Clipping Diário

23 | Setembro | 2024

INDA

Portal Fator Brasil - RJ   23/09/2024

Alta de 31,3% em relação ao mês anterior.

As compras do mês de agosto registraram alta de 5,3% perante a julho, com volume total de 368,0 mil toneladas contra 349,5 mil. Frente a agosto do ano passado (345,8 mil toneladas), apresentou alta de 6,4%, dados divulgados pelo Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), no dia 19 de setembro (quinta-feira).

Vendas — As vendas de aços planos em agosto contabilizaram alta de 4,3% quando comparada a julho, atingindo o montante de 350,1 mil toneladas contra 335,7 mil. Sobre o mesmo mês do ano passado, quando foram vendidas 343,4 mil toneladas, registrou alta de 2,0%.

Estoques — Em número absoluto, o estoque de agosto obteve alta de 1,9% em relação ao mês anterior, atingindo o montante de 961,1 mil toneladas contra 943,3 mil. O giro de estoque fechou em 2,7 meses.

Importações — “Inclui chapas grossas, laminados a quente, laminados a frio, chapas zincadas a quente, chapas eletro- galvanizadas, chapas pré-pintadas e galvalume”. As importações encerraram o mês de agosto com alta de 31,3% em relação ao mês anterior, com volume total de 287,9 mil toneladas contra 219,2 mil. Comparando-se ao mesmo mês do ano anterior (231,0 mil toneladas, as importações registraram alta de 24,7%.

Projeções — Para setembro de 2024, a expectativa da rede associada é de que as compras e vendas tenham uma queda de 3,0% em relação a agosto, disse o presidente- executivo do Instituto, Carlos Jorge Loureiro, que fez a apresentação dos números de fechamento do mês de agosto de 2024.

SIDERURGIA

Investing - SP   23/09/2024

Em uma movimentação estratégica para gerenciar sua dívida, a Nippon Steel (TYO:5401) anunciou planos para vender ativos no valor de pelo menos 30 bilhões de ienes (211 milhões de dólares) dentro do atual ano fiscal. O desinvestimento inclui imóveis e estoques, visando melhorar a eficiência de capital, especialmente enquanto a empresa navega pelas complexidades de sua proposta de aquisição de 14,9 bilhões de dólares da U.S. Steel (NYSE:X).

A venda de ativos foi divulgada por Takahiro Mori, vice-presidente da gigante siderúrgica japonesa, em meio ao escrutínio contínuo do acordo com a U.S. Steel, que atualmente enfrenta obstáculos políticos nos Estados Unidos relacionados às próximas eleições presidenciais em 5 de novembro.

Anteriormente, a Nippon Steel garantiu 16 bilhões de dólares em empréstimos de três grandes bancos japoneses para financiar a potencial aquisição. A oferta da empresa faz parte de uma estratégia maior para expandir sua presença global, mas ainda não recebeu sinal verde, pois coincide com momentos políticos sensíveis nos EUA.

A aquisição proposta alteraria significativamente a estrutura financeira da Nippon Steel, potencialmente elevando sua relação dívida-patrimônio para 0,9, acima dos atuais 0,5. No entanto, essa proporção poderia ser reduzida para 0,7 até o final de março com a implementação de certas medidas, de acordo com a declaração de Mori à agência de notícias Nikkei.

A conclusão da transação com a U.S. Steel é visada por ambas as partes até o final de dezembro, sujeita à obtenção de todas as aprovações necessárias. A Nippon Steel não forneceu uma resposta imediata aos pedidos de comentários sobre esses desenvolvimentos.

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A taxa de câmbio atual utilizada para o iene em relação ao dólar é de 142,0100 ienes por 1 dólar.

IstoÉ Dinheiro - SP   23/09/2024

A Gerdau anunciou a destinação de R$ 44,3 milhões para ações de suporte, recuperação e reconstrução do Rio Grande do Sul, Estado severamente afetado por enchentes em maio. Este montante se soma a uma contribuição superior a R$ 30 milhões realizada pela família Gerdau Johannpeter, através do Instituto Helda Gerdau, visando a recuperação do Estado.

Entre as ações, destaca-se o projeto “Reforma que Transforma”, que visa reformar residências de colaboradores afetados pelas chuvas, beneficiando 242 famílias, com um terço das reformas já concluídas. Além disso, a empresa forneceu itens de linha branca e assistência médica e psicológica aos colaboradores impactados.

A Gerdau também liderou a criação do fundo filantrópico RegeneraRS, em parceria com o Instituto Helda Gerdau e a Vale, para unir recursos do setor privado na reconstrução do Estado. O fundo, gerido pela Din4mo, já captou R$ 38 milhões, com contribuições significativas da Gerdau e da família Gerdau Johannpeter.

Outras iniciativas incluem a reconstrução de escolas, apoio a projetos de habitação, infraestrutura, doações de alimentos, itens de higiene e água potável, além de apoio ao empreendedorismo e voluntariado dos colaboradores da empresa. Essas ações refletem o compromisso da Gerdau em auxiliar na recuperação e fortalecimento do Rio Grande do Sul após as adversidades enfrentadas.

ECONOMIA

O Estado de S.Paulo - SP   23/09/2024

Este foi um mês sombrio para a economia chinesa: Uma série de dados recentes revelou que a segunda maior economia do mundo está desacelerando mais rápido do que o esperado, fazendo com que os analistas prevejam que ela não atingirá sua meta relativamente modesta de crescimento de 5% este ano.

O crescimento da produção industrial e das vendas no varejo diminuiu, enquanto o mercado de ações e o investimento em imóveis despencaram. O desemprego aumentou e a deflação continua sendo uma questão urgente.

Entretanto, as autoridades chinesas ainda parecem relutantes em tomar medidas para revigorar a economia com os tipos de grandes pacotes de estímulo usados após a crise financeira global de 2008, o que muitos economistas dizem ser novamente necessário para conter a desaceleração. Em vez disso, o governo chinês continua a dobrar sua estratégia de investimento em manufatura avançada e crescimento liderado pelas exportações, mesmo com a escalada das tensões comerciais com os Estados Unidos e a Europa prejudicando sua capacidade de vender algumas de suas exportações mais valiosas no exterior.

A China tem se esforçado para se recuperar de três anos de políticas “covid zero” durante a pandemia, que priorizaram a saúde e a segurança em detrimento do crescimento. Os economistas esperavam que a demanda reprimida liberada quando essas políticas terminaram oficialmente - o que ocorreu há quase dois anos -injetasse um novo impulso na economia chinesa. Isso não aconteceu.

Números recentes mostram que o ímpeto econômico desacelerou em todos os setores em agosto. As vendas no varejo cresceram em um ritmo mais lento do que em julho, de acordo com dados oficiais do Escritório Nacional de Estatísticas da China, já que as famílias chinesas economizaram em vez de gastar.

Isso ocorreu em grande parte porque o mercado de trabalho continua deprimido. A taxa de desemprego nas áreas urbanas subiu para 5,3% no mês passado, a maior em seis meses.

Conseguir um emprego é um desafio especial para os jovens: depois que a taxa de desemprego entre os jovens atingiu níveis recordes no ano passado, as autoridades chinesas pararam temporariamente de divulgar essa estatística e criaram uma nova métrica mais favorável. Mas mesmo a nova métrica agora parece terrível - em julho, o desemprego entre os jovens nas áreas urbanas chegou a 17%.

Que papel o mercado imobiliário está desempenhando em tudo isso?

O colapso do setor imobiliário, que até recentemente era responsável por quase um quarto da economia e tem sido um dos principais impulsionadores da riqueza da classe média, está no centro dos problemas econômicos da China. Depois que o governo limitou a capacidade das incorporadoras imobiliárias de tomar dinheiro emprestado em 2020, uma série de inadimplências das incorporadoras deu início a uma crise que se espalhou por toda a economia da China. Desde janeiro, o investimento em imóveis diminuiu em mais de 10% em comparação com o mesmo período do ano passado.

A queda nos preços dos imóveis esgotou as economias das famílias e restringiu a capacidade dos governos locais de arrecadar fundos com a venda de terrenos - uma de suas principais fontes de receita. A queda do investimento do governo local e do investimento imobiliário constitui um golpe duplo na economia, disse Victor Shih, diretor do 21st Century China Center da Universidade da Califórnia em San Diego. “É difícil substituir esses dois motores de crescimento paralisados”, acrescentou.

Os mercados chineses refletem essas preocupações. Um índice de referência para as ações chinesas despencou nos últimos cinco meses, caindo cerca de 14% desde o pico registrado em maio. “Desde a reabertura da China após a pandemia, houve esses surtos temporários de otimismo, mas, de modo geral, não houve uma história ou narrativa clara que tenha feito com que os investidores, tanto nacionais quanto estrangeiros, estivessem mais interessados em aplicar mais capital no mercado”, disse Logan Wright, diretor de pesquisa de mercados da China no Rhodium Group, uma empresa de pesquisa.

A demografia também não está ajudando as perspectivas econômicas de longo prazo da China. Enfrentando o envelhecimento da população e o declínio da taxa de natalidade, o governo chinês anunciou na semana passada que aumentaria a idade de aposentadoria em três anos, para 63 anos, para os homens, e em cinco anos, para 55 anos, para as mulheres em empregos de colarinho azul, na tentativa de reforçar a força de trabalho cada vez menor.

A capacidade da China de atingir a meta de crescimento deste ano de cerca de 5% está agora em dúvida. Em um discurso na última quinta-feira, o líder chinês Xi Jinping pediu às autoridades que “se esforcem para concluir as metas anuais de desenvolvimento econômico e social”. Alguns bancos ocidentais estão longe de estar convencidos: O Goldman Sachs e o Citigroup reduziram suas projeções para o crescimento econômico chinês este ano para 4,7%, enquanto o Morgan Stanley espera apenas 4,6%.
E quanto ao setor privado? Como ele está se saindo?

Na última década, o governo chinês transformou fundamentalmente o ambiente de negócios na nação mais populosa do mundo.

Depois de assumir o poder em 2013, Xi lançou uma campanha anticorrupção abrangente, eliminando a corrupção e, ao mesmo tempo, derrubando possíveis oponentes políticos e centralizando o poder. Embora o esforço tenha se concentrado principalmente em funcionários corruptos no início, desde então ele se expandiu para o setor privado, com o governo agindo para deter banqueiros famosos e investigar bilionários como Xu Jiayin, fundador da empresa imobiliária Evergrande. Em 2020, os reguladores cancelaram a oferta pública inicial do Ant Group, gigante de tecnologia financeira de Jack Ma, dando início a uma repressão de anos ao outrora florescente setor de tecnologia chinês, que o governo considera monopolista.

Chen Zhiwu, professor de finanças da Universidade de Hong Kong, disse que o ataque do governo ao setor privado é a raiz dos problemas econômicos da China. “Há uma profunda crença de que os proprietários de empresas privadas e as empresas privadas estão competindo com o Partido [Comunista Chinês] pelo poder e pela influência na sociedade chinesa em geral”, disse ele.

Os danos não se limitaram às empresas chinesas. A desaceleração da economia e o ambiente de negócios restrito fizeram com que as empresas americanas que operam na China registrassem lucros recordes em 2023, de acordo com um relatório divulgado na semana passada pela Câmara de Comércio Americana em Xangai. Isso também levou a uma queda no otimismo em relação ao mercado chinês: Menos da metade dos entrevistados da pesquisa se sentiram otimistas em relação às perspectivas de negócios para os próximos cinco anos na China, enquanto um número recorde de empresas cortou investimentos na China no ano passado em meio a planos de transferir investimentos para o Sudeste Asiático e a Índia.

O governo chinês conseguirá sustentar a economia?

O governo chinês ainda não se mostrou disposto a implementar políticas de estímulo agressivas para impulsionar a demanda do consumidor, apesar dos crescentes pedidos de medidas como o reforço dos sistemas de bem-estar social, a estabilização do mercado imobiliário ou o pagamento em dinheiro a famílias em dificuldades para incentivá-las a sair e gastar.

“Há um consenso cada vez maior entre os economistas de que deveria haver pagamentos em dinheiro para as pessoas, o que eu não acho que vá acontecer”, disse Zhu Ning, professor de finanças da Shanghai Jiao Tong University, apontando para as barreiras práticas e para a enorme despesa de distribuir cheques para uma vasta população. Zhu também cita um motivo filosófico: “Acho que os formuladores de políticas são céticos em relação à maneira como o Ocidente lidou com a cobiça na distribuição de dinheiro e não querem seguir seu exemplo.”

Em vez disso, o governo chinês tem se concentrado no financiamento da manufatura, em parte devido a uma prioridade fundamental do Partido Comunista de se tornar autossuficiente em tecnologias essenciais, como semicondutores. Em março, o primeiro-ministro chinês Li Qiang anunciou mais de US$ 1 bilhão em investimentos governamentais para atualizar a fabricação de tecnologias essenciais e cadeias de suprimentos industriais.

Nesse aspecto, houve algum sucesso: Desde janeiro, o investimento em manufatura cresceu 9% em comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com as estatísticas oficiais. Enquanto isso, as exportações globais da China cresceram pelo quinto mês consecutivo em agosto, de acordo com dados da alfândega chinesa, aumentando mais de 8% em comparação com o mesmo período de 2023.

“Os chineses citariam sua capacidade de inovação em inteligência artificial, robótica, veículos elétricos e, em particular, diriam até que dominam as cadeias de suprimentos”, disse Zongyuan Zoe Liu, membro sênior de estudos sobre a China no Council on Foreign Relations. “Portanto, acho que a história geral [é] de desaceleração do crescimento, mas nem tudo está perdido.”

O que a desaceleração da China significa para o mundo?

O aumento bem-sucedido da produção da China também está provocando uma reação negativa. Nos últimos meses, as tensões econômicas entre a China e o resto do mundo aumentaram devido ao forte aumento das exportações chinesas. Os Estados Unidos e a União Europeia temem que a China esteja usando práticas comerciais injustas, como pesados subsídios estatais, para apoiar esses setores, levando a uma enxurrada de produtos chineses, como veículos elétricos, painéis solares e aço, no mercado global, o que pode prejudicar setores e empregos em outros países.

