenha de voltar atrás numa norma da Receita Federal devido às redes sociais. Isso mostra que as pessoas não estão acreditando efetivamente naquilo que o governo está falando.
Como avalia o cenário eleitoral sob essas condições econômicas?

A escolha para o governo não é muito fácil. Por um lado, você precisa fazer um ajuste fiscal duro para poder readquirir credibilidade e reduzir a taxa de juros que os investidores estão cobrando para financiar a dívida brasileira. Isso significa redução da taxa de crescimento, mais desemprego - o que é impopular. Por outro lado, o outro caminho é manter o cenário fiscal mais ou menos intocado, mas ao mesmo tempo gerar uma pressão inflacionária que vai fazer com que a taxa de inflação chegue a 7% ou 7,5% em 2026, que também é impopular. A pergunta que vai ter de ser respondida em 2026 é qual o caminho que o governo vai escolher. Se é mais desemprego e menos inflação ou se é mais inflação e menos desemprego.

Hoje, o caminho seria mais pela inflação?

No nosso cenário, a taxa da Selic sai de 15% para 13,25% em 2026. Você tem um aumento da taxa de inflação e queda na Selic. Isso é aquele cenário que eu estava falando em que você usa um pouco de inflação para diminuir o crescimento da dívida. Ainda assim, a dívida continua crescendo, mas a uma taxa menor; a taxa de crescimento desacelera em relação ao cenário inicial.
Como o Banco Central justificaria uma queda da Selic com a inflação fora da meta?

Se você conversa com os diretores do Banco Central hoje, eles dizem que vão perseguir a meta a qualquer custo. Mas você tem um problema de credibilidade envolvido nesse processo. Você tem de acreditar nisso, e os investidores não estão acreditando.
Estamos em cenário de dominância fiscal, ou seja, de perda de eficácia da política monetária?

Os juros ainda são um instrumento eficaz para controlar a taxa de inflação? Sim. Agora, você precisa de uma taxa de juros muito elevada para levar a inflação para a meta. A expectativa dos investidores é de que a taxa de juros vai chegar a 15%. Ainda assim, as expectativas para a inflação estão crescendo até 2028. Ou seja, os investidores não acreditam que 15% de Selic é suficiente. Isso é muito complicado.
O que o próximo governo eleito - seja o governo atual, seja a oposição - vai ter de fazer?

O que o Temer e o Bolsonaro fizeram. Quando o presidente Temer aprovou o teto do gasto, a taxa de juros caiu à metade. Em seis meses, sem fazer nada. Só a expectativa de que você ia ter um teto de gastos. E o que é isso? Isso é credibilidade fiscal.

Para isso dar certo, teria de acabar com todas as indexações?

Eu acho que uma coisa importante é acabar com a indexação do salário mínimo acima da inflação. Esse é fundamental. Se você não fizer isso, esquece. Aliás, também foi feito. O ex-presidente Bolsonaro fez exatamente isso: acabou com a indexação do salário mínimo acima da inflação, acabou com a correção de gastos de saúde e educação pela receita corrente líquida. O Lula é que voltou com isso com a PEC da Transição.
Mas como alguém vai ganhar a eleição com uma campanha defendendo fim do ajuste do mínimo?

A crise do governo Dilma foi tão grande que as pessoas estavam olhando pra trás e dizendo: não dá. E o presidente Bolsonaro foi eleito sem precisar dizer que ia acabar com algumas políticas. E aí, tem uma coisa que eu acho que é importante: os gastos sociais no Brasil são muito elevados, mas extremamente ineficientes. Eu acho que redesenhar os programas sociais brasileiros pode ser uma forma muito importante de você conseguir poupar dinheiro e melhorar o atendimento da população no que se refere a questões sociais.
O PT tem medo do efeito sobre o seu eleitorado de medidas impopulares, uma vez que hoje a oposição tem o controle da narrativa das redes.

Acho que essa campanha contra as redes sociais por parte do governo Lula é muito impopular; de que a rede é inimiga, que precisa controlar. As pessoas encaram como censura. Eu acho que eles estão fazendo tudo errado do ponto de vista de marketing. As redes sociais são uma coisa que todo mundo gosta.
Vocês preveem recessão em algum momento com a Selic indo a 15%?

A gente prevê desaceleração. A gente acha que vai ter uma desaceleração importante. A nossa estimativa de crescimento do PIB este ano é de 2,4%, e 1,8% em 2026. Tem de levar em consideração o fato de que a agricultura vai ser muito positiva em 2025. Então, essa desaceleração é muito ligada, principalmente, à indústria, e um pouco a serviços, que é o setor urbano da economia brasileira, que é onde estão os votos aí, do ponto de vista político, essa desaceleração pode ser bem ruim.

O dia do anúncio da isenção do Imposto de Renda de R$ 5 mil foi decisivo para essa perda de credibilidade?

Acho que se intensificou o processo de deterioração e de perda de credibilidade. O risco é o governo achar que não precisa fazer nada, e a hora que entender isso, já era. Existe um risco de perda de controle sobre o processo. E isso acontece; é só olhar a história do Brasil para gente ver que acontece com alguma frequência.

Infomoney - SP   22/01/2025

A China não busca um superávit comercial e está disposta a importar produtos e serviços mais competitivos e de alta qualidade para equilibrar o comércio, disse Ding Xuexiang, vice-premiê do país, nesta terça-feira.

Na 55ª reunião anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, Ding disse que a globalização econômica não é um jogo de soma zero, mas um processo de benefício mútuo e progresso compartilhado.

“O protecionismo não leva a lugar algum, e não há vencedores em uma guerra comercial”, disse Ding, chamando o multilateralismo de “o caminho certo para manter a paz mundial e promover o desenvolvimento humano”.

Os comentários de Ding foram feitos no momento em que as autoridades chinesas intensificam os esforços para estimular a economia em meio a preocupações com possíveis aumentos de tarifas dos Estados Unidos após a posse do presidente Donald Trump em 20 de janeiro.

Trump inesperadamente deixou de aplicar tarifas sobre a China em seu primeiro dia na Casa Branca.

MINERAÇÃO

Infomoney - SP   22/01/2025

Os contratos futuros de minério de ferro na bolsa de Dalian subiram pela nona sessão consecutiva nesta terça-feira, já que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não impôs imediatamente tarifas a parceiros comerciais. No entanto, ele manteve os investidores em alerta com seus planos tarifários, o que limitou os ganhos.

O contrato de maio do minério de ferro mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) da China encerrou as negociações do dia com alta de 0,56%, a 804,5 iuanes (110,57 dólares) a tonelada. No início da sessão, o contrato atingiu o valor mais alto desde 12 de dezembro de 2024, em 808 iuanes.

O minério de ferro de referência para fevereiro na Bolsa de Cingapura subia 0,99%, a 104,85 dólares a tonelada.
A produção média de metal quente entre 247 siderúrgicas de alto-forno na China aumentou em 1.100 toneladas por dia na semana, de acordo com dados da consultoria chinesa Mysteel.

As ações chinesas e o iuan subiram com cautela, com os investidores aliviados pelo fato de Trump não ter imposto tarifas imediatamente em sua posse, mas ainda sem apostar em uma diminuição das tensões entre EUA e China.

Apesar do alívio, Trump disse que estava considerando impor tarifas de 25% sobre as importações do Canadá e do México.

A Country Garden, que já foi a maior incorporadora imobiliária da China, viu suas ações saltarem até 30% com a retomada das negociações após uma suspensão de quase 10 meses, impulsionando o sentimento geral.

Enquanto isso, preocupações com o fornecimento de minério de ferro diminuíram com a reabertura do maior terminal de exportação a granel da Austrália, Port Hedland, no início da segunda-feira, depois que um ciclone tropical severo se afastou da região, disseram analistas do ANZ.

Além disso, a BHP, a maior mineradora de capital aberto do mundo, informou que sua produção de minério de ferro aumentou no trimestre encerrado em dezembro.

Exame - SP   22/01/2025

Especulações sobre a fusão de duas gigantes do setor de mineração, a anglo-australiana Rio Tinto e a suíça Glencore, têm dominado o noticiário neste começo de 2025. Na semana passada, a Bloomberg informou que as companhias estavam em estágios iniciais de negociação de uma fusão. A Reuters, por sua vez, publicou que a Glencore havia abordado a Rio Tinto no final do ano passado para discutir a possibilidade de fusão dos negócios. Segundo a agência, as conversas não estariam mais acontecendo.

Uma possível fusão entre a Rio Tinto, a segunda maior mineradora do mundo, e a Glencore, uma das maiores empresas de carvão do mundo, seria o maior negócio da história do setor de mineração. Juntas, as empresas teriam um valor de mercado de cerca de US$ 150 bilhões, ultrapassando a atual líder do setor, a BHP, que vale por volta de US$ 127 bilhões.

Apesar do escopo gigantesco da transação, analistas de mercado ouvidos pela CNBC se mostraram céticos quanto ao potencial de sucesso da fusão. Eles apontaram que há pouca sinergia entre os negócios: enquanto a Rio Tinto é conhecida por ser conservadora, a Glencore tem reputação de ser inovadora nas suas operações.