A desaceleração da economia chinesa pode exacerbar esse problema, pois menos clientes no país só forçará as empresas chinesas a redobrar seus esforços no exterior. “A preocupação para os EUA é que a demanda interna chinesa mais fraca significa mais exportações chinesas para o resto do mundo”, disse Wright, da Rhodium. “A China está adotando uma estratégia cada vez mais conflituosa com o resto do mundo.”

O governo dos EUA tentou abordar essa estratégia com medidas comerciais, como tarifas, e também com diplomacia. Em maio, o governo Biden anunciou aumentos de tarifas sobre produtos fabricados na China, incluindo uma tarifa de 100% sobre veículos elétricos, uma tarifa de 50% sobre painéis solares e uma tarifa de 25% sobre produtos siderúrgicos. As medidas devem começar a entrar em vigor no final de setembro.

Na quinta-feira, uma delegação dos EUA liderada por Jay Shambaugh, subsecretário de assuntos internacionais do Departamento do Tesouro, reuniu-se com seus homólogos chineses em Pequim e discutiu as preocupações com o excesso de exportações chinesas, de acordo com um funcionário do Tesouro.

Exame - SP   23/09/2024

A China surpreendeu o mercado nesta sexta-feira, 20, e manteve suas principais taxas para empréstimos inalteradas. Especialistas ouvidos pela Reuters esperavam um corte, aproveitando o movimento do Fed de diminuir os juros nos EUA.

Mesmo com mais espaço para reduzir seus custos de empréstimos sem provocar uma desvalorização no yuan, o Banco Popular da China anunciou que iria manter a taxa básica de juros (LPR) de um ano em 3,35%, bem como a LPR de cinco anos em 3,85%.

A LPR de um ano afeta os empréstimos corporativos e a maioria das famílias na China, enquanto a LPR de cinco anos atua como uma referência para as taxas de hipotecas. O corte da taxa nos Estados Unidos permitiu mais flexibilidade monetária para a China se concentrar em aliviar o peso da dívida de seus consumidores e empresas, - isso à medida que busca reforçar o investimento e os gastos.

Problemas na China

A China surpreendeu os mercados ao reduzir as principais taxas de empréstimos de curto e longo prazo em julho, em um movimento para reacender o crescimento da economia, que enfrenta uma crise imobiliária prolongada e enfraquecimento da confiança do consumidor e das empresas.

Em agosto, as vendas no varejo, a produção industrial e o investimento no país cresceram mais lentamente do que o esperado. A taxa de desemprego atingiu a maior alta em seis meses, enquanto os preços anuais dos imóveis caíram no ritmo mais rápido em nove anos.

Os dados econômicos decepcionantes ressaltaram o ímpeto fraco da economia e renovaram os apelos para que o governo implemente mais medidas de estímulo fiscal e monetário. No entanto, flexibilizar as políticas monetárias e reduzir as taxas provavelmente não será suficiente para reverter a crise econômica da China, de acordo com especialistas falando no "Street Signs Asia" da CNBC na manhã de sexta-feira. Alguns grandes bancos reduziram sua previsão para o crescimento do PIB da China para abaixo da meta oficial do governo de 5%. O Bank of America reduziu sua previsão para o crescimento do PIB da China em 2024 para 4,8%, e o Citigroup reduziu sua projeção para 4,7%.

IstoÉ Dinheiro - SP   23/09/2024

O economista sergipano Otaviano Canuto, ex-vice-presidente do Banco Mundial, ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) para assuntos de América Latina e atual membro sênior do Policy Center for the New South, está há décadas fora do País, mas analisa a economia brasileira quase que em tempo real. Ele se tornou um dos maiores especialistas em Brasil mundo afora com suas análises de quem enxerga o cenário em perspectiva.

Mesmo vivendo nos arredores da capital americana, Washington, nos últimos anos Canuto tem se debruçado nas análises sobre a situação fiscal e econômica do Brasil. Sua mais recente constatação é que, apesar do recente crescimento do PIB, que avançou 1,4% no segundo trimestre, será necessário combater a ineficiência dos gastos para garantir a sustentabilidade desse desempenho.

Confira sua entrevista:

Qual a sua avaliação sobre as mudanças a caminho no Banco Central, com a saída de Roberto Campos Neto e a potencial entrada de Gabriel Galípolo?

Não é possível avaliar ainda como será. As projeções de mercado indicam uma alta na Selic nas próximas reuniões, mas a indicação pelo presidente Lula pressupõe uma tendência de cortes dos juros. É esperar para ver.

E sobre a economia brasileira? Como o sr. avalia as medidas do governo Lula e a questão fiscal?

O ministro Fernando Haddad está tentando equilibrar o aumento de gastos públicos com a necessidade de manter a economia em uma trajetória fiscal controlada. Avalio que a trajetória de endividamento não será explosiva, mas a qualidade do gasto público preocupa.

Mesmo com o PIB em crescimento, vamos continuar sofrendo com a anemia de produtividade e a obesidade do setor público.

Mas sempre que se discute isso, sobra para a previdência social

A previdência é um desses casos. Os ganhos para a economia com a última reforma da Previdência já foram perdidos, devolvidos com essa indexação a salários crescendo acima da inflação. A gente precisa de mais ajustes. Hoje já precisamos de mais reformas da previdência.

Você pode explicar melhor essa doença dupla da economia brasileira?

A anemia de produtividade significa que, sem aumento de produtividade, não haverá crescimento econômico sustentável. E a obesidade do setor público significa que o governo gasta muito e gasta mal, com despesas que não contribuem para o crescimento econômico. Precisamos de mais investimentos em infraestrutura e de uma melhor alocação dos recursos públicos.

Como disse Paul Krugman, a produtividade não é tudo, mas é quase tudo. A rigor, fora momentos extremamente favoráveis do comércio mundial para exportações, só vamos ter crescimento econômico e de renda per capita com aumento de produtividade. E nessa questão temos registrado desempenho muito ruim nas últimas décadas.

Então, o problema é tanto a falta de investimento em áreas estratégicas quanto a ineficiência nos gastos?

Exatamente. O Brasil tem um grande volume de gastos públicos, mas a maior parte vai para áreas que não geram retorno econômico. Isso inclui aposentadorias privilegiadas e salários mais altos no setor público em comparação ao setor privado. Precisamos de uma reforma mais profunda para corrigir essas distorções.

Como está o clima aí em Washington com todas essas mudanças a caminho na política americana e na economia? Há um risco real de desaceleração econômica?

Vou começar pelo mais fácil, que é o quadro macroeconômico. Apesar da turbulência no começo do mês, causada pelo desmonte de posições de carry trade [aplicação financeira que consiste em tomar dinheiro a uma taxa de juros em um país e aplicá-lo em outra moeda, onde as taxas de juros são maiores] baseadas no iene e pelos indicadores de emprego abaixo da expectativa, houve um certo pânico sobre a economia americana. Muitos acreditavam que ela já estava em recessão. Isso levou a um ajuste exagerado nos mercados, mas, logo depois, as coisas se acalmaram. A inflação, por exemplo, ainda não chegou à meta de 2%, mas está em declínio.

Então as reações do mercado têm sido exageradas?

Sim, com muito exagero. Tanto que agora os mercados estão prevendo cortes na taxa básica de juros em breve nos Estados Unidos. As atas do Fed sugerem que o ciclo de redução das taxas pode começar já na reunião de setembro, o que deve ser muito bom para o Brasil porque tende a aumentar o fluxo de dólares.

Qual tem sido a influência da política americana nas eleições e na economia? O mercado está mais pró-Trump ou pró-Kamala?

Não creio que o mercado tenha uma preferência clara entre Donald Trump e Kamala Harris. As promessas de ambos, especialmente as de Trump, podem ter impactos diferentes em setores específicos. Por exemplo, se Trump elevar as tarifas de importação como prometeu, isso pode prejudicar o poder de compra dos americanos, especialmente dos mais pobres. Mas ambos os candidatos são simpáticos à ideia de reduzir impostos para aquecer o consumo.

No caso de vitória de Kamala haverá um distensionamento na guerra comercial entre Estados Unidos e China?

Seja qual for o vencedor, a disputa vai continuar, mas de forma mais seletiva. Enquanto Trump busca um descolamento total da China, a abordagem democrata é mais sobre reduzir riscos em áreas estratégicas, como semicondutores e energia limpa.

O sr. mencionou que o cenário econômico global pode ter impactos em diferentes setores nos Estados Unidos. Pode elaborar mais sobre isso, especialmente em relação às promessas de Trump

Claro. A proposta de Trump de elevar tarifas de importação em 10% para todos os produtos e em 60% para itens vindos da China causaria um impacto negativo. Embora alguns setores possam se beneficiar com o aumento da produção doméstica, as tarifas não serão pagas pelos exportadores estrangeiros, mas sim pelos consumidores americanos. Isso reduziria o poder de compra, afetando principalmente os mais pobres, que usam uma grande parte da renda para consumo. No fundo, essa política se assemelha à estrutura tributária regressiva que temos no Brasil, onde os pobres acabam pagando proporcionalmente mais.

Então, o sr. acredita que a política comercial defendida por Trump afetaria mais negativamente os americanos de baixa renda?

Sim. Isso cria um paradoxo interessante: muitos dos eleitores que apoiam essas políticas não percebem que elas os atingem diretamente, reduzindo seu poder de compra. Ao focar em tarifas, Trump essencialmente estaria movendo os EUA em direção a uma estrutura tributária que prejudica os mais pobres, como vemos no Brasil, onde a carga tributária recai fortemente sobre o consumo.

E se a Kamala vencer, o que mudaria em termos de política comercial? Ela segue a mesma linha de Joe Biden?

A abordagem democrata tende a ser mais seletiva. A ideia não é um descolamento total da China, mas uma redução de riscos estratégicos. Eles focam em áreas como semicondutores e energia limpa, onde há uma competição tecnológica intensa com a China. Isso inclui tanto subsídios quanto tarifas direcionadas para proteger esses setores estratégicos, como foi o caso da Inflation Reduction Act de Biden.

E quanto à China? Como os EUA estão se posicionando no que diz respeito à concorrência chinsesa em tecnologia?

A China fez grandes avanços, especialmente na energia limpa. Eles investiram mais em energia renovável nos últimos 12 anos do que a soma dos Estados Unidos e Europa juntos. E isso inclui não só a produção de placas solares, mas também a liderança em baterias para veículos elétricos e infraestrutura de energia eólica. Na frente dos semicondutores, os EUA ainda estão na liderança, mas os chineses estão rapidamente se aproximando, apesar das restrições impostas pelos Estados Unidos e seus aliados.

Qual a sua visão sobre a situação política e econômica da América Latina, especialmente em relação aos nossos vizinhos Argentina e à Venezuela?

A situação da Venezuela é muito grave. O Brasil e outros países adotaram uma postura diplomática ineficaz. O governo Lula terá de mudar a postura para não se queimar ainda mais. A fraude lá é inaceitável. Quanto à Argentina, o ajuste proposto por Javier Milei é doloroso, mas necessário, dado o descalabro fiscal e inflacionário do país. Quanto mais estáveis estiverem Argentina e Venezuela, melhor para o Brasil. Mas essa estabilidade parece cada vez mais distante.

Diante desta realidade, no seu entendimento, qual deve ser o papel do Brasil nesses cenários?

O Brasil está fazendo o que pode. No caso da Argentina, é só seguir em frente. Mas no caso da Venezuela será difícil sustentar a neutralidade e a diplomacia diante de tantos crimes conta a democracia. O governo Maduro tem usado de todas as ferramentas à sua disposição para se manter no poder, inclusive a repressão. Apesar das sanções internacionais, o país encontra refúgio em parcerias com países como China, Rússia e Irã. Quanto à Argentina, a situação fiscal e monetária é insustentável.

O Brasil e outros países da região, como Colômbia e México, adotaram uma abordagem diplomática inicialmente, mas sem muito sucesso. A verdade é que não há muito mais que o Brasil possa fazer proativamente. As sanções tiveram algum impacto, mas não resolveram o problema. A resolução depende principalmente dos venezuelanos, o que pode exigir algum tipo de ruptura interna.

No entendimento do senhor, a política econômica adotada por Javier Milei está dando certo?

A agenda de Milei é radical, mas espera- se que, depois dessa fase de dor, a confiança volte, e a economia possa sair da crise com investimentos e recuperação da inflação e das contas públicas. Não é fácil resolver a economia argentina. Foram muitas décadas de destruição e populismo. A recuperação vai levar muito tempo também, se eles errarem pouco.

O Estado de S.Paulo - SP   23/09/2024

Como esperado, o Banco Central (BC) decidiu elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto porcentual (p.p.), para 10,75% ao ano. A decisão foi unânime, e o tom do comunicado foi tão duro que parte do mercado financeiro viu no texto fatores suficientes para um aumento maior que o anunciado.

Foi a primeira vez que os juros subiram desde o início do governo Lula da Silva. A última elevação havia ocorrido em agosto de 2022, em plena campanha eleitoral, quando a Selic chegou a 13,75% ao ano.

De fato, o Comitê de Política Monetária (Copom) não tinha alternativa para conter a piora das expectativas. A atividade econômica segue resiliente, o mercado de trabalho permanece aquecido, as projeções de inflação continuam a aumentar e o câmbio está longe do patamar registrado no início do ano.

Mas, desta vez, o Banco Central reavaliou o hiato do produto para o campo positivo – ou seja, reconheceu que a economia está crescendo acima de sua capacidade. Além disso, o BC admitiu que o balanço de riscos está assimétrico, ou seja, que há mais chances de que a inflação suba do que caia.

No cenário de referência, as projeções para a inflação continuaram a aumentar – de 4,2% para 4,3% em 2024, de 3,6% para 3,7% em 2025 e de 3,4% para 3,5% em 2026. Em todos os casos, as previsões estão acima da meta de 3%, com a qual o BC sustenta ter firme compromisso. Cumpri-la, portanto, requer uma atividade econômica menos aquecida e, portanto, juros mais elevados.

Trata-se de um cenário aventado por muitos economistas logo após a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, que surpreendeu todos ao aumentar 1,4% ante o primeiro trimestre e 3,3% na comparação com o segundo trimestre de 2023.

Mas tudo muda de figura quando a autoridade monetária compartilha dessa mesma percepção. E o fato de que isso já constou do comunicado publicado logo após a reunião, e não somente na ata que é divulgada somente na semana seguinte, é sinal de que há convergência entre todos os diretores – e não apenas alguns ou vários deles.

A decisão do Copom já chamaria mais atenção do que o costume pelo aumento da Selic depois de tanto tempo, mas o fato de que o Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano, reduziu os juros pela primeira vez desde 2020 – e em 0,50 ponto porcentual, para o patamar entre 4,75% e 5%, mais que o 0,25 p.p. esperado pela maioria – gerou injustificada polêmica no mundo político, sobretudo após a pequena e pontual deflação registrada em agosto.

São situações incomparáveis. Afinal, os Estados Unidos passam por um momento muito diferente do vivenciado pela economia brasileira. Ao contrário do que ocorre no Brasil, por lá, a inflação está cada vez mais próxima da meta de 2%, a criação de postos de trabalho veio abaixo do esperado e o cenário indica um enfraquecimento da atividade econômica.

O Fed não deu sinalizações mais claras sobre o que fará a partir de agora, mas há uma perspectiva de que o diferencial entre as taxas de juros nos EUA e no Brasil possa atrair investidores estrangeiros e ajudar a valorizar o real ante o dólar, contribuindo para arrefecer parcialmente a inflação. Ninguém acredita, no entanto, no retorno do câmbio a níveis inferiores a R$ 5, como se via no início deste ano.

O Banco Central tampouco se comprometeu com sinalizações mais firmes sobre seus próximos passos, mas já há quem aposte que a Selic pode subir até 12% em janeiro – até então, a maioria dos analistas esperava 11,5%. Os ajustes nas expectativas supõem que o Copom deva acelerar o ritmo de alta dos juros de 0,25 para 0,50 ponto porcentual nas reuniões de novembro e dezembro.

Não há razões para culpar a autoridade monetária. A atitude expansionista do governo Lula da Silva dificulta a tarefa do Banco Central, e essa divergência entre as políticas monetária e fiscal exige juros cada vez mais altos para trazer a inflação de volta ao centro da meta. É o preço da retomada de manobras e da emissão de créditos extraordinários para não contabilizar gastos no cálculo do resultado primário e de perseguir o limite inferior da meta fiscal.

O Estado de S.Paulo - SP   23/09/2024

No ano em que a retomada das relações diplomáticas entre Brasil e China completa 50 anos, o gigante asiático vem intensificando sua ofensiva para que o Brasil se associe à Iniciativa Cinturão e Rota, mais conhecida como Nova Rota da Seda. É provável que os esforços chineses atinjam um ápice em novembro, quando o presidente Xi Jinping virá ao País para a reunião de cúpula do G-20, no Rio, e também para uma visita de Estado. O sucesso de uma eventual entrada do Brasil na Rota da Seda será medido muito mais pelo que o País conseguir obter em termos qualitativos que em termos quantitativos, uma vez que a China já investe fortemente no Brasil – US$ 1,73 bilhão em 2023, 33% a mais que em 2022, de acordo com o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).

Anunciada em 2013 pelo próprio Xi Jinping, a Rota da Seda é uma iniciativa ampla, que vem se transformando ao longo dos anos, mas que envolve o desenvolvimento e financiamento de obras de infraestrutura em mais de uma centena de países.

Uma “Rota da Seda sul-americana”, que leve em conta os interesses brasileiros, “poderia representar um passo relevante para uma política de integração física que beneficie todos os países da região”, como escreveu em artigo recente no Estadão o ex-embaixador Rubens Barbosa.

Note-se ainda que, em momento de enfraquecimento da liderança brasileira na América do Sul, tanto por conta da visão datada do atual governo em relação a vizinhos como a Venezuela quanto pela emergência de figuras como Javier Milei na Argentina, uma adesão brasileira à Roda da Seda que assegurasse uma melhora da infraestrutura regional revigoraria o papel natural de líder da região que compete ao Brasil.

Enquanto a China se esmera nos esforços para seduzir nosso país – acaba de realizar um fórum de cooperação midiática sobre a Rota da Seda com forte presença de brasileiros –, o Brasil vem tentando convencer os chineses a investir em produtos de maior valor agregado ou em projetos mais estratégicos.

Em junho, o vice-presidente Geraldo Alckmin visitou a China acompanhado de uma grande comitiva de empresários e ministros como Simone Tebet (Planejamento). Ela defendeu as chamadas Rotas de Integração Sul-Americana, um conjunto de obras de infraestrutura que encurtam a distância não só entre o Brasil e países sul-americanos, mas também o percurso entre as exportações brasileiras e o mercado chinês.

Mas até agora o Brasil não só não confirmou sua entrada Rota da Seda, como parece vacilante sobre como negociar uma adesão, aparentemente inevitável, que resulte benéfica para o País. Além da visita de Alckmin, que se seguiu à de Lula da Silva em 2023, representantes do governo deixam escapar, aqui e ali, que gostariam que os chineses investissem em projetos mais relevantes para o Brasil. Empresários também se queixam dos chineses por não ampliarem as compras de produtos brasileiros de maior valor agregado.

Da posição privilegiada de quem detém bilhões de dólares para dispor como quiser, a China vem alterando os destinos de seus investimentos, de modo não só a garantir recursos estratégicos, como a expandir seu poder geopolítico.

De acordo com o CEBC, os principais receptores de investimentos chineses no ano passado foram Indonésia, Hungria, Congo e Peru – o Brasil ficou em nono lugar, à frente da Bolívia.

Ao longo dos anos, a estratégia de investimentos da China vem se adaptando. Em um primeiro momento, o foco foram países desenvolvidos como os EUA e o Reino Unido. Esta mudança na preferência por destinos também representa um desafio para o Brasil, pois limita nosso papel em regiões de afinidade como a própria América Latina e a África.

À medida que a China diversifica sua presença no mundo, uma adesão à Rota da Seda que assegure algum protagonismo brasileiro na integração sul-americana pode até parecer um bom caminho para que o Brasil receba mais investimentos chineses, mas é preciso ponderar se isso é realmente necessário e se o custo geopolítico de um alinhamento desse tipo à China não será alto demais.

O Estado de S.Paulo - SP   23/09/2024

Crescer é muito perigoso, poderia dizer Riobaldo, se escapasse do Grande Sertão e virasse personagem de um informe do Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC). O Brasil tem crescido mais do que sua economia pode suportar sem desarranjo inflacionário, segundo afirmou o comitê, na quarta-feira, ao anunciar a alta de juros de 10,50% para 10,75% ao ano. O quadro internacional, o dólar instável e a famosa desancoragem das expectativas são mencionados, como sempre, mas ganham destaque a atividade resiliente, as pressões no mercado de trabalho e, é claro, o sinistro hiato do produto, desta vez positivo.

“Hiato positivo” indica, em linguagem de iniciados, um ritmo de atividade acima da capacidade produtiva. A solução convencional é tirar o pé do acelerador e, talvez, pisar no freio. Mas o crescimento brasileiro tem sido, mesmo, tão exagerado? Se isso for verdade, será preciso aceitar um desempenho menos vigoroso que o de outros emergentes e até de países desenvolvidos? Talvez seja o caso, para variar, de um maior esforço de investimento para aumentar a capacidade produtiva e, portanto, o potencial de expansão da economia. Pode ser a chance de escapar da maldição dos 2%, ainda presente nas projeções de crescimento, e de normalizar um avanço econômico mais acelerado.

O Brasil cresceu 2,9% em 2023 e as projeções do mercado para este ano têm-se aproximado de 3%. No Ministério da Fazenda, o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) estimado para 2024 já subiu de 2,5% para 3,2%. Em discurso mais entusiasmado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva profetizou, na quarta-feira, um resultado superior a 3,5%. Mas, em seu novo cenário, os técnicos da Fazenda elevaram também a inflação esperada até dezembro – de 3,9% para 4,25%.

Se essa revisão do cenário dos preços estiver correta, a inflação ficará bem mais distante do centro da meta, fixado em 3%, e muito perto do limite de tolerância, 4,5%. Com esses cálculos, o Ministério da Fazenda revela preocupações muito parecidas com as do Copom, embora sem defender um possível aperto da política monetária. Ao contrário, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem mostrado desconforto diante da hipótese de juros mais altos e crédito mais curto.

O ministro, no entanto, mostra-se cauteloso ao falar do assunto, evita pronunciar-se a respeito da gestão monetária e tenta manter uma posição respeitosa em relação ao BC. Até o presidente Lula tem evitado criticar a autoridade monetária. O BC ainda é chefiado pelo economista Roberto Campos Neto, criticado com dureza e até com grosseria, em outros momentos, pelo presidente da República.

O presidente Lula tem procurado, aparentemente, manter um ambiente pacífico até a transferência do posto para Gabriel Galípolo, por ele indicado para a sucessão. Mas Galípolo, já diretor de Política Monetária do BC, tem exibido, em vários pronunciamentos, a disposição de levar a sério a chefia da instituição e de valorizar sua autonomia operacional, garantida por lei.

Para cumprir a tarefa principal do BC, a manutenção de preços estáveis, Galípolo terá de cuidar, inicialmente, de conduzir a inflação à meta oficial. Em seguida, será preciso mantê-la próxima desse valor. Também é função da política monetária preservar o emprego e, portanto, algum dinamismo econômico, mas a obrigação principal é mesmo cuidar da estabilidade dos preços.

Crescimento e desenvolvimento econômico devem permanecer, portanto, como responsabilidades atribuídas principalmente ao Executivo e ao Legislativo, dentro dos limites da estabilidade monetária. Esses limites serão estreitos, por vários meses, se o BC de fato se dedicar a um sério esforço de preservação da moeda. Mas crescimento econômico e controle monetário poderão coexistir mais facilmente, nesse período, se as contas públicas forem administradas com prudência, sem arroubos presidenciais, sem lances populistas e sem desmandos impostos por grupos parlamentares. O Executivo terá de retomar e exercer com seriedade o indispensável poder sobre o Orçamento, em grande parte perdido na gestão anterior.

Será complicado combinar equilíbrio fiscal e uso produtivo do dinheiro público, mas essa tarefa será incontornável, se o presidente se dispuser, de fato, a repor o Brasil no caminho do crescimento duradouro e da modernização. Alguns ministros têm-se mostrado capazes de enfrentar esse trabalho e até de buscar cooperação no Congresso. Mas dependerão de um firme apoio presidencial, porque haverá obstáculos no Congresso, interesses divergentes no Executivo e pressões de petistas agarrados a velhas bandeiras.

Velhas bandeiras também são agitadas, com alguma frequência, por um presidente Lula ainda atraído por ditadores supostamente de esquerda, ainda preso a noções obscuras, como a de um estranho “Sul Global” (China e Índia serão mesmo países do “sul”?), e aparentemente incapaz de vencer a velha antipatia às grandes potências ocidentais. Mas Lula tem mudado e poderá deixar um legado respeitável, se evitar a recaída no velho petismo.

O Estado de S.Paulo - SP   23/09/2024

O governo Lula anunciou nesta sexta-feira, 20, que “liberou” R$ 1,7 bilhão em despesas no Orçamento deste ano. Embora tenha aumentado o bloqueio de gastos em R$ 2,1 bilhões diante do crescimento de despesas obrigatórias, como aposentadorias, a melhora na projeção de receitas levou à reversão do contingenciamento de R$ 3,8 bilhões que havia sido feito em julho. A decisão surpreendeu e gerou críticas de economistas (leia mais abaixo).

“Com o aumento de R$ 2,1 bilhões do valor bloqueado e a reversão dos R$ 3,8 bilhões contingenciados, a contenção total diminuiu em R$ 1,7 bilhão em relação ao 3º bimestre, passando de R$ 15 bilhões para R$ 13,3 bilhões”, diz o Ministério do Planejamento e Orçamento em nota no 4º relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas. No bimestral anterior, em julho, o governo havia anunciado um congelamento de R$ 15 bilhões.

Nesse cenário, o governo federal diminuiu em R$ 400 milhões a projeção de déficit para 2024. Agora, a estimativa é de que as contas públicas fechem no vermelho em R$ 28,3 bilhões – levemente acima do piso da banda (intervalo de tolerância) permitido pelo arcabouço fiscal, que autoriza um resultado negativo de até R$ 28,8 bilhões neste ano. O centro da meta, porém, estipula déficit zero.

A decisão de reveter o contigenciamento e liberar R$ 1,7 bilhão em despesas evidenciou que a equipe econômica segue perseguindo o piso da meta fiscal. Em março, a Consultoria de Orçamento, Fiscalização e Controle (Conorf) do Senado Federal já havia alertado para os riscos dessa estratégia - sinal que foi repetido pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em agosto e nesta semana.

Segundo o relatório, as despesas primárias foram revistas para cima em R$ 11,82 bilhões, enquanto as receitas foram aumentadas em R$ 1,99 bilhão. Houve, porém, um forte aumento das despesas não administradas pela Receita Federal, com a incorporação de medidas que integram o pacote de compensação da desoneração da folha de empresas e municípios (leia mais abaixo).

Segundo o economista Paulo Henrique Duarte, da Valor Investimentos, a medida surpreende negativamente, porque o governo faz o ajuste fiscal sempre com a inclusão de receitas extraordinárias, sem reduzir gastos de fato.

“A medida surpreende negativamente, no sentido de que são sempre fatos novos. Na prática, o governo está de novo operando na linha da receita. O contingenciamento foi revertido por conta de receitas extraordinárias. O ministro (da Fazenda) Fernando Haddad, devido a reformas, está aumentando a arrecadação de toda forma. Mas o que a gente vê não é um esforço fiscal, mas um esforço para manter o gasto que eles querem fazer”, disse.

Qual a diferença entre bloqueio e contingenciamento?