Do ponto de vista estratégico, a britânica poderia estar interessada nos ativos de cobre da empresa suíça, de olho na transição energética. No caso da Glencore, a transação seria um caminho para dar saída para seus grandes acionistas. Analistas apontam, no entanto, que a falta de interesse da Rio Tinto em carvão dificultaria a estruturação de uma fusão.

Transição energética

Grandes fusões no setor de mineração têm sido consideradas pelas empresas como parte de uma estratégia para se posicionar melhor na transição energética, especialmente com a expectativa de que a demanda por certos materiais dispare nos próximos anos. Entre eles, está o cobre, um metal altamente condutor, que é necessário para alimentação de veículos elétricos, turbinas eólicas, painéis solares e sistemas de armazenamento de energia.

Como tem sido complicado para as empresas de mineração iniciarem novos projetos, a aquisição de outra companhia que já explora o minério é a maneira mais rápida e eficiente de se posicionar no mercado.

No ano passado, por exemplo, a BHP fez uma oferta de US$ 49 bilhões pela rival Anglo American. Na época, a transação fracassou devido a problemas na estrutura do negócio, mas há uma expectativa no mercado de que uma nova oferta seja feita neste ano. Antes disso, em 2023, a BHP concluiu a aquisição da OZ Minerals para reforçar seu portfólio de cobre e níquel.

Especialistas acreditam que, independentemente do sucesso ou fracasso do negócio entre a BHP e a Anglo American, as conversas sobre fusões e aquisições irão recomeçar com força total em 2025. Para eles, a oferta da BHP no ano passado serviu como um catalisador para o mercado.

AUTOMOTIVO

Auto Informe - SP   22/01/2025

Dois mil e vinte e cinco será o ano mais importante das histórias de Honda e Nissan, isso porque a fusão entre as duas companhias pode criar o terceiro maior grupo automotivo do mundo – ficando atrás apenas de Toyota e Volkswagen – já que, só entre janeiro e outubro de 2024, elas venderam 5,66 milhões de unidades em nível global. As arquirrivais discutem abertamente o casamento, não em virtude de uma paixão shakespeariana, mas como única saída para não sucumbirem ambas à concorrência das novas marcas chinesas. Mesmo sendo uma espécie de “golpe do baú” consensual, há quem não acredite numa sinergia completa a tempo de evitar a bancarrota – pelo menos da Nissan. “Apesar de a Honda ter ampliado sua oferta de modelos híbridos, nenhuma das duas montadoras têm veículos elétricos (EVs) competitivos e o desenvolvimento de uma plataforma comum para este segmento levaria dezenas de meses para, efetivamente, se materializar”, avalia o analista sênior da gestora de investimentos Morningstar, especializada em serviços de fundos mútuos e pesquisas, Vincent Sun. “Consertar um negócio desta magnitude é muito custoso, além de ser uma corrida contra o relógio. E pode ser que não haja mais tempo para os fabricantes tradicionais”, pontua Sun.

Apesar de ter um papel bem menor que o de Honda e Nissan nessa costura, a Mitsubishi Motors (não confundir com a Mitsubishi Corporation e nem com a Mitsubishi Heavy Industries) entraria na igreja como uma espécie de pajem do casamento. Isso porque a Nissan é a maior controladora da Mitsubishi, com 24,5% de participação acionária, e essa condição vai tragá-la para a união, embora sem o status de nubente.

O brasileiro apaixonado por carros, que vive preso dentro da bolha negacionista, pode estar surpreso tanto com a possível fusão como com a análise de quem entende bilhões de vezes mais de indústria automotiva do que aquele seu primo sabichão. Mas alguns números podem ajudar até mesmo o mais alienado dos tupiniquins a entender o tamanho do desafio que ambas as marcas vêm enfrentando: há exatos dez anos, a Honda tinha uma capitalização de mercado de US$ 76,2 bilhões (o equivalente a R$ 460,1 bilhões), enquanto a Nissan valia US$ 46,2 bilhões (R$ 278,9 bilhões). Hoje, as duas montadoras não passam de US$ 43,1 bilhões e US$ 9,8 bilhões (R$ 319,3 bilhões), respectivamente, e valem, juntas, menos de a metade da Uber (US$ 145,3 bilhões ou R$ 877 bilhões), que é uma empresa de transporte por aplicativo.

Pior do que as perdas de capitalização – no caso da Nissan, a desvalorização chega a mais de 78% – ambas as marcas japonesas não conseguem remunerar seus investidores a contento. A gigante dos cosméticos Unilever, por exemplo, paga US$ 34,82 (o equivalente a R$ 210,26) de dividendos por ação, enquanto a Honda paga US$ 11,50 (R$ 69,45) e a Nissan, US$ 3,50 (R$ 21,13). Ou seja, se o sujeito der uma folga para sua paixão por carros e olhar as coisas, única e tão somente, pelo aspecto financeiro, jamais irá “empatar” seu suado dinheirinho em negócios que estão naufragando. “A Honda reportou uma queda de 15% no seu lucro trimestral e confirmou que vai reduzir sua força de trabalho, atestando que não há tempo a perder e que dificilmente vão alcançar as novas marcas chineses, que seguem avançando com muita velocidade”, pondera o membro executivo do Instituto de Pesquisa Itochu, de Tóquio, Sanshiro Fukao.

Plano incapaz

Outro especialista japonês, alerta para o risco de paralisia de toda a indústria nipônica. “No Japão, quase tudo se resume a automóveis e se o setor automotivo não se recuperar, todo o setor de manufatura vai entrar em crise”, prevê o economista sênior do Shinkin Central Bank Research Institute, Takumi Tsunoda. O país é a quarta maior economia do mundo e sua indústria automotiva, a mais importante em termos setoriais, já que responde por uma cadeia de suprimentos com cerca de 60 mil fornecedores e emprega cinco milhões de trabalhadores. “Infelizmente, não vivemos mais no tempo em que montadoras se uniam e aumentavam seus ganhos, por mera economia de escala. Um plano de reestruturação de cinco anos é, hoje, incapaz de ser posto em prática e não irá salvá-las da concorrência chinesa”, acrescenta Tsunoda.

A dúvida se resume a uma questão: a consolidação por meio de fusões trará competitividade para grupos norte-americanos, europeus e japoneses enfrentarem os EVs chineses?

A resposta parece ser um sonoro não, afinal, a própria Toyota defende o que vem chamando de multicaminho, uma visão em que automóveis híbridos, movidos a hidrogênio e veículos elétricos convivam num mesmo ecossistema de mobilidade. “Se, no futuro, nos concentrarmos apenas nos EVs, o desemprego nos segmentos de fornecimento e produção de motores a combustão será inexorável”, alerta o presidente da companhia, Akio Toyoda. Mas há outro problema, para o qual Toyoda ainda não tem solução, que é o desinteresse dos consumidores de Primeiro Mundo por carros tradicionais. O fato é que, na outra ponta da linha, o comprador se adapta rapidamente à digitalização dos EVs, a novos recursos e às funções de direção autônoma. Na prática, quem experimenta um veículo elétrico da nova geração passa a perceber os modelos comuns como produtos ultrapassados.

Assim, mesmo que o acordo entre Honda e Nissan (e Mitsubishi, de penduricalho) saia do papel – o que só seria concluído em agosto de 2026, portanto, daqui 18 meses – a derrocada frente os novos EVs chineses parece inevitável. “Ou desenvolvemos capacidade para enfrentá-los ou seremos derrotados, comercialmente”, reconhece o presidente-executivo (CEO) da Honda, Toshihiro Mibe. E no horizonte de Mibe, o fantasma do encolhimento é o que mais assombra. “Mesmo juntas, essas montadoras ainda terão custos de desenvolvimento muito altos para seus futuros EVs, além de maiores despesas de capital. Há, ainda, o risco de se tornarem empresas menores, com a perda da hegemonia em mercados como o sudeste asiático, onde os chineses fazem uma grande ofensiva. Por ora, essa ‘sobreposição’ não trará diversificação geográfica, mas vai resistir ao impacto tarifário prometido por Donald Trump, nos Estados Unidos”, pontua o analista sênior da Moody’s Ratings, Dean Enjo.

Como se vê, a fusão de Honda e Nissan pode tomar forma, até mesmo em curto prazo, de um abraço de afogados.

Infomoney - SP   22/01/2025

A Volkswagen alertou na terça-feira contra o “impacto econômico prejudicial” das tarifas que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está propondo sobre as importações do México, onde a montadora europeia opera uma grande fábrica.

Os comentários da gigante alemã do setor automobilístico, que já está lutando contra os altos custos e a concorrência chinesa barata, refletem a grande incerteza após ameaça de Trump de possivelmente impor tarifas de 25% sobre os produtos provenientes do México.

Embora uma decisão firme não tenha sido tomada, Trump disse que tais tarifas poderiam entrar em vigor a partir de 1º de fevereiro.

“O Grupo Volkswagen está preocupado com o impacto econômico prejudicial que as tarifas propostas pela administração dos EUA terão sobre os consumidores americanos e a indústria automotiva internacional”, afirmou porta-voz da Volkswagen em uma declaração enviada por email à Reuters.

“Valorizamos a colaboração e o diálogo aberto. O Grupo Volkswagen espera continuar sua parceria de longa data e construtiva com o governo dos EUA”, acrescentou porta-voz.