No contingenciamento, o governo congela despesas quando há frustração de receitas, a fim de cumprir a meta fiscal (saldo entre receitas e despesas, sem contar os juros da dívida). Para este ano e para 2025, a meta é de zerar o déficit das contas públicas.

Como a meta tem uma banda (intervalo de tolerância) de 0,25 ponto porcentual do PIB para cima e para baixo, o governo cumpre a meta desde que não extrapole o piso da banda – ou seja, um déficit de R$ 28,8 bilhões.

Já o bloqueio é realizado para cumprir o limite de despesas do arcabouço fiscal. Assim, quando há aumento de gastos obrigatórios (como aposentarias, por exemplo), o governo bloqueia despesas não obrigatórias (como custeio e investimentos) para compensar.
Baixa no Carf e alta de dividendos

Entre as receitas, houve redução no valor previsto com julgamentos no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). A projeção de arrecadação, que já havia caído de R$ 55 bilhões para R$ 37,7 bilhões no último relatório, agora recuou para apenas R$ 847 milhões entre setembro e dezembro deste ano. Até 6 de agosto, o governo só tinha conseguido levantar R$ 83,4 milhões com essa rubrica.

O Ministério da Fazenda já havia sido alertado pelo TCU sobre o risco de descumprimento da meta fiscal deste ano por causa da baixa arrecadação com o voto de qualidade (desempate a favor do Fisco) do Carf.

O governo também reduziu em R$ 3,5 bilhões o valor previsto com concessões e permissões do setor ferroviário. A receita prevista com essas outorgas em 2024 caiu para R$ 20,7 bilhões - menos da metade do valor estimado na Lei Orçamentária Anual (LOA), que era de R$ 44,4 bilhões.

Por outro lado, o governo aumentou a previsão de receitas com dividendos de estatais. Como antecipou o Estadão, a cifra foi elevada em R$ 10,1 bilhões, totalizando R$ 68,5 bilhões.

O governo também passou a incorporar às expectativas de receitas três medidas que integram o pacote de compensação da desoneração da folha de empresas e municípios - aprovado pelo Congresso e sancionado por Lula nesta segunda-feira, 16.

A incorporação dos depósitos judiciais e extrajudiciais em favor da União – que hoje passam pela Caixa, mas que demoram a ser repassados ao Tesouro - renderão, segundo o governo, R$ 6,3 bilhões, como antecipou o Estadão. Há também a incorporação dos depósitos judiciais de processos já encerrados, o quais foram estimados em R$ 8 bilhões.

Já para o “Desenrola” das agências reguladoras, programa que permite a renegociação de multas aplicadas pelas agências e não pagas pelos punidos, a equipe econômica projeta R$ 4 bilhões adicionais neste ano.

Não foram previstas, porém, as receitas advindas da atualização do valor de imóveis e do uso do “dinheiro” esquecido por pessoas físicas e jurídicas em contas de instituições financeiras - ambas também integram o pacote de compensação da desoneração.

No caso do dinheiro esquecido, como mostrou o Estadão, o governo terá de fazer uso de algum instrumento legislativo para corrigir trechos da lei já sancionada. Isso porque, devido a imprecisões na redação, a equipe econômica corre o risco de não ter acesso aos cerca de R$ 8,6 bilhões disponíveis no Sistema de Valores a Receber (SVR) do Banco Central.
Despesas em alta

Os gastos com Previdência subiram R$ 8,3 bilhões, alcançando R$ 931 bilhões. Os créditos extraordinários aumentaram R$ 3,56 bilhões; subsídios, subvenções e Proagro (espécie de seguro rural para pequenos e médios produtores) subiram R$ 1,87 bilhão.

Já as despesas com o BPC, benefício pago a pessoas idosas e com deficiência de baixa renda, saltaram R$ 300 milhões. O programa, cuja despesa tinha disparado no último relatório, em julho, passa por um “pente-fino” de revisão de cadastros no governo.

Fora da meta

O governo revisou para pior a projeção do déficit primário “real” deste ano, ou seja, que considera todas as despesas que foram excluídas da meta, como a ajuda ao Rio Grande do Sul, o combate às mudanças climáticas e os precatórios (dívidas judiciais da União).

No último relatório, a projeção era de déficit de R$ 61,34 bilhões, e agora é de R$ 68,83 bilhões, uma piora de R$ 7,46 bilhões. Na prática, esse é o número que vai ter impacto sobre o endividamento público. No total, há 40,4 bilhões legalmente excluídos do teto de despesas do arcabouço e da meta fiscal

MINERAÇÃO

Infomoney - SP   23/09/2024

Os preços futuros do minério de ferro subiram nesta sexta-feira mas registraram perda em base semanal, à medida que os investidores pesavam as perspectivas de novos estímulos monetários da China contra a fraca recuperação econômica local, enquanto a oferta global mais firme do minério também pesava sobre os preços.

O contrato de janeiro do minério de ferro mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) da China encerrou as negociações do dia com alta de 0,15%, a 680 iuanes (96,43 dólares) a tonelada. Na semana, o contrato caiu 3,41%.
O minério de ferro de referência de outubro na Bolsa de Cingapura recuava 0,99%, a 91,75 dólares a tonelada.

Em um movimento inesperado, a China manteve as taxas de empréstimo de referência na fixação mensal, confundindo as expectativas do mercado, que estava preparado para uma mudança depois que o Federal Reserve fez um corte desproporcional na taxa de juros no início desta semana.

No entanto, analistas de mercado acreditam amplamente que os formuladores de políticas chineses lançarão mais estímulos para sustentar a economia em dificuldades e ajudá-la a cumprir sua meta de crescimento cada vez mais desafiadora para 2024, após uma série de dados econômicos de agosto que surpreenderam negativamente.

Enquanto isso, os estoques de minério de ferro importado nos 45 principais portos chineses caíram 0,5% entre 13 e 19 de setembro, disse a consultoria chinesa Mysteel, acrescentando que as vendas da commodity aumentaram em 19 de setembro.

O entusiasmo com a produção entre as siderúrgicas chinesas de alto-forno continuou a aumentar nesta semana, já que os preços domésticos do aço subiram, permitindo que mais usinas se recuperassem de grandes perdas, acrescentou a Mysteel.

Embora se espere que as usinas siderúrgicas retomem a produção, o ritmo da retomada pode diminuir, ao mesmo tempo em que a oferta no exterior mostra uma recuperação recente. Isso deixa pouco espaço para ganhos substanciais, já que a estrutura de excedente no mercado permanece inalterada, disse o site chinês de informações financeiras Hexun Futures.

Money Times - SP   23/09/2024

O mandato do novo CEO da Vale (VALE3), Gustavo Pimenta, foi antecipado para começar em 1º de outubro e não mais em janeiro, como era previsto, mostra fato relevante enviado na noite da última sexta-feira (20).

No documento, a empresa agradeceu Eduardo Bartolomeo, que estava à frente da companhia desde 2019.

“Sob a liderança de Eduardo, a Vale conseguiu avançar significativamente em sua transformação cultural, com orientação para a segurança das pessoas e operações, para a gestão de riscos e para a integridade de ativos”, diz.

Além disso, a empresa destaca que adotou um programa pioneiro de descaracterização de barragens, implementando os melhores padrões globais para a gestão das estruturas de contenção de rejeitos.

Bartolomeo entrou no lugar de Fabio Schvartsman, após a tragédia de Brumadinho. O executivo já estava na empresa desde 2011 e ocupou várias posições de liderança antes de se tornar CEO.

A Vale também informou que aprovou a nomeação, em caráter interino, de Murilo Muller, atual diretor global, para a posição de vice-presidente executivo responsável pelas áreas de finanças e relações com investidores, posição que Pimenta ocupava, com início em 1º de outubro e término até 31 de dezembro de 2024.

Sufoco e alívio: Como foi a sucessão da Vale?

A sucessão para o novo presidente da Vale foi marcada por intensas discussões. A princípio, os acionistas não chegaram a um acordo sobre o nome, o que obrigou a companhia a postergar a escolha para dezembro.

Nesse ínterim, ouve tentativas do presidente Lula para lançar Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda, ao cargo. Por conta disso, a Vale divulgou restrições para o perfil do novo CEO, como forma de evitar novas pressões políticas.

De acordo com a CNN, entre os nomes que apareceram em possíveis listas de indicados estavam Francisco Gomes Neto (Embraer), Gustavo Werneck (Gerdau), Carlos Piani (Equatorial), Cristiano Teixeira (Klabin), Maurício Bhar (Engie) e Antonio Maciel Neto (Caoa).

Segundo coluna de Lauro Jardim, d’O Globo, Dario Durigan, nome de confiança do ministro Fernando Haddad, também foi sondado por conselheiros para assumir o cargo.

E justamente por isso a escolha de Pimenta foi saudada.

Na avaliação do Bradesco BBI e Ágora Investimentos, o anúncio representa um evento de redução de risco para a Vale.

Os analistas destacam que a incerteza relacionada ao próximo CEO foi uma das principais preocupações entre os investidores nos últimos tempos e veem o anúncio sendo bem recebido pelo mercado devido à três fatores:

“Mantemos a recomendação de compra para VALE3, que estão sendo negociadas a um atraente múltiplo EV/Ebitda de 4,0x para 2024”.

Em linha, o Goldman Sachs comenta que o anúncio do novo CEO ajuda a reduzir incertezas, uma vez que o nome interno está potencialmente alinhado com as partes interessadas majoritárias — investidores, conselho, governo — e também traria continuidade à estratégia que vem sendo seguida pela mineradora.

Na avaliação do banco, o desafio atual consistirá na contínua melhoria operacional em diferentes frentes, incluindo soluções para o significativo esgotamento e desafios regulatórios no norte e maior eficiência de ativos subutilizados no sistema sul.

“Também esperamos que o foco dos investidores esteja na capacidade do Sr. Pimenta de conduzir o diálogo com o governo brasileiro, uma parte interessada importante que está envolvida nas discussões sobre o acordo final da Samarco, o ambiente regulatório e a renovação da concessão ferroviária”.

AUTOMOTIVO

O Estado de S.Paulo - SP   23/09/2024

O esforço da indústria automobilística para se descarbonizar gira em torno da substituição da gasolina por baterias. Um número crescente de clientes quer ambos. Compradores que não podem pagar por um carro totalmente elétrico, ou que se preocupam com a disponibilidade de pontos de carregamento, estão optando por veículos elétricos híbridos plug-in (carregados na tomada), cujas vendas estão disparando. Mas o alarde em torno dos híbridos pode se mostrar de curta duração.

As vendas mundiais de carros que funcionam puramente a bateria foram mais do que o dobro daquelas dos híbridos no último ano. Mas a diferença tem se fechado rapidamente. As vendas de híbridos plug-in cresceram quase 50% nos primeiros sete meses de 2024 comparadas com igual período de 2024, enquanto aqueles totalmente elétricos avançaram 8%, segundo estimativas da corretora Bernstein.

Os fabricantes de automóveis têm diminuído o entusiasmo por veículos elétricos e aumentado o interesse por híbridos. Este mês, a Volvo retrocedeu em seu compromisso de se tornar totalmente elétrica até 2030. Agora ela diz que elétricos e híbridos juntos representarão 90% de suas vendas até o final da década. No mês passado, a Ford anunciou que estava abandonando planos de fabricar um grande SUV totalmente elétrico, optando em vez disso pela força híbrida. A Hyundai está dobrando sua gama de híbridos de sete para 14 modelos. A Volkswagen também prometeu aumentar investimentos em híbridos enquanto repensa seus planos para elétricos.

Os consumidores estão se voltando para os híbridos parcialmente porque são mais baratos. As grandes baterias necessárias para rodar veículos totalmente elétricos os tornam muito mais caros do que os carros a gasolina. Isso é um problema quando se trata de vender para o mercado de massa; a maioria dos compradores “não pagará um prêmio”, diz Jim Farley, chefe da Ford.

Os híbridos plug-in, por outro lado, funcionam com baterias menores: eles basicamente têm uma unidade de 20 quilowatts-hora, cerca de um terço do tamanho das baterias dos elétricos. Como consequência, os híbridos são apenas um pouco mais caros do que os carros movidos a gasolina, e custam menos para rodar. Embora possam normalmente viajar apenas cerca de 40 milhas (aproximadamente 64 km) em suas baterias, a opção de usar gasolina evita a ansiedade que muitos motoristas de elétricos têm sobre ficar sem carga.

Por sua vez, os fabricantes de automóveis gostam de híbridos porque eles geralmente são tão lucrativos quanto os carros movidos a gasolina, em contraste com os elétricos, muitos dos quais são deficitários. Baterias menores significam custos de produção mais baixos. Os híbridos também permitem que os fabricantes de carros tradicionais aproveitem mais suas experiências e cadeias de suprimentos existentes.

A moda pelos híbridos, no entanto, pode se revelar passageira. Regras na Califórnia, adotadas por mais 16 Estados americanos, estipulam que até 2035 apenas 20% dos novos veículos vendidos pelos fabricantes de automóveis podem ser híbridos plug-in; o restante deve ser totalmente elétrico. A União Europeia planeja apertar ainda mais os freios: o bloco vai proibir a venda de todos os carros que funcionam com motores a gasolina, incluindo híbridos, até 2035.

Os híbridos já podem ser menos competitivos até lá. Os preços das baterias têm caído e cairão ainda mais à medida que a produção se expande e novas químicas são desenvolvidas. Fabricantes de automóveis como a Renault têm planos de lançar modelos elétricos que custam significativamente menos do que suas ofertas atuais, estimulados pela concorrência chinesa. As redes de carregamento continuam a se expandir.

A Bernstein prevê que os veículos híbridos capturarão uma parcela cada vez maior do mercado de automóveis até por volta de 2030, mas que as vendas se estabilizarão e, por fim, diminuirão à medida que as vendas de elétricos se acelerarem. Os híbridos estão “vencendo agora, mas os elétricos acabarão triunfando”, avalia Patrick Hummel, do banco UBS.