A fábrica de automóveis da Volkswagen em Puebla é a maior do México e uma das maiores do Grupo Volkswagen, produzindo cerca de 350.000 carros em 2023, incluindo Jetta, Tiguan e Taos — todos para exportação aos EUA.

Analistas da Stifel calcularam que cerca de 65% dos carros que a Volkswagen vende nos Estados Unidos deixariam de ser competitivos se fossem acrescentadas tarifas às importações mexicanas.

CONSTRUÇÃO CIVIL

O Estado de S.Paulo - SP   22/01/2025

Enquanto a Lei de Zoneamento e o Plano Diretor transformaram bairros da cidade de São Paulo nos últimos anos, especialmente no entorno de metrô, outras vizinhanças seguiram “congeladas”, em grande parte, pela mesma legislação. O objetivo era “reservar” esses locais até o desenvolvimento de regras para mudanças ainda mais profundas, para promover “novas centralidades” e uma “cidade compacta”.

A ideia é ter moradia, emprego, comércio e serviços próximos, reduzindo assim os deslocamentos pela cidade. Divergências variadas, judicialização e outros aspectos adiaram, porém, esse processo em pelo menos uma década.

Uma dessas vizinhanças abrange 15 milhões de m² no entorno do Rio Pinheiros, principalmente nos distritos Vila Leopoldina e Jaguaré, além de pequenos trechos do Butantã, Jaguara e Rio Pequeno, na zona oeste. Desde o fim de dezembro, a área recebeu novas regras e diretrizes para construções, intervenções, privadas e públicas, por meio do Plano de Intervenção Urbana (PIU) Arco Pinheiros.

O Estadão desenvolveu um mapa interativo que mostra todas as áreas abrangidas pela nova lei (confira ao fim do texto).

A nova lei cria sete novos “eixos de verticalização” nesses bairros, com incentivos municipais para prédios altos e de uso misto em vias estratégicas, como trechos das Avenidas Gastão Vidigal, Mofarrej e Jaguaré. Nessas quadras, desde a Lei de Zoneamento de 2016, o limite de altura para novas construções era mais restrito, como de 28 metros em várias partes. Essa delimitação desestimulava a transformação até a definição do PIU, o que demorou mais do que o esperado.

Na prática, trata-se de um “minizoneamento” especial, não só nas regras de construção, mas também ao indicar intervenções variadas no entorno, de responsabilidade do poder público, como obras de drenagem, abertura de vias em quadras consideradas muito grandes (pelo passado industrial) e criação de corredores verdes.

Com mais oferta de moradia, serviços e outras facilidades, a região poderia atrair até 80 mil moradores em 30 anos, segundo estimativas da Prefeitura. Há, contudo, divergências sobre a viabilidade desse número.

O plano foi desenvolvido em diferentes gestões na Prefeitura, sobretudo nas de Fernando Haddad (PT), João Doria (PSDB), Bruno Covas (PSDB) e Ricardo Nunes (MDB), com alterações ao longo de anos. O entendimento de todos é de que a área estava subutilizada para o seu potencial e desconectada do entorno, principalmente após a saída de parte das indústrias.

Em obras públicas, o PIU abrange a abertura de 20 ruas e avenidas (especialmente no caso de terrenos industriais muito grandes), o alargamento de nove vias (como as Avenidas Alexandre Mackenzie e José Maria da Silva) e a construção de duas pontes e três ciclopassarelas sobre o Pinheiros.

Também é prevista a criação de “corredores verdes”, de duas praças e a destinação de habitação de interesse social para parte da população de favelas locais. Além disso, a gestão Nunes prevê mudanças alinhadas com o futuro Plano Hidroviário, como a implementação de transporte fluvial do Jaguaré até a Vila Olímpia.
PIU vai conseguir transformar a região?

Para especialistas ouvidos pelo Estadão, o PIU é bem-vindo, mas há dúvidas quanto à sua efetividade na transformação do entorno. Um dos aspectos citados é que, em grande parte, depende da adesão de terceiros, o que inclui União, Estado e, principalmente, setor privado. Além disso, é um plano com resultados esperados a longo prazo, de 20 a 30 anos.

Grande parte das transformações é esperada por meio de obras e lançamentos do setor privado na região (com estímulos para comércio no térreo e outras características desejadas pela gestão municipal). Mesmo as intervenções públicas devem ser majoritariamente custeadas pela arrecadação da taxa cobrada do (outorga onerosa) no entorno.

Em 2019, a São Paulo Urbanismo (vinculada à Prefeitura) estimou que os investimentos públicos necessários seriam de mais de R$ 870 milhões. Do total, cerca de 40% para moradias de interesse social e 40% para as obras de mobilidade e acessibilidade, enquanto o restante seria para os demais tipos de intervenções. A receita esperada era de R$ 753 milhões.

Há, porém, dúvidas sobre se o mercado vai aderir à nova lei: o Secovi-SP (que representa grande parte das construtoras e incorporadoras) considera que os índices para o cálculo da outorga na região estão caros, por exemplo. Isto é, o PIU correria o risco de “encalhar”, sem alcançar seus objetivos.

Já a gestão Nunes argumenta que os valores da outorga advêm de estudo econômico, calculado com base em bairros com características similares (como Água Branca e Lapa). Também destaca que parte dos recursos poderá vir de outras fontes.

Por outro lado, análises técnicas feitas no próprio âmbito da Prefeitura indicaram, em 2019, que os cerca de 80 mil novos residentes estimados no PIU seriam um número “superestimado”. Isso se deveria a dificuldades de atração de pessoas de bairros mais afastados, expectativas de estagnação da população da cidade em poucos anos e o comportamento do mercado.

“Os adensamentos populacionais propostos estão muito acima das maiores densidades encontradas em distritos consolidados, atrativos e bem servidos de infraestrutura, alguns dos quais enfrentando atualmente sérios problemas de mobilidade”, diz o parecer da Coordenadora de Planejamento Urbano.

No documento, indicava-se uma revisão de regras também por questões ambientais. Parte se refere a grande parte do PIU abranger a várzea do Rio Pinheiros, alterada pela canalização e mudança do curso, o que tornou a drenagem no local “mais complexa”. “Essa obra de engenharia foi muito extensa e todo o entulho lançado nos meandros e às margens do rio proporcionam condições adversas para escavações e obras de arte (como pontes) muito próximas da calha”, continua.

Além disso, as novas regras dividem opiniões entre moradores e entidades. Por envolver trechos da várzea do Rio Pinheiros, um dos aspectos abordados na fase de participação popular foi que parte dessas áreas é mais suscetível a inundações e afundamentos e considerada de baixa (ou nenhuma) aptidão para a urbanização — conforme a Carta Geotécnica (disponível em mapa interativo do Estadão).

Associações de bairros vizinhos também têm posição contrária, como do City Butantã e Alto de Pinheiros, com a alegação de impactos para além do que a região e o entorno comportariam em infraestrutura. Ademais, parte da lei foi alterada por causa do polêmico projeto da “Nova Raposo”, que ocorrerá em áreas próximas e cuja empresa responsável foi selecionada em novembro. A Prefeitura diz, porém, que a obra do Estado passará por discussões para se alinhar ao PIU.

‘Falta urbanidade’ na região, diz gestão Nunes; lei facilita criar polo tecnológico junto à USP

A lei é voltada a estimular o aumento populacional e a diversidade de atividades na região. Também pretende preservar as indústrias ainda em atividade e potencializar polos tecnológicos, especialmente nas proximidades da Cidade Universitária.

Estima-se que cerca de 90% do território tem uso não residencial, com áreas subutilizadas após a migração de grande parte das indústrias para outros municípios, principalmente a partir da década de 2000. Por anos, o zoneamento dificultou a construção de moradias regulares em partes desses bairros, indicados para outras atividades.

A nova lei indica o desejo de saída ao menos parcial da Ceagesp e a transformação desse espaço em “distrito de inovação”, para incubadoras, startups e afins. Essa possibilidade depende, contudo, do governo federal (responsável pelo entreposto), que não tem indicativo nesse sentido e, recentemente, tirou a Ceagesp do programa de desestatização.

Presidente da São Paulo Urbanismo (responsável pelo desenvolvimento de grande parte do PIU), Pedro Martin Fernandes aponta que a lei envolve área estratégica e que precisava de melhor “urbanidade”. Outro aspecto é que a cidade já vem se aproximando de seus rios, com ações de despoluição e outros projetos do Estado e do Município.

Ele avalia que a permanência da Ceagesp não interfere na efetividade do plano, embora considere que o novo entreposto previsto para Perus (Nesp) e o Rodoanel Norte possam reduzir paulatinamente as atividades do local a longo prazo. “Sair totalmente, creio que nunca vá sair. Seria ruim para a memória da cidade. Mas, reduzir, creio que está acontecendo.”

Uma das principais alterações no PIU antes da aprovação final foi o ajuste em regras construtivas em duas quadras da esquina da Avenida Escola Politécnica com a Marginal do Pinheiros, que dão mais flexibilidade na altura (48 m) e nas dimensões dos novos edifícios. As mudanças foram a pedido do governo estadual, que integra um grupo de instituições que desenvolve um distrito tecnológico para aquele entorno, o que inclui IPT, USP, Ipen e Instituto Butantan.