Xavier Smith, da AlphaSense, uma empresa de consultoria, acredita que a obsessão que as montadoras têm atualmente com os híbridos se mostrará míope. Aqueles que perderem o foco na eletrificação poderão ficar para trás em breve.

Automotive Business - SP   23/09/2024

As vendas de carros elétricos na Europa atingiram o menor índice registrado pela indústria automotiva em três anos. Houve queda de 43,9% nos resultados em agosto, especialmente por causa do declínio recorde em mercados importantes do continente, como Alemanha (-68,8%) e França (-33,1%).

Na Europa, o volume de veículos elétricos comercializados por Volkswagen, Stellantis e Renault caíram 14,8%, 29,5% e 13,9%, respectivamente, em relação ao mesmo recorte do ano passado.

Já as vendas de carros híbridos do tipo plug-in também tiveram queda, no caso de 22,3%. As informações foram divulgadas pela Associação das Fabricantes Europeias de Automóveis (ACEA).
Associação pede 'medidas urgentes' para conter declínio

Os resultados foram sentidos nas vendas da indústria automotiva, que amargou queda de 18,3% em agosto. Foi o quarto mês consecutivo com resultado negativo no segmento de veículos elétricos.

Em nota a ACEA afirmou que a indústria precisa que as instituições presentes na União Europeia "assumam as rédeas e tomem medidas urgentes (para reverter a situação) antes de as novas metas de (emissões de) CO2 para carros e vans entrem em vigor em 2025".
Falta de incentivos e impostos altos afetaram vendas

Parte do declínio registrado no segmento de carros elétricos na Europa se deu pela indefinição na concessão de incentivos para estimular a venda de veículos movidos a eletricidade.

Além disso, a imposição de alíquotas de importação bastante pesadas, como forma de proteger o mercado europeu do avanço das marcas chinesas, respingou na categoria como um todo.

Na tentativa de reaquecer o mercado rapidamente, a Alemanha aprovou deduções de impostos de até 40% para as montadoras que venderem carros elétricos no país.

Exame - SP   23/09/2024

O Departamento de Comércio dos EUA deve propor na segunda-feira, 22, a proibição de software e hardware chineses em veículos conectados e autônomos devido a preocupações com a segurança nacional, disseram fontes à agência Reuters.

O governo Biden levantou sérias preocupações sobre a coleta de dados por empresas chinesas tendo motoristas e infraestrutura dos EUA como alvos, bem como a potencial manipulação estrangeira de veículos conectados à internet e a sistemas de navegação.

O regulamento proposto pelo Executivo americano proibiria a importação e venda de veículos da China com software ou hardware de comunicação ou sistema de direção automatizado. As proibições incluiriam veículos com certos recursos de bluetooth, satélite e sem fio, bem como veículos altamente autônomos que poderiam operar sem um motorista ao volante.

Escalada significativa

A medida é uma escalada significativa nas restrições em andamento dos Estados Unidos sobre veículos, software e componentes chineses. Na semana passada, o governo Biden determinou aumentos acentuados de tarifas sobre importações chinesas, incluindo uma taxa de 100% sobre veículos elétricos, bem como novos aumentos sobre baterias de EV e minerais essenciais.

A Secretária de Comércio dos EUA, Gina Raimondo, disse em maio que os riscos de software ou hardware chinês em veículos conectados dos EUA eram significativos.

- Você pode imaginar o resultado catastrófico se você tivesse alguns milhões de carros na estrada e o software fosse desativado - disse ela.

As proibições poderiam se estender a outros adversários estrangeiros dos EUA, incluindo a Rússia.

Biden ordenou em fevereiro uma investigação sobre se as importações de veículos chineses representam riscos à segurança nacional com a tecnologia de carros conectados - e se esses software e hardware devem ser proibidos em todos os veículos nas estradas dos EUA.

O Departamento de Comércio planeja tornar as proibições de software efetivas em 2027. A proibição de hardware entraria em vigor em janeiro de 2029.

Um grupo bipartidário de legisladores dos EUA em novembro alertou sobre empresas chinesas de automóveis e tecnologia coletando e manipulando dados confidenciais enquanto testavam veículos autônomos nos Estados Unidos.

As montadoras observaram que seus sistemas "passam por extensos processos de engenharia, testes e validação de pré-produção e, em geral, não podem ser facilmente trocados por sistemas ou componentes de um fornecedor diferente".

Automotive Business - SP   23/09/2024

A Scania pretende aumentar em 5% sua produção de motores até dezembro. Movimento que elevará a capacidade da fábrica de São Bernardo do Campo para 40 mil propulsores/ano.

Essa unidade de motores da Scania já opera em três turnos desde meados do ano passado devido ao aumento da demanda no exterior. Para aumentar a produtividade, portanto, será necessário acelerar o ritmo nas estações de trabalho.

"Nós já estamos aplicando medidas na área de produção para elevar a capacidade. Aplicamos ferramentas e melhorias que os próprios operadores nos sugerem", disse o CEO Christopher Podgorski, durante a feira IAA Transportation.

O executivo explicou que, na Europa, aumentou a procura por caminhões que operam em uma faixa de potência similar à dos caminhões da Scania no mercado brasileiro, justificando o aumento da produção.

Do total de motores fabricados pela montadora no ABC Paulista, 30 mil unidades são destinadas à aplicação em veículos vendidos no país. O volume restante é destinado à exportação.

A Scania opera em um interessante sistema de produção que integra todas as fábricas da empresa. Se há um aumento de demanda em um mercado específico e a fábrica mais próxima não consegue atender, outra no exterior é acionada.

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Esse tipo de plataforma produtiva tem ajudado a companhia a manter suas linhas operantes em momentos de baixa demanda, tanto no mercado doméstico quanto no exterior.

Recentemente, quando a empresa observou as vendas internas diminuírem, foram as exportações que sustentaram as linhas de produção em São Bernardo do Campo por meio desse sistema produtivo.
Mercado interno de caminhões em recuperação

Atualmente, o mercado interno de caminhões se recupera de um período de vacas magras, iniciado com o advento dos motores Euro 6.

Segundo dados do Renavam, divulgados pela Anfavea, a associação que representa as fabricantes instaladas no Brasil, as vendas subiram 13% no acumulado do ano até agosto, em comparação com o mesmo período de 2023.

A produção também aumentou no período, 41%, somando 89,4 mil unidades até agosto. As exportações de veículos, por outro lado, caíram 18% no acumulado dos oito meses, com 241,6 mil unidades embarcadas.

A análise por segmento mostra que as exportações de caminhões caíram apenas 8,6% no período de janeiro a agosto em relação a 2023, somando 10 mil unidades, o que indica que a Scania pode - e deve -comemorar a maior demanda por seus motores no exterior.

Globo Online - RJ   23/09/2024

A chinesa BYD é conhecida no país pelos carros elétricos — e prepara uma fábrica em Camaçari (BA). Outras áreas estão nos planos. Alexandre Baldy, alçado ao cargo de vice-presidente sênior da empresa no país, diz que um projeto de baterias para uso pelo sistema elétrico “tem total convergência” com os interesses da empresa no Brasil. E diz que a empresa vai visitar “um a um” os senadores para evitar que carros elétricos paguem imposto seletivo na Reforma Tributária.

Além da fábrica de Camaçari, a BYD tem planos de expansão no Brasil?

Estamos focados nessa fábrica em Camaçari, entendendo quais são os projetos que podem ser criados. O MME (Ministério de Minas e Energia) compartilhou o desejo de fazer consulta pública para o sistema de baterias estacionárias para armazenamento de eletricidade (usadas para armazenar a energia gerada por fontes intermitentes, como solar e eólica). Fizemos um projeto de grande relevância na Califórnia em 2024 que tem total convergência com os interesses da BYD no Brasil.

Quais são as outras ambições da empresa no país?

A BYD já tem uma fábrica de painéis solares no Brasil. Se o país tiver uma política pública para fortalecer a indústria nacional de forma robusta, a BYD pode aumentar a fabricação local, de ônibus elétricos, considerando que o governo federal tem, através do PAC de mobilidade urbana, incentivado a capacidade financeira dos municípios para que a frota de ônibus possa ser substituída pela tecnologia elétrica.

O Brasil já tem muitas políticas públicas para energia solar. Não são suficientes?

Fabricamos painéis solares no Brasil, mas o mercado consome 97% de importados. Nossa indústria hoje tem uma ociosidade gigantesca. Temos assistido o mercado ser inundado por importados. Porque é mais competitivo do que o painel fabricado no Brasil.

Precisa de incentivo para fabricar painéis solares?

Ou o desestímulo dos painéis solares importados. A decisão tomada pelo governo de retomada gradual do imposto de importação, só que mais lenta do que foi implementada para os carros, ainda não conseguiu gerar o impacto necessário.

Como tem sido a experiência da BYD no mercado brasileiro?

A BYD tem a capacidade de poder tratar o que é uma paixão do brasileiro, que é o carro, convergindo com a proteção e o respeito ao meio ambiente, especialmente nesse momento de tragédia climática. Temos sido positivamente surpreendidos com os resultados alcançados.

Ainda há resistência a carros elétricos no Brasil?

São desafios, curiosidades ou mitos por falsas informações que são divulgadas pelo mercado que não consegue competir com produtos de mesmo padrão. O brasileiro tem muitas dúvidas, porque é um novo segmento, uma nova tecnologia, um novo hábito, uma nova cultura. A BYD é vista como ameaça e é fortemente atacada por parte da concorrência. São falsas informações divulgadas a respeito de capacidade de vida útil de bateria, de que as baterias poderiam gerar incêndios, que o valor de revenda do carro não atinge certos patamares.

E a crítica sobre falta de peças? Como é o pós-venda?

Do final do ano passado para o começo deste ano, nós enfrentamos redução de volumes importados e, sobretudo, de entregas. Mas hoje a BYD tem um expressivo volume de partes e peças em estoque nacional, para que possamos oferecer um pós-venda de referência, para a fidelização à marca. Ainda que haja uma redução muito drástica de manutenção e desgaste de componentes no carro elétrico.

Temem uma possível antecipação do aumento do imposto de importação?

Não acredito que isso acontecerá. Foi discutida no ano passado uma transição para que o Brasil pudesse ser competitivo na atração de investimentos.

Como está a negociação no Senado para excluir o carro elétrico do imposto seletivo da Reforma Tributária?

Após as eleições municipais visitaremos os senadores um a um. O princípio da Reforma Tributária foi preservar tudo o que respeita a vida humana e o meio ambiente. Exatamente o que são os carros eletrificados. O carro elétrico tem estímulo em todo o mundo. Se o Brasil aplicar imposto seletivo, vai ser diferente dos EUA e da China, as duas maiores economias do mundo.

Valor - SP   23/09/2024

Embora uma política governamental de troca tenha revigorado as vendas de carros na China nos últimos meses, ela não se aplica a veículos com motores maiores, geralmente fabricados por empresas alemãs

A fraca economia de consumo da China atingiu outro alvo: os carros de luxo.

Na última quinta-feira (19), a Mercedes-Benz se tornou a segunda montadora de luxo, em poucas semanas, a reduzir sua previsão de lucros para o ano. Assim como sua rival bávara BMW, que alertou sobre os lucros na semana anterior, a empresa sediada em Stuttgart culpou o esfriamento do mercado, com consumidores abastados na China se tornando mais cautelosos, entre outros motivos.

“Queríamos fazer mais, mas quando, em seu maior mercado, sua principal clientela está em cima do muro, certamente isso torna as coisas mais difíceis”, disse o diretor-presidente, Ola Källenius, em uma ligação com analistas na sexta-feira. As ações da montadora caíram 6% nas negociações da manhã na Europa.

Os alertas do sul da Alemanha ecoam o tom mais cauteloso da indústria de luxo francesa nos últimos meses. Fabricantes de bolsas, como LVMH e Kering, assustaram os investidores com a queda nas vendas no crucial mercado chinês.

Os problemas da Mercedes e BMW também sinalizam dificuldades crescentes para a indústria automotiva global, que enfrenta o impacto de altas taxas de juros e uma mudança cara para veículos elétricos. O mercado de carros de luxo da China até recentemente era um ponto positivo, com os consumidores ainda favorecendo motores tradicionais e modelos de alto padrão, como o Mercedes-Benz S-Class.

Este ano, o clima mudou: nos oito meses até agosto, os clientes na China compraram 10% menos carros da Mercedes e 11% menos da BMW, de acordo com dados de seguros de veículos coletados pela corretora Bernstein.

Embora uma política governamental de troca tenha revigorado as vendas de carros na China nos últimos meses, ela não se aplica a veículos com motores maiores, geralmente fabricados por empresas alemãs. Isso os deixou à mercê do sentimento do consumidor local para alguns de seus modelos mais lucrativos, em meio a uma queda nos preços dos imóveis.

As marcas de luxo da Alemanha têm relutado em se envolver em uma guerra de preços que continua a dominar o mercado chinês de carros populares, mesmo que isso signifique sacrificar vendas.

As vendas da Porsche caíram um terço no primeiro semestre, pois manteve obstinadamente sua estratégia de “valor sobre volume” no país. A marca de carros esportivos, que é majoritariamente de propriedade da Volkswagen, substituiu seu chefe na China este mês.

A marca VW, que há muito tempo é líder de mercado na China, está lutando há vários anos, já que os consumidores compram mais veículos elétricos, especialmente do campeão de baixo custo, BYD. Desde julho, mais da metade das vendas de carros de passeio na China são “plug-ins”.

A queda na receita de empreendimentos conjuntos chineses da VW e de acordos de licenciamento outrora lucrativos está forçando a empresa a contemplar o fechamento de fábricas na Alemanha, provocando um confronto ruidoso com o poderoso sindicato da empresa.

Embora tanto Mercedes quanto BMW tenham apontado pressões macroeconômicas, em vez de concorrência, a emergência de fabricantes locais com veículos elétricos inovadores voltados para consumidores mais abastados é outra preocupação dos investidores.

Empresas como Li Auto, XPeng e NIO podem estar começando a atrair mais consumidores ricos e tecnologicamente avançados na China, afastando-os das marcas alemãs, segundo analistas, mesmo que as “startups” lutem para manter vendas consistentes ou resultados financeiros em um mercado de veículos elétricos competitivo e dinâmico.

“Não há razão para que o que está acontecendo no mercado de massa não aconteça no segmento premium ao longo do tempo”, disse o analista da Jefferies, Philippe Houchois.

A BYD, que assumiu o lugar da VW como líder de mercado, também tem planos de conquistar consumidores mais ricos, embora ainda não tenha feito grandes avanços. Ela lançou uma marca chamada Denza com a Mercedes em 2011, mas as vendas foram limitadas. A Mercedes vendeu sua participação restante de 10% para seu parceiro chinês no início desta semana.

Assim como as casas de moda francesas, as montadoras alemãs dependem muito do mercado chinês, que no ano passado representou 36% das vendas de unidades da Mercedes, 32% da BMW e 25% da Porsche. Historicamente, as vendas no país vieram com margens mais gordas, porque os consumidores preferiam modelos mais caros.

Após os cortes nas previsões, tanto a Mercedes quanto a BMW esperam que sua meta de lucro principal este ano fique “significativamente” abaixo do nível do ano passado — linguagem que implica uma queda de mais de 10%, de acordo com as diretrizes das empresas. Anteriormente, elas disseram que ficaria “ligeiramente” abaixo, significando uma queda de menos de 5%.

A magnitude das mudanças surpreendeu analistas e investidores. As ações da BMW caíram 11% no dia do seu alerta na semana passada, a maior queda desde o pânico causado pela pandemia de Covid-19 em março de 2020.

Ambas as empresas também deram razões não relacionadas à China para a forte deterioração em suas perspectivas. Na BMW, um módulo de freio com defeito, fabricado pela fornecedora Continental, pode custar quase 1 bilhão de euros (ou US$ 1,1 bilhão) para ser consertado. Substituir as unidades, que estão profundamente integradas ao carro, é uma tarefa intensiva em mão de obra.

Enquanto isso, a Mercedes está fazendo “ajustes de avaliação”, em parte para ajudar a escoar veículos elétricos com baixa demanda. Esses ajustes devem representar 1% das receitas no segundo semestre, o que resultaria em aproximadamente 850 milhões de euros, com base nas estimativas atuais.

MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS

Consultor Jurídico - SP   23/09/2024

A Lei nº 14.871/2024, regulamentada pelo Decreto nº 12.175/2024, estabelece um regime de depreciação acelerada de máquinas e equipamentos destinados ao ativo imobilizado [1]. Este benefício permite às empresas amortizarem o custo desses ativos de forma mais rápida que o previsto pelos métodos tradicionais de depreciação, resultando em uma diminuição imediata da base de cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

Na sistemática adotada, a depreciação acelerada possibilita a dedução de até 50% do valor do equipamento no ano de sua instalação ou início de operação, com os 50% restantes sendo deduzidos no ano subsequente. Diferente da depreciação linear, em que a dedução é feita ao longo da vida útil do bem, essa medida oferece uma economia tributária imediata nos primeiros anos de uso do ativo, impactando positivamente o fluxo de caixa das empresas (artigo 1º, Lei nº 14.871/2024).

Esse regime é particularmente relevante para setores que exigem grandes investimentos iniciais, como o industrial, agropecuário e de tecnologia, promovendo a modernização do parque industrial brasileiro e estimulando a competitividade e a inovação tecnológica.

Para se habilitarem formalmente junto à Receita Federal, as empresas interessadas devem estar sujeitas à tributação com base no lucro real (artigo 1º, Decreto nº 12.175/2024). Além disso, devem estar em plena regularidade fiscal e trabalhista, o que significa que não podem possuir débitos com o FGTS, nem ter sido condenadas em ações de improbidade administrativa ou por infrações ambientais (artigo 5º, Decreto nº 12.175/2024). Empresas que estejam registradas no Cadastro Nacional de Empresas Punidas (CNEP) também não são elegíveis ao benefício (artigo 5º, Decreto nº 12.175/2024).
Setores beneficiados, fiscalização, critérios e restrições

Outro requisito: o procedimento de habilitação inclui a apresentação de documentos que comprovem a aquisição de máquinas e equipamentos novos, destinados ao ativo imobilizado da empresa e aplicados em atividades econômicas específicas (artigo 6º, Decreto nº 12.175/2024). O governo publicou uma lista dessas atividades no anexo do decreto, indicando quais setores podem usufruir do benefício (artigo 1º, Lei nº 14.871/2024).

A empresa deve garantir a conformidade contínua com as exigências legais e fiscais, uma vez que o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e a Receita Federal realizarão auditorias e fiscalizações periódicas para monitorar o uso correto do benefício (artigo 7º, Decreto nº 12.175/2024).

Como ponto de atenção, há critérios e restrições estabelecidos pela legislação quanto aos bens elegíveis e às condições para fruição do benefício. Os principais são:

Aplicação restrita a ativos produtivos: Apenas máquinas e equipamentos novos diretamente relacionados à produção de bens e serviços são elegíveis. Itens como imóveis, terrenos e obras de arte estão excluídos, reforçando o foco na modernização industrial (art. 3º, Decreto nº 12.175/2024). Limite de dedução: As empresas só podem deduzir o valor efetivamente pago pela aquisição do bem, evitando abusos e garantindo o uso responsável do incentivo. 

Regulamentação pelo Poder Executivo: A lei delega ao Poder Executivo a competência para definir os setores econômicos prioritários para a fruição do benefício. Essa flexibilidade permite ao governo ajustar a política fiscal às necessidades econômicas do país (art. 7º, Decreto nº 12.175/2024). Prazo de aplicação: O benefício está disponível para bens adquiridos até 31 de dezembro de 2025, criando uma janela de oportunidade para as empresas modernizarem suas operações (artigo 8º, Decreto nº 12.175/2024). Benefícios, contabilidade e desafios

Na prática, o principal atrativo da depreciação acelerada é a economia fiscal nos primeiros anos de uso dos ativos, que melhora o fluxo de caixa e permite reinvestimentos imediatos. Além disso, essa política tem o potencial de atrair investimentos estrangeiros, já que as multinacionais consideram regimes fiscais favoráveis como fator decisivo na alocação de capital em mercados emergentes.

Assim como em outros programas de incentivo, como a Zona Franca de Manaus (Lei nº 8.387/1991, artigo 7º), o Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura (Reidi) (Lei nº 11.488/2007, art. 4º) e o Programa de Sustentação do Investimento (PSI) (Lei nº 12.096/2009, artigo 1º), o benefício da depreciação acelerada possui um teto anual de renúncia fiscal por setor econômico (artigo 1º, Lei nº 14.871/2024). Este teto limita o valor total que as empresas podem deduzir em impostos dentro de um determinado ano fiscal, garantindo que o impacto na arrecadação pública seja previsível e sustentável.

Do ponto de vista contábil, a depreciação acelerada exige um planejamento detalhado para alocar corretamente os ativos e maximizar os benefícios fiscais. As empresas devem seguir os princípios contábeis definidos pelo CPC 27, que regula a mensuração e o reconhecimento de ativos imobilizados, assegurando que o tratamento contábil da depreciação esteja alinhado com as normas do Regulamento do Imposto de Renda (RIR/2018). Além disso, é essencial garantir a correta contabilização dos efeitos dessa dedução no cálculo do Lucro Real, que serve de base para apuração do IRPJ e da CSLL, pois erros na apuração podem resultar em autuações fiscais.

Apesar dos benefícios evidentes, algumas omissões e desafios ainda estão presentes na aplicação da depreciação acelerada. A principal incerteza está na dependência de regulamentação posterior por parte do Poder Executivo.

Outro ponto de atenção é a interpretação sobre o conceito de “aquisição” de bens até o prazo final de 31 de dezembro de 2025. Contratos complexos, como leasing e consórcios, podem gerar dúvidas sobre o momento exato em que o bem é considerado adquirido ou em operação, resultando em possíveis litígios fiscais entre empresas e o fisco.
Considerações finais

Como política pública, a depreciação acelerada pode ser uma medida fiscal estratégica para modernizar o parque industrial brasileiro e atrair investimentos estrangeiros. Ao reduzir a base de cálculo do IRPJ e da CSLL, o benefício oferece um alívio fiscal imediato para as empresas, melhorando o fluxo de caixa e incentivando a reinversão em novos projetos.

Contudo, sua efetividade dependerá da clareza das regulamentações adicionais e da correta aplicação pelas empresas, que devem estar atentas aos requisitos contábeis e fiscais para evitar autuações e garantir o pleno aproveitamento do incentivo.

CONSTRUÇÃO CIVIL

IstoÉ Dinheiro - SP   23/09/2024

O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) da Construção subiu dois pontos em setembro, na comparação com agosto, e chegou a 53,3 pontos. O dado consta da Sondagem Indústria da Construção, divulgada nesta sexta-feira, 20, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Com o resultado, o indicador se aproxima da média histórica, de 53,8 pontos.

Segundo a pesquisa, todos os componentes que formam o Icei da construção tiveram alta em setembro.

“A confiança dos empresários da construção aumentou e se afastou da linha divisória de 50 pontos, mostrando uma confiança cada vez mais disseminada, muito por conta da avaliação da economia brasileira. Isso é bastante importante, porque é essa avaliação que vem segurando a confiança dos empresários da construção, de forma geral”, avalia o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo.

O indicador varia de zero a 100 pontos, sendo que valores acima de 50 pontos indicam otimismo.

O Icei da Construção é composto pelo índice de condições atuais e o de expectativas. O indicador com relação às condições atuais teve alta de 47,4 pontos para 48,8 pontos em setembro, ainda abaixo da linha divisória dos 50 pontos. “Isso significa que os empresários ainda acreditam que o cenário de momento é pior do que há seis meses. Apesar de ter melhorado, a avaliação sobre o presente da economia brasileira – agora em 43,8 pontos – continua freando o Índice de Condições Atuais, uma vez que a percepção sobre o presente das empresas é positiva – está em 51,3 pontos”, destaca a Sondagem.

O índice de expectativas registrou alta de 2,2 pontos, para 55,5 pontos. “A perspectiva dos empresários quanto ao desempenho das próprias empresas para os próximos seis meses está em 58,9 pontos, enquanto para a economia brasileira segue negativa (48,7 pontos), apesar da alta registrada em setembro.”

Atividade e emprego

A Sondagem mostra ainda que, em agosto, o índice que mede o nível de atividade da indústria da construção ficou em 49,7 pontos. A CNI destaca que houve queda em relação a julho, mas o indicador ficou próximo à linha dos 50 pontos, “o que significa relativa estabilidade”.

Por segmento, o de Obras de Infraestrutura registrou alta no nível de atividade, mas os de Construção de Edifícios e de Serviços Especializados registraram recuo.

Já o índice de evolução do número de empregados ficou estável em relação ao mês anterior, em 50,1 pontos. O segmento de Obras de Infraestrutura se destacou positivamente e o de Serviços Especializados mostrou relativa estabilidade, enquanto o de Construção de Edifícios registrou queda no número de trabalhadores.

Apesar de os índices que medem o nível de atividade e de emprego na indústria da construção terem se estabilizado em agosto, ambos estão em patamar muito acima do comum para o mês, segundo a CNI.

“A construção vem tendo resultados positivos por conta de mudanças no programa Minha Casa, Minha Vida, que impulsionaram as vendas e o lançamento de unidades residenciais. Há também um crescimento de obras de infraestrutura. Há também a questão da taxa de juros. Apesar do recente aumento, a Selic ainda está menor do que no ano passado e esses efeitos defasados positivos continuam impulsionando o setor da construção”, avalia.

A Utilização da Capacidade Operacional (UCO) teve alta de um ponto porcentual de julho para agosto, chegando a 68%, mesmo patamar de agosto de 2022 e 2023.

Expectativas

Em setembro, os empresários da construção demonstraram expectativas positivas para todas as variáveis pesquisadas, com destaque para aquelas ligadas à produção do setor, como nível de atividade e novos empreendimentos e serviços. A expectativa de compra de matérias-primas registrou leve alta e a com relação ao número de empregados não mudou.

A Sondagem mostra ainda que o índice de intenção de investimento caiu 0,8 ponto em setembro, de 44,7 pontos para 43,9 pontos. “Apesar da queda, a segunda consecutiva, o índice segue relativamente elevado, pois continua bem acima da média histórica de 37,6 pontos”, destaca a CNI.

A pesquisa foi feita entre os dias 2 e 11 de setembro, com 338 empresas, sendo 128 pequenas, 137 médias e 73 grandes.

FERROVIÁRIO

CNN Brasil - SP   23/09/2024

O governo federal vai incluir as regiões Nordeste e Sudeste, além de Goiás e Tocantins, no plano que propõe cinco rotas para a integração da América do Sul. Estes estados ficaram de fora do desenho inicial do programa e serão o foco de nova fase da iniciativa tocada pelo Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO).

Nas primeiras duas fases do programa, uma comitiva da pasta comanda por Simone Tebet visitou os onze estados brasileiros que têm fronteira no continente, além dos países vizinhos.

A partir deste mês se inicia a “fase três” do plano, em que todas as UFs que continuam de fora serão procuradas pelo Ministério.

“O mais importante das fases ‘um’ e ‘dois’ foi verificar como pode se dar a integração entre o Brasil e os vizinhos. Agora é ver como os estados restantes podem se conectar ao desenho das cinco rotas estabelecidas”, explica em entrevista à CNN o secretário de Articulação Institucional da pasta, João Villaverde.

Para incluir estes estados, o Ministério pretende colocar as ferrovias — modal que ficou em segundo plano até aqui — no mapa das rotas. Uma série de estados seriam adicionados ao desenho somente ao inserir os 2.257 km da Ferrovia Norte-Sul, que vai do Porto de Pequim (MA), ao de Santos (SP), cortando Goiás e Tocantins no caminho.

Também devem ser incluídas as ferrovias Fico, que ligaria Lucas do Rio Verde (MT) a Mara Rosa (GO); Fiol, de Figueirópolis (TO) ao Porto de Ilhéus (BA); e a Transnordestina, de Eliseu Martins (PI) aos portos de Pecém (CE) e Suape (PE).