As atividades desse distrito em parte já existem nessas instituições, mas devem ser expandidas, com novos laboratórios e outros espaços, destaca Vahan Agopyan, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado e ex-reitor da USP. “O PIU é importante para o desenvolvimento do distrito de inovação, e também para um entorno mais amigável e aberto.”

O secretário avalia que a área está “isolada”, não só fisicamente, mas também de oferta de alimentação, serviços e outras atividades que fortalecem a dinâmica desses espaços, que atraem pesquisadores e especialistas de diferentes locais.

Ao todo, quatro grupos de trabalho atuam no projeto desde junho. Quando as atividades se expandirem para o local, algumas instalações administrativas do Estado precisarão sair. “(Poderá ter), por exemplo, laboratórios com segurança muito maior do que temos hoje”, aponta Agopyan.
O que mais prevê a lei? Quais são os eixos estratégicos?

O PIU exige padrões para novos empreendimentos. Nos “eixos estratégicos”, por exemplo, requer calçadas largas (de ao menos 5 metros) para diversos casos, assim como estimula o comércio no térreo dos prédios e outros padrões construtivos que incentivam maior conectividade com o entorno.

Além disso, por ser área de passado industrial, as novas ruas e avenidas são consideradas necessárias para “fatiar” quadras muito grandes. O atual desenho hoje dificulta o deslocamento de pedestres e isola diferentes partes da vizinhança, com “ilhas monofuncionais”.

Em termos de deslocamento, entende-se que os bairros do PIU têm potencial, em parte pela presença de estações de trem e corredores de ônibus. Além disso, espera-se o fortalecimento da mobilidade por bicicleta e a pé, assim como o fortalecimento e a ampliação da oferta de transporte coletivo.

Os eixos estratégicos são:
Av. Dr. Gastão Vidigal (trecho entre R. Henri Bouchard e R. Manoel Velasco até R. Major Paladino);Av. Mofarrej (trecho entre Av. Dr. Gastão Vidigal e R. Xavier Kraus);R. Xavier Krauss (trecho da Av. Dr. Gastão Vidigal até Av. Dra. Ruth Cardoso);Av. Jaguaré (da Pte. Jaguaré até Av. Kenkiti Simomoto)Av. Kenkiti Simomoto (da Av. José Maria da Silva até Av. Escola Politécnica)Av. Onofre Milan/Av. Mal. Mario Guedes (da Av. José Maria da Silva até Av. Mal. Mario Guedes, 2 - após obra de prolongamento da Av. Mal. Mario Guedes);Av. Escola Politécnica (da Av. Eng. Billings até Av. Kenkiti Simomoto)
O que dizem especialistas e mercado imobiliário?

Dos 96 distritos de São Paulo, Jaguaré e Vila Leopoldina não tiveram tanto incremento populacional na última década. No Censo 2022, em comparação ao 2010, estão respectivamente, em 33º e 47º em taxas de aumento, conforme microdados compilados pela Prefeitura. Já o Butantã ficou entre os últimos colocados, com queda no total de moradores.

A transformação dessas áreas é debatida há décadas. Na gestão Haddad, com o nome de Arco do Futuro, foi avaliada uma PPP para esse e outros entornos de rios (como o Tietê), inspirada no Porto Maravilha (Rio de Janeiro). Mas um decreto em 2016 indicou a elaboração dos PIUs, que foram desenvolvidos nos anos seguintes, principalmente na gestão Doria/Covas.

Após mudanças, o projeto de lei foi enviado à Câmara Municipal em 2019. Foi travado por uma liminar judicial (especialmente pela falta de estudo de impacto ambiental), mas teve a tramitação liberada em 2022. Obteve aval em 1ª votação naquele ano e, no fim de 2024, foi apreciado em definitivo pelos vereadores em meio a um “pacotão” de projetos urbanísticos — incluindo o que flexibilizou o limite de barulho do PSIU no entorno de shows e grandes eventos.

Coordenador do Laboratório de Projetos e Políticas Públicas da Mackenzie, o urbanista Valter Caldana vê o PIU como avanço, mas limitado diante das necessidades da capital. Ele avalia que a nova lei é “frágil”, pois envolve regras gerais, enquanto a efetividade prática será em escala distinta, do empreendimento imobiliário, dentro do que tiver adesão ou não do mercado.

“Uma cidade se desenha e, depois, se escreve. Mas, historicamente, o que ocorre é o contrário”, lamenta o professor. “Não se pode demonizar o investimento privado: a cidade foi construída assim. Mas precisamos entender que cabe ao privado fazer o papel do privado, e ao poder público fazer o papel do público, com mentalidade pública, de trazer o público para a escala do empreendimento”, explica.

Consultor em planejamento urbano, Marcelo Ignatios avalia que a aplicação da lei enfrentará desafios. Um dos maiores envolve a habitação para a população de baixa renda que mora em favelas (algumas em área de risco) no perímetro e a contenção do mercado imobiliário irregular.

“Um PIU é de longo prazo, pinga e pinga lentamente, mas há (necessidades nesse território com) urgência maior”, salienta. “Você passa pela marginal e vê que a favela está cada vez maior. É um problema habitacional”, diz.

Já o coordenador executivo da vice-presidência de Assuntos Legislativos e Urbanismo Metropolitano do Secovi-SP, Eduardo Della Manna, considera que os PIUs são importantes para distribuir a transformação da cidade, hoje em grande parte concentrada nos “eixos de transporte” (entorno de metrô, trem e corredor de ônibus). Ele analisa que o Arco Pinheiros tem uma localização estratégica, mas que a outorga cobrada para empreendimentos na região pode manter o mercado imobiliário em outras áreas.

“(Os custos) Estão muito altos, não são competitivos: é um território que ainda precisa ser qualificado”, argumenta. “Entendo que, com esses fatores, teremos problemas na viabilização de empreendimentos e no interesse de empreendedores de atuar nesse setor. Não vai acontecer tão rapidamente sem a Prefeitura fazer investimentos”, justifica.

Ele também defende que o PIU deveria ter fixado padrões menos restritivos, de modo a permitir prédios altos em mais quadras e com maior área construída. Além disso, considera que o poder público deveria discutir incentivos fiscais (não somente urbanísticos), especialmente a fim de potencializar a atividade econômica naquele entorno.
O seu endereço está no PIU Arco Pinheiros? Busque em mapa interativo

Todos os endereços dentro do PIU ganham classificações específicas, similares a um “zoneamento”. Os endereços voltados às maiores transformações são chamados de T2, com aval para construções sem limite específico de altura e com quatro vezes a metragem do terreno (excluindo o que não é “computável” por ser estimulado por lei, como comércio no térreo).

Já as áreas de “qualificação” têm padrões medianos, com altura máxima entre 28 metros e 48 metros, no geral. Por fim, há áreas voltadas à “preservação” das características atuais, com limites entre 10 metros e 28 metros, a depender da classificação.

As novas classificações das áreas que estão no PIU Arco Pinheiros estão disponíveis a seguir, em mapa interativo desenvolvido pelo Estadão. A ferramenta foi desenvolvida a partir da versão em PDF da lei e de microdados do projeto de lei. Também permite a busca por endereço.

 

Valor - SP   22/01/2025

A Country Garden, que já foi uma construtora chinesa líder, se tornou uma das maiores devedoras da história. Várias grandes construtoras na China enfrentam o risco de liquidação

Um projeto habitacional paralisado iniciado pela endividada construtora chinesa Country Garden deixou compradores de imóveis na cidade central chinesa de Loudi em apuros.

"Se a casa não estiver pronta, meu filho não poderá se casar", disse um homem que é um dos compradores.

O pai visita o canteiro de obras quase todos os dias para verificar o andamento, mas não há fim à vista. Na China, é comum que a família do noivo prepare uma nova casa para a noiva antes do casal se casar.

"A outra família não concorda com o casamento porque a casa não está pronta", lamentou.

Loudi é uma cidade do interior, com uma população de 4,45 milhões. A construção do empreendimento habitacional foi interrompida por volta do verão de 2023.

No início de janeiro, um carrinho de mão quebrado estava sem uso na lama. Uma vala para um cano de gás foi deixada inacabada.

Uma mãe, que deu seu sobrenome como Zhang, comprou uma unidade por aproximadamente 1,5 milhão de yuans (US$ 205 mil) no empreendimento porque era perto de uma escola. Liderados por essa mulher, os compradores de imóveis se uniram para fazer uma petição ao governo local até três vezes por mês para que a construção seja retomada.

A construção foi reiniciada por um tempo. Mas a Country Garden, sem dinheiro, enviou apenas alguns trabalhadores para o local, o que pareceu a alguns uma performance para evitar protestos.

"Há mais proprietários preocupados que vão ver o local do que trabalhadores", disse Zhang.

Outro comprador de imóveis frustrado, de sobrenome Wu, juntou-se para pedir às autoridades que concluíssem a construção o mais rápido possível.

"Nosso governo local promete que será concluído até o final de março, mas foi adiado várias vezes até agora, então acho difícil de acreditar", disse Wu.

A Country Garden, que já foi uma construtora chinesa líder, se tornou uma das maiores devedoras da história. Várias grandes construtoras na China enfrentam o risco de liquidação.

As vendas de 200 grandes grupos imobiliários caíram quase 30% no ano passado, uma queda de 70% em relação ao pico de 2020.

Em toda a China, 745 milhões de metros quadrados de projetos de construção estão paralisados, de acordo com uma estimativa do banco suíço UBS. Isso equivale a 7,45 milhões de casas de 100 metros quadrados cada. Se três pessoas morassem em cada casa, isso afetaria cerca de 22 milhões de pessoas.

O governo local respondeu às reclamações dos cidadãos dizendo que as compras de casas eram "atividade especulativa", disse Zhang.

O governo central da China, sob o comando do presidente Xi Jinping, disse que as casas são para os moradores morarem, não para investimentos especulativos. Restrições mais rígidas a empréstimos e outras áreas são vistas como tendo ajudado a desencadear a crise imobiliária da China.

"Só queríamos um lugar para morar", disse Zhang. "Não havia nenhum sentimento especulativo."

NAVAL

A Tribuna - SP   22/01/2025

O túnel Santos-Guarujá, no Porto de Santos, cujo leilão deverá ocorrer neste ano, é um dos empreendimentos estratégicos do Plano Setorial Portuário (PSPort) lançado pelo Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) em dezembro. O PSPort tem como meta a modernização e o desenvolvimento dos portos públicos até 2035, com investimentos em infraestrutura, logística e multimodalidade, alavancando a economia doméstica e a competitividade no mercado externo. O plano está ligado ao Planejamento Integrado de Transportes (PIT) do Governo Federal.

Juntamente com PSPort, o Governo Federal anunciou os planos setoriais de hidrovias e aeroportos, com metas escalonadas. Portos e hidrovias, até 2035. Aeroportos, por sua vez, até 2052. Os planos setoriais estabelecem diretrizes com metas claras para acelerar investimentos em obras públicas por meio da integração entre os setores público e privado, englobando o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

A carteira de ações do PSPort reúne 892 empreendimentos contemplados em 110 iniciativas e que demandam mais de 2 mil obras. O túnel Santos-Guarujá encabeça a lista de projetos estratégicos, todos contemplados no PAC.

Em linhas gerais, o Plano Setorial Portuário relaciona ações estratégicas e prioritárias voltadas à modernização sustentável nos portos, da gestão à operação, transitando por pessoal, infraestrutura, principalmente de acesso, ampliando a capacidade de recebimento e transporte de carga, incluindo a integração de modais de transporte por meio da multimodalidade. O documento lista uma série de objetivos.

As estratégias iniciais são voltadas aos pilares de sustentação do setor portuário, como gestões mais modernas nas administrações dos portos, melhoria da governança, zoneamento sustentável das áreas portuárias, interagindo com o meio ambiente, estruturar e consolidar setores de gestão ambiental, segurança e saúde no trabalho, revitalizar áreas portuárias com foco na interação entre porto e cidade e melhoria da eficiência dos serviços prestados por órgãos federais anuentes.

Para infraestrutura, o plano direciona ações para adequação de canais de acesso e berços de atracação de navios dos portos organizados, aproveitamento e modernização de áreas em consonância com os Planos de Desenvolvimento e Zoneamento Portuário (PDZ) e manutenção da infraestrutura e das instalações para atender à demanda de carga.

Quanto aos serviços, o PSPort versa sobre serviço adequado nos acessos aos portos, incentivo à cabotagem, iniciativas de inteligência logística na gestão de acesso aos portos, descentralização de competências para exploração indireta das instalações portuárias nos portos organizados, incentivo à concorrência e à competitividade na cabotagem, estímulo à indústria naval para atender à cabotagem e revisão da vinculação das políticas de navegação de cabotagem às de construção naval.

OBJETIVOS

Estimular a inserção e manutenção de investimentos e práticas sustentáveis nos portos e nas instalações portuárias Modernização do trabalho portuário Investimentos e iniciativas voltadas à inovação nos portos e instalações portuárias Incentivar a formação, a capacitação e a qualificação de marítimos nacionais Melhorar a eficiência operacional e logística do sistema portuário Ampliar a oferta do transporte por cabotagem Melhorar a qualidade do transporte por cabotagem Ampliar a disponibilidade de frota à navegação de cabotagem Incentivar o afretamento de embarcações para atender cargas em tipo, rota ou mercado ainda não existentes ou consolidados na cabotagem brasileira e os investimentos portuários realizados por meio de contrato de uso temporário, para atendimento dessas cargas

PETROLÍFERO

TN Petróleo - RJ   22/01/2025

O governador Carlos Massa Ratinho Junior visitou nesta segunda (20) a sede da Compagas, em Curitiba, onde conheceu os planos de investimentos da companhia para os próximos anos. Até 2029, serão investidos R$ 505 milhões pela companhia com o objetivo de interiorizar e expandir a rede de distribuição, dobrando o número de clientes atendidos, de acordo com o Plano Estadual do Gás.

A visita contou com a presença do presidente do Conselho de Administração do Cosan, Rubens Ometto Silveira Mello, o diretor-presidente da Compass, Antonio Simões Rodrigues Junior, e do CEO da Compagas, Rafael Lamastra Junior, entre outros executivos do grupo. Desde 2024, a Compagas é uma empresa privada, sob controle acionário da Compass, integrante do Grupo Cosan. Essa foi a primeira visita oficial do novo corpo diretivo a Curitiba após a aquisição.

Atualmente, a Compagas tem 58,7 mil clientes no Paraná, com um volume de 712 mil metros cúbicos por dia e uma rede de mais de 900 quilômetros. Com os planos de ampliação dos próximos cinco anos, o número de clientes deve chegar a 65 mil. A concessão de 30 anos foi separada em seis grandes ciclos de investimentos no Estado.

“A expansão desta rede eleva as condições de desenvolvimento do Paraná, principalmente com foco na interiorização do gás. É muito importante ver a evolução de um setor tão estratégico quanto este, porque isso, na prática, resulta em mais investimentos, mais infraestrutura, mais empregos e renda nos municípios atendidos”, afirmou Ratinho Junior.

A rede atual da Compagas atende 16 municípios entre a Região Metropolitana de Curitiba e Campos Gerais. Com os investimentos, serão construídos mais de 460 quilômetros de novas redes de distribuição de gás canalizado, expandindo a rede para mais cidades, incluindo Maringá e Londrina, nas regiões Norte e Noroeste. O início das obras está marcado para este primeiro trimestre. Outra novidade é a ligação entre Lapa e Araucária.

“Nós percebemos um boom de desenvolvimento e investimentos em cidades onde a nossa rede está instalada, como é o caso de Ponta Grossa. A presença da rede de gás permite isso, e estes investimentos vão levar isso a outras regiões também”, afirmou o CEO da Compagas, Rafael Lamastra Junior. “E além das indústrias, atualmente os condomínios residenciais e os novos investimentos imobiliários já estão conectados à rede, promovendo ganho para todos os envolvidos”.

O Plano Estadual do Gás ainda prevê a inclusão do biometano no portfólio de suprimentos da companha, com o desenvolvimento de corredores sustentáveis por várias regiões do Estado.

Concessão

Os investimentos apresentados fazem parte do plano total de R$ 2,5 bilhões previstos no contrato de concessão da companhia para os próximos 30 anos. Até 2054, a Compagas prevê ampliar em 122% a rede canalizada com a construção dos novos gasodutos.

Com o plano de inclusão do biometano nos negócios da companhia, a empresa prevê atender todas as 10 mesoregiões do Paraná. A ideia é integrar a rede de distribuição às principais áreas produtoras do Estado, viabilizando o escoamento do combustível renovável por meio de dutos.

O plano também atende a vocação regional na produção de biometano a partir da suinocultura. Hoje, o Paraná é o segundo maior produtor de porcos do Brasil, com mais de 3 milhões de unidades abatidas por trimestre. Com programas de incentivo do Governo do Estado, como o RenovaPR, os produtores podem investir com juro zero em usinas próprias para geração do biometano a partir dos dejetos dos animais. Atualmente, são mais de 400 plantas instaladas pelo Estado.

Novos dutos

Do plano de investimentos anunciado, R$ 108 milhões serão usados para a construção de 52 quilômetros de gasoduto entre Araucária e Lapa, passando por Contenda, na Região Metropolitana de Curitiba. A estrutura vai atender a um importante complexo agroindustrial da região, incluindo uma planta do Grupo Potencial, que deve ser o maior complexo de biodiesel do mundo a base de óleo de soja.

Em Londrina e Maringá, o plano prevê investimentos de R$ 100 milhões até 2029, na construção de mais de 60 quilômetros de rede. A estrutura vai atender os segmentos industriais das duas cidades, além de mais de 3 mil clientes residenciais. Para o ciclo seguinte de investimentos, entre 2029 e 2032, a Compagas também prevê uma ligação direta entre as duas cidades. Prospera: Paraná terá programa de capacitação em ODS para lideranças locais

Presenças

Também estiveram presentes na reunião o superintendente-geral de Energia do Governo do Estado, Cássio Santana; o diretor-presidente da Raízen, Nelson Roseira Gomes Neto; o CEO da Commit, Renato Fontalva; e o vice-presidente de Relações Institucionais, Comunicação e Sustentabilidade da Compass, Adriano Nogueira Zerbini.