Diferentemente da Norte-Sul, estes projetos estão em andamento e enfrentam uma série de impasses.

Por esta razão, Villaverde destaca o papel de recém-criada comissão interministerial, com 12 pastas, que abordará o tema. Neste colegiado o MPO espera tratar da integração diretamente com as demais áreas interessadas.

O Ministério dos Transportes e do Meio Ambiente, envolvidos nos projetos ferroviários, por exemplo, fazem parte do grupo.

Antes de começar a mexer no mapa, porém, o Planejamento quer ouvir os estados sobre as melhores soluções para integrá-los ao plano.

“É possível, por exemplo, ir do Porto de Santana (AP), que faz parte do Plano, aos portos de Pecém e Itaqui (MA), em cabotagem. Mas se a melhor maneira é essa ou hidrovia ou rodovia quem vai dizer são os estados”, diz.

IstoÉ Dinheiro - SP   23/09/2024

O governo espera pela revogação da liminar que mantém suspenso, desde 2021, o projeto de construção da Ferrogrão – projeto ferroviário capitaneado pelo agronegócio para escoar a produção de grãos pelos portos do Norte do País. Após análises técnicas, a União entregou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma manifestação que diz ser possível passar por uma área de proteção ambiental – o foco da judicialização -, respeitando a faixa de domínio da BR-163, rodovia que liga o Mato Grosso ao Pará.

A proposta da União encaminhada ao ministro Alexandre de Moraes, que concedeu a liminar em questão, também inclui o compromisso de realizar audiências com os povos indígenas ao longo do processo de licenciamento, além da destinação de R$ 715 milhões em contrapartidas ambientais – o que representa cerca de 3,5% dos investimentos previstos.

Pelo projeto, a ferrovia terá 933 quilômetros de extensão, entre Sinop (MT) e Miritituba (PA) – local onde a carga será colocada em barcaças rumo aos portos de Barbarena e Santarém, no Pará; de Itacoatiara, no Amazonas; e de Santana, no Amapá. Com capacidade para movimentar cerca de 50 milhões de toneladas de grãos anuais, será um indutor do chamado Corredor Norte, que hoje funciona preponderantemente pela BR-163.

Lançado em 2014 pela iniciativa privada, o projeto até hoje não saiu do papel por envolver área ambientalmente sensível. O impasse gira em torno da possível necessidade de supressão de área de floresta do Parque Nacional do Jamanxim, no Pará. A decisão de Moraes sobre o caso é aguardada para este mês. No dia 17, venceu o prazo da Procuradoria-Geral da República (PGR) para apresentar seu parecer.

Divergências

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o secretário-executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro, disse que a pasta fez uma análise por satélite da área do parque e concluiu que é possível respeitar a faixa de domínio da BR-163 (área lateral da rodovia, que já não pertence ao parque) nos 50 km de extensão da área sob proteção. “As entidades (ambientais) entendiam que seria necessário fazer uma supressão adicional no parque. Estamos dizendo que não vai precisar diminuir nem um milímetro.”

Obra estimada em R$ 28 bilhões, a Ferrogrão será um corredor de escoamento da produção agrícola, razão pela qual é defendida pelo agronegócio. O governo calcula que ela pode reduzir em R$ 7,9 bilhões os desperdícios anuais, além de evitar a emissão de 3,4 milhões de toneladas de CO2 ao ano durante os 69 anos da concessão.

Apesar da expectativa do governo, não há consenso sobre o tema com a sociedade civil – o que pode influenciar na decisão de Moraes. O PSOL, autor da ação, e entidades socioambientais deixaram o grupo de trabalho criado para atualizar os estudos de impacto ambiental da obra, alegando uma “postura absolutamente silente, sem dados e sem informações” por parte dos responsáveis pelo projeto. O prazo para a realização dos estudos já foi prorrogado duas vezes por Moraes e, na última vez, em maio, ele disse que não mais o prorrogaria.

NAVAL

Globo Online - RJ   23/09/2024

O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Jorge Oliveira suspendeu os efeitos de uma medida provisória (MP) editada pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva que concede benefícios para a indústria naval por entender que houve ofensa à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). A decisão atendeu uma representação do senador Ciro Nogueira (PP-PI). Na prática, em uma decisão cautelar desta sexta-feira, Oliveira suspendeu a habilitação das empresas ao programa até que o TCU analise o tema.

A decisão de Oliveira representa um novo recado do TCU ao governo no que tange às finanças públicas neste ano. Nesta semana, o plenário da corte de contas já havia emitido mais um alerta em relação aos riscos para o cumprimento da meta fiscal zero este ano.

A MP assinada por Lula amplia incentivos com a depreciação acelerada de "navios-tanque". A medida consiste na redução do prazo de depreciação para "navios-tanque" produzidos no Brasil de 20 anos para 2 anos, com impacto fiscal de R$ 1,6 bilhão entre 2027 e 2031. O governo prevê na MP que esse impacto será inserido nos orçamentos dos respectivos anos.

Mas Ciro Nogueira alegou que, conforme a LRF, como a renúncia é futura, a medida teria que prever compensação de receitas tributárias, entendimento que foi referendado pelo ministro do TCU.

Oliveira argumentou que a MP em questão não “se amolda” à condição da LRF que permite que a renúncia de receita seja considerada na lei orçamentária pelo fato de o impacto fiscal ocorrer três anos depois da criação do benefício.

O governo justifica a edição da MP pela necessidade de abertura de prazo para que os contribuintes interessados no benefício fiscal se habilitem junto à Receita Federal e, a partir disso, façam os investimentos almejados pelo programa.

“Não me parece cabível remeter essa demonstração do equacionamento fiscal dos efeitos do benefício tributário proposto para futuros projetos de lei orçamentária, como ocorreu no caso em análise”, disse Oliveira.

O ministro também considerou que a MP não atende a princípios do novo arcabouço fiscal e a algumas exigências da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024, como:

Em sua decisão, Oliveira avaliou que a exposição de motivos da MP é genérica sobre os objetivos do programa, citando apenas que os investimentos tem potencial de gerar doze mil empregos diretos e indiretos.

"Num cálculo simplório, verifico que o custo para a União de cada emprego a ser, supostamente, gerado por essa política é de R$ 133.333,33. Seria esse um programa custo-eficiente?", questionou.

Oliveira divergiu da área técnica, que havia considerado que as informações do processo não eram suficientes para análise conclusiva e recomendou fazer diligências para obter manifestações da Receita Federal e da Secretaria de Orçamento Federal.

Além da medida cautelar, Oliveira também determinou a oitiva dos Ministérios da Fazenda, de Minas e Energia e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços para que se manifestem sobre o teor da representação e os indícios de irregularidades. Além do possível descumprimento da LRF, o ministro quer que os órgãos respondam sobre às questões relativas à LDO deste ano.

No prazo de 15 dias, Oliveira também determinou que o Planejamento e a Receita apresentem documentos eventualmente produzidos para subsidiar o processo de elaboração da minuta que deu origem à MP, abordando os efeitos fiscais e o cumprimento da obrigatoriedade de compensação da LRF. No mesmo prazo, a Receita também deve apresentar o impacto fiscal estimado, em bases anuais, entre 2024 e 2031, decorrente da renúncia de receita.

Gastos tributários

Em seu voto, Oliveira ainda destacou que as regras da LRF são insuficientes para conter a expansão de gastos tributários e lembrou que há outras medidas já aprovadas para alcançar esse objetivo, como a emenda constitucional de 2021 que determinou que o montante de gastos tributários não ultrapassasse 2% do Produto Interno Bruto (PIB) no prazo de oito ano. Mas ele pontuou que, atualmente, gira em torno de 4,3% do PIB.

"É evidente a contradição entre essa prescrição constitucional, com horizonte temporal que alcança os efeitos do benefício tributário discutido nestes autos, e a iniciativa governamental de criar novo mecanismo desonerativo com impacto fiscal relevante a se concretizar no futuro sem uma adequada demonstração de sua compatibilidade com os objetivos da política fiscal", considerou.

Os incentivos fiscais estão na mira do TCU. Na análise das contas do presidente de 2023, o relator, ministro Vital do Rêgo, também sugeriu novas medidas para limitar o montante de benefícios.

No governo, a equipe econômica também tem uma agenda focada na redução dos incentivos fiscais. Inclusive, a suspensão dos efeitos da MP pelo ministro do TCU ocorre dias após o fim da discussão sobre a compensação das receitas com a desoneração da folha de pagamentos. Para conseguir compensar, o governo foi até o Supremo Tribunal Federal (STF), que entendeu que a desoneração só poderia ser mantida caso fossem demonstradas novas receitas para neutralizar o impacto da medida.

No ano que vem, o gasto tributário vai chegar a R$ 543,6 bilhões, uma renúncia de receitas R$ 20 bilhões superior à estimada para 2024 (R$ 523,7 bilhões), conforme o Demonstrativo de Gastos Tributários, encaminhado ao Congresso como informação complementar à proposta orçamentária do ano que vem.

A Tribuna - SP   23/09/2024

Apesar da liderança histórica do Porto de Santos, fundado há 132 anos, o complexo portuário do Rio de Janeiro - um pouco mais novo, com 114 anos - mantém disputa pelas cargas, assim como outros portos do Brasil. No entanto, o presidente da PortosRio, Francisco Martins, prefere não usar o termo que denota competição. Ele esteve na quarta-feira (18) na recepção às autoridades portuárias, promovida pelo Grupo Tribuna em sua sede.

“Não vejo uma disputa, mas uma complementaridade. Na hora em que, por exemplo, o Porto de Santos enfrentou problemas logísticos em relação à movimentação de contêineres, o Porto do Rio absorveu essa demanda e não deixou que o setor sofresse qualquer baixa. Ou seja, também funcionamos com essa capacidade de poder responder a qualquer entrave logístico dos portos do Sul-Sudeste”, explicou.

A PortosRio é a Autoridade Portuária responsável pela gestão dos portos públicos do estado do Rio de Janeiro que, além de compreender os portos do Rio de Janeiro e Itaguaí, também abrange os de Niterói e Angra dos Reis.

Martins afirma que o conjunto de portos do Rio está em crescimento e acabou fazendo uma pequena ‘provocação’ a Santos. “Itaguaí vai licitar, ainda este ano (em outubro), a chamada área do meio (ITG02), aumentando a movimentação de minério em mais de 27 milhões de toneladas anuais. Com isso, junto a outros arrendamentos, logo Santos nos verá no retrovisor. Mas não é uma competição, e sim uma complementaridade”.

Investimentos
O aumento é justificado pelos investimentos que estão sendo feitos, segundo o presidente da PortosRio. O crescimento de 23% em movimentação no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado é um exemplo dado por Francisco Martins.

“É um porto que tem investimentos previstos na ordem de R$ 400 milhões somente nas obras já contratadas e na execução de dragagem. Estamos aumentando a nossa profundidade para receberemos os navios de 366 metros de comprimento, assim como o Porto de Itaguaí já recebe. Há uma grande expectativa, com muitas áreas a serem arrendadas”, listou.

CNN Brasil - SP   23/09/2024

Em um dos principais negócios do mercado de infraestrutura nos últimos anos, a Santos Brasil, dona do maior terminal de contêineres do país, anunciou sua venda para a terceira companhia de navegação do mundo. O valor divulgado da operação é de R$ 6,3 bilhões.

De acordo com comunicado divulgado neste domingo (22) à noite, a conclusão da venda dependerá de aprovações do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).

Controlada pelo grupo Opportunity, a Santos Brasil opera o Tecon Santos, que tem uma área de 600 mil metros quadrados no Porto de Santos (SP) e é o maior terminal de contêineres da América Latina.

A empresa detém ainda outros dois terminais de contêineres — em Imbituba (SC) e em Vila do Conde (PA) — e um terminal de granéis líquidos no Porto de Itaqui (MA). No ano passado, ela teve lucro de R$ 504,3 milhões.

Com sede em Marselha (França), a CMA CGM é a terceira maior transportadora marítima de contêineres e opera em 160 países. Além disso, administra cerca de 60 terminais — que movimentam diferentes tipos de cargas — em todo o mundo.

O negócio reforça uma tendência já verificada globalmente: a verticalização do setor portuário, com cada vez mais companhias de navegação (armadores) operando também terminais de contêineres em terra firme.

Com o negócio anunciado neste domingo, esse modelo se consolida no Brasil. A BTP, outro grande terminal em Santos, é controlada pela MSC e pela Maersk, duas grandes operadoras de navios de carga.

A possível venda da Santos Brasil vinha sendo comentada no mercado há tempos. Além da CMA CGM, a chinesa Cosco era apontada como uma das interessadas.

PETROLÍFERO

Valor - SP   23/09/2024

Empresa deve assinar outros quatro contratos com a estatal até o fim do ano, ao mesmo tempo em que avança na diversificação para além do óleo e gás

Thomas Filiponi, da SLB: “Contratos envolvem entrega de equipamentos e serviços para produção onshore e offshore” — Foto: Divulgação

A fornecedora francesa de tecnologia SLB (antiga Schlumberger) firmou seis contratos com a Petrobras, que totalizam US$ 1,1 bilhão, o que corresponde a cerca de R$ 5,8 bilhões, para fornecimento de equipamentos e prestação de serviços em atividades offshore e onshore no Brasil.

Os contratos resultam de licitações vencidas pela companhia francesa e envolvem serviços para a construção de poços nos campos de Búzios, Atapu e Sépia, no pré-sal da Bacia de Santos, considerados importantes para o desenvolvimento da área.

Há ainda a implantação de sistema de coleta, armazenamento e monitoramento de dados digitais de instalações produtivas (hub digital) para auxílio de tomada de decisões, e a fabricação de mais de 200 bombas artificiais mecânicas para ampliar produção de campos terrestres (onshore) da estatal na Bahia, com duração de dez anos.