Money Times - SP   22/01/2025

Os preços do petróleo estenderam as perdas pela quarta sessão consecutiva com os investidores calibrando os efeitos do governo Trump, após a sinalização de que os Estados Unidos devem aumentar a produção do óleo nos próximos anos.

Os contratos mais líquidos do petróleo Brent, referência para o mercado internacional, para março, caíram 1,17%, a US$ 79,29 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE), em Londres. O barril ficou abaixo de US$ 80 pela primeira vez desde 10 de janeiro.

Já os contratos do petróleo West Texas Intermediate (WTI) para março registraram baixa de 2,01%, a US$ 75,83 o barril, em New York Mercantile Exchange (Nymex).

O que mexeu com o petróleo hoje?

O petróleo estendeu as perdas ainda repercutindo movimentos da véspera (20). Ontem, Donald Trump, disse que declarará uma emergência energética nacional, prometendo preencher reservas estratégicas e exportar energia norte-americana para todo o mundo, durante a cerimônia de posse à presidência dos Estados Unidos.

A declaração de emergência é apenas uma das muitas ações que Trump deve tomar para impulsionar as indústrias de petróleo, gás e energia dos EUA e frear os esforços do governo anterior, do presidente Joe Biden, para acelerar a indústria de veículos elétricos.

Trump, que prometeu ampliar a perfuração de petróleo e gás sob o slogan “drill, baby, drill”, também deve assinar uma ordem executiva com foco no Alasca.

Nesta terça-feira (21), o republicano sugeriu a possibilidade de taxar a Europa caso o bloco não amplie as compras de petróleo dos EUA.

Caso a ampliação da produção de petróleo nos EUA aconteça, o mercado projeta um excesso de oferta neste ano, depois que a fraca atividade econômica e os esforços de transição energética pesaram na demanda nos principais países consumidores, como a China.

Em segundo plano, a commodity seguiu pressionada pelo alívio nas tensões no Oriente Médio com o acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo palestino Hamas, que entrou em vigor no último domingo (19).

No fim de semana, o Hamas libertou três reféns israelenses, como parte da primeira fase de seu acordo de cessar-fogo com Israel.

Além disso, o grupo extremista dos Houthis afirmou que vai reduzir os ataques a embarcações comerciais e navios ligados a Israel, com o cessar-fogo em Gaza seja totalmente implementado.

RODOVIÁRIO

IstoÉ Dinheiro - SP   22/01/2025

A principal ligação rodoviária entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais, BR-040, vai ser relicitada no dia 30 de abril. O edital de concessão prevê ainda a finalização do trecho chamado de Subida da Serra, que leva à Petrópolis, na região serrana fluminense. As obras estão paradas há mais de oito anos.

O aviso de leilão foi publicado no Diário Oficial da União da última segunda-feira (20). O edital foi aprovado na sexta-feira (17) pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

O edital prevê investimentos mínimos obrigatórios de R$ 8,8 bilhões, sendo R$ 5 bilhões em infraestrutura e R$ 3,8 bilhões na operação, o que inclui o pagamento de salários, por exemplo. O trajeto para exploração da iniciativa privada soma 218,9 quilômetros (km), formado por três trechos:

– Trecho mineiro da BR-040: do entroncamento com a antiga União e Indústria (Bairro Triunfo), em Minas, até a divisa com o Rio.

– Trecho fluminense da BR-040: da divisa até o entroncamento com a BR-116/RJ (Trevo das Missões), no Rio de Janeiro.

– Rodovia BR-495/RJ: do entroncamento com a BR-040/RJ em Itaipava até o entroncamento com a BR-040/RJ no Rio de Janeiro.

Essa última parte engloba a finalização das obras da subida da serra de Petrópolis, iniciadas em maio de 2013 e paradas desde julho de 2016, por desentendimentos entre a Companhia de Concessão Rodoviária de Juiz de Fora – RJ (Concer) e a União, que representa o governo brasileiro no contrato de concessão.

Primeira concessão

A Concer, empresa do Grupo Triunfo, administra o trecho Rio-Juiz de Fora da BR-040 desde 1996. O prazo de exploração terminaria em 2021, mas a empresa conseguiu a prorrogação na Justiça, alegando desequilíbrio no contrato, ou seja, gerava prejuízo à companhia, por causa da obrigação de realizar as obras. A Concer diz que cerca de 50% da construção foi executada.

Os três trechos a serem relicitados passam por ao menos nove municípios fluminenses e mineiros, onde moram 1,8 milhão de pessoas.

De acordo com o relatório de sustentabilidade da concessionária, o trecho concedido registrou a passagem de 25,1 milhões de veículos pagantes de pedágio em 2023. A arrecadação foi de R$ 259 milhões. No entanto, o ano terminou com prejuízo de R$ 11 milhões.
Leilão

O estudo de viabilidade econômica da concessão foi aprovado pelo Ministério dos Transportes. O processo de relicitação foi iniciado pela ANTT em 2021, contou com audiência pública e foi aprovado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em novembro de 2024.

De acordo como a ANTT, o trecho a ser explorado pela iniciativa privada é também relevante na rodovia radial que faz a ligação entre Brasília e Rio de Janeiro.

O leilão será realizado na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo. Os concorrentes têm até 25 de abril para apresentar as propostas. A expectativa do governo é realizar a assinatura do contrato com a parte vencedora em 15 de agosto de 2025.

A concorrência pública será disputada no modelo de envelopes fechados – quando os candidatos não tomam conhecimento da proposta de concorrentes – e será considerado vencedor o que oferecer maior desconto sobre a tarifa de pedágio. No edital, o valor está estipulado em R$ 0,35513/km (valor referenciado a janeiro de 2023).

“Estamos com uma expectativa muito positiva sobre esse certame. Temos recebido interesse de diversos atores do mercado que estão estudando o projeto, e estamos confiantes de que haverá uma competição interessante na B3” afirmou o diretor da ANTT, Felipe Queiroz.
Intervenções

A empresa que arrematar a concessão precisará fazer obras de infraestrutura e prestação dos serviços de recuperação, manutenção, conservação, operação, monitoração, implantação de melhorias, manutenção do nível de serviço e ampliação de capacidade do sistema rodoviário.

O projeto de concessão prevê intervenções como 13,1 km de duplicação; 86,6 km de faixas adicionais; 11,7 km de ciclovias; três túneis; 14,6 km de vias marginas; 13 correções de traçado; 13 viadutos e 12 passarelas.

Em relação à finalização da Subida da Serra de Petrópolis, estão previstas três faixas de tráfego por sentido e finalização de três túneis, incluindo um com 4,618 km de extensão. A conclusão deverá ser entregue até o sexto ano de contrato.

Na expectativa do Ministério dos Transportes, a nova operação desafogará o trânsito na região metropolitana do Rio de Janeiro e na Subida da Serra de Petrópolis.

Entre BH e Juiz de Fora

Outro trecho da BR-040, entre Belo Horizonte e Juiz de Fora, foi concedido à iniciativa privada em abril de 2024. ((https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2024-04/consorcio-infraestrutura-mg-vence-leilao-de-relicitacao-da-br-040))

O consórcio Infraestrutura MG, do Grupo EPR, venceu o leilão, ficando responsável pela administração e modernização do percurso de 232,1 km por 30 anos. O desconto sobre a tarifa básica de pedágio apresentado foi de 11,21%.

Grandes Construções - SP   22/01/2025

Com 2,4 quilômetros de extensão, começaram a ser construídas as fundações para a duplicação da ponte Engenheiro Gilberto Paim Pamplona, considerada a maior do estado de São Paulo.

O investimento é de R$ 350 milhões e a entrega está prevista para agosto de 2026. As intervenções são supervisionadas pela Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp).

A estrutura, que atravessa o Rio Tietê e conecta as cidades de Novo Horizonte e Pongaí, localizadas no centro-oeste paulista, receberá 124 estacas, sendo 112 dentro do rio e as restantes incorporadas às cabeceiras. A duplicação é executada ao lado da atual estrutura, no sentido leste da Rodovia Dr. Mário Gentil (SP-333), entre os quilômetros 229,960 e km 232,400

Para erguer a nova ponte, a Entrevias, responsável pelo empreendimento, irá utilizar vigas pré-moldadas de concreto e, também, o método construtivo de Balanços Sucessivos em seu vão central de 125 metros, o qual garantirá a manutenção da navegação da Hidrovia Tietê-Paraná.

A obra demandará mais de 3,9 mil toneladas de aço e cinco mil caminhões de concreto. Atualmente, 130 trabalhadores estão envolvidos no projeto, cujo número poderá chegar a 250.

De acordo com Paulo Negreiros, diretor de Engenharia da concessionária, a obra vem sendo planejada há anos e será executada dentro dos mais elevados padrões de engenharia.

“Em conjunto com os mais de 100 km de duplicações que já estão em execução, a ponte tornará a nossa rodovia mais segura e confortável para os nossos clientes”, afirma o diretor.

Para a execução do projeto, são utilizadas balsas e embarcações de apoio. Todos os equipamentos necessários para a obra ficam nessa estrutura de apoio náutico, como o guindaste com o martelo de cravação de tubos que fazem parte das estacas, por exemplo, além de outros equipamentos para limpeza da tubulação, armação e concretagem das estacas

Cuidados ambientais na obra da ponte - As balsas são posicionadas no local exato para cravação dos tubos, também chamados de “camisas metálicas” que servirão de forma para execução das estacas. Após a cravação, é feita a limpeza das camisas e inserção da “gaiola” de armação e a concretagem de baixo para cima, expulsando a água ali contida.

O cuidado ambiental é primordial na execução da obra. Todo material retirado de dentro dos tubos, água e solo é lançado em uma barcaça para a separação. Após a decantação, o solo é levado para análise e encaminhado para o descarte em local adequado, fora do leito do rio.

Além disso, em outubro de 2024, a Entrevias iniciou o trabalho de manejo da fauna aquática nas duas cabeceiras da ponte visando preservar as espécies que ali ocorrem. Para o afugentamento dos peixes é feito o cercamento de quadrantes com mantas em geotêxtil para conter a entrada e saída dos animais. O isolamento ocorre em etapas, de quadrante em quadrante, por toda a margem do rio no espaço em que a obra será executada.

Após o cercamento, os veterinários e biólogos fazem o afugentamento com redes, de forma que as espécies presentes nos quadrantes não sejam impactadas, assim, as que ali ainda estiverem, são retiradas e encaminhadas para fora do quadrante.

Durante as etapas da obra, pouco antes da execução do aterro, as áreas isoladas são afugentadas novamente com redes. Com isso, caso algum animal seja localizado, será resgatado e solto.

Valor - SP   22/01/2025

Em 2025, estão previstos leilões com potencial de investimento de R$ 72 bi; cenário é desafiador, mas analistas veem avanço de projetos

A alta de juros e a disparada do câmbio das últimas semanas têm demandado uma revisão dos projetos de concessões rodoviárias no país. Entre as mudanças em estudo pelos governos estão elevar a taxa de rentabilidade dos contratos, espaçar os investimentos e aumentar as tarifas de usuários.

Apesar do cenário mais desafiador, a expectativa entre agentes do mercado e estruturadores é que os leilões deverão prosseguir, embora com necessidade de ajustes. Para 2025, já há ao menos 20 certames previstos, entre projetos federais e estaduais, com potencial de investimento da ordem de R$ 72 bilhões. Se incluídas as repactuações de contratos, que também devem destravar, novas cifras se somarão à conta.

“O investidor de infraestrutura vai ser mais seletivo, vai demandar retornos mais altos, mas ainda existe demanda. Tem projeto bom, vai atrair investidor, seja financeiro, seja estratégico”, afirma João Auler, responsável por infraestrutura no UBS BB.

O governo federal, que tem ao menos sete leilões rodoviários programados para o ano, já sinalizou que, caso a taxa de juros se estabilize em patamar superior ao atual, a taxa interna de retorno dos projetos também deverá subir, para elevar a atratividade.

“Hoje, já trabalhamos com taxas de retorno de dois dígitos. Quanto maior o risco do projeto, maior o retorno. E isso está diretamente vinculado aos juros de curto prazo, então a gente consegue fazer essa adequação. Os projetos vão refletir os juros”, afirma Guilherme Sampaio, diretor da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), que deverá assumir o comando do órgão.

O investidor vai ser mais seletivo, vai demandar retorno mais alto, mas há demanda”

— João Auler

No governo de São Paulo, estão em análise medidas adicionais para viabilizar projetos de infraestrutura. “O principal ponto é a atualização de preço [dos investimentos e custos]. As empresas cobram uma atualização cada vez maior com a inflação alta e a variação de câmbio”, diz Rafael Benini, secretário de Parcerias de Investimentos de São Paulo. O governo paulista tem a meta de fazer dez licitações neste ano, entre mobilidade urbana, rodovias, escolas e prédios administrativos.

Segundo ele, os estudos para as três concessões rodoviárias que o Estado planeja leiloar em 2025 estão bem mais apertados diante do cenário macroeconômico. O plano é licitar o lote Paranapanema, a Rota Mogiana e o Circuito das Água, que deverão somar cerca de R$ 13 bilhões em obras.

“A Paranapanema é uma PPP [Parceria Público-Privada], então deve aumentar a participação de aporte do Estado. As outras duas são concessões plenas [sem injeção de recurso público], e a conta para fechar está difícil por causa do aumento de preço. O que acabamos fazendo é jogar investimento mais para frente, criando um segundo ciclo de investimentos. Está bem apertado”, diz ele.

Outra mudança em avaliação é enxugar os blocos da Rota Mogiana e do Circuito das Água, retirando parte dos trechos rodoviários operados pelo Estado. Os dois projetos são fruto da relicitação da Renovias, concessão que chega ao fim em 2026. Para o novo contrato, o governo paulista decidiu dividir o lote e agregar novos trechos, ainda não concessionados - em uma lógica “filé com osso”, para atrair investimento a novas áreas. Porém, diante da dificuldade de fazer a conta fechar, parte das estradas pode ser retirada. A avaliação deverá ser feita durante as consultas públicas, que devem sair em fevereiro e no fim de março.

O governo mineiro, que tem a meta de licitar cinco concessões de rodovias neste ano, também já adequou seus dois projetos rodoviários que estão em fase mais avançada, as concessões do Vetor Norte e do lote Ouro Preto-Mariana, que deverão ser leiloadas no primeiro semestre. “Por conta do cenário, já calibramos a taxa de retorno”, diz Pedro Bruno, secretário de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias de Minas Gerais.

Mesmo com a perspectiva de novos aumentos de juros nos próximos meses, ele avalia que o patamar das taxas de retorno - que estão alinhadas com as praticadas pelo governo federal - está adequado, mas também não descarta novos reajustes. “Os juros de curto e longo prazo têm curva diferente, estamos monitorando. Naturalmente, se passar de certo patamar, temos que calibrar. Até a publicação do edital pode ter ajuste se necessário, mas estamos bem otimistas.”

Para Camillo Fraga, sócio da consultoria Houer, que atua na estruturação de projetos, um efeito dessa revisão das propostas deverá ser o aumento das tarifas cobradas dos usuários, para viabilizar os retornos maiores. “O cenário tende a gerar uma menor disputa nos leilões e possivelmente a inviabilidade de alguns projetos. O exercício que os governos vão ter de fazer é voltar à prancheta, aumentar tarifa e ver se o projeto para de pé”, afirma.

Apesar do maior custo da dívida, Auler, do UBS BB, não vê dificuldade para que os grupos consigam financiamento. “Ainda não vemos um impacto no mercado de dívida. O mercado de crédito de debêntures continua muito ativo. Há uma reprecificação, mas é uma volta à normalidade, porque no ano passado estava com ‘spreads’ muito apertados. O dinheiro está lá, não tem falta de liquidez. A dúvida é se o investidor do ‘equity’ vai ter interesse, o quanto a conta vai fechar.”

Auler avalia que o cenário impacta tanto os operadores consolidados, que já têm uma carteira de concessões em fase de obras, quanto os novos atores com perfil mais financeiro. “Quando os juros sobem, o lucro das empresas listadas diminui, porque eles já têm a dívida deles, então há impacto sobre o capital disponível. Para as gestoras, é um movimento mais atrativo porque é uma forma de entrar no projeto em momento de volatilidade. Se assumir que vai voltar a ter normalidade, quando o projeto estiver maturando, deve ter reprecificação lá na frente. Porém, para levantarem capital em fundo novo, é mais difícil.”

Para Rafael Marchi, sócio-diretor da A&M (Alvarez & Marsal) Infra, o aumento dos juros e do dólar não deve travar os leilões. “O que pode acontecer são revisões de modelagem. Mas isso não deve arrefecer o mercado. Um ou outro pode sofrer impacto, tornando-se menos atrativo, mas os leilões vão continuar.”

Gustavo Gusmão, sócio da EY para o setor de governo e infraestrutura, também não enxerga hoje um freio na onda de leilões. “Vão ter lances menos agressivos, menos concorrência, mas isso não vai impedir a licitação de novos projetos. Porém, se o cenário continuar a piorar nos próximos seis meses, um ano, a precificação deve começar a ficar mais difícil.”

Valor - SP   22/01/2025

Em 2024, o mercado viu a entrada de grupos como a 4UM (antiga J.Malucelli), a plataforma formada por Kinea e Engeform e a Azevedo e Travassos

A proliferação de leilões de rodovias gerou uma onda de novos investidores no setor, movimento que deverá prosseguir neste ano. Em 2024, o mercado viu a entrada de grupos como a 4UM (antiga J.Malucelli), a plataforma formada por Kinea e Engeform e a Azevedo e Travassos.

Para este ano, ainda há novos atores por vir: o BTG vem tentando conquistar seu primeiro contrato no setor, a XP e o Opportunity também já disputaram leilões, e outros grupos se preparam para investir no segmento, seja via leilões ou aquisições, como a Aenza, da IG4 Capital.