Os contratos também incluem a entrega de 19 “árvores de natal molhadas”, equipamentos utilizados para conectar poços de petróleo submarinos aos sistemas de produção, como plataformas, que serão instaladas nos campos de Sépia e Atapu, e o fornecimento de “manifolds” (conjunto de válvulas que direcionam a produção de vários poços de petróleo para um duto); e um sistema de avaliação de reservatórios em águas profundas.

A empresa projeta ainda a assinatura de outros quatro contratos com a estatal ainda este ano, contou o diretor-geral da SLB no país, Thomas Filiponi, que está à frente da companhia desde julho. A prestação de serviços e fornecimento de equipamentos demandará a contratação de 600 novos colaboradores nos próximos 12 meses e um índice projetado de conteúdo local que pode chegar até 70%, dependendo do contrato e da etapa de produção. Segundo o executivo, a receita dos contratos evidencia a importância do Brasil para o negócio.

“O Brasil é um mercado estratégico para a SLB”, afirmou Filiponi. Os novos contratos serão tema de apresentação da SLB na ROG.e, antiga Rio Oil and Gas, que tem início nesta segunda-feira (23).

Dos seis contratos com a Petrobras, dois correspondem a uma faixa entre 50% e 60% do valor total, explicou o executivo. São os que tratam da construção de poços e da produção de “árvores de natal molhadas”.

Parte dos contratos envolve a joint venture OneSubsea, formada há quase um ano entre SLB, Aker Solutions e Subsea7, cujos equipamentos serão fabricados nas unidades de Taubaté (SP) e São José dos Pinhais (PR). A joint venture completa um ano em outubro e, neste período, teve como foco inicial a captura de sinergias que agregaram valor à cadeia, segundo Filiponi.

No caso do contrato de avaliação de poços, o serviço envolve uma tecnologia digital desenvolvida pela empresa para aprimorar as análises exploratórias após a perfuração, com a verificação de mais amostras em menos tempo. Esse serviço abre espaço, inclusive, para que seja utilizado em áreas de novas fronteiras, como a Bacia de Pelotas e a Margem Equatorial, explicou, num momento em que se discute no país a reposição de reservas.

Filiponi destacou que parte das atividades envolve adoção de ferramentas digitais, que têm sido cada vez mais importantes no processo de descarbonização e na busca de eficiência na produção de petróleo. A SLB também vem buscando diversificar a atuação em segmentos que vão além do óleo e gás, de olho em projetos de transição energética, ao mesmo tempo que mira a meta de carbono zero até 2050.

Um dos caminhos é o acordo firmado com a FS Bioenergia para captura e armazenamento do carbono emitido na produção de etanol, na fase de fermentação. Filiponi destacou que o valor inicial de investimento no projeto, primeiro no mundo no segmento, foi de R$ 100 milhões. A iniciativa deve receber mais R$ 350 milhões para construir a planta de captura de carbono, o que depende do estabelecimento definitivo de regulação da atividade de armazenamento geológico de CO2, em tramitação no Congresso Nacional, disse o executivo.

Valor - SP   23/09/2024

Brasil precisa aproveitar o conhecimento gerado, uma vez que tecnologia não se perde, para se posicionar na vanguarda da nova economia

Um dos maiores impulsionadores do desenvolvimento tecnológico no Brasil tem sido o setor de óleo e gás, tanto pela superação dos desafios técnicos na exploração e produção de petróleo em águas profundas, quanto pela cláusula de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). Esta cláusula exige que as empresas de petróleo que produzam no Brasil invistam 1% da receita bruta anual em projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação no país.

Além disso, o estabelecimento de metas concretas de longo prazo pelo país facilitou esse desenvolvimento, fornecendo um direcionamento claro para as políticas necessárias para alcançar esses objetivos.

O mundo atual, e o Brasil em particular, precisam ajustar suas agendas de desenvolvimento devido à crescente urgência de reduzir as emissões de carbono na atmosfera. Este desafio não só demanda uma transição energética, mas também está catalisando um avanço tecnológico significativo. A necessidade de enfrentar as mudanças climáticas está atuando como um poderoso estímulo para a inovação, promovendo o desenvolvimento de novas tecnologias e soluções.

À medida que países e empresas se empenham em adotar práticas mais sustentáveis, estamos testemunhando um progresso acelerado em áreas como energia renovável, eficiência energética e tecnologias de captura e armazenamento de carbono. Assim, a transição climática se configura não apenas como um imperativo ambiental, mas também como um motor essencial para o avanço tecnológico.

E com isso, percebemos na Coppe/UFRJ - Instituto de Pós Graduação e Pesquisa em Engenharia - o surgimento de uma aparente contradição. É exatamente com nossos grupos de pesquisa, envolvendo professores, alunos e técnicos, e os inúmeros laboratórios dedicados ao setor de óleo e gás, usando recursos da cláusula do petróleo, que aparecem as inúmeras potenciais soluções tecnológicas de baixo carbono. Algumas são imediatamente absorvidas pela indústria, mas as que estão em fase inicial, precisam de mais estímulo, pois apresentam riscos muito maiores, porém também, oportunidade de imenso retorno.

As grandes petroleiras que atuam no Brasil investem fortemente, usando o recurso da cláusula, tanto em desenvolvimento de tecnologias que reduzam a pegada de carbono de cada barril de petróleo produzido, buscando eficiência energética em suas operações, mas também em alternativas de geração de energia a partir do conhecimento já adquirido com as tecnologias tradicionais. Há ainda grande interesse na área de armazenagem de energia, questão essencial para as fontes intermitentes, assim como integração de diferentes fontes de energia.

O conhecimento gerado jamais é perdido; ao contrário, ele se transforma, provoca avanços em outras áreas fundamentais, que atuam muitas vezes como pilar para um mundo de baixo carbono.

Pode-se citar como exemplo, todo o desenvolvimento de flutuadores, engenharia submarina, estruturas oceânicas que são essenciais para a emergente indústria de eólica “offshore”. Da mesma forma que a tecnologia de sensoriamento remoto, modelagem computacional e inteligência artificial auxiliam no mapeamento dos recursos eólicos em nosso litoral.

O laboratório que atua no processamento e interpretação de dados geofísicos e geoquímicos, visando mais efetividade nas atividades de exploração, também se utiliza dessa mesma “expertise” para o reconhecimento de padrões e interpretação de inúmeras imagens e dados, que apoiam a elaboração de diagnósticos de doenças pulmonares a partir de tomografias.

Um outro exemplo é o sofisticado Laboratório de Recuperação Avançada de Petróleo da Coppe/UFRJ, criado para atender a demanda da indústria de óleo e gás que, atualmente, passa por uma significativa transformação, expandindo seu conhecimento acumulado em meios porosos para melhorar a gestão de recursos hídricos subterrâneos, desenvolvimento de novas técnicas para otimização da irrigação e retenção de poluentes em solo, visando o aumento da produtividade agrícola.

Empresas de petróleo financiam pesquisas em que surgem inúmeras potenciais soluções de baixo carbono

O mesmo ocorre no Centro de Excelência em Rochas Digitais, onde seus equipamentos de ponta, usando o aprendizado de máquinas, irão auxiliar a identificar elementos em terras raras, classificados como minerais críticos, fundamentais para a transição energética.

São inúmeros os exemplos da tecnologia se adaptando às necessidades atuais. Não há como se planejar uma cidade inteligente, sem digitalização, sensores, instrumentação e controle, robótica, ou seja, todas as tecnologias desenvolvidas, e constantemente aprimoradas, pela pesquisa efetuada pela indústria de óleo e gás.

Portanto, não devemos demonizar o setor de óleo e gás que, apesar de ser um grande emissor de carbono e um dos principais responsáveis pelo aumento da temperatura do planeta, atua como um laboratório para inovação tecnológica que se aplica a diversos outros setores da economia do futuro.

Devemos sim aproveitar o conhecimento que foi gerado, uma vez que tecnologia não se perde, para nos posicionarmos na vanguarda da nova economia - fortemente baseada em inovação tecnológica - para enfrentar os imensos desafios ambientais causados pelo desenvolvimento dos últimos séculos e também com a tendência de ser mais inclusiva e justa, onde se pretende um acesso universal ao bem-estar.

Desnecessário lembrar que a população mundial é crescente, devendo chegar a 9 bilhões de pessoas em 2050, sendo que grande parte estará nos países que hoje ainda são emergentes, portanto, com padrões de consumo bem abaixo do encontrado nos países desenvolvidos. É desejável que esta distância se reduza, o que trará, naturalmente, maior pressão sobre os recursos naturais do planeta.

Diante deste cenário, onde será necessário compatibilizar o aumento de demanda por bens e serviços e as crescentes restrições ambientais, não podemos nos manter confortavelmente estagnados e focados na liderança da exploração de óleo e gás, sem inovar e sem aproveitar nossa competência tecnológica e capacidade instalada para este objetivo. O setor de óleo e gás deve ser usado como alavanca tecnológica.

Suzana Kahn é diretora da Coppe/UFRJ.

Valor - SP   23/09/2024

Velhos petroleiros forjaram novas rotas para Índia e China, mas infraestrutura de comércio para a maior parte das mercadorias está deteriorada na Rússia

Em desafio ao Ocidente Putin (E) e líder chinês, Xi Jinping, prometeram intensificar comércio — Foto: Sergei Bobylev, Kremlin Pool Photo via AP

Após o impacto econômico de sua invasão à Ucrânia, a Rússia tentou se afastar do comércio com o Ocidente e construir novos laços com as potências asiáticas, China e Índia, desafiando as sanções. Dois anos e meio depois, o fluxo de petróleo russo foi, em grande parte, redirecionado nessa direção. Os lucros abasteceram a máquina de guerra do Kremlin.

Mas, à medida que as sanções se tornam mais severas e sua infraestrutura envelhecida se mostra inadequada, a Rússia está tentando fortalecer sua economia de guerra abrindo novas vias de comércio para outras commodities. Reorientar relações comerciais de décadas, especialmente aquelas que envolvem mercadorias e bens difíceis de transportar, está se provando uma tarefa difícil.

Sofrendo sob as sanções

O comércio da Rússia com o Ocidente, que prosperou após o fim da Guerra Fria, entrou em colapso sob uma série de sanções ocidentais impostas para punir Moscou pela invasão à Ucrânia. Ao mesmo tempo, o comércio da Rússia com a China, Índia e outros países do Oriente cresceu rapidamente, impulsionado pelas vendas de petróleo com desconto.

Este ano, os EUA impuseram novas regras que aumentam o risco de penalidades para bancos estrangeiros que negociam com a Rússia. Essas sanções secundárias diminuíram o crescimento do comércio entre a Rússia e países que haviam se tornado uma parte significativa do portfólio comercial de guerra de Moscou.

Transporte por petroleiros facilitou o comércio

Na busca do presidente russo, Vladimir Putin, por reorientar as conexões comerciais, o petróleo teve uma vitória inicial, pois pode ser transportado ao redor do globo por grandes petroleiros, em vez de por oleodutos fixos. Essa mobilidade foi crucial para a economia dependente de recursos da Rússia, ajudando o Kremlin a arrecadar receita para financiar a guerra e sustentar sua economia afetada pelas sanções.

Cerca de metade das exportações de petróleo e derivados da Rússia em 2023 foram para a China, com a Índia também se destacando como um grande comprador. A Rússia conseguiu contornar o limite de preço imposto pelo Ocidente ao mover o petróleo por uma chamada “frota sombra” de petroleiros envelhecidos, sobre os quais as restrições tiveram alcance limitado.

Mas outras commodities são mais difíceis de deslocar. Redirecionar o gás natural tem sido mais difícil, uma vez que a maioria das exportações da Rússia fluía por uma rede de gasodutos de décadas que iam para a Europa, incluindo o Nord Stream, que foi sabotado em 2022. A Rússia tem capacidade limitada de gasodutos para a China e, até agora, Pequim hesita em aprovar um grande novo gasoduto entre os dois países, conhecido como Poder da Sibéria 2.

O gás natural também pode ser liquefeito e transportado por petroleiros especializados, mas a capacidade da Rússia nesse setor é limitada. As sanções dos EUA a um grande novo projeto russo de GNL dificultaram ainda mais as perspectivas de Moscou — tornando mais difícil a aquisição de petroleiros e a construção de embarcações alternativas no próprio país.

Atrasos ferroviários tornam lentas as exportações

A Rússia está correndo para expandir sua infraestrutura ferroviária envelhecida para a Ásia, já que as linhas existentes não conseguem lidar com o volume aumentado de comércio. Isso gerou disputas burocráticas sobre como dividir a capacidade disponível.

O setor de carvão, que depende da distribuição ferroviária, tem sofrido em resultado disto. O setor, que tradicionalmente tinha acesso prioritário às ferrovias, está sendo ameaçado por outras cargas, como madeira, aço e contêineres que trazem produtos chineses no lugar de produtos europeus. As exportações russas de carvão para o importante mercado chinês — e as receitas orçamentárias que elas trazem — estagnaram nos últimos meses.

Caminhos mais curtos para o mercado são de difícil acesso

Moscou há muito esperava que o derretimento do gelo no Oceano Ártico colocasse a rota de navegação pelas águas setentrionais da Rússia no centro do comércio global. Usando a Rota do Mar do Norte, uma viagem dos portos ocidentais da Rússia para o Japão leva cerca de 18 dias, em comparação com 37 dias via Canal de Suez, segundo a agência estatal russa Tass.

A guerra na Ucrânia adicionou uma nova urgência — e desafios — ao uso da rota: as sanções dos EUA, por exemplo, dificultam a capacidade de Moscou obter quebra-gelos. Especialistas dizem que a Rússia não cumprirá suas ambiciosas metas de tráfego pela passagem do Ártico, e o crescimento no volume de carga nessa rota se estabilizou nos últimos anos.

A Rússia também pretende reduzir o tempo de exportação para o mercado indiano usando o chamado Corredor de Transporte Norte-Sul via Irã. Isso poderia reduzir pela metade o tempo de viagem da carga que vai da Rússia para a Índia. No entanto, a falta de infraestrutura ferroviária no Irã, limitações de capacidade portuária e incerteza sobre fontes de financiamento têm atrasado os planos para viabilizar a rota, segundo especialistas

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