“Tem mais grupos por vir. Há muitos fundos interessados e também grupos de empreiteiras e usuários, donos de carga, empresas de transporte de passageiros se formando em blocos”, afirma Guilherme Sampaio, diretor da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), que deverá assumir o comando do órgão.

Para Viviane Esse, secretária nacional de transporte rodoviário, a expectativa é que os grupos que já disputaram leilões em 2024 sigam ativos nas concorrências, e que novos atores passem a participar, em especial grupos financeiros.

No setor privado, a percepção é que o mercado rodoviário vive um ciclo raro de oportunidades. “São muitos leilões, é uma janela que não existe para sempre. Ao fim de 2025, se o governo tiver sucesso, quem quiser entrar vai ter que comprar ou esperar outro ciclo”, diz Leonardo Boguszewski, presidente da 4UM, que em 2024 conquistou a concessão da BR-381 em Minas e disputou outros leilões.

“Há muita oferta de projetos e não tanta demanda do ponto de vista do capital, diante de um mercado de investimento debilitado no Brasil. Isso abre oportunidade de entrar em um mercado menos competitivo e fazer boas operações”, afirma Paulo Mattos, sócio da gestora IG4 Capital.

Para ele, a onda de projetos federais é o principal gatilho para o atual ciclo. “Há um movimento claro do governo federal, que sempre teve um posicionamento mais dúbio. Hoje, o ministério está fazendo um trabalho estruturado, buscando capital fora do país”, diz.

Boguszewski destaca outros dois fatores. “Muitas concessões existentes venceram e agora estão sendo novamente licitadas. O segundo ponto é a situação fiscal do país, que impede por completo o poder público de fazer frente a grande parte dos investimentos.”

No ano passado, o governo federal fez o leilão de sete concessões rodoviárias, que juntas somaram R$ 48 bilhões de investimentos. Além disso, o governo de São Paulo realizou outras três licitações do setor, com mais R$ 21 bilhões de obras contratadas.

Em 2025, estão agendados dois leilões, de sete contratos, para o primeiro trimestre. Em 27 de fevereiro, o governo federal planeja licitar a chamada Rota Agro Norte, que inclui o trecho da BR-364 entre Porto Velho e Vilhena (RO), com obras estimadas em cerca de R$ 6,5 bilhões. Em 14 de março, o governo de Mato Grosso marcou a licitação de seis lotes, que juntos deverão somar R$ 7,7 bilhões.

Os governos brasileiro e argentino também correm para leiloar a nova concessão da ponte de São Borja-São Tomé. Houve uma primeira tentativa em janeiro, que foi suspensa por medida cautelar do Tribunal de Contas da União (TCU). O governo trabalha para reverter os questionamentos.

Ao longo do ano, o Ministério dos Transportes também prevê leiloar diversos outros contratos, como o corredor entre Juiz de Fora (MG) e Rio de Janeiro, além dos lotes 4 e 5 de rodovias do Paraná.

Na carteira de projetos estaduais também estão previstas licitações do governo paulista - o Lote Paranapanema, a Rota Mogiana e o Circuito das Águas -, do Rio Grande do Sul, com o leilão do Bloco 2 de rodovias do Estado, e Minas Gerais tem como meta fazer cinco leilões rodoviários neste ano. Dois deles estão mais adiantados e deverão ser realizados no primeiro semestre, dos lotes Vetor Norte e Ouro Preto-Mariana.

AGRÍCOLA

Exame - SP   22/01/2025

O retorno do republicano Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos oferece uma oportunidade — mesmo que limitada — às exportações do agronegócio brasileiro para a China, segundo análise divulgada pelo Santander nesta terça-feira, 21.

De acordo com o banco, as oportunidades para o setor brasileiro podem se concentrar em produtos como soja, milho e no setor de proteínas, incluindo carne bovina, suína e de aves. Esses são segmentos nos quais a China já é uma grande compradora do Brasil, mas que podem ganhar mais força diante de uma nova guerra comercial entre EUA e China.

Além da China, outros mercados também podem se beneficiar do fortalecimento do comércio agrícola brasileiro. Para José Luiz Pimenta Júnior, diretor de Comércio Internacional e Relações Governamentais na BMJ Associados, o Brasil assume uma posição estratégica para países que buscam reduzir sua dependência de fornecedores tradicionais, como os EUA.

“A diversificação das fontes de importação cria uma oportunidade para o agronegócio brasileiro expandir sua participação de maneira seletiva e direcionada”, afirma Pimenta.

Segundo o Santander, no entanto, será necessário acompanhar as respostas da China diante de possíveis medidas tarifárias adotadas por Donald Trump. O banco aponta que o impacto dessas ações dependerá de como o país asiático reagirá a eventuais aumentos de tarifas sobre produtos agrícolas.

O agronegócio brasileiro, por sua vez, precisa estar preparado para aproveitar as oportunidades enquanto busca estratégias para fortalecer sua presença em mercados globais.
Soja brasileira

No caso da soja, principal commodity do Brasil, as atenções estão voltadas para o potencial de exportação do grão brasileiro. Segundo analistas, o cenário atual pode emular, de maneira bem mais comedida, o que ocorreu durante o primeiro mandato de Donald Trump na Presidência dos Estados Unidos.

Na época, a política de protecionismo contra a China adotada por Trump trouxe benefícios significativos para a soja brasileira.

O mandatário implementou medidas, como o aumento de tarifas, que prejudicaram a relação comercial entre Estados Unidos e China. Em resposta, o país asiático intensificou as importações do grão brasileiro, consolidando o Brasil como seu principal fornecedor.

As ações protecionistas resultaram em um declínio nas exportações agrícolas dos Estados Unidos, enquanto o Brasil registrou um crescimento expressivo nos embarques de produtos do agronegócio, especialmente da soja.

Para a safra 2024/25, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta um novo recorde: a produção de 169 milhões de toneladas de soja.

No entanto, apesar da previsão de recorde no volume produzido e exportado, os analistas do Santander alertam que os preços baixos da soja no mercado internacional podem limitar o crescimento do valor total das exportações brasileiras.

“Embora o Brasil possa se beneficiar de um possível agravamento da relação comercial entre Estados Unidos e China, os preços baixos podem neutralizar parte desse impacto positivo”, avalia Felipe Kotinda, analista do Santander.

Milho para a China

Enquanto as tarifas chinesas podem trazer um impacto positivo para a soja brasileira, o relatório do Santander aponta que o cenário para o milho é mais complexo.

Em 2018, as tarifas impostas pela China aos Estados Unidos tiveram impacto insignificante no mercado de milho. Isso porque o país asiático representava apenas cerca de 2% do mercado de exportação americano. Além disso, o Brasil, na época, não exportava o cereal para a China.

Outro fator que contribuiu para a estabilidade do mercado americano foi a forte demanda doméstica por milho nos EUA, principalmente para a produção de etanol, que compensou a redução nas exportações para o mercado chinês.

Foi apenas em 2022 que o Brasil começou a ganhar relevância como fornecedor de milho para a China, marcando uma mudança importante no mercado global do cereal.

Em 2023, o Brasil exportou 17,4 milhões de toneladas de milho para o país asiático, o que representou 31% do total exportado pelo Brasil no período. Com isso, a China se tornou o principal destino das exportações brasileiras de milho, consolidando a posição do Brasil como um player importante para o mercado chinês.

Em 2024, no entanto, o cenário é menos otimista. De acordo com o Santander, a demanda futura da China pelo milho brasileiro pode não atender às expectativas. A superprodução local na temporada atual deve reduzir a necessidade de importar grandes volumes do cereal nos próximos anos.

Exportações de carne

O caso da pecuária brasileira, segundo o Santander, difere de outras commodities agrícolas. O aumento das exportações de carne nos últimos anos não está diretamente relacionado às tarifas comerciais, mas sim a fatores como sanidade animal e mudanças na demanda global.

Em 2018, a China enfrentou uma grave crise em seu rebanho suíno, causada pela Peste Suína Africana, que dizimou 45% de sua produção. A situação obrigou o país a buscar proteínas alternativas, como a carne bovina, para atender à demanda local. Esse movimento provocou um choque de oferta que impulsionou as exportações brasileiras ao longo dos últimos anos.

A carne bovina brasileira já conta com espaço significativo para expansão no mercado global. Em 2023, a China representou apenas 2% dos embarques de carne bovina dos Estados Unidos, segundo o Santander, e um eventual acirramento da guerra comercial entre EUA e China não deve alterar esse cenário.

Um dos grandes diferenciais da carne bovina brasileira é sua competitividade de preços, principalmente em relação a concorrentes como Argentina e Austrália.

Em 2024, a China consolidou-se como o principal destino da carne bovina brasileira, com 1,33 milhão de toneladas exportadas. O volume gerou um faturamento de US$ 6 bilhões, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), compilados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).

Além da China, os Estados Unidos ocuparam a segunda posição entre os maiores compradores, importando 229 mil toneladas de carne bovina brasileira em 2024. O valor desse comércio foi de US$ 1,35 bilhão, reforçando a importância do mercado americano para a pecuária nacional.

"A competitividade da carne bovina brasileira, associada à alta demanda em mercados estratégicos como China e Estados Unidos, posiciona o Brasil como protagonista no comércio global de proteínas", diz o Santander.

